Consultoria Recomenda: Rock Progressivo dos anos 2010

Consultoria Recomenda: Rock Progressivo dos anos 2010

Por André Kaminski

Tema escolhido por André Kaminski

Com Daniel Benedetti, Davi Pascale, Fernando Bueno, Mairon Machado e Ronaldo Rodrigues

Após seis meses de pausa, retornamos com o Consultoria Recomenda e com o Ouve Isso Aqui alternando de maneira bimestral em nosso site. Esses seis meses de pausa foram por um motivo difícil para todos nós do site e principalmente nosso querido consultor Daniel Benedetti, que correu risco sério de morte devido a COVID-19 que ele contraiu na metade de janeiro. Após dois meses lutando contra a doença, ele felizmente saiu dessa e retornou a colaborar conosco agora a partir de junho, mas ainda se recuperando dos efeitos nefastos do vírus. Entre o final de janeiro e março foram momentos de apreensão entre nós e, por razões óbvias, suspendi o Recomenda e o Ouve Isso Aqui enquanto ele não se recuperasse. Sem ele, não rola as seções.

Mas ele está aqui e com uma felicidade imensa, retornamos com elas. Como eu fui sorteado de novo, quis escolher um tema fácil e tranquilo para todos indicarem seus discos para novamente pegarmos no tranco. Sem muita enrolação, sugeri como tema discos do rock progressivo da década anterior. E aí estão nossas recomendações. Comente nossos discos e faça também as suas lá na caixa de comentários!


Wobbler – Rites at Dawn [2011]

Por Ronaldo Rodrigues

Penso que se trata de um clássico extemporâneo do estilo (ele não é único; há outros contemporâneos dignos de elogio similar). As composições são  memoráveis, não há nada que se possa adicionar ao instrumental da banda, e os vocais são expressivos. A sonoridade remete de imediato aos anos 70 e a forma da banda compor é totalmente influenciada por essa escola. As músicas são por demais marcantes, com muitas variações e uma riqueza instrumental que faz jus a tradição do estilo como um todo. Rites at Dawn vai de A a Z em termos de rock progressivo.

André: Já escutei os primeiros discos do Wobbler e os considero bons trabalhos. O ponto positivo da banda é que os caras usam mesmo muito instrumentos diferentes mas mesmo assim, não soam exagerados ou extremamente pomposos. Conseguem manter uma linha mais “direta” mesmo com tanta coisa tocando ao mesmo tempo. O único ponto negativo da banda é que esses vocais “agudos/quase falsetos” são fraquinhos. Nem Andreas e nem Lars me agradam em suas incursões vocais, me parecendo muito querendo imitar o estilo de canto do Jon Anderson. Mas como a parte vocal sempre foi a que menos me interessa na imensa maioria dos discos que ouço (ainda mais os progs), consigo ouvir sem muitos problemas. Destaco a veloz “In Orbit” como a melhor do disco e a beleza de “This Past Presence” também de alta qualidade não muito atrás. Com vocalistas melhores, a banda subiria ainda mais no meu conceito.

Daniel: Desconhecia por completo este disco – e a banda – de modo que foi uma audição inédita para mim. A influência dos clássicos setentistas do rock progressivo é gritante e, aos meus ouvidos, especialmente do Yes, inclusive na forma com que o vocalista Andreas Stromman Prestmo emula o grande Jon Anderson (especialmente na ótima “La Bealtaine”). Também gostei bastante de “In Orbit”. Um bom disco, sem dúvidas, embora me pareça mais uma reverência ao progressivo do passado que propriamente uma inovação – e não que isto seja um problema para mim.

Davi: Confesso que não conhecia essa banda. Pelo que andei lendo, parece que essa banda é norueguesa e esse é o terceiro disco deles. Gostei. Não é uma banda que considero criativa. Muito do que é apresentado aqui já havia escutado nos álbuns setentistas do Yes. Principalmente, no que diz respeito às linhas vocais e linhas de baixo. Porém, os rapazes são bem competentes no que se propõe a fazer. “Lá Bealtaine”, “In Orbit” e “The River” são os pontos altos do disco. Não me impressionou, mas a audição foi interessante.

