Test Drive: Iron Maiden – Senjutsu [2021]

Test Drive: Iron Maiden – Senjutsu [2021]

Editado Por Fernando Bueno
Com Líbia Brígido, Mairon Machado, Daniel Benedetti e André Kaminski

O Test Drive é nossa sessão onde relatamos nossas opiniões depois das primeiras audições de um disco de uma grande banda. Senjutsu é o décimo sétimo álbum do Iron Maiden e teve seu lançamento oficial no dia 03 de setembro de 2021 (ontem). O material que consta nesse disco é o resultado de quase dois anos entre composição e gravação e certamente levou todo esse tempo para ser lançado por conta da pandemia. Vamos às impressões de nossos consultores.


André Kaminski: Eu confesso que quando vi a duração do disco não me animei muito. Pensei comigo “vai ser longo, repetitivo e cansativo como os dois anteriores”. Longo ele ainda é, entretanto, o Maiden dessa vez optou pela atitude certa em relação a faixas compridas: usou de mais solos ao invés de repetir o refrão duzentas milhões de vezes, além de se utilizar de novas estrofes e variações rítmicas e melódicas. O que me chamou a atenção foi a voz de Bruce Dickinson que envelheceu dos últimos trabalhos para este. Normal e esperado para um senhor de 63 anos. Gostei da ideia de “Stratego” em que a guitarra “canta” junto aos vocais de Bruce. Junto a “Death of the Celts” que ultrapassa os 10 minutos mas que se mantém muito boa do início ao fim (e que lindo dedilhado de baixo do senhor Harris na intro, de boa, dos melhores de sua carreira se não o melhor), foram as minhas duas canções favoritas. Uma pena só que o coitado do Nicko já não tem mais pique para músicas mais rápidas, há algumas mais velozes como em “Lost in a Lost World”, mas também é exigir demais do quase septuagenário batera. Mas olhe, até que eu curti. Tirando apenas “The Time Machine” que achei bem fraca, o restante me agradou. Achei bem melhor que os dois últimos porque aqui eu acredito que a banda finalmente se assumiu veterana e já se encaminhando para o final de carreira de uma maneira muito digna. Deixo meu joinha para o disco.


Daniel Benedetti: Senjutsu segue o fluxo natural que o Iron Maiden tomou desde que se tornou um sexteto – e se você é daqueles que não gostam desta fase, duvido muito que o disco te faça mudar de ideia. É um exercício ao menos curioso ver sua banda favorita, agora um bando de sessentões, ainda seguindo na ativa. Eu ouvi o trabalho apenas uma vez e confesso que, para os últimos álbuns do grupo, eu demoro algumas (ou várias) audições para assimilar a proposta. À primeira ouvida, Senjutsu soa como um Iron Maiden optando por uma sonoridade cada vez mais cadenciada, embora sem abrir mão do peso. Sou admirador do trabalho do Dickinson desde sempre, mas não curti muito os vocais, por vezes soando exagerados em passagens que pediriam mais suavidade. Gostei da faixa-título, da já conhecida “The Writing On The Wall” e da ‘balada’ “Darkest Hour”. “Death Of The Celts” é a mesma música que o grupo lança desde “The Clansman” em todos os álbuns, ou seja, extremamente cansativa e bem genérica. Mas, no geral, o saldo inicial é positivo.


Fernando Bueno: Não tinha essa expectativa sobre um disco novo do Iron Maiden desde o Brave New World. A banda sabe como criar um ambiente perfeito para seus lançamentos colocando diversas dicas em entrevista e pistas em suas publicações. Senjutsu é talvez o disco mais variado da carreira do grupo e me fez lembrar de todas as pessoas que insistem em dizer que a banda faz sempre a mesma coisa. Gostei muito do equilíbrio entre as três guitarras ao longo do disco todo, em que os solos estão muito mais presentes, porém me surpreendeu a quantidade de teclados que aparecem nas músicas. Muitos dizem que com três guitarristas o teclado seria dispensável. Não sei, acho que tudo o que vier a agregar para a música é válido. Gostei bastante da faixa título, mas não a teria colocado para abrir o disco. Porém uma faixa mais arrastada como introdução já havia sido usada em X Factor e a longa introdução de The Final Frontier. Acredito que isso atrapalha o interesse do ouvinte casual, mas o fã não vai ligar muito para isso. Também estranhei o fechamento com três das músicas mais longas. Talvez uma mescla entre faixas mais curtas e longas deveria ter sido feita. Uma coisa legal que se criou com o lançamento dos dois primeiros singles, com estilos diferentes entre si, foi a “disputa” sobre os que preferem “The Writing on the Wall” e os que são team “Stratego”. Até agora faço parte do primeiro grupo já que na segunda e terceira audição eu já estava cantando junto. Muitos falam sobre o tempo total desses últimos discos lançados pela banda. Acho que fazer discos mais longos tem a ver com estratégias comerciais (discos duplo são mais caros). Mas até entendo que eles poderiam separar em mais discos o material que produzem. Faixas como “Hell On Earth”, a que fecha o disco, “Time Machine” e “The Darkest Hour” são provas de que a banda tem muito para nos oferecer.


