War Room: Graham Bond Organization – There’s A Bond Between Us [1965]

War Room: Graham Bond Organization – There’s A Bond Between Us [1965]

Com André Kaminski, Mairon Machado e Ronaldo Rodrigues

Voltamos hoje com mais um War Room, dessa feita, explorando um lançamento que irá completar 55 aninhos em novembro. Trata-se de There’s A Bond Between Us, o segundo álbum de um dos primeiros super grupos da história, a Graham Bond Organization, que contava nada mais nada menos com Graham Bond (hammond, mellotron, vocais), Jack Bruce (baixo, vocais), Ginger Baker (bateria) e Dick Heckstall Smith (saxofones, flautas, instrumentos de sopro). Coloque o álbum para rodar e acompanhe a opinião faixa a faixa dos participantes, e não esqueça de deixar seu comentário também.


1. Who’s Afraid Of Virginia Woolf?

Ronaldo: Só essa entrada triunfal do Hammond já vale a faixa. Isso é que eu chamo de “Swinging London”!

Mairon: O disco já abre com Ginger Baker mostrando ao mundo quem é Ginger Baker. Esses metais somados com os instrumentos de sopro é um delírio. Graham Bond era um baita tecladista, e seu solo nessa faixa de abertura é matadora.

André: Longo instrumental. Aliás, não teve vocais, mas começou muito bem


2. Hear Me Calling Your Name

Mairon: Swingzão massa da porra. Jack Bruce e sua voz inconfundível. Diferente do que podemos esperar para o Cream, por exemplo, mas dá para imaginar como seria isso com a guitarra do Clapton

Ronaldo: Essa segunda faixa já tem aquele temperinho do pop dos anos 60, aquele pop orquestral repleto de boas harmonias.

Mairon: O Organization de Graham Bond, foi assim, como os Yardbirds, um berçário de grandes músicos – nesse caso, revelou Jack Bruce, Ginger Baker e Dick Heckstall Smith (futuro Colosseum). É uma banda ímpar.

Ronaldo: Eu fico imaginando ter o Graham Bond, o Ginger Baker e o Jack Bruce na mesma banda…a treta devia ser feia nos ensaios! rs

Mairon: Diz que várias vezes o Bruce e o Baker quebraram o pau, jogando cadeira uns nos outros, e até instrumentos

André: Adorei como o sax no fundo dá uma embelezada na canção. Por sinal, é uma letra simples mas ganchuda.


3. The Night Time Is The Right Time

Mairon: Blues para colocar a casa abaixo, com toda uma pimenta soul para fazer a coisa ferver mais ainda. Esse clima gospel desse blues para mim é o ponto alto dessa faixa. Dá vontade de cantar junto;

Ronaldo: Essa faixa é um standard de primeira. Não me lembrava da versão deles. O interessante é como o som tem pegada rock mesmo sem guitarras! vale ressaltar que nos primórdios do rock o saxofone tinha mais protagonismo.

André: Aqui ele se destaca no baixo. Por sinal, me pergunto porque diabos ninguém ou quase ninguém monta uma banda com uma sonoridade nesse estilo anos 50/início dos anos 60, Com mais sax, baixo protagonista e tudo mais

Ronaldo: o Dick Heckstall-Smith é uma fera no sax e a batida do Ginger Baker é inconfundível; ele e o Jon Hiseman tocavam blues na bateria como ninguém mais.


4. Walkin’ In The Park

Mairon: Essa música me lembra muito uma faixa que o Colosseum gravou depois, agora não lembro o nome, mas tá no ao vivo.

Ronaldo: Essa foi aproveitada pelo Colosseum também, com vários bpms a mais! sabe de quem é a autoria, Mairon? Eles lançaram com o mesmo nome, acho que no primeiro álbum deles.

Mairon: pois é, o Colosseum gravou isso né?

Ronaldo: Sim, é a faixa de abertura do primeiro álbum deles…mas a versão deles é bem mais rápida do que essa. Ambas muito legais!

Mairon: Ah sim, não lembrava do disco de estreia. É que o que eles fazem no ao vivo, com as vocalizações, é de tirar o chapéu.

André: Eu sinto que preciso ouvir mais este estilo de rock. Leve, sem frescuras, alto astral

Ronaldo: Solo de Hammond sensacional!

André: Olha o solo de Hammond, brilhante.

Mairon: Solo lindo de Hammond.

Ronaldo: E essa condução do Ginger Baker é maravilhosa…sou muito fã dele!

André: Conheço pouco do Colosseum para saber, vocês dois que são as autoridades progs do site que me iluminem.

Ronaldo: André, pode pegar tudo do Colosseum… é uma banda de primeira, musicalidade riquíssima…desenvolveu do blues até o progressivo sinfônico.

Mairon: Concordo com o Ronaldo sobre o Colosseum.


5. Last Night

André: Achei que iria começar um “Pretty Woman” hahahahahaha.

Mairon: Voltamos para os rocks dançantes baseados em linhas de blues. Ouvir a Graham Bond sempre me faz pensar como que muita gente acha que nos anos 60 só havia Beatles e Stones. Olha isso cara, que sonzeira.