Fernando: Tenho que dar mais atenção ao Wobbler. Já tinha ouvido algumas coisas, mas sempre foram músicas soltas e sem prestar atenção em álbuns específicos. Mas tem alguma coisa no som da banda que não me retém. Eu tenho que ficar me forçando a não me perder em outros pensamentos além de prestar atenção no que está sendo tocado. Talvez não tenha dado sorte nos momentos que coloco a banda para ouvir. O maior destaque vai para as linhas de teclados, como em “In Orbit” em que a voz está sobre um teclado alucinado e as coisas casam perfeitamente.

Mairon: Esta fantástica banda da Noruega se tornou uma figurinha carimbada em minhas audições por conta principalmente de quando descobri este álbum. Lembro até hoje quando ouvi o mesmo em minha sala de pesquisa, e como “Lucid” me fez pensar que estava diante de um novo disco de Mike Oldfield, mas bastou os primeiros acordes de “Lá Bealtaine” para eu ficar desnorteado com tamanha quantidade de informações, e principalmente, o choque de estar ouvindo uma banda “recente”, mas com um cheiro de anos 70 tão forte, onde o som da bateria, a presença do mellotron, os vocais em harmonia uníssona, e o timbre da guitarra, soam tão velhos. Sério, coloque “This Past Presence” e diga que e uma banda atual. Duvido! Violãozinho, piano, vocalizações, mellotron, instrumentos de sopro … Que maravilha! Os caras apresentam diversas influências do grande progressivo britânico, sem nenhum pudor, mas com um jeitão novo que vira exclusivo do grupo, vide a longa “In Orbit”, onde o baixão pulsa como o bom e velho Rickenbacker de nomes do porte de Chris Squire ou Jon Tout, mas os dedilhados da guitarra e a flauta nos colocam junto ao Genesis da fase Nursery Crimes. Porém, os vocais são tão suaves quanto os de Ian Anderson no Yes, e a complexidade musical dessa mini-suíte parece brotar do suor de um Gentle Giant, além das letras serem tão fortes quanto as de Peter Hammilll. O mesmo se repete na linda “The River”, faixa para sair cantando pela casa, e que nem percebemos seus mais de dez minutos de duração. É nessa sopa progressiva que o Mairon se deleita bastante com este que só não é a melhor indicação desse Recomenda por que eu considero a minha ainda melhor. Mas ambas certamente estão no mesmo nível.


Il Cerchio d’Oro – Dedalo e Icaro [2013]

Por André Kaminski

Conheci estes italianos há não muito tempo e seu som me ganhou logo de cara. O que gostei quando ouvi esse disco pela primeira vez foi que os caras fizeram algo que muito valorizo nos dias atuais: produção sem a merda da loudness war. Os sons que saem desse disco são mais vivos (mesmo que o baterista Gino Terribile não seja lá um exímio no instrumento), a guitarra de Roberto Giordana é muito presente, o órgão e os sintetizadores dão aquele ar “classudo” fundamental do prog italiano e as canções conseguem unir beleza, técnica e vibração. Depois da intro de “Labirinto” e começa aquele baixo pulsante e os solos da guitarra slide sinto até arrepios. Lindo álbum, queria ter conhecido antes.

Daniel: Também não conhecia este álbum, Dedalo e Icaro, e gostei bastante. É claro que a aura setentista do glorioso progressivo italiano está aqui e, em especial, as guitarras de Roberto Giordana, que são elementos altamente distintivos do trabalho. A temática mitológica é outro fator que remete à fase clássica desta vertente do rock. Minha faixa preferida foi a bela “La Promessa”.

Davi: Esse eu também nunca tinha escutado. Trata-se de uma banda italiana que teve sua primeira encarnação na década de 70, porém terminou sem deixar vestígios. O grupo só lançou seu primeiro álbum em 2008 e sei lá, não me encantou. O disco tem uma sonoridade calma, os músicos são bons, onde destaco o trabalho de teclado de Franco Piccolini e o trabalho de guitarra de Roberto Giordana. Infelizmente, não curti o trabalho vocal do grupo e nem as composições do álbum. De todas, a que me chamou mais atenção foi “Una Nuova Realtà”, mesmo assim quando o cara entra cantando, abaixa meu ânimo.

