Discografias Comentadas: Motörhead [Parte II]

Discografias Comentadas: Motörhead [Parte II]

Por Daniel Benedetti

Apresenta-se agora a segunda parte da Discografia Comentada do Motörhead, abrangendo a segunda metade dos anos 80 e os anos 90.

Do final de maio até o início de julho de 1983, a banda realizou a ‘Another Perfect Tour’, seguida por uma turnê americana entre julho e agosto, e outra turnê europeia em outubro e novembro. O guitarrista Brian Robertson começou a causar atrito na banda, resultado de seu modo de vestir no palco, consistindo de shorts e sapatilhas de balé, e com sua recusa em tocar os velhos clássicos que todo público do Motörhead esperava ouvir. Isto levou a um acordo amigável para que Robertson deixasse o grupo, fazendo seu último show com a banda no Berlin Metropol, em 11 de novembro de 1983.

Após a saída de Robertson, a banda recebeu fitas de todo o mundo de potenciais guitarristas. O grupo retornou ao conceito de uma dupla de guitarristas ao contratar os desconhecidos Würzel e Phil Campbell. Logo após gravar “Ace of Spades” para um programa de TV, foi a vez do baterista Phil Taylor sair do conjunto. Pete Gill, ex-Saxon, é contratado para substituí-lo.

A Bronze Records achou que a nova formação não daria conta do recado e optou por lançar uma coletânea. Quando Lemmy descobriu, assumiu o projeto, selecionando faixas, fornecendo comentários no encarte e insistindo que o Motörhead gravasse quatro faixas novas para sair no final de cada lado do álbum.

Durante as sessões, entre 19 e 25 de maio de 1984, no Britannia Row Studios, em Londres, a banda gravou seis faixas, para um single e o álbum. O single “Killed by Death” foi lançado em 1º de setembro, alcançando o 51º lugar na parada britânica daquela natureza, e o álbum duplo, No Remorse, foi lançado em 15 de setembro, atingindo a 14ª posição na parada britânica de álbuns.

A banda esteve envolvida em um processo judicial contra a Bronze Records pelos próximos dois anos, acreditando que seus lançamentos não estavam sendo promovidos corretamente, e a gravadora os baniu do estúdio de gravação. O grupo focou em mais turnês para arrecadar dinheiro, passando por Austrália e Nova Zelândia; Hungria; Reino Unido, Estados Unidos e Alemanha durante o ano de 1984.

Em 1985, para celebrar o 10º aniversário da banda, dois shows foram organizados no Hammersmith Odeon em 28 e 29 de junho, e um vídeo do segundo show foi feito e lançado como The Birthday Party. O grupo continuou fazendo turnês até o final daquele ano.

De 26 de março a 3 de abril de 1986, a banda excursionou pela Alemanha, Holanda e Dinamarca e em junho, tocou em duas datas, em Bologna e Milão na Itália. O processo judicial com a Bronze Records foi finalmente resolvido em favor da banda. A administração do grupo formou sua própria gravadora, a GWR, e o conjunto voltou aos estúdios.


Orgasmatron [1986]

