Histórias de um colecionador: Manias

Histórias de um colecionador: Manias

Por Ronaldo Rodrigues

Todo colecionador é, antes de tudo, uma pessoa cheia de manias. Nosso herói não é diferente. Algumas manias são “autorais” e outras foram incorporadas de pessoas que Eurico foi conhecendo ao longo de sua trajetória como colecionador.

Como já dissemos em edições anteriores, Eurico coleciona todo tipo de mídia (LP, CD, K7, DVD) e se considera até mesmo um colecionador de arquivos mp3, já que ele trata esse acervo com o mesmo esmero e critério que sua coleção física. Assim como muitos que colecionam discos, Eurico frequentemente se pergunta qual é o melhor critério para organizar seu acervo, sem conseguir se decidir exatamente qual critério adotar. Como um dos prazeres de Eurico é passar horas burilando seus discos enquanto o som rola, de tempos em tempos Eurico muda o critério de organização de seus discos, ainda que o famoso critério da ordem alfabética prevaleça. Em uma dessas empreitadas uma tragédia se abateu sobre parte de sua coleção – Eurico havia separado alguns CDs ainda não organizados em uma caixa e deixou a parte no quarto. Naquela noite, caiu uma chuva muito forte e Eurico sabia que a casa tinha algumas goteiras, mas não se preocupou muito. Apenas na manhã do dia seguinte, Eurico entrou no quarto onde estava a caixa e para sua infeliz surpresa a caixa havia ficado bem embaixo de um ponto de goteira. Alguns discos ficaram totalmente molhados; ao tentar abrir para averiguar o estrago, alguns encartes de CDs se rasgaram. Dentre essa seleção, estavam alguns dos primeiros discos que Eurico havia comprado, como Aqualung do Jethro Tull, e Climbing!, do Mountain. Depois dessa, o cuidado com essas intervenções passou a ser redobrado.

Essas revisões da catalogação também valem para Eurico dar um tapa na conservação dos discos e tentar reduzir um pouco de sua rinite alérgica. Além dos clássicos protocolos de limpeza de LPs, Eurico tem verdadeira fixação pelos plásticos que protegem LPs e CDs. Não só ele coloca plásticos em absolutamente todos os discos para que as embalagens não risquem, como também os plásticos não podem ficar amassados ou riscados pela fricção uns com os outros. Então, periodicamente, os plásticos são revisados e trocados. Eurico não se importa com o trabalho, pois isso é sempre uma oportunidade para manusear seus preciosos discos, lembrar de histórias relacionadas a eles e, claro, botar o som para rolar. Mas Eurico não está sozinho nessa mania dos plásticos. Seu amigo Wanderley, dono de uma invejável coleção de edições japonesas, vai além na mania, colocando dois plásticos em cada disco!

Na hora de ouvir, outras manias de Eurico se manifestam. A primeira mania é relacionada as famigeradas “bonus-tracks” das reedições em CD. Eurico tem um caso de amor e ódio com elas. Quando as faixas bônus se referem a registros ao vivo ou compactos da mesma época do disco, com músicas que não foram incorporadas nos álbuns oficiais, Eurico ganha o dia, já que seu orçamento é bastante limitado para gastos excessivos com compactos. Por outro lado, se as faixas bônus se referem a material de uma época muito distinta do material do disco (por exemplo, com músicas de um retorno da banda após muitos anos), Eurico fica irado. Já teve épocas de Eurico pegar discos, como as edições deluxe de Exile on Main St. dos Rolling Stones ou Layla, do Derek & Dominos, e só ouvir as faixas bônus.

Uma mania que Eurico incorporou veio de seu amigo Armando. Armando é um cara bastante rodado no mundo dos discos, que não hesita em enganar a mulher para direcionar um pouco mais do orçamento doméstico para os discos. Armando é um cara extremamente metódico – só ouve músicas aos sábados, mas no sábado a casa vem abaixo – ele acorda às 4 h da manhã e ouve som quase que ininterruptamente até as 14 h, na companhia de muito vinho e guloseimas. Armando costumava passar a semana inteira separando os discos que iria ouvir e o fazia sempre de forma muito criteriosa, organizando pilhas de 5 discos. Ele fazia 4 ou 5 pilhas com os mais loucos critérios – discos com capas em tons de verde, discos com caveiras na capa, discos de rock progressivo alemão com a letra “T”, discos com mais de 3 faixas-bônus, enfim. Outra mania de Armando era ligar para Eurico para contar quais tinham sido os critérios adotados para as audições do sagrado sábado. Eurico se divertia com aquilo e aproveitava para pegar umas dicas, visitando o confortável apartamento de Armando eventualmente, quando moravam na mesma cidade. Vale ressaltar que essas visitas nunca aconteciam nos sábados, já que estes eram devotamente dedicados aos discos, em audição solitária com portas fechadas e isenta de perturbações. Eurico começou a adotar a mania de Armando, mas de uma forma diferente, se transformando em um obcecado criador de playlists, dos mais loucos critérios, com seu acervo de arquivos mp3. Mas essa mania vamos detalhar em uma outra ocasião.

5 comentários sobre “Histórias de um colecionador: Manias

  1. Minha mania é só guardar o disco de ouvir, catalogar e claro, ler tudo o que há na capa e no encarte. Essa de trocar os plásticos eu não faço com frequência, mas faço, agora dois plásticos é sim uma baita mania, kkkk

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