Fernando: O progressivo italiano é uma das coisas que mais gosto na música, mas confesso que praticamente parei lá nos anos 70. Os poucos discos mais recentes que ouvi dessa seara me fizeram pensar que eles também pararam lá nos anos 70, o que não é demérito algum, pois é aquilo que gostamos. Porém, é até óbvio, o som, a produção, a nitidez é muito maior graças aos avanços tecnológicos. Ao longo do álbum o que chamou atenção é a dobradinha guitarra/teclados. O lindo trecho instrumental de “Labirinto”, provavelmente a melhor do disco, é um exemplo do que amamos no RPI, assim como a adição de vários instrumentos além do básico guitarra/baixo/bateria/teclados. Não consegui me aprofundar na história da banda, mas me parece que o disco tem participação de alguns caras da velha guarda e a própria banda é da época de ouro, mas uma daquelas que não tinha conseguido gravar nada naquele período.

Mairon: Jamais iria imaginar que essa joinha italiana era da década passada. Se me colocassem para ouvir dizendo “Advinha”, eu chutaria final dos anos 90, principalmente pela guitarra e teclados, bem datados, como aparecem principalmente em “L’arma Vincente” e “Oggi Volerò”, faixas muito boas de se ouvir, mas que dá para sentir que o guitarrista faz um certo esforço para parecer virtuoso. O som é ótimo, curti muito a canção que abre a bolacha, “Il Mio Nome È Dedalo”, a quebradeira de “Una Nuova Realtà”, e fui surpreendido pelas passagens de “La Promessa”, forte candidata a melhor do disco, junto de ” Il Sogno Spezzato “. Porém, nenhuma bate a coisa mais linda de ouvir “Labirinto” hein? Faixa brilhante em um disco muito bom. Curti bastante a indicação, valeu para o consultor que assim o fez.

Ronaldo: Os italianos mantiveram se firmes na tradição do rock progressivo ao longo dos anos desde os anos 70, com mais ou menos as mesmas características – o canto preferencialmente na língua nativa, a preferência pela vertente sinfônica, o uso maciço de sintetizadores e uma certa dramaticidade. Uma outra  característica bem marcante é que as produções frequentemente ficam abaixo da média dos trabalhos produzidos em outros países (parece que as técnicas de gravação lá ainda estão na década de 90). Ainda que as composições sejam bonitas e atraentes, a banda peca um pouco pela bateria e pelos vocais, seja pela gravação quanto pela performance. Para os aficcionados do estilo, funciona bem, mas não dialoga muito a ponto de convencer um público mais amplo.


Beardfish – +4626-Comfortzone [2015]

Por Mairon Machado

Quando descobri a sueca Beardfish foi graças a uma indicação do Youtube, justamente com esse álbum que havia acabado de sair. Me apaixonei. Depois de ouvir essa fantástica obra conceitual, fui atrás dos demais discos da banda, e encontrei uma vasta riqueza de criação progressiva, que assim como o Wobbler, coloca em um caldeirão gigante influências de diferentes grandes nomes do prog britânico e cria sua própria sopa. A questão é que a Beardfish me parece menos “técnica” e mais “sentimental”, primeiro por ser um quarteto sem multi-instrumentistas como os noruegueses, segundo por que os caras são mais “pesados” mas com um charme pop em suas interpretações, ao mesmo tempo que o som é mais cru, e tercerio, por que o que Rikard Sjöblom faz em suas interpretações vocais é de chorar. Ao longo do álbum temos em uma única faixa (“Hold On”) uma mistura de Yes e Genesis com Queen e até Black Sabbath. Ouça o mellotron e a guitarra da introdução de “Comfort Zone” e imagine como soaria o King Crimson dos anos 70 nos anos 2000, nesta que é a mais bela e disparada melhor canção do CD. E dê-lhe mistura de sons na longa “If We Must Be Apart (A Love Story Continued)”, que faz referências desde o folk até ao próprio Beardfish do início da carreira, e que também é forte candidata a melhor do disco. A sacada da Beardfish é essa, os caras não voltam ao som dos anos 70 e ficam lá. Eles retemperam a nata daquela época e criam algo tão saboroso quanto. Daí ao mesmo tempo que temos as pesadas “Daughter/Whore”,”King” e “Ode to the Rock ‘n’ Roller”, somos amenizados pela suavidade pop de “Can You See Me Now?”, e sempre com a presença de referências dos gigantes do prog britânico. Ainda tem as lindas vinhetas “The One Inside” para arrancar mais lágrimas de uma audição impactante, e nem vou entrar nos méritos do conceito do álbum, por que daí me derramo em lágrimas. Pena que a banda acabou, mas Rikard está aí com a Gungfly para dar sequências aos seus incríveis trabalhos. Discaço!