Depois de mais de 3 anos sem lançar um álbum de estúdio com músicas inéditas, Orgasmatron chegou ao público em 9 de agosto de 1986. A produção ficou por conta de Bill Laswell e Jason Corsaro, com as gravações ocorrendo naquele mesmo ano, no Master Rock Studios, em Londres, na Inglaterra. Com Lemmy nos vocais, Gill na bateria, Campbell na guitarra base e Würzell na guitarra solo, este seria o primeiro disco com o Motörhead como um quarteto. “Deaf Forever” é um Hard Rock cadenciado, mas deveras pesado, abrindo o disco com a típica ferocidade do Motörhead (e um refrão matador!). “Nothing Up My Sleeve” resgata o baixo de Lemmy introduzindo a canção, a qual segue alucinadamente veloz até o fim. “Ain’t My Crime” parece uma continuação de sua antecessora, com peso e rapidez desenfreados, outro refrão inspirado e guitarras afiadas. “Claw” tem uma sonoridade que remete à fase de Overkill, com velocidade e melodia nas medidas corretas e a bateria de Gill bem frenética. “Mean Machine” possui uma fúria e agressividade extremas até mesmo para o Motörhead, sendo quase um Thrash Metal, ou seja, uma verdadeira porrada! “Built for Speed” é mais cadenciada e com uma melodia bem envolvente, contando com um riff ‘a la Judas Priest’, tornando-a uma faixa extremamente atraente. “Ridin’ with the Driver” possui um riff principal eficiente, configurando uma canção simples, curta e bem direta. “Doctor Rock” é um Hard/Heavy divertidíssimo, com um senso melódico contagiante, excepcional refrão e ótima atuação de Lemmy nos vocais. A faixa-título, o clássico “Orgasmatron”, encerra o disco com estilo, em uma composição extremamente cadenciada, mas de peso absurdo. O baixo de Lemmy está dominante e seus vocais são incríveis. “Deaf Forever” foi lançada como single e atingiu a 67ª posição da parada britânica desta natureza. Orgasmatron chegou ao bom 21º lugar da parada britânica de discos, conquistando a 157ª colocação de sua correspondente norte-americana. A revista alemã Rock Hard colocou o álbum no 313º posto de sua lista The 500 Greatest Rock & Metal Albums of All Time, de 2005. Mesmo com clássicos incontestáveis de sua carreira como “Orgasmatron” (faixa que seria regravada pelo Sepultura), “Doctor Rock” e “Deaf Forever”, o álbum não fez sucesso comercial. Orgasmatron sofre, principalmente, com uma produção que poderia ter valorizado bem mais suas músicas.


Em 16 de agosto de 1986, a banda tocou no Monsters of Rock, em Castle Donington. Em setembro, a banda realizou sua turnê ‘Orgasmatron’ na Grã-Bretanha, apoiada pelo Zodiac Mindwarp and the Love Reaction. Em outubro, o Motörhead excursionou pela América e em dezembro estava na Alemanha.

Em 1987, durante as filmagens da comédia Eat the Rich – em que Lemmy estava tendo um papel de protagonista ao lado de atores de comédia bem conhecidos, como Robbie Coltrane e Kathy Burke – Gill deixou a banda e Taylor retornou ao lado de Würzel e Campbell. A banda compôs “Eat the Rich” especialmente para o filme, e sua trilha sonora apresentou faixas de Orgasmatron e do single solo de Würzel, “Bess”. O segundo álbum da banda pela GWR seria lançado depois de um trabalho bem curto no estúdio.


Rock ‘n’ Roll [1987]

Em parceria com Guy Bidmead, o próprio Motörhead produziria Rock ‘N’ Roll, o qual foi gravado no Master Rock Studios e no Redwood Studios, ambos em Londres, na Inglaterra. A GWR Records o lançaria em 5 de setembro de 1987. A bateria frenética de Phil Taylor parece celebrar seu próprio retorno até que o riff infernal de “Rock ‘N’ Roll” apareça. Uma atuação fantástica de Lemmy nos vocais e guitarras diabólicas perfazem uma das melhores composições de toda a discografia do grupo (que baita refrão!). A criatividade continua em alta, com um riff puramente Rock, na verdadeiramente sacana “Eat the Rich”, uma faixa repleta de malícia. “Blackheart” é uma canção de andamento mais rápido, mas sem tanto peso, com um notório coro de vozes no refrão. “Stone Deaf in the U.S.A.” segue a pegada do conjunto, sendo outra música bem rápida, simples e pesada. “Blessing” é uma oração declamada por Michael Palin para abençoar a banda. “The Wolf” é uma verdadeira porrada no queixo, extremamente pesada e rápida, com as guitarras insanas, especialmente durante os solos de Würzel. “Traitor” possui mais groove e uma melodia mais malemolente e, porque não, dançante. “Dogs” é bem mais cadenciada, contendo uma sonoridade interessante e a criativa presença de Taylor na bateria. “All for You” tenta resgatar aquela comum influência do Motörhead em sua música, ou seja, a sonoridade Rockabilly, em uma faixa bem divertida. Para encerrar o disco, “Boogeyman” que, apesar de o nome sugerir, é uma autêntica pancadaria do Motörhead. O único single lançado, “Eat the Rich”, não causou repercussão em termos de paradas de sucesso. Rock ‘N’ Roll ficou com a 34ª colocação da principal parada britânica de álbuns e com a 150ª posição na sua correspondente norte-americana. Enfim, Rock ‘N’ Roll possui dois verdadeiros petardos (“Rock ‘N’ Roll” e “Eat the Rich”), está bem distante de ser um disco ruim, mas, realmente, não está no mesmo patamar das obras que o antecederam.