Líbia Brígido: A escuridão do álbum ecoa algumas das circunstâncias da vida real de sua criação. Senjutsu é o primeiro álbum do Iron Maiden desde que Bruce Dickinson recuperou totalmente de um tumor encontrado na parte de trás de sua língua. Ele não perdeu nada de seu brio. O Steve explorou os 90’s, algumas músicas chegam a lembrar o X Factor pela sonoridade densa e pesada dos instrumentos, e com o Bruce ficou sensacional. Mas banda não deixou de lado os novos ares, a “The Writing on the Wall” me chamou atenção logo no início, cheguei a ouvi-la novamente depois da primeira audição. Nessa faixa tem country e blues de uma forma que o Maiden progressivo nunca fez antes. Não havia ouvido como single principal, então realmente me surpreendi, e se tornou a minha favorita até então. Na minha opinião é sim um ótimo trabalho da banda, do tipo que vai melhorando com o tempo e a cada audição. Um lançamento do Iron Maiden é sempre um verdadeiro evento. E nos dias de hoje, é um verdadeiro fôlego de esperança.


Mairon Machado: O novo álbum do Iron Maiden vem causando (pra variar) muito estardalhaço entre os fãs da Donzela. Confesso que não me empolgo com nada da banda há algum tempo, e apesar de The Book of Souls ter amadurecido relativamente bem (principalmente “Empire of the Clouds”) com o passar dos anos, larguei esse fetiche adolescente de seguir os britânicos nos dias de hoje. Porém, sempre é interessante ver se os caras continuam fazendo músicas em Em, C e D e introduções longas com dedilhados ao baixo e violão, ou se adotaram nova fórmula. Pelo que se ouve em algumas faixas de Senjutsu, o grupo até tentou sair do formulismo, criando faixas que seriam mais próximas da carreira solo de Bruce Dickinson do que o próprio Iron, o que pode ser considerado em canções onde Harris não está compondo sozinho, como a faixa-título, bem interessante para os padrões maidenianos, apesar de muito arrastada e cansativa, ou “Writing on the Wall”, que explora quase 5 minutos em cima de variações em cima de uma única nota, o que particularmente não sei se é bom, mas ao menos é diferente, assim como “Days of Future Past”, que ficaria muito bem em Accident of Birth por exemplo. Daí quando o Steve Harris coloca a mão para escrever, o disco volta a ser aquilo que vem sendo há anos, um desastre de chatice sem tamanho. Só a introdução de “Death of the Celts” dura quase dois minutos de notas que certamente você irá reconhecer em outras canções da banda, assim como a sequência de solos e o final idêntico a inúmeras músicas da banda. Isso seria plágio fácil em qualquer júri de respeito. Aí mais dois minutos de dedilhadinho e teclados na chatíssima “Hell on Earth” e, impressão minha, os caras tiram o pé do ritmo do nada?, alguma esperança (totalmente perdida) de novidade na longa “The Parchment”, outra que você irá reconhecer várias músicas anteriores. E dê-lhe Dickinson gritando o refrão insuportavelmente em quase tudo que é música “Stratego” passa despercebidas em uma audição despretensiosa, enquanto “The Time Machine” e “Darkest Hour” (“Wasting Love” anos 2000?) parecem que tem muito mais do que apenas sete minutos, de tão patéticas. A quantidade de teclados não tem explicação também. Enfim, se sua alegria é adivinhar em qual momento a banda vai fazer tal sequência de notas, parabéns, você ganhou mais 82 minutos de diversão. Agora, se você ainda tem lucidez e percebe que o Iron Maiden pós-Blaze Bailey virou uma pastiche sonora que imita a si próprio há mais de 30 anos, esqueça Sensutsu. Mais um disco chato pra caralho de uma banda que não precisava ter lançado mais nada desde 2000, pois afinal, é tudo cópia de si mesmo sendo vendida como novidade para um bando de fanáticos barrigudos de cerveja que ainda se acham na adolescência metálica dos anos 90. Nota 5/10 por conta das inovações, que apesar de não serem boas o suficiente, ao menos mostram que há uma esperança de que o formulismo repetitivo e maçante se acabe.


 

12 comentários sobre “Test Drive: Iron Maiden – Senjutsu [2021]

  1. Pelos comentários positivos (ou de medianos para cima) da maioria dos colegas, animei de dar uma ouvida nesse novo trabalho. Mas entendo a queixa do Mairon e, me colocando no lugar da banda, é difícil sair da enrascada que o Iron Maiden se encontra – uma banda muito consolidada, junto a um público que não recebe bem “inovações”, num mercado extremamente desfavorável em rentabilidade – o risco de dar errado é muito grande e aí a banda prefere ficar próximo da zona de conforto, atendendo a demanda do seu nicho. Me parece uma decisão bem mais comercial do que artística.
    Abraços!