André: Como organizador da série, sou o único aqui que sabe quem indicou o quê. E sei bem o quanto o Mairon ama o Beardfish, votando frequentemente em seus discos nos Melhores de Todos os Tempos. E quando o nosso doutor indicou este trabalho, me lembrei da imensa qualidade dessa banda (da qual eu deveria ouvir mais) e que infelizmente encerrou suas atividades há alguns anos. O instrumental dos caras pfffff… excepcional. Rikard tem um vocal excelente, com uma pronúncia linda de cada palavra que canta em inglês. Não vou destacar uma música em particular. Destaco o trabalho inteiro. Vale um 10 fácil.

Daniel: Mais um ótimo disco. Aos meus ouvidos, as influências de Yes e Genesis são marcantes, mas apenas como isto mesmo, influências, a partir das quais o Beardfish desenvolve sua própria sonoridade. Fiquei bem impressionado com a qualidade e a beleza das melodias, especialmente na linda “If We Must Be Apart (A Love Story Continued)”. Mais uma ótima indicação.

Davi: Não sou um grande especialista em Beardifsh, o Mairon é o grande fã deles por aqui, mas já conhecia um álbum deles ao menos. Lembro que ouvi o Sleeping In Traffic Part Two para alguma seção daqui do site. Em relação ao Comfortzone, temos um álbum com arranjos bem variados, por vezes até esbarrando no metal (como ocorre nas faixas “King” e “Daughter/Whore”). “Can You See Me Now”, traz uns backings meio beatle, me remetendo à grupos como Spock´s Beard ou Bigelf, o que me agrada bastante, mas os grandes destaques ficam mesmo com “If We Must Be Apart” e a faixa-título “Comfort Zone”. Bom disco. Vou procurar ouvir mais alguma coisa deles.

Fernando: O Beardfish foi umas das maiores surpresas nesses últimos anos para mim e Confortzone é um disco que toda vez dá gosto de colocar. “Hold On” é uma baita música. A faixa “Comfort Zone” é daquelas músicas que é tão agradável que mesmo nas primeiras audições parece que a ouvimos faz anos. Variações de tempo, melodias, boas vozes, tudo sem exageros na parte técnica, que é um dos pecados de várias bandas do prog atual. Tem até um “heavy metal” em “Daughter/Whore”. Outro ponto que me chamou a atenção é a mescla na medida certa da sonoridade clássica com o estilo mais moderno do progressivo.

Ronaldo: O norte da Europa é um dos principais pólos de rock progressivo nos anos mais recentes. Os suecos do Beardfish representam bem a safra mais recente do país, ainda que um de seus fundadores tenha fundado um novo e frutuoso projeto, o Gungfly. O som da banda é bastante voltado para as guitarras, mas com mínimos resquícios de heavy metal, o que por si só, já torna o som da banda bastante distinto. Também há muito espaço para os vocais, em um estilo que o instrumental predomina. Há trechos realmente geniais nas músicas, ainda que vezes me soe um bocado excessivo a quantia de ideias diferentes trabalhadas em uma única música. A sonoridade é bastante agradável, tanto para os fãs da escola clássica do estilo, quanto para os fãs mais  contemporâneos.


The Neal Morse Band – The Grand Experiment [2015]

Por Fernando Bueno

“Se vocês não gostam de músicas longas, estão no lugar errado”. É assim que Neal Morse se dirige ao público em um DVD do Transatlantic – banda na qual ele também tem Mike Portnoy como parceiro musical – meia hora após o início o show depois de tocar a primeira música. E essa característica é transferida para quase tudo o que ele faz. A impressão que dá é que ele amou Tales From Topographic Oceans quando garoto. Aqui a faixa longa é “Alive Again”, nome que me remete lá à uma faixa do Snow, o grande disco de sua carreira na minha opinião. Porém ninguém pode dizer que Morse não tem uma sensibilidade absurda de dar toque de pop para músicas longas e intrincadas. O seu senso melódico é absurdo mostrando que suas influencias vão muito além dos medalhões do progressivo setentista, mas também tem Styx, Kansas, Kayak, ELO e a lista vai embora. Faixas como “Agenda” e a faixa título vão ficar nos seus ouvidos por dias.