Em 2 de julho de 1988, o Motörhead foi um dos artistas do Giants of Rock Festival, em Hämeenlinna, na Finlândia. As faixas foram lançadas como o disco ao vivo Nö Sleep at All em 15 de outubro do mesmo ano. Um single para o álbum foi planejado, com a banda querendo “Traitor” como o lado A, mas “Ace of Spades” foi a escolhida. Quando o conjunto notou a mudança, ele se recusou a permitir que o single fosse distribuído para as lojas, sendo retirado e ficando disponível apenas na turnê ‘No Sleep at All’ e através do fã-clube Motörheadbangers.

Enquanto a banda continuou a fazer shows durante 1989 e 1990, o Motörhead mais uma vez se sentiu infeliz com sua carreira, e um processo judicial contra a gravadora GWR seguiu e que não foi resolvido até meados de 1990. Com o processo judicial resolvido, o Motörhead assinou contrato com a Epic/WTG e passou a última metade de 1990 gravando um novo álbum e um single, em Los Angeles, nos Estados Unidos.

Pouco tempo antes das sessões do álbum, o ex-empresário da banda, Doug Smith, lançou a gravação do show de aniversário de 10 anos da banda, muito contra os desejos do grupo, o qual já havia dito a ele (em 1986) que não queria o material viesse a público.

No estúdio eles gravaram quatro músicas com o produtor Ed Stasium, antes de demiti-lo. Quando Lemmy ouviu uma das mixagens de “Going to Brazil”, ele pediu ao produtor que mostrasse as quatro faixas, que ao fazê-lo, Kilmister ouviu claves e pandeiros que Stasium havia adicionado sem seu conhecimento.

Stasium foi demitido e Peter Solley foi contratado como produtor. A história, de acordo com o Stasium, era que o consumo de drogas e álcool de Lemmy excedia em muito as limitações da paciência do produtor, o qual optou por desistir do trabalho.


1916 [1991]

Já eram quase 4 anos desde o último álbum de inéditas do Motörhead e a WTG lançou 1916 em 26 de fevereiro de 1991. Peter Solley substituiu Ed Stasium na produção e as gravações ocorreram durante o ano de 1990. O disco é aberto com o petardo Hard/Heavy chamado “The One to Sing the Blues”, no qual as guitarras estão efervescentes e os vocais de Lemmy são bem agressivos. A rápida e furiosa “I’m So Bad (Baby I Don’t Care)” é uma faixa bem animada, com um refrão criativo e que funciona muito bem. Mais Rock e menos Metal, assim pode ser definida a maliciosa “No Voices in the Sky”, com uma grande atuação de Lemmy nos vocais. A divertidíssima “Going to Brazil” possui aquele flerte com o Rockabilly e é uma música incrível, com ótimo trabalho das guitarras, especialmente nos solos. “Nightmare / The Dreamtime” possui um andamento extremamente arrastado e um clima bastante soturno, quase gótico, com uma sonoridade pouco comum para o Motörhead. “Love Me Forever” é uma balada, a qual acaba funcionando bem, graças ao trabalho das guitarras e uma interpretação peculiar de Lemmy nos vocais. “Angel City” é outra música com uma abordagem bem Rock, com uma pegada bem Stones e alta carga Bluesy. “Make My Day” é uma típica faixa do Motörhead, bem pesada e bastante veloz, com guitarras afiadas e a bateria frenética de Taylor. “R.A.M.O.N.E.S.”, como obviamente seu nome expressa, é um tributo à banda norte-americana e como tal, a sonoridade Punk é ainda mais realçada. “Shut You Down” é outra porrada típica da banda, contando com solos muito legais e inspirados. “1916” é um tributo a todos os jovens soldados que morreram durante a Primeira Guerra Mundial, em uma canção minimalista e introspectiva, com a presença de um violoncelo tocado por James Hoskins. “The One to Sing the Blues” foi o single escolhido para a promoção do trabalho e acabou ficando com a 45ª posição da principal parada britânica desta natureza. 1916 atingiu a 24ª colocação da principal parada britânica de discos, bem como com a 142ª posição da correspondente norte-americana. 1916 foi indicado para o Grammy na categoria Best Metal Performance, em 1992, mas perdeu para Metallica (o chamado ‘Black Album’) do Metallica, lançado aproximadamente seis meses depois. Enfim, 1916 é um ótimo disco, bastante diversificado e uma amostra de que havia versatilidade no Motörhead.


