Discografias Comentadas: Mötley Crüe (Parte I)

Discografias Comentadas: Mötley Crüe (Parte I)

Por Pablo Ribeiro

Na estrada há 4 décadas o Mötley Crüe foi formado em 1980 pelo baixista californiano Nikki Sixx (nascido Frank Carlton Serafino Feranna Jr.) e pelo baterista grego – de Atenas – Thomas “Tommy Lee” Bass, dupla que ainda no mesmo ano se juntou ao guitarrista Robert Alan Deal (nascido em Indiana, nos Estados Unidos, e que adotou a alcunha de Mick Mars) e ao vocalista californiano Vincent “Vince Neil” Wharton. No decorrer de suas três décadas de existência, a banda ficou famosa por escândalos sexuais, mortes, acidentes, overdoses, brigas internas homéricas (não é segredo pra ninguém que pelo menos metade dos integrantes dos grupo se odeia até a morte), doenças e toda a sorte bizarrices. Nada disso, entretanto foi mais importante que o elemento mais poderoso de responsabilidade do quarteto: a música. São nove discos de estúdio (sem contar EPs, álbuns ao vivo e dúzias de singles) contendo canções dignas das mais altas notas e que, sem sombra de dúvida, merecem estar entre alguns dos maiores clássicos não só do hard rock californiano que fez sucesso na década de 80, mas do rock ‘n’ roll em geral. São exatamente os cinco primeiros discos de estúdio do Mötley Crüe que receberão uma geral nas próximas linhas.


A1bYvxz2+4L._SL1500_Too Fast For Love [1981]

Lançado no ano seguinte ao da fundação da banda, o álbum foi precedido pelo single de “Stick to Your Guns” que continha a faixa “Toast of the Town” no lado B. Originalmente, Too Fast For Lovefoi bancando pela própria banda (que também produziu a bolacha), e continha dez faixas, incluindo o lado A do single supracitado. Percebendo, contudo, o potencial comercial do disco, a gravadora Elektra (subsidiária da poderosa Warner) remixou as faixas do álbum, limando  “Stick to Your Guns” do track list final e ainda deu uma mexida na arte da capa (principalmente nos contrastes de cores e no logotipo). Basicamente, a remixagem da Elektra deixou o álbum menos cru, com uma sonoridade consideravelmente menos “suja”, dando uma aliviada no som. Muitos fãs – inclusive este que vos escreve – ainda hoje preferem a mixagem original do álbum, apelidada de Leathür (nome do selo independente de propriedade da banda, responsável pela versão original), por muito tempo impossível de se encontrar, já que a quantidades de álbums lançada com essa mixagem foram reduzidíssima, e sua distribuição extremamente limitada. A versão Leathür de Too Fast For Love foi finalmente relançada em sua totalidade em 2003, no lançamento do primeiro volume do box-set Music to Crash Your Car to. Musicalmente, o disco tem o frescor dos primeiros anos da banda e parece ser a cria bastarda entre Kiss, Sex Pistols e alguma coisa do Judas Priest, apesar de já apresentar uma forte identidade em seu hard rock, repleto de energia e ira. Destaques para “Live Wire”, “Public Enemy #1“, Take Me to the Top”, “Piece of Your Action”, a autobiográfica composição de Sixx, “On With the Show” e a faixa-título. De longe uma das melhores estreias do hard rock.


Motley-Crue-Shout-At-The-Devil5Shout at the Devil [1983]

Dois anos depois do debut, chegou às prateleiras aquele que é considerado pela esmagadora maioria dos fãs o melhor disco do Mötley Crüe. Juizo de gosto à parte, o álbum é uma coleção de clássicos atemporais e definiu os próprios parâmetros musicais do quarteto. Shout at the Devil é mais pesado e agressivo que seu antecessor (e que a maioria de seus sucessores), características que não dizem respeito apenas à questão musical, mas também às letras, ao visual dos músicos e da capa e encarte do material. Musicalmente, o disco constitui um misto de hard rock, glam rock e punk, perfeitamente equilibrado com as influências heavy metal dos seus responsáveis. Essa mistura produziu músicas atemporais, clássicos absolutos tanto do grupo quanto do hard rock (e seus subgêneros) e até do próprio rock ‘n’ roll. Encontram-se neste disco maravilhas essenciais do calibre de “Too Young to Fall in Love” (com a inesquecível entrada de bateria de Tommy Lee), “Looks that Kill”, “Knock ‘Em Dead, Kid”, “Red Hot“, “Ten Seconds to Love”, “Bastard”, o cover de “Helter Skelter” (composta por Paul McCartney, lançada originalmente no disco autointitulado dos Beatles, de 1968), e claro, a faixa-título. Todas destruidoras! Se por algum motivo apenas um disco do Mötley Crüe tivesse que ser escolhido, com certeza seria esse. Essencial e obrigatório, como qualquer clássico!


