Melhores de 2021 – Por Fernando Bueno

Melhores de 2021 – Por Fernando Bueno

Confesso que nesse ano eu pouco ouvi lançamentos. Se não em engano comecei falando o mesmo na minha lista de 2020 e imagino se isso não se torne um padrão para mim. Foquei tanto em algumas épocas que deixei de lado sem cerimônias muitos discos que eu teria ouvido no dia do lançamento se fosse alguns anos atrás. E esse assunto é curioso, pois se alguém ler isso pode pensar que eu estou me tornando em um daqueles caras que estão caindo na mesmice, mas é exatamente o contrário. Provavelmente eu ouvi muito mais coisas que eu não conhecia nesses dois anos comparados com os anos anteriores. É que o “novo” que ouvi foram lançados nos anos 70 ou 80. Por exemplo, até o fechamento desse texto não consegui ouvir os novos de Flotsam and Jetsam, Exodus, Me And That Man e Black Label Society, só para citar alguns. Quem sabe se essas bandas não poderiam estar listadas abaixo? Não ouvi os aclamados Todd La Torre e o Trivium (aliás…que capa linda!!!). Então pode ser que se eu fizer essa lista daqui 6 meses ela poderia ser diferente. Entretanto não estou enchendo linguiça de forma alguma. Coloquei discos excelentes nessa lista e se eles são realmente os melhores ou não é questão pessoal e nem me atrevo a ter a pretensão de fazer a lista definitiva. Nenhuma lista de melhores consegue isso.


Iron Maiden – Senjutsu

Tá bom!!!!  Aceito todo mundo vir falar que estou sendo óbvio ou “clubista”. Todo mundo sabia que eu colocaria esse disco aqui nessa lista, então por que não logo na primeira posição? Mas quem pode dizer que esse disco não surpreendeu pela qualidade? Tirando a palhaçada que o Bruno Sutter fez, não vi reclamações somente sobre o tempo das músicas como aconteceu nos dois últimos álbum, mas sim os fãs se preocupando em debater suas músicas favoritas que ficaram entre “The Writing On The Wall”, “Senjutsu” e “Hell on Earth”. Mas faixas como “Lost In A Lost World”, “The Time Machine” e “Death of the Celts” também foram bastante citadas. Ou seja, o repertório do disco é forte e, até por conta da pandemia, ficou sendo trabalhado, modelado e lapidado por dois anos, no tempo em que a banda ficou entre o fim das composições e o lançamento do disco. Será o último álbum do Maiden?


Helloween – Helloween

A chance desse disco dar errado era muito baixa. Não que o Helloween não tenha tido alguns lançamentos abaixo da média, principalmente nos dois últimos álbuns. É que com a entrada de mais dois ótimos compositores e toda a expectativa que se criou no resultado desse agora septeto, a atenção aos detalhes e o cuidado com o que seria lançado provavelmente seria muito maior. Afinal eles não podiam correr o risco de queimar o excelente resultado que conseguiram com a tão sonhada reunião. Acertaram na capa, acertaram nas músicas, acertaram em todas as escolhas. O que eles passam é que realmente o ambiente é ótimo, não há conflitos de egos e nem de interesses. Parece que todos ali estão trabalhando em perfeita harmonia. A banda vai continuar com essa formação para sempre? Haverão novos discos? A fórmula não vai se esgotar? São perguntas que os fãs fazem, mas vamos deixar essas preocupações para depois e curtir esse ótimo disco.


Richard Dawson & Circle – Henki

Duvido o leitor não olhar essa capa e relacionar com alguma coisa lá dos “late 60’s, early 70’s”. Pois bem, eu só ouvi esse disco porque estava consumindo qualquer coisa desse período de forma randômica no youtube por dias. Aí apareceu essa capa e eu não tive dúvidas. Lá pelo meio da primeira música eu notei que a timbragem era muito cristalina para ser algo gravado em 1970. Fui procurar e para minha surpresa era algo que havia sido lançado cinco ou seis dias atrás. Só que o som já tinha me pegado. Richard Dawson é um cara com carreira longa e o mesmo pode-se dizer do Circle, mas eu nunca tinha ouvido nada deles em separado e já estou me cobrando para isso.


Gojira – Fortitude

Existe a possibilidade da audição de um disco recém-lançado trazer nostalgia? Pois o Gojira conseguir me fazer sentir como se estivesse ouvindo uma sequência do Sepultura da década de 90. Sei que muita gente citou o Sepultura para comentar esse disco e pode até parecer clichê, mas foi exatamente isso que eu senti. E não é somente por conta do single “Amazonia”. Todo o disco tem um timbre aqui, um riff maxmiliano ali, um groove quase tupiniquim acolá. Tem até música tribal! Entretanto, o som que o Gojira vem fazendo em sua carreira sempre apontou para algo assim e toda essa comparação não significa que a banda não tenha sua própria identidade. Esse é um caso em que as influências vêm para somar e não para parecer uma cópia.