Em seguida, a banda realizou turnês até dezembro de 1991, passando por Reino Unido, Europa continental, Japão, Austrália e Nova Zelândia, Estados Unidos, e Alemanha em dezembro. Em 28 de março de 1992, a banda tocou no que seria o último compromisso de Taylor com o Motörhead, em Irvine Meadows, na Califórnia.

O resto da banda estava querendo que Lemmy se livrasse de seu empresário, Doug Banker, e depois de uma visita não solicitada de Todd Singerman, que insistiu que ele deveria gerenciá-los (apesar de nunca ter empresariado uma banda antes), o grupo se reuniu com Singerman e decidiu contratá-lo, despedindo Banker.

Após anos de fracas vendas e rixas com gravadoras, no final dos anos 80, o Motörhead desfrutou de uma reviravolta incrível em 1992. Depois do sucesso de crítica de 1916, que foi indicado ao Grammy, o Motörhead garantiu um segundo contrato com a gravadora. Além disso, o vocalista e baixista Lemmy havia coescrito quatro canções para o álbum de  Ozzy Osbourne, No More Tears (1991), a convite da esposa e empresária de Ozzy, Sharon Osbourne, incluindo “I Don’t Want to Change the World”, “Hellraiser”, “Desire” e o single de sucesso “Mama, I’m Coming Home”, gerando uma renda muito necessária.

Em meio a isso, a banda gravava um álbum no Music Grinder Studios, na parte leste da cidade de Hollywood, durante os distúrbios que ocorriam em Los Angeles, em 1992. Três bateristas participaram do ‘making of’ do disco: Phil Taylor, que foi demitido porque não aprendeu as linhas de bateria da música “I Ain’t No Nice Guy”; Tommy Aldridge, que gravou a maior parte do material no álbum; e Mikkey Dee, que gravou “Hellraiser”, que, como se apontou, foi uma canção originalmente escrita por Lemmy para o álbum No More Tears, de Ozzy Osbourne.


March ör Die [1992]

