Resenha de Shows: Soen – Carioca Club, São Paulo/SP (27/03/2022)

Resenha de Shows: Soen – Carioca Club, São Paulo/SP (27/03/2022)

Por Fernando Bueno

Estava com saudades. Foi esse o sentimento que tinha desde quando me preparei no quarto do hotel e me dirigi ao local do show. A fila com todos os fãs ansiosos, as conversas sobre shows, discos e artistas a expectativa da banda entrar no palco; tudo isso fez falta durante todo esse tempo sem apresentações ao vivo. Nesse fim de semana quando alguém comentava que estava indo à um show em São Paulo todos já falavam de Loolapalooza. Mais que normal, afinal o festival reuniu meio milhão de pessoas nos seus três dias de atrações. Mas era uma banda lá da Suécia, bastante desconhecida ainda no próprio meio do metal, tocando em um lugar bem menor que o autódromo que eu estava interessado. Como essa ideia achei até mesmo que o público seria muito reduzido, ainda mais em uma final de tarde chuvoso na capital do estado de São Paulo. E para minha surpresa e satisfação foi muito melhor do que o esperado. O Carioca Club não é lá um espaço nem comparável ao Espaço da Américas, mas comporta um bom número de pessoas. Todo o ambiente estava tomado, mas o tradicional aperto em show de metal não aconteceu dessa vez. Isso tornou a experiência muito mais agradável. Ver uma banda que gostamos de pertinho e sem empurra empurra é o máximo! Pareceu até que estava em um show em algum outro país como os Estados Unidos.

O Soen foi criado a partir da saída de Martin Lopez do Opeth. Ele foi o músico mais aclamado durante a tradicional apresentação dos integrantes ao público. Natural, pois é o que já passou por mais de uma banda que podemos chamar de grandes do metal: Amon Amarth e Opeth. Nessa última participando da fase que fez a banda crescer, período que gravou vários clássicos do metal extremo. Quem conhece o Opeth sabe que eles tiveram uma quase radical mudança sonora nesses últimos anos, partindo para discos muito mais progressivos, cheio de melodias e passagens climáticas e, principalmente, sem guturais. Aí, pode-se avaliar que a saída de Martin Lopez tenha alguma influência sobre isso, mas quando a pessoa houve o Soen e percebe que a banda faz praticamente esse mesmo som deve estranhar. Na verdade, a saída dele do Opeth foi por conta de um problema de saúde e não diferenças musicais. Quando o Soen surgiu tinha também o fantástico Steve DiGiorgio em suas fileiras, mas o baixista ficou por pouco tempo na banda – mais ou menos o que houve com diversas formações que ele fez parte ao longo de sua carreira.

Seu primeiro trabalho, Cognitive (2012), caiu nos meus ouvidos e imediatamente se tornou um dos preferidos da casa por um bom período. O segundo, Tellurrian (2014), conseguiu ser ainda melhor. Lykaya de 2017 solidificou o Soen como uma nova força do metal progressivo, mas foi com Lotus que a banda chegou em seu auge. Aí Imperial, lançado já em época de pandemia, com um excelente clipe para “Antagonist” foi o disco responsável por tirar o Soen de vez da categoria projeto para ser uma banda. A Imperial Latin America Tour foi adiada várias vezes. Esse show era para ter sido dividido com o Tesseract ainda em 2020. Mas a Covid tirou a oportunidade do Brasil em vê-los antes, mas, por outro lado, me deu a chance de vê-los agora. Da outra vez não consegui agenda para vir para São Paulo. No fim a falta do Tesseract deu também um protagonismo maior e bastante merecido à banda de Martin Lopez. Conversando no show discutimos sobre o Soen ser uma das principais e melhores bandas surgidas nos últimos anos e da injustiça de não serem mais reconhecidos.

E as expectativas foram correspondidas! A banda se mostrou de uma competência altíssima, executando tudo com perfeição. Claro que o ótimo som do local ajudou bastante, já que o Soen tem um estilo com diversas mudanças na dinâmica das músicas que exigem uma alta qualidade técnica em vários sentidos. Falando sobre essa dinâmica das músicas, acredito que a banda já tem uma identidade própria com seus riffs cavalares, galopantes e até percussivos, se puder falar assim. As passagens mais pesadas az vezes se intercalam com algumas passagens em que a calmaria toma conta e tudo isso é feito sem que a força do som seja dissipada. Em alguns momentos o lado progressivo toma conta com a inclusão de solos totalmente gilmorianos, trazendo inclusive a clássica Fender Stratocaster preta e branca para o palco. Outro ponto que me chamou muito a atenção foi o público cantar praticamente todas as músicas junto com a banda. Nos trechos onde o vocalista Joel Ekelöf faz sozinho, praticamente à capela isso foi ainda mais impressionante. Acredito que a própria banda se surpreendeu com isso, pois era visível a satisfação dos músicos com o que estava acontecendo. Citei o vocalista Joel e aproveito para lembrar que além dele e do baterista Martin Lopez, a banda conta hoje com o guitarrista Marcus Jidell, o guitarrista/tecladista/percussionista Lars Åhlund e o baixista Oleksii Kobel. A parte mais morna do show foi quando tocaram “Lucidity”, uma balada mais calma, até um pouco longa, mas a já citada “Antagonist” que veio em seguida ascendeu o público de novo.

Era natural que seu último álbum tenha sido privilegiado com seis músicas na composição do set list, afinal é a turnê de divulgação de Imperial que estão fazendo, mas Lotus também foi representado com o mesmo número de faixas. As outras três faixas foram duas do Lykaya e apenas uma do ótimo disco de estréia. Curioso não ter entrado nenhuma do Tellurian. Para ouvir uma playlist do Spotify com todas as músicas do show na ordem com que foram tocadas clique no link disponibilizado abaixo.

Para finalizar gostaria de falar sobre o merchandising da banda, ou da falta dele. Sabemos que atualmente os músicos vivem muito mais dos shows e do merchandising, mas a meu ver a banda perdeu uma chance de faturar muito mais. Estavam disponíveis camisetas oficiais com apenas uma estampa, com a capa do último disco, em poucas unidades e alguns posters. As camisetas desapareceram antes mesmo do grosso do público entrar. No lado de fora os cambistas vendiam camisetas com várias estampas diferentes. Quando o pessoal chegava na banca e viam que praticamente tudo já tinha acabado ficavam frustrados. Pensei que até mesmo as reedições de alguns álbuns que saíram mais recentemente estariam disponíveis, mas não. Fazer o que? Agora é tarde. No mais, ficou a lembrança de um excelente show, de uma ótima banda que certamente vai ser mais valorizada nos próximo anos.

 

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