Ronaldo: Esse tipo de base, essa linha de baixo, é muito comum no rock sessentista…vem do blues! Sonzeira total, diversão pura!

André: Pensem nos bailinhos de rock ‘n’ roll dos anos 50 e 60. Aquele povo sim sabia se divertir

Mairon: Ahã. Não tinham que ficar no whats à toa …

Ronaldo: Hammond fritando!

André: Olha, mesmo as mais simples das canções tem solos magníficos. Que solo de Hammond, meu Deus.


6. Baby Can It Be True?

André: Essa é para dançar coladinho junto a guria e dançando devagarinho

Ronaldo: Eu acho curioso que o Ginger Baker já tinha muita assinatura desde esses primórdios. Vejo que o Jack Bruce desenvolveu mais (se comparar o material dele de 1965 e o de 1975, por exemplo), mas o Ginger Baker manteve mais ou menos a mesma abordagem em todos os seus trabalhos.

Mairon: Cara, Jack Bruce tem uma voz tão rouca para a idade dele. Esse cara devia fumar uns 15 maços de cigarro por dia. Baladaça!!

André: O pigarro do amor

Ronaldo: Que delícia de baladinha…puxou a pegada das big bands. E o que é esse orgão? Acho que o Jack Bruce treinava bastante pra isso também. O orgão também é maravilhoso. Não sei se vocês notaram, mas tem uma passagenzinha de mellotron ali… foi uma das primeiras aparições do instrumento em gravações.

Mairon: Lindo

André: Aquele sonzinho de fita magnética é inconfundível.

Ronaldo: Antes dos Beatles em “Strawberry Fields Forever”.

Dick Heckstall Smith, Jack Bruce, Ginger Baker e Graham Bond

7. What’d I Say

Mairon: Cara, Ginger Baker é um monstro de ritmos. O que é isso que ele cria aqui? Uma espécie de samba, que misturado com o saxofone e com o Hammond sacodem até as paredes da casa. Mais uma sonzeira para curtir nas festas e nos pubs ingleses.

Ronaldo: Agitada! na mesma pegada de “I Feel Fine” dos Beatles… sóque aí é Ginger Baker na parada…então o bicho pega!

André: De fato, o Baker se destaca muito nessa faixa

Ronaldo: Esse Hammond dá um caldo maravilhoso na faixa!

André: Leves toques nos pratos. Até um glorioso cowbell hahahahaahaha.

Mairon: Eita solo de saxofone bom de se ouvir.

Ronaldo: Essa tirada no cowbell é realmente surpreendente! rs

Mairon: Como o Baker dizia, a GBO é a banda de jazz mais blues da história do rock britânico

Ronaldo: Tem razão… é nítida a transição entre os dois estilos!

Mairon: De sacolejar o esqueleto!

André: Aquela hora que acelera a bateria e finaliza de maneira apoteótica

Ronaldo: Termina como um bom bluesão.


8. Dick’s Instrumental

Mairon: Melhor faixa do disco. Saxofone mandando ver, blues arrepiante, e um arranjo descomunal. Como que uma banda tão foda veio virar algo tão diferente, e igualmente poderoso, trocando dois membros e adicionando uma guitarra? Inacreditável

André: Muito bem, estou gostando bastante, Mairon. Pelo menos me acordou com um grande disco

Ronaldo: O que eu acho mais interessante é como essas bandas do blues britânico viraram e reviraram o blues americano do avesso pra criar coisas inovadoras como essa faixa. As outras faixas são muito divertidas e boas de se ouvir, mas essa foi além e traz várias ideias muito interessantes.

André: Pelo que diz na descrição do vídeo, a pergunta é como o Graham Bond teve a coragem de demitir o Baker e o Bruce.

Mairon: O Bruce pediu o boné por que não aguentava mais o Baker, e foi trabalhar com o John Mayall.

Ronaldo: O Eric Clapton disse uma vez que o Ginger Baker era um canalha, mas era dos melhores da área, então…rs

Mairon: A história é bem interessante. Eu to lendo o Crossroads ((biografia do clapton), e o trecho que é sobre a GBO é sensacional. Quando foram montar o Cream, o Clapton disse pro Baker: ou o Bruce ou nada, e o Baker engoliu.

Ronaldo: Fico só imaginando a treta!


9. Don’t Let Go

Mairon: Outro rockzão anos sessenta, para levantar as meninas e girar pelo ar. Mais uma sonzeira.

Ronaldo: Muito groove nessa! também acho que tem mellotron nessa faixa (tocada de uma forma bem pouco ortodoxa).

André: Uma faixa diferente, mas interessante, o Hammond é muito diferente aqui.

Mairon: O mellotron para mim está como um acorde de fundo.

André: É o mellotron que faz esse sonzinho específico, Mairon?

Ronaldo: Esses ataques entre a voz parece ser o mellotron também… tenho quase certeza que sim.

Mairon: Parece.


10. Keep A’Drivin’

André: Isso é muito Jovem Guarda hahahahahahahaha

Ronaldo: Mais um bluezinho soft…na linha do que o Cream viria a fazer em “Hey Lawdy Mama”.