Peter Solley retornou para a função de produtor em March ör Die, o qual, conforme foi mencionado, foi gravado no Music Grinder Studios, nos Estados Unidos, entre 1991 e 1992. O lançamento oficial do disco aconteceu em 14 de agosto de 1992 e o trabalho conta com participações especiais de Ozzy Osbourne e Slash. “Stand” é um Hard Rock com melodia mais leve e um certo balanço, em uma sonoridade mais amena e muito acessível, contando com um bom solo de Campbell. “Cat Scratch Fever” é uma versão pesada para a clássica canção de mesmo nome, lançada originalmente por Ted Nugent no álbum Cat Scratch Fever, de 1977. “Bad Religion” é um Hard/Heavy bem cadenciado e com boa dose de peso, muito groove e uma competente  participação da seção rítmica e até efetivamente um teclado proeminente (tocado por Solley). “Jack the Ripper” segue a toada mais Hard Rock do disco, apesar do riff interessante, mas é uma faixa que não chega a deslanchar. “I Ain’t no Nice Guy” é a única música a contar com Taylor na bateria e contém as participações de Ozzy e Slash. Trata-se de uma balada bastante melancólica. “Hellraiser” possui o baixo de Lemmy bem proeminente, guitarras muito pesadas e a bateria de Mikkey Dee ditando o ritmo. O refrão é o ponto alto da canção, a qual fez parte da trilha sonora do filme Hellraiser III: Hell on Earth. “Asylum Choir” segue a proposta de uma musicalidade mais acessível, apostando em um bom riff com cara Hard e um ótimo solo de Würzel. “Too Good to Be True” apresenta um riff inicial bem legal, seguindo a mesma linha da faixa que a precede. “You Better Run” é um grande Blues Metal que também aparece com a participação de Slash, em um dos pontos mais altos do trabalho. “Name in Vain” aproxima-se mais da musicalidade que consagrou o conjunto, sendo mais curta, veloz e bem direta, apesar do interlúdio em sua metade. A faixa-título, “March ör Die”, encerra o trabalho com uma composição exacerbadamente arrastada, embora possua um aspecto soturno que não deixa de ser interessante. “Hellraiser” foi escolhida como single, mas não repercutiu em termos de paradas de sucesso. March ör Die ficou com a 60ª posição da principal parada britânica de discos. Em suma, pode-se dizer que March ör Die é bastante inconsistente e irregular, guardando pouco em comum com a fase clássica do Motörhead e tampouco com a inspiração do álbum anterior.


Lemmy conhecia o baterista Mikkey Dee desde a época em que o King Diamond havia excursionado com o Motörhead. Lemmy já havia convidado a Dee para que se tornasse o baterista do Motörhead anteriormente, mas Dee havia se recusado devido ao seu compromisso com King Diamond. Mas, agora, Dee estava disponível e se encontrou com a banda para tocar.

Lemmy, Wurzel, Dee e Campbell

O primeiro compromisso de Dee com o Motörhead foi em 30 de agosto de 1992, no Saratoga Performing Arts Center. A nova formação então saiu em turnê, tocando com Ozzy Osbourne, Skew Siskin e Exodus. Em 27 de setembro, o grupo tocou no Los Angeles Coliseum, com o Metallica e o Guns N’ Roses. O conjunto excursionou por Argentina e Brasil durante o mês de outubro e realizou a turnê ‘Bombers and Eagles in ’92’, na Europa, com o Saxon, em dezembro.

O Motörhead tocou duas vezes na Arena Obras Sanitarias, em Buenos Aires, em abril de 1993; e excursionou pela Europa entre junho e julho, retornando aos Estados Unidos para tocar em um show no New York Ritz, em 14 de agosto daquele mesmo ano. Um novo produtor foi procurado para o próximo álbum da banda e, eventualmente, Howard Benson, quem produziria os próximos quatro álbuns do conjunto, foi o escolhido.


Bastards [1993]