André: Quando penso em Neal Morse e suas inúmeras bandas e projetos do qual faz (ou fez) parte, sempre penso naquele prog exagerado, cheio de camadas e texturas de diferentes sons, muitas quebras (várias durando poucos segundos) e aquele lado mais espalhafatoso do prog como se ele fosse o Emerson, Lake & Palmer do século XXI. Vim esperando isso ao botar o disco para tocar. Entretanto, notei que aqui ele está bem menos exagerado em suas composições e muito mais focado em passar as suas mensagens cristãs. O que mais surpreende aqui é aquela pegada hard rock de “Agenda” por exemplo, coisa que nunca esperaria em meio a este trabalho. No geral, bom álbum, nada espetacular, mas que é suficiente para permanecer aqui pelos meus arquivos para uma futura nova audição.

Daniel: Trabalho interessante, embora eu perceba que lhe falte homogeneidade. Se a faixa de abertura e a de encerramento são realmente muito boas e com generosas doses de elementos que fãs de progressivo podem curtir bastante, as composições que estão entre elas são apenas genéricas e carecem de maiores atrativos, especialmente a insossa “Agenda”.

Davi: Tenho um amigo que sempre que comento de um novo trabalho envolvendo o Mike Portnoy, ele pergunta se o cara está tentando bater algum recorde. kkk E cá estamos… Mais um disco a contar com o talento de Portnoy. Neal Morse tem um estilo bem próprio de tocar e cantar. Gosto muito do trabalho que ele fez com o Spock´s Beard, mas ainda não tinha parado para ouvir o Neal Morse Band. Não achei tão distante. Instrumental bem prog com trabalhos vocais com um pé no comercial (no bom sentido da expressão, é claro). Mais um trabalho extremamente bem feito, repleto de ótimas canções e com uma execução impecável de todos os envolvidos. É o meu trabalho preferido da lista, sem dúvidas, mas que poderiam ter nos poupado de “Agenda” e do crime musical que cometeram em “MacArthur Park”, ah, isso poderiam… Faixas preferidas: “The Call”, “The Grand Experiment” e “Alive Again”.

Mairon: Assim como o Marillion, tudo o que envolve o nome Neal Morse eu tenho um pré-conceito gigante. O cara e seus projetos (principalmente Transatlantic e Spock’s Beard) criam discos muito longos, cheios de empáfia, que até possuem boas canções, mas a megalomania é tamanha que acaba afetando muito minhas audições. Aqui estão cinco canções, sendo uma delas com mais de 25 minutos, “Alive Again”, que durante a introdução instrumental até é interessante (lembrando muito Dream Theater), mas quando entra os vocais, começa o sono e acaba o tesão. E é impressão minha ou o riff que surge vez que outra é inspirado em “In Held ‘Twas in I”?. Até há vários momentos legais presentes ao longo de “The Call”, que realmente eu curti, só que esta é a faixa que abre o disco. Quando a faixa-título começou, a bateria me encheu o saco, e daí fui ver que era o que suspeitava, o Portnoy segurando as baquetas. Esse cara é o ser mais prepotente do mundo do rock, e então, The Grand Experiment para mim se tornou um disco do Dream Theater com um vocalista decente, mas com um guitarrista bem mais fraco que o Petrucci. A chatice de Portnoy toma conta de “Agenda”, eita musiquinha sem graça. É justamente “Waterfall”, linda canção levada por violões e vocalizações, e uma segunda parte com um lindo clarinete solando, portanto sem a participação de Portnoy, onde a coisa funcionou. Bela canção para um disco longo, mas representante fiel do progressivo insosso que Neal Morse faz há algum tempo. Em tempo, a versão para “MacArthur Park” ficou muito boa, e poderia ter entrado como uma das faixas do disco.