1914 – Where Fear and Weapons Meet

Quem disse que black metal é só coisa do demo? O 1914 foca sua temática nos acontecimentos da primeira guerra mundial, ou a Grande Guerra como foi chamada por muitos anos. É claro que podemos considerar uma guerra dessas proporções como um inferno na terra, então acho que é bem adequado o tema para o estilo. As vinhetas com áudio de transmissão de rádio da época colocam você lá dentro da época. O grupo apresenta os integrantes com patente militar, nome de guerra e número de pelotão. Já estava acompanhando essa banda ucraniana há algum tempo. O disco anterior, The Blind Leading the Blind (2018) já tinha chamado atenção por aqui e eles conseguiram manter o nível das coisas nesse que é seu terceiro álbum. Destaque ara a participação de Nick Holmes em “…And A Cross Now Marks His Place” e a faixa folk “Coward, também com participação de um convidado (Sasha Boole, um cantor de Gothic Country ucraniano).


Smith/Kotzen – Smith/Kotzen

Esse disco foi realmente uma surpresa. Lembro de ver uma foto no instagram há vários meses atrás dos dois músicos com suas esposas. Alguma especulação surgiu, mas todo mundo dizia que os estilos dos dois eram muitos diferentes. Mesmo assim eu sabia que Adrian Smith era um grande fã de blues rock dos anos setenta.  Mesmo assim não alimentei nenhum esperança. Sabe-se que eles costumavam a fazer jams em encontros em suas casas (Smith e Kotzen são vizinhos na Califórnia), inclusive em alguns momentos com a presença de James Newsted. Seria interessante ter Newsted nesse projeto também.  Para deixar tudo melhor ainda, saiu um EP especial para o já tradicional Record Store Day, Better Days EP, com mais quatro músicas igualmente ótimas. Porém, tenho que comentar, por mais que eu seja um fã de carteirinha de Adrian Smith, é inegável que Richie Kotzen seja um músico muito mais técnico que ele e isso fica mais explicito quando acontece as variações de vozes entre eles. Smith é um bom cantor, mas Kotzen é um monstro!!!


Soen – Imperial

Se o Soen errou em algum de seus discos eu desconheço. Impressionante como os caras conseguem manter o nível lá em cima e o quinto disco dessa leva que iniciou em 2012 só prova isso. O Soen seria uma mistura de Opeth com Tool, consegue mesclar peso, técnica e melodia em proporções perfeitas sem exagerar em nada. Espero conseguir vê-los no ano que vem.


Moospeel – Heritage

Lembro da primeira vez que ouvi Heritage. Não prestei tanta atenção quanto deveria e a impressão que ficou na cabeça foi que a banda estava mais progressiva nos moldes de Pink Floyd. Essa comparação foi se perdendo nas audições seguintes. Acredito que naquela primeira vez eu tenha alternado momentos de atenção com desatenção e justamente nas partes mais melódicas foram as que eu captei. Hoje eu ainda vejo influências desse prog espacial dos anos 70, mas vejo muito mais o som de bandas como Paradise Lost, Amorphis e Anathema. Depois do fantástico 1755, achei que eles não conseguiriam igualar a qualidade e errei. Grande disco dos portugueses.


Running Wild – Blood on Blood

Gosto tanto do Running Wild que mesmo os discos conhecidamente ruins eu ouço sem problemas. Porém esse disco é facilmente o melhor lançamento dos últimos 20 anos. Blood on Blood tem algumas músicas power/heavy metal diretos, metal épico e contador de histórias, hard rock. Os vocais de Rolf não demonstram mais a energia que ele já teve e os riffs encontrado aqui estão remotamente originais, mas o todo é muito divertido!!!


Therion – Leviathan

Depois de um disco decepcionante (Beloved Antichrist de  2018), longo demais e cheio de exageros, o Therion vem com Leviathan que é a primeira parte de um conceito que eles pretendem explorar nos discos seguintes. Porém o principal é que eles voltaram para um som mais simples, muito mais metal do que symphonic e remetendo ao que fizeram em seus discos mais aclamados.