Bastards foi gravado durante 1993, no A&M Studios e no Prime Time Studios, ambos situados em Hollywood, nos Estados Unidos, com a produção de Howard Benson. A gravadora alemã ZYX Music lançou o disco em 29 de novembro de 1993. Agora com Mikkey Dee na bateria, esqueçam-se daquilo que o Motörhead fez nos 2 álbuns anteriores, pois Bastards é um verdadeiro soco no estômago. “On Your Feet or on Your Knees” é a típica faixa do conjunto, muito veloz, pesada, mas com uma melodia com certa dose de malícia. “Burner” flerta com o Thrash Metal e Dee está um legítimo animal na bateria, construindo, com Lemmy, uma base feroz para as guitarras ‘solarem’. “Death or Glory” mantém o andamento acelerado de Bastards, mas, desta feita, o riff principal possui um aspecto menos agressivo e o refrão é muito bom. “I Am the Sword” possui um riff mais Hard e é um pouco mais cadenciada, mas a agressividade é mantida, com ótima atuação de toda a banda. A fantástica “Born to Raise Hell” é outra das melhores composições do conjunto, um Hard/Heavy malemolente e preciso, contando com um refrão grudento (no melhor sentido!). O ritmo do trabalho é quebrado com a balada predominantemente acústica “Don’t Let Daddy Kiss Me”, a qual se mostra com Lemmy ao violão e letras sobre abuso infantil. “Bad Woman” tem lugar para Benson nos teclados, mas é uma faixa com o toque Rockabilly e uma fúria típica do Motörhead. “Liar” capricha no groove, apresentando-se mais cadenciada, entretanto com o peso muito presente. “Lost in the Ozone” é uma ‘power ballad’, que demonstra um solo de baixo por parte de Lemmy e outro refrão competente. “I’m Your Man” é uma composição bem interessante, possuindo uma melodia que lembra o Aerosmith, mas consideravelmente mais pesada. “We Bring the Shake” possui um riff inicial bem legal, seguindo com certa cadência, mas altamente inspirada e ótimos vocais de Lemmy. “Devils” encerra o trabalho com um Heavy metal tradicional extremamente poderoso e intenso. “Don’t Let Daddy Kiss Me” foi lançada como single, mas não repercutiu em termos de paradas de sucesso. “Born to Raise Hell” foi outro single, mas a faixa foi regravada (com participações especiais de Ice-T e Whitfield Crane) para este lançamento, atingindo a 47ª posição da principal parada britânica. Lemmy acusou a gravadora ZYX Records de promover Bastards apenas no mercado alemão, fato que se comprovou por ter sido o primeiro álbum do Motörhead a não aparecer na principal parada britânica, apesar de conquistar a 28ª colocação da parada alemã. Bastards é o melhor trabalho do grupo na década de 90.


Em fevereiro e março de 1994, o Motörhead percorreu os Estados Unidos com o Black Sabbath e o Morbid Angel. Em abril, a banda retomou sua turnê pelos Estados Unidos até o início de maio, fazendo um compromisso com os Ramones, em 14 de maio, no Estadio Velez, em Buenos Aires, atraindo uma multidão de 50.000 pessoas. A banda visitou o Japão no final de maio e a Europa em junho, agosto e dezembro.

A programação da turnê, para 1995, começa na Europa, no final de abril. Em junho, o grupo fez uma segunda turnê com o Black Sabbath, desta vez apoiado pelo Tiamat.


Sacrifice [1995]

Sacrifice foi gravado em 1994, no Cherokee Studios, em Hollywood, nos Estados Unidos, novamente com produção de Howard Benson, mas com o apoio de Ryan Dorn e do próprio Motörhead. O disco foi lançado em 27 de março de 1995, através do selo Steamhammer, uma subsidiária da SPV. A pedrada “Sacrifice” abre o trabalho, com uma sonoridade bem próxima do Thrash Metal mais cadenciado e um refrão totalmente brutal. “Sex & Death” possui um ritmo bem rápido, sendo uma faixa curta e direta. “Over Your Shoulder” contém mais groove e o baixo de Lemmy está mais evidente, além do bom riff ajudar no peso. “War for War” segue a mesma linha da faixa anterior, abusando de um peso caótico, mas na sonoridade mais cadenciada. “Order/Fade to Black” também é bem pesada, alternando passagens rápidas com outras mais arrastadas, tornando-se uma música bem interessante dentro do disco. “Dog-Face Boy” é um Heavy Metal bem tradicional, lembrando bastante a musicalidade do Judas Priest e contém um bom solo de Würzel. “All Gone to Hell” mantém o clima mais tradicional do Heavy Metal no álbum, pois o riff principal é mais contido, acelerando apenas no refrão. “Make ‘Em Blind” traz Mikkey Dee em um bom trabalho com a bateria em uma faixa caótica e desconstruída para os padrões da banda. O piano de John Paroulo e o saxofone de Bill Bergman trazem uma pegada Boogie para a contagiante “Don’t Waste Your Time”, uma canção realmente empolgante. “In Another Time” é o mais puro Heavy Metal, ou seja, peso e intensidade estão exultantes nesta música. Finaliza o trabalho uma composição bem Rock ‘n’ Roll, “Out of the Sun”, com solos muito eletrizantes das guitarras de Würzel e de Campbell. Sem singles lançados, Sacrifice também não entrou nas duas principais paradas de sucesso, as britânica e norte-americana. A faixa-título chegou a fazer parte da comédia cinematográfica Tromeo and Juliet, na qual Lemmy atua como narrador. Sacrifice é um bom álbum do Motörhead e, mesmo que não brilhe como a fase áurea da banda, também não faz feio.