Mairon: Mais um blues para agitar a galera. Bruce com sua voz roucaça, e a nítida impressão que já ouvi isso em outros discos do Bruce em sua carreira. A adição dos vocais femininos deu um up ainda mais saboroso para a faixa

Ronaldo: E com os vocais a la Doo-Wop.


11. Have You Ever Loved A Woman?

Mairon: Bah, nessa aqui o Graham Bond faz misérias. Acho que é a faixa mais conhecida deles né? Que baita blues

Ronaldo: O vocal do Bond nessa faixa está incrível!

André: É um cover do Freddie King, logo, não tem erro.

Mairon: Cara a categoria do Baker é acima do normal. Isso é 1965. Olha a diversidade de estilos que ele já tocou em pouco mais de meia hora.

Ronaldo: Não saberia dizer se é a faixa mais conhecida deles…acho que a banda é mais conhecida por nome (pelo conjunto da obra) do que por alguma faixa específica. O Baker realmente já era acima da média desde tempos imemoriais!

Mairon: Que solo de hammond. Jesus amado! Lindo

Ronaldo: Lindo demais…puro feeling.


12. Camels And Elephants

Mairon: Composição de Ginger Baker, então já sabem o que vem.

Ronaldo: Aqui surgem as doideiras!

André: Isso são as maluquices de bateria dele.

Mairon: Repito galera, 1965!!! Quem fazia algo assim nessa época? Pré-“Toad”, pré-“Do What Your Like” e por ai vai. Que baita solo, que baita arranjo.

André: Quase ninguém fez depois também

Ronaldo: Outra característica marcante do rock entre 65 – 67 é a tentativa de incorporar escalas da música oriental (de diferentes locais) no meio do rock ou fundi-las com o blues.

Mairon: Exato Ronaldo. Acho que é um dos primeiros solos de bateria gravado por uma banda tida como de rock.

Ronaldo: Prenúncio dessas duas faixas, com certeza…como disse antes, o Baker já tinha uma assinatura desde antes de ser bem famoso.

Mairon: Nessa forma assim, que o Bonham copiou na cara dura em “Moby Dick”, marcando o cymbal o tempo inteiro, até a sequência acho parecida, o crescendo e tal.

André: Uma música em que o protagonista é a bateria, quantas tem nos últimos 30 anos em grandes álbuns?

Ronaldo: Interessante esse detalhe, Mairon…não sabia dessa e nem me lembro de nada antes disso com solo de bateria.

Mairon: Só no jazz. E dessa forma, no rock, não lembro mesmo.

André: Só no jazz mesmo. Talvez alguma perdida no blues também.coragem para 1965 gravar algo assim.

Ronaldo: Pois é, André…de 80 em diante instrumentos além da guitarra perderam totalmente o protagonismo no rock.

André: No rock? Não lembro de nenhuma.

Mairon: Por isso Baker é Baker. E para quem acha que o solo de “Toad” é a origem, ouve isso!!! Destruindo as paredes aqui.

Ronaldo: Um dos maiores, sem dúvida nenhuma. Vejo alguns bateristas dizendo que ele não fazia nada demais, mas eu ignoro. Pra mim isso é inconteste.

Mairon: MONSTRO!!!!

André: Eu por exemplo se eu fosse músico, queria fundar uma banda em que o baixo fosse o protagonista. E eu seria o baixista é claro. Mas fica para outra vida

Ronaldo: Hahahaha!


Considerações finais

André: Sem considerações longas de minha parte hoje: discaço e ponto final.

Mairon: A Graham Bond era uma banda a frente do seu tempo. Esse segundo álbum é disparado o mais interessante, até pela presença do Baker. Me admira é que muita gente defende que só Beatles e Stones estavam na Inglaterra naquela época, e que inspiraram todo mundo. Bom, ouvir esse disco só me faz constatar que Beatles e Stones influenciaram muita gente, mas não esses gênios que criaram uma obra tão singular e sensacional

André: Orra, concordo e muito

Ronaldo: Já conhecia o disco (apesar de que fazia um bom tempo que não ouvia)…capta bem aquela pegada de blues e r&b que os mods ingleses ouviam e dançavam até cansar. Instrumental caprichado, um time de primeira qualidade, muito groove e músicas cativantes. É que nessa época a concorrência na Inglaterra era brabíssima, então, grupos como o GBO ficaram em segundo ou terceiro plano. Felizmente a obra fica para a posteridade e cá estamos nós, curtindo e dando o devido valor. Excelente escolha de disco, Mairon!

Mairon: Valeu pessoal. Um abraço!

Ronaldo: Tamo junto! Eu que agradeço.

André: Tranquilo, agradeço ao Mairon pela audição e a ambos vocês pela companhia. Abraços!

2 comentários sobre “War Room: Graham Bond Organization – There’s A Bond Between Us [1965]

  1. Som riquíssimo! Pegaram toda a essência das raízes de alta qualidade e transformam em uma bebida dos deuses. Mestres demais, sem comentários.
    Se eu fosse escolher uma década pra viver, seria nos anos 60 lá na Inglaterra só pra ver de perto o auge dessas músicas.

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