Autoramas – Stress, Depressão & Síndrome do Pânico [2000]

Autoramas – Stress, Depressão & Síndrome do Pânico [2000]

Por Davi Pascale

Nesse mês, completa-se 20 anos que o primeiro álbum do Autoramas chegou às lojas. Para ser mais exato, foi no dia 18 de Fevereiro de 2000 que o CD começou a circular Brasil afora. Com distribuição da Universal Music, o álbum chegou a fazer um certo sucesso e apresentava uma nova faceta de seus músicos.

A banda era nova, os nomes envolvidos, não. Gabriel Thomaz já tinha feito um barulhinho com o Little Quail And The Mad Birds, e já era um nome conhecido entre os rockers. Bacalhau fez parte de uma das principais bandas dos anos 90, o Planet Hemp. Simone, por outro lado, atuava nos bastidores como empresária do Planet. Quem insistiu para que ela se juntasse à banda foi Gabriel. “Eu a achava engraçada pra caramba e sempre quis fazer uma coisa meio B-52’s, com um cara e uma mina cantando. Achava que ela tinha carisma pra ser rockstar, era fã mesmo”, comenta em reportagem publicada pela revista Rolling Stone.

O Little Quail & The Mad Birds, assim como seus amigos de Brasília, os Raimundos, apostavam em um som mais escrachado. Lembro que a música que me chamou a atenção, na época, foi “Essa Menina”. Um blues explosivo que trazia versos como: “Assim não tem mais jeito, não tem mais solução. Eu já tentei de tudo, mas ela me disse não, oh, não. Essa menina não quer dar pra mim”. Bacalhau (não confundir com o ex-Little Quail) havia sido expulso do Planet Hemp. Banda que ficou famosa por misturar rock e hiphop cantando letras onde defendiam abertamente a legalização da maconha. Bem diferente do som que fariam no Autoramas, onde traziam influências de new wave, bubblegum, e até Jovem Guarda.

 

Autoramas em ação: rrrrrrrock

 

O álbum começa com os clássicos “Fale Mal de Mim” e “Carinha Triste”. As músicas já anunciavam o que teríamos pela frente. Um rock alternativo com altas influências de anos 60. “Simplesmente fazemos o que está em nosso sangue. Juntamos nossas referências e tentamos dar originalidade ao rock. O que sempre nos propusemos a fazer foi rock para dançar”, explica Gabriel Thomaz ao site Monkeybuzz. “Ex-Amigo” vem na sequencia, deixando o baixo distorcido de Simone em destaque. Algo que viraria marca registrada do grupo, com o passar dos anos.

Existem artistas que demoram para construir sua sonoridade. Esse não é o caso do Autoramas. Stress, Depressão & Síndrome do Pânico já trazia todas as características do grupo. Acredito que o fato de já terem tido bandas de destaque anteriormente tenha ajudado, como experiência, na hora de construir sua nova identidade. É nítido que já sabiam onde queriam chegar.

O disco segue com uma série de canções que são consideradas clássicas entre seus admiradores: “Autodestruição”, “Tudo Errado”, “Eu Não Morri” e a instrumental “Jogos Olímpicos”. Não há dúvidas de que o repertório apresentado é forte. Aliás, Gabriel sempre foi um compositor de mão cheia. É um cara que poderia ser mais explorado nesse território. A balada “Agora Minha Sorte Mudou”, por exemplo, deixa explícita a facilidade que o garoto tem para compor melodias cativantes e, até mesmo, radiofônicas. Nessa, a baixista Simone do Vale estreava como voz principal. Outra marca da banda. Todo álbum possui, ao menos, uma canção instrumental, uma em inglês e uma com a voz feminina em destaque.

 

Contracapa do álbum

 

“Fale Mal de Mim” teve clipe seu exibido com boa rotatividade na MTV. Também me recordo de ouvir bastante na rádio 89 FM. “Carinha Triste” também tocou um pouquinho nas rádios. A impressão que dava era que o conjunto iria decolar. Algo que, infelizmente, não aconteceu. Isso, contudo, não desanimou os músicos. “A gente se firmou no independente. Se rola menos dinheiro, paciência. Essa é nossa vida, estamos inventando nosso caminho”, afirma o cantor em entrevista ao jornalista Mateus Potumati. Se por um lado, a banda não invadiu o mainstream, por outro, criou uma base sólida de fãs que permite com que estejam na estrada, gravando e excursionando, 20 anos depois. Hoje, o Autoramas é um dos principais nomes da cena independente do país.

Dentre as demais composições, vale a destacar a faixa inglês “Catchy Chorus”. Canção muito boa que conta com um refrão marcante e até hoje levanta a galera nas apresentações. Também vale prestar uma atenção especial no trabalho de guitarras de Gabriel Thomaz. As músicas traziam riffs muito bem construídos, além de já contar com seu famoso vibrato à la surf music.

Nos anos 90, as grandes gravadoras começaram a criar selos menores para lançar novos artistas. Alguns, como o Chaos, o Banguela (liderado pelos músicos dos Titãs) ou o Rock It! (do Dado Villa-Lobos), marcaram época. Esse trabalho do Autoramas foi lançado pelo Astronauta Discos, que contava com distribuição da Universal Music. Tal atitude era muito bacana porque os discos eram bem distribuídos e os executivos não opinavam sobre o repertório do álbum, garantindo assim liberdade artística. E aí? Vamos lá colocar o disquinho para tocar e relembrar os velhos tempos? Rrrrrrrock!

Faixas:

  1. Fale Mal de Mim
  2. Carinha Triste
  3. Ex-Amigo
  4. Agora Minha Sorte Mudou
  5. Auto-destruição
  6. Jogos Olímpicos
  7. Tudo Errado
  8. Eu Não Morri
  9. Boa-fé
  10. Bahamas
  11. Ação
  12. Catchy Chorus
  13. Souvenir

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