Durante as sessões de gravação de Sacrifice, ficou claro que Michael ‘Würzel’ Burston não estava tão comprometido e deixou a banda após a gravação. O Motörhead decidiu continuar como uma formação de três homens e uma turnê pela Europa foi realizada ao longo de outubro e nos dois primeiros dias de novembro. Uma turnê de três dias na América do Sul ocorreu na semana seguinte. Lemmy celebrou seu 50º aniversário no final daquele ano, com a banda no Whiskey a Go Go, em Los Angeles; o Metallica tocou no evento com o nome ‘The Lemmy’s’.

Em 1996, o grupo começou uma turnê pelos Estados Unidos, no início de janeiro, e tocou em 30 locais até 15 de fevereiro; uma turnê de sete datas na Europa (em junho e julho), seguida por dois compromissos na América do Sul, em agosto. Uma nova turnê nos Estados Unidos, com as bandas Belladonna e Speedball, começou com dois shows (Los Angeles e Hollywood), no início de outubro de 1996, e que foi concluída em Washington em 4 de dezembro. Durante esse tempo a banda gravou Overnight Sensation.


Overnight Sensation [1996]

Overnight Sensation é o primeiro disco, desde Another Perfect Day, em que o Motörhead gravou como um trio. O álbum foi gravado durante 1996, nos Ocean Studio e Track House Recording Studio, em Hollywood, nos Estados Unidos, e, mais uma vez, com Howard Benson como produtor (desta feita auxiliado por Duane Baron). A Steamhammer lançou o trabalho em 15 de outubro daquele ano. “Civil War” mostra que, apesar da perda de Würzel, o grupo continuava afiado em sua típica identidade musical, mesmo que o guitarrista da banda sueca Swedish Erotica, Magnus Axx, também receba créditos de composição. “Crazy Like a Fox” é outra música que vai diretamente ao ponto, apostando em um refrão bem melódico, sem abrir mão da mesma carga. “I Don’t Believe a Word” tem até uma relativamente longa introdução de baixo por Lemmy, seguindo por um caminho mais cadenciado e mais leve, com vocais mais amenos do vocalista; alternando passagens em que sua voz naturalmente rouca domine. “Eat the Gun” é o popular tirambaço do Motörhead, muito curta, muito veloz e bastante pesada! “Overnight Sensation” é um Hard/Heavy extremamente inspirado, baseado em um riff bem legal, contando com um refrão sinceramente empolgante. “Love Can’t Buy You Money” é um Heavy Metal com a cara dos anos 90, mais cadenciado, porém exacerbadamente pesado, constituindo uma faixa diferente. “Broken” segue a mesma abordagem musical de sua canção antecessora, mostrando-se uma composição que respeitava o momento em que foi criada, mas, simultaneamente, sem soar forçada, pois contém o DNA do Motörhead. Se o leitor gosta de Thrash Metal, vai adorar “Them Not Me”, uma música que se apresenta absurdamente extrema em sua sonoridade. O riff de “Murder Show” é puro Rock ‘n’ Roll, uma faixa muito divertida e com uma melodia envolvente. “Shake the World” possui a bateria de Dee em êxtase, em outra composição cheia de groove e intensidade. Para terminar o álbum, “Listen to Your Heart”, com Lemmy ao violão e uma sonoridade Pop/Rock, leve e descomprometida. “I Don’t Believe a Word” foi escolhida como single, mas também não teve maior sucesso em termos de paradas. Overnight Sensation não conseguiu repercutir nas mais consagradas paradas de sucesso de discos, mas não o impede de ser considerado um bom trabalho – e importante ao definir que Phil Campbell, mesmo solitário, daria conta do recado com as guitarras.