Destaques finais

Lembram daquela banda chamada Idle Hands, que lançou um excelente disco em 2019, que inclusive entrou na minha lista daquele ano? Então…se você procurar por esse nome hoje vai se confundir, pois o grupo simplesmente mudou de nome para Unto Others e lançou um disco que estou ouvindo no fechamento desse texto. Ainda não entendi o motivo dessa mudança, mas me parece que é por conta de direitos autorais desse nome. Espero que continuem o bom trabalho que fizeram até agora.

Em 2021 também tivemos a volta de Edu Falashi com o disco Vera Cruz, provando que o cantor é um excelente compositor. As comparações do álbum com Holy Land são inevitáveis, até por conta da temática escolhida para o conceito do disco. Melodias, refrãos marcantes e ótimas performances musicais por conta de um time estrelado que Edu escalou para acompanha-lo. Porém é esse ponto que merece meu comentário. Achei que houve um excesso de firulas, principalmente dos guitarristas em várias músicas. Em algumas delas a cada término de uma estrofe há uma profusão de frases, arpejos, licks, etc. Isso atrapalhou toda minha experiência com o disco. Parecia que a intenção era ser uma espécie de Dragonforce turbinado e é justamente esses exageros que me fazem desgostar da banda do guitarrista Herman Li.

Também tivemos outra volta e dessa vez de uma artista inglesa que causou um alvoroço, inclusive no mercado da fabricação de discos. O álbum 30 da Adele está atrapalhando a produção do material físico de outros artistas, pois a matéria prima está indo quase que toda para ele. É um dado incrível!!! Ouvi pouco o disco e me decepcionei com a inclusão de batidas eletrônicas o que, para mim, descaracterizou o som da cantora.

Decepção mesmo foi com o que o Accept entregou em Too Mean To Die. A saída de Peter Baltes e a inclusão, para mim inexplicável, de um terceiro guitarrista fez muito mal aos alemães.

Queria exaltar o material produzido pelas duas bandas que surgiram com a separação do Nervosa. A reformulação que a Prika Amaral fez com a entrada de três estrangeiras mudou demais o som do Nervosa e tenho grandes expectativas para o futuro do grupo. Já o Crypta também conseguiu se sair muito bem apesar da banda ter partido para um death metal um pouco fora da linha que agrada mais o meu gosto pessoal. O disco cresceu no meu conceito ao longo das audições e acredito que o potencial de crescimento é grande. Vamos esperar os novos trabalhos das meninas.

Para finalizar queria comentar sobre a grande quantidade de lançamentos que estão saindo no mercado nacional. Hellion, Shinigami, Classic Metal, Nuclear Music, Urubuz e outras estão inundando as lojas de discos em um volume tão grande que está difícil de acompanhar, principalmente para os colecionadores. Grande parte dos principais lançamentos do ano foram lançados aqui. Muito material clássico e esquecido dos anos 80, discos que eram muito difíceis e caros, estão finalmente disponíveis para os fãs brasileiros. A dificuldade é conseguir ouvir e, principalmente, comprar tudo o que está saindo.

 

9 comentários sobre “Melhores de 2021 – Por Fernando Bueno

    1. Cara, largue mão, disco bom. O f0d@ é que o Iron nos engana. Lançam uma sigla agitadona relembrando tempos áureos e depois no disco vem com aquelas velhas músicas longas e que dependem de um bom estado de espírito.

  1. Dos que citou, ouvi apenas Iron Maiden e Moonspell. Ambos ficaram próximos de entrarem na minha lista.

  2. Boa lista, daí tem uns 4 q ué estão na minha tb…concordo no quesito de excelentes lançamentos e no capricho dos cds…de fato falta é grana e tempo pra ouvir td no momento do lançamento…kkkk

    1. Esses lançamentos da Shinigami, e os relançamentos da Classic Metal, são muito bons. A questão do OBI da Shinigami foi um gol de placa deles.

  3. “Decepção mesmo foi com o que o Accept entregou em Too Mean To Die. A saída de Peter Baltes e a inclusão, para mim inexplicável, de um terceiro guitarrista fez muito mal aos alemães.”

    Assino embaixo, Fernandão! Ouvi poucas vezes o Too Mean to Die e não gostei mesmo assim. Álbum chato pra kct, com músicas em sua maioria fracas e uma capa feia que parece-me uma cópia descarada do Whitesnake. Enfim, não pretendo ouvir mais esse disco novo do Accept, que agora, para mim, é “Wolf Hoffmann & Friends”. Ou seja, sem Peter Baltes e com três guitarras para mim não dá!

  4. Rapaz, esse do Smith/Kotzen entrou na minha lista tbm. Achei muito massa. Único dos que ouvi a rua lista e que não curti foi o Moonspell. Achei interessante, mas não curti tanto.

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