  2. Acho a fase “progressiva radical” do Iron Maiden, que para mim começa de verdade no DANCE OF DEATH, de regular para boa e SENJUTSU é uma sequência natural dela. O IRON MAIDEN, diga-se STEVE HARRIS, parece se encontrar satisfeito neste seara. Quando vejo que o produtor de qualquer novo disco da banda será KEVIN SHIRLEY percebo que virá mais do mesmo e é isto que temos neste novo lançamento. Com este cara comandando a produção não sairá nada de diferente desta cartola aí. O que eu não entendo são pessoas falando que o IRON MAIDEN se acomodou para agradar os fãs “velhos e barrigudos” das antigas e que tudo na banda se resume aos cifrões…Acho esse pensamento totalmente incoerente, afinal não é o som que consta em SENJUTSU e na fase “progressiva radical” que os fãs”velhos e barrigudos” querem, pelo contrário! O IRON MAIDEN está fazendo esse som porque quer e “contra” a vontade destes mesmos fãs e estaria ganhando bem mais dinheiro se sua fase atual se assemelhasse a praticada entre os discos THE NUMBER OF THE BEAST e SEVENTH SON OF A SEVENTH SON!! E mesmo eu tendo minhas críticas à fase atual da banda, respeito sua coragem de fazer o que se quer, independente da opinião das fãs saudosos da fase clássica, pois para mim é óbvio ululante que se o IRON MAIDEN quisesse agradar aos fãs nostálgicos e ganhar dinheiro a rodo, eu diria centenas de milhões a mais do que está ganhando, estaria fazendo outro tipo de som.

    1. E digo mais…se tivesse nessa outra zona de conforto aí que vc diz (mais ou menos no estilo do The Number até o Powerslave) as críticas seriam que a banda “viveria do passado, mesmice, etc”. O fato é que bandas desse tamanho sempre são alvos fáceis para críticas…

      1. A fase que eu mais gosto do Maiden é justamente essa que vai do TNOTB ao Powerslave, e incluo também o Live After Death, discaço ao vivo dos caras. Valeu Fernandão!

  3. O Iron Maiden, até a fase Blaze Bayley, costumava reinventar sua sonoridade. O fato da fase Bayley não ter funcionado (prova disso foi a volta do Bruce Dickinson), deve ter assustado os músicos e eles decidiram não correr mais riscos, entrando numa lógica meio AC/DC, de manter seus elementos-chave a cada lançamento, ou seja: as guitarras dobradas, bateria cavalgada, intro com baixo dedilhado, vocais cantados aos plenos pulmões e a inclusão de canções longas, o que sempre atraiu os fãs de Iron (vide Hallowed Be Thy Name, Rime of The Ancient Mariner, Seventh Son of a Seventh Son, etc). Vendo que o CD possibilitava uma duração maior, passaram a colocar várias canções longas, ao invés de uma ou 2. O Senjutsu segue dentro dessa lógica. O trabalho é bom. Pesado, bem gravado, bem tocado. As novidades são mínimas (o trabalho de bateria da primeira faixa creio que seja um diferencial), mas como sempre o lançamento vem acompanhado de exageros, tanto por conta dos fãs de carteirinha, quanto por conta dos detratores. Ou seja, o disco não é um novo clássico, nem um lixo. É um álbum bem feito, criado por músicos que sabem o que fazem e conhecem o seu público. Em uma primeira audição, as musicas que me chamaram mais a atenção foram as 3 primeiras e a balada Darkest Hour. Vamos ver quando ouvir com o CD no talo (até agora só ouvi uma vez pela internet), se minhas preferidas se mantêm. É sempre bom ver bandas veteranas criando e um novo trabalho do Iron é sempre bem-vindo. Nota 7/10

  4. Depois de escutar várias vezes é um bom álbum . Nota 6 . Da fase sexteto da banda tá longe de ser o melhor q continua sendo Brave New World .

  5. Por enquanto, só consegui ouvir duas vezes, e nenhuma delas de uma vez só – mas não é por desinteresse ou por não ter gostado, foi falta de tempo mesmo. Mas gostei do disco como um todo, embora não tanto quanto do “The Book of Souls”, que me pegou de primeira. Acho que o Mairon Machado tem razão ao apontar o caráter formulesco que o Iron Maiden vem apresentando nos últimos vinte anos, mas isso não me incomoda muito – AC/DC e Motorhead são bandas que provam que você pode continuar soando legal ao regravar o mesmo disco inúmeras vezes, mudando apenas umas poucas coisas aqui e ali. É uma pena que, na turnê seguinte à do lançamento de “Senjutsu”, muito provavelmente suas músicas vão desaparecer do setlist.

  6. A banda segue fazendo músicas como uma “auto – cópia”, com a mesma fórmula repetitiva desde 2006! Começam com dedilhado de baixo ou violão, com vocais arrastados, em seguida entram guitarras e bateria, solos repetitivos no meio pra fazer a música ficar grande (essa de que elas são grandes naturalmente não cola)e finalizando, dedilhados como no início da música !

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