Durante 1997, a banda excursionou extensivamente, começando com a primeira perna da turnê ‘Overnight Sensation’ na Europa, em 12 de janeiro, no London Astoria, onde os músicos convidados foram Todd Campbell, filho de Phil Campbell, em “Ace of Spades” e ninguém menos que ‘Fast’ Eddie Clarke, em “Overkill”. Um show na Academia Brixton, em 25 de outubro, o músico convidado foi Paul Inder, filho de Lemmy, em “Ace of Spades”. Outras quatro datas em outubro, na Rússia, concluíram o ano de 1997.

Lemmy atestou que a turnê estava indo particularmente bem, e, em alguns países como Argentina e Japão, colocando a banda em locais maiores, e os promotores ingleses redescobriram o conjunto. Para Kilmister, o line-up de três peças teve um excelente desempenho e já era hora de gravar outro álbum ao vivo. A banda chegou a fazê-lo, mas terminou outro álbum de estúdio em primeiro lugar.


Snake Bite Love [1998]

Snake Bite Love foi lançado pela gravadora Steamhammer em 10 de março de 1998. A produção foi dividida entre Howard Benson e o próprio conjunto, com as gravações ocorrendo no início daquele ano, no estúdio The Valley, nos Estados Unidos. “Love for Sale” é um Hard/Heavy mais cadenciado e que contém um típico riff do Motörhead, vocais inspirados de Lemmy Kilmister e ótimo solo do guitarrista Campbell. “Dogs of War” capricha no groove e é mais cadenciada, apresentando uma pegada mais noventista. “Snake Bite Love” é muito rápida e direta, embora não seja tão pesada, contando com aquela malemolência sempre bem-vinda na melodia. “Assassin” é pesadíssima e adota um ritmo bem mais lento, além do baixo de Lemmy estar ainda mais evidente. “Take the Blame” é a típica faixa clássica do Motörhead, rápida, direta e pesada. “Dead and Gone” é uma “power ballad” típica do conjunto, com peso em boa dose e muita intensidade. Já em “Night Side”, a banda brinca com passagens mais lentas alternando com outras mais velozes, com Mikkey Dee frenético nas baquetas. “Don’t Lie to Me” apresenta-se com a levada boogie muito saborosa, diferenciando-se dentro do trabalho com criatividade. Mais cadência e uma ferocidade absurda em “Joy of Labour”, faixa em que Campbell brilha mais intensamente. “Desperate for You” tem aquele flerte com o Rockabilly, mas, claro, com o toque Heavy Metal característico. “Better Off Dead” conclui o trabalho em uma música que flerta com o Thrash Metal, graças a um riff infernal de Campbell. Snake Bite Love atingiu a mais que humilde 171ª colocação da principal parada britânica de álbuAssim, termina-se a segunda parte da Discografia Comentada do Motörhead. Na terceira e última parte deste artigo, o foco será em como a banda seguiu no novo milênio até a ns. Apesar de estar longe de ser considerado um álbum ruim, Snake Bite Love soa menos inspirado e mais no automático.


Assim, termina-se a segunda parte da Discografia Comentada do Motörhead. Na terceira e última parte deste artigo, o foco será em como a banda seguiu no novo milênio até a morte de Lemmy.

4 comentários sobre “Discografias Comentadas: Motörhead [Parte II]

  1. O Overnight Sensation é um dos álbuns mais fracos do Motorhead. E essa capa é muito feia demais, nada a ver com os caras.

    1. É um dos melhores, e tem uma pegada forte de rock’n’roll puro. Depois desse disco, o Motorhead começou a dar uma declinada na qualidade do som, sobretudo no Bastards. Depois eles se revigoraram com o Sacrifice que deu uma renovada na sonoridade da banda graças à afinação mais baixa que o Phil Campbell passou a usar. Porém a sonoridade da banda meio que perdeu a essência do que ela fazia nos gloriosos primeiros anos. E depois acabou se tornando repetitivo demais e nos últimos três discos do Motorhead já se percebia os sinais do tempo.

  2. March of die é excelente! De todos os resenhados na parte 2 o mais fraco comparado aos demais na minha opinião, é o “Snake Bite Love”

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