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Theatre of Pain [1985]

Depois do sucesso do disco anterior, em 1985 chegou a hora para mais um álbum. Theatre of Pain não traz a mesma qualidade de seu antecessor: as composições são, de um modo geral, mais fracas, e a banda já não toca com a mesma garra. Culpa, em parte, dos excessos, principalmente de álcool e drogas. É aqui que Sixx intensifica sua espiral de decadência pelo mundo da heroína. Ainda assim, o disco ainda gerou pelo menos dois hits: o cover para  “Smokin’ in the Boys Room” (Brownsville Station) e a power ballad “Home Sweet Home“, essa, um dos maiores sucessos dos caras, presença obrigatória no fechamento de praticamente todos os shows da banda desde então. Theatre of Pain é considerado, pela maioria dos membros da banda, o material mais fraco e de menor qualidade que lançaram até hoje.

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Mötley Crüe em 1985

A1clTusCFtL._SL1500_Girls, Girls, Girls [1987]

Dois anos depois de seu antecessor, Girls, Girls, Girls chegou às lojas com um som bem mais influenciado pelo blues e com temática lírica abordando o modo de vida dos caras na época. Strippers, motocicletas e álcool eram os motes das canções, explicitamente ou não. Um pouco mais forte que Theatre of Pain, o álbum, ainda assim, ficou aquém da capacidade criativa da banda. Graças, ainda, aos excessos por parte de seus integrantes. Mesmo sendo composto basicamente por canções que sobraram das sessões dos dois discos anteriores (o grupo teve, inclusive que incluir uma faixa gravada ao vivo, para preencher o tempo do disco), são de Girls, Girls, Girls alguns dos sucessos mais significativos nos shows do quarteto, entre elas “Wild Side” e a faixa-título. Outra power ballad também teve grande êxito na época: “You’re All I Need“, com sua letra sobre assassinato, bem ao estilo de Sixx.


0de7d0db0ccb5a072a2b17aa4895770f.500x500x1Dr. Feelgood [1989]

Mesmo mantendo seus fãs e garantindo altas colocações nas paradas, além de considerável sucesso de vendas e público, era óbvio que mudanças no comportamento dos integrantes da banda (Sixx principalmente) eram necessárias. A criatividade dos caras ficava cada vez menor e, em consequência, a pressão de empresários e gravadora começava a crescer. O álbum seguinte (que quase não chegou a ser feito) seria a prova de fogo do Mötley Crüe. Sendo assim, depois de se internarem em clínicas, gastando fortunas para se reabilitarem dos vícios, os caras contrataram o produtor canadense Bob Rock para a produção do sucessor de Girls, Girls, Girls. Gravado em Vancouver (Canadá), Dr. Feelgood trouxe um som pesado, direto e coeso (apesar de um pouco polido demais para os padrões do grupo, muito graças à produção de Bob Rock), bem na cara. Além disso, a bolacha conta com participações de Bryan Adams, Sebastian Bach (então no Skid Row), Robin Zander e Rick Nielsen (Cheap Trick), Jack Blades (Damn Yankees e Night Ranger) e Steven Tyler (Aerosmith) – entre outros – nos backing vocals de diversas músicas. As composições, aliás, são o ponto forte do álbum, de onde saíram os megahits “Kickstart My Heart”,, “Same Ol’ Situation (S.O.S.)“, “Don’t Go Away Mad (Just Go Away)“, a power ballad “Without You” e a faixa-título. O resultado foi o primeiro lugar nas paradas da época, acertando em cheio o gosto dos fãs, alavancando a popularidade do grupo a níveis estratosféricos.

Depois do lançamento do disco e de sua turnê de divulgação, o Mötley Crüe aproveitou para lançar sua primeira coletânea, intitulada apropriadamente como Decade of Deacadence, incluindo remixes, canções ao vivo e inéditas, antes de dar uma pausa para merecidas férias. Com milhões de dólares acumulados, fama exorbitante e popularidade proporcional a ambos, o Mötley Crüe se encontrava em sua melhor forma, prontos para dominar de vez o mundo. E nada poderia pará-los. A não ser eles mesmos…

4 comentários sobre “Discografias Comentadas: Mötley Crüe (Parte I)

  1. Os 2 primeiros álbuns são obrigatórios + Dr Feelgood e vc tem os 3 melhores do Motley Crue !

  2. Acredito ser um dos poucos que discorda que o Theatre of Pain é o álbum mais fraco da banda. Considero um ótimo disco. Desses cinco primeiros, acho o GGG o mais fraco.

  3. Amo o Motley Crue, ta no meu top 10 de bandas favoritas. Desses 5, o ranking de qualidade seria…

    1- Shout At The Devil
    2- Dr. Feelgood
    3- Too Fast For Love
    4- Girls, Girls, Girls
    5- Theatre Of Pain

    Mas o meu favorito é o primeiro, ja na parte da versão eu prefiro a da Elektra por ser melhor produzido, mas tambem gosto da original.

    Uma das melhores bandas de Hard Rock da historia (e pra mim a melhor de Glam), pena ser subestimada por alguns muito por causa do visual. Nunca sera esquecida.

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