Ronaldo: Neal Morse é um dos músicos mais ativos do rock progressivo atual, envolvido em diversos projetos e com uma longa discografia. Sua banda conta com o renomado baterista Mike Portnoy, que felizmente trabalha 100% para o time (o que nem sempre acontecia em seus trabalhos pregressos). O estilo praticado por Morse é bastante melódico, com algo parecido com “refrões” em suas suítes, nos quais parece que o público é instado a “cantar junto”; em suma, como Morse é vocalista, as composições são orientadas para os vocais. Na engrenagem do disco, isso funciona muito bem, já que os vocais ajudam a nortear melhor a audição do que um disco puramente instrumental. A parte do instrumental é muito caprichada e agradável de se ouvir.


Marillion – FEAR [2016]

Por Davi Pascale

Essa banda sempre foi alvo de muitas críticas. Quando comecei a ter interesse no som dos caras, todo mundo que eu perguntava sobre dizia: “Conheço, mas é meio chato”. Sei, lá, todos os álbuns que ouvi deles, curti. Também existe uma galera que diz que não os considera prog ou que só considera progressivo a fase Fish. Essa discussão deixo para os colegas daqui. Eu, particularmente, sempre os enxerguei como parte da cena. Esse disco em questão, comprei no ano de lançamento. É um disco meio melancólico, mas acho os arranjos super bonitos e bem resolvidos. Tudo na dose certa, sem exageros. As letras também são boas e refletia, em diversos momentos, a fase em que a Inglaterra estava atravessando. Vamos ver o que nossos colegas têm a dizer sobre o disco. Meus momentos preferidos ficam com as suites “El Dorado”, “The New Kings” e com o single “Living In Fear”.

André: Não sei o porquê tanta gente chia com essa banda. Não é toda a sua longa discografia que é boa, mas tem vários discos legais. Talvez por ter tido a “responsabilidade” de tentar carregar o prog nos anos 80 esta acaba recebendo muito mais críticas do que eu acho que deveria. E eu não tinha ouvido esse e gostei também. Nada espetacular, mas um trabalho bom e sólido de uma banda já bastante veterana. Gostei bastante daquele sintetizador “fadinha” da faixa “The Leavers I: Wake up in Music” por exemplo. Ou daquela melodia de teclado oitentista de “El Dorado III: Demolished Lives”. São coisas simples, mas que sempre vejo com bons olhos (e ouvidos) por usarem certos timbres mais incomuns ou que andam esquecidos. Enfim, eu curto.

Daniel: Este eu detestei. Fiquei desapontado com a falta de “punch”, de potência, das canções. Há uma dose cavalar de monotonia nas músicas e permaneci esperando que elas deslanchassem, mas em uma vã esperança. Excessivamente monocromático, este álbum FEAR realmente não é feito para meus ouvidos.

Fernando: Sou daqueles eternos fãs de Marillion com Fish. Talvez o Marillion seja uma das bandas que os fãs mais ressentem a saída do vocalista original, mesmo ele tendo saído há 3 décadas. Gostei do FEAR, mas acho ele inferior ao anterior, Sounds That Can’t Be Made [2012] e, claro à Brave e Marbles, a duas obras primas de Steve Hoghart na banda. Porém todos os discos com o Hoghart estão longe de serem perda de tempo de ouvir. São todos agradáveis, apesar de muitas músicas não serem tão marcantes.

Mairon: Confesso que tenho um grande pré-conceito com o Marillion, mas esse álbum até que me foi uma surpresa. De cara, a suíte “El Dorado” vem arrastada mas muito legal, com um bonito solo de Steve Rothery. Talvez fosse desnecessária a terceira parte, mas é uma boa canção no geral. “The Leavers”, segunda suíte do disco, começa muito bem, mas acaba se perdendo na segunda parte, mas se recupera nas demmais, principalmente pelo trabalho de piano de Mark Kelly. A última suíte, “The New Kings”, tem apenas um trecho que gostei, que é ” Why Is Nothing Ever True?”, por ser mais agitado, por que os demais trechos são muito arrastados e sonolentos. As faixas que não curti tanto são as que não são suítes, principalmente “Living in FEAR”, muito chatinha. “White Paper” tem um bonito piano e arranjo, mas consegue superar a chatice de “Living in FEAR”, e a curtinha “Tomorrow’s New Country” é só um trecho com voz e piano que encerra o disco. Achei o disco um tanto quanto arrastado, e se tivessem me dito que era algo do Steve Wilson, eu acreditaria, mas ao menos não foi um sacrifício ouvir um disco do Marillion, como foi outrora, nos tempos que essa banda entrava nas listas de Melhores de Todos os Tempos e causava vergonha alheia.

Ronaldo: Boa parte do que se chama rock progressivo atualmente ou pende para o metal, ou pende para o pop/rock psicodélico. Adjetivar variados tipos de música como prog parece estar na moda. O Marillion é um legítimo representante da segunda vertente, e isso vem de longe. A meus ouvidos, particularmente, eles sempre foram mais pop do que prog, ainda que a sonoridade remeta ao prog, com aquele estilo climático e viajante, mas com uma pegada mais moderna, super-produzida. Não sei bem o que diferencia esse trabalho de outros dentro da discografia da banda, mas no geral, é algo agradável de se ouvir, bem produzido, mas que não deixa grandes impressões e pode passar despercebido.


Opeth – In Cauda Venenum [2019]

Por Daniel Benedetti

Eu já fiz um texto sobre este disco para a consultoria e quem se interessar pode vê-lo aqui. Talvez este álbum esteja um pouco deslocado do tema, afinal, há doses generosas de metal neste trabalho, mas, ainda assim, considero-o um dos melhores discos com pegada prog da última década e ele só se eleva no meu conceito a cada audição.

André: Sempre achei essa banda um tanto superestimada. Até que me agrada um pouco essa fase mais “prog” do que metal dos últimos álbuns, mas sei lá, me falta alguma coisa na sonoridade deles para me fisgarem. E olha que já ouvi essa banda muito mais do que eu supostamente deveria. Já me esforcei bastante para gostar mais do Opeth, mas para mim, sempre vai ficar no máximo ali pelo médio.

Davi: Não conheço a discografia completa do grupo para afirmar se esse é seu melhor disco, mas já vi muita gente dizendo isso por aí. Pelo que ouvi aqui, arrisco dizer que há um certo exagero nessa história. O trabalho é, de fato, muito bem feito, mas não consigo enxergá-lo como uma obra-prima. Achei um bom disco e é isso. Os músicos são muito bons, onde destaco o trabalho de bateria de Martin Axerot e as guitarras de Fredrik Akesson. A sonoridade é interessante, mantendo um clima meio melancólico por trás dos arranjos que são oras pesados, oras calmos, mas em alguns momentos me bateu um sentimento de alguma coisa faltando por aqui. Os momentos que mais gostei ficaram por conta de “Dignity”, “Next of Kin”, “Universal Truth” e “Continuum”.

Fernando: Fosse 12-15 anos antes, quem diria que o Opeth estaria em uma lista de bandas progs? Claro que eles sempre usaram o estilo como um tempero de seu som, mas a partir de Heritage (2011) eles abraçaram o estilo de vez e ninguém pode falar que não estão sendo muito felizes com esses 4 discos que lançaram desde então com In Cauda Venenum sendo, possivelmente, o ponto alto dessa jornada. Resta ao ouvindo escolher se ele fica com a versão em sueco (a “original” segundo Akerfeldt) ou com a em inglês. Ambas foram gravadas juntas e saíram em discos separados, apesar de haver uma edição que vem as duas em um mesmo pacote. Porém aí vem uma pequena crítica. Para quem quer ouvir as duas versões o disco em si é longo demais, mais de 65 minutos.

Mairon: Ouvi esse disco sem saber o que esperar, e o início, com “Garden of Earthly Delights” me surpreendeu pelos teclados, parecendo que eu tinha voltado aos anos 80. Com a entrada de “Dignity”, o som me lembrou bastante Ghost, mas logo os violões modificaram essa impressão, e assim, o disco foi me surpreendendo com diversos momentos interessantes (“Heart in Hand” e “Charlatan”) e outros nem tanto (“Continuum”, “Lovelorn Crime” e “Universal Truth”). No geral, os teclados são o que mais me chamaram a atenção positivamente, e inacreditavelmente, “The Garroter” é uma faixa simplesmente brilhante. O violão do início, o piano hipnotizante, as passagens de guitarras com escalas de jazz, o solo (!!!!!!!) que música genial e incrível. EXCELENTE! Já conhecia esse Opeth progressivo de outras audições, e não me tornei fã da banda. O mesmo acontece aqui, é um bom disco, com ótimos momentos, mas não me pegou para comprar sua coleção, mas ressaltando que “The Garroter” está muito acima das demais faixas do CD.

Ronaldo: O Opeth, apesar de ser originalmente de heavy metal, é um dos maiores nomes do rock progressivo na contemporaneidade. Isso porque, apesar do peso nas guitarras, é uma banda que entende bem o mecanismo das composições clássicas do estilo e aplica essa fórmula com sucesso.  Obviamente, que o faz com uma assinatura própria, pontuada belos bons vocais de Mikael Akerfeldt e o ótimo baterista Martin Axenrot. Esse disco, apesar de manter a pira do rock progressivo acessa desde 2011 com o disco Heritage, é o mais pesado dos últimos anos. Diferentemente da maioria dos pares do prog-metal, o Opeth traz canções cheias de variações com um ótimo encadeamento de ideias e sem forçar a barra em um virtuosismo estéril.

10 comentários sobre “Consultoria Recomenda: Rock Progressivo dos anos 2010

  1. Certamente, o melhor desse Recomenda é o retorno do Daniel. Long Live meu caro, e que bom que estás te recuperando. Conte conosco sempre

  2. Comentando agora sobre alguns comentários.

    Percebi que o pessoal colocou de uma maneira inferior que a produção do Dedalo e Icaro era de décadas anteriores. Sinceramente, nos últimos tempos, ter uma produção oitentista e noventista é muito mais elogiosa para mim do que uma produção “aos moldes atuais”. Eu não tenho mais empolgação nenhuma pelas atuais produções mega-saturadas, com volume altíssimo ou com os instrumentos todos comprimidos. Quando eu ouvi o disco e percebi as diferenças de dinâmica no meio das faixas aquilo me deu um ânimo maior ao invés do contrário. Com um baterista um pouco mais habilidoso, a banda melhoraria ainda mais.

    Sobre o Beardfish, os discos que escutei são todos muito bons. Tá aí uma banda que se merece conhecer toda a discografia.

    Até hoje não entendo as razões do porquê o Opeth não me fisga. Tem alguma coisa nas composições do Mikael Akerfeldt que não me empolga. Nem eu sei explicar os motivos.

    Sobre o Mairon reclamando do Portnoy, pior de tudo que nem adianta pesquisar muito sobre outros trabalhos do Morse porque o Portnoy está em praticamente todos eles!

    1. Sobre o Neal Morse dá para ir atrás de alguns discos dele sem o Portnoy sim….rs Os discos que ele lança com o nome de The Neal Morse Band tem o Portnoy, mas os discos que saem só com o nome dele não necessariamente tem o Portnoy, mas é fato que ele em todas essas bandas em parceria com Morse é muito mais contido e o comentário do Ronaldo é totalmente verdade: “ele joga para o time”.

  3. Eu pensei antes de me decidir pelo Neal Morse de falar de algum disco do Spock’s Beard. Obviamente já seria sem o Neal e provavelmente escolheria o The Oblivion Particle. Também sei que muita gente prefere o The Similitude of a Dream ao The Grand Experiment, mas fui mais pelo meu gosto pessoal mesmo. Também pensei no Steven Wilson, mas sei da birra que o Mairon tem com ele. Aí pensei em alguma dessas bandas de metal que fizeram o mesmo que o Opeth e descambaram para o prog, tipo o Anathema, mas fiquei com receio de não ser muito aceito. Lembrei do Halas, do Riverside….

    1. Mas a ideia é recomendar aquilo que gostar. Acho que não dá para pensar muito em “querer nos agradar” porque sempre vai ter um ou outro que acabe não gostando. Muito difícil uma unanimidade. Além disso, dependendo do álbum, dá até para mudar as impressões da pessoa dependendo do disco.

  4. “ao menos não foi um sacrifício ouvir um disco do Marillion, como foi outrora, nos tempos que essa banda entrava nas listas de Melhores de Todos os Tempos e causava vergonha alheia.” hahahahahaha

  5. Dicas muito boas, no geral, pessoal! Mairon – gosto mais do Gungfly do que do Beardfish e sou bastante grato a você ter trazido esses materiais para a página da CR.
    Abs,

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