Os Replicantes – Libertà [2018]

Os Replicantes – Libertà [2018]

Por Micael Machado

Demorou oito anos, mas finalmente a banda punk mais importante do Rio Grande do Sul soltou um novo disco de estúdio. Lançado no final de 2018 de forma independente pelo selo gaúcho Marquise 51, e produzido por Davi Pacote ao lado dos membros do grupo, Libertà é, de acordo com a wikipedia, o nono disco de inéditas d’Os Replicantes, e o segundo com os vocais de Júlia Barth, que assumiu o posto no final da década passada (o resto da formação continua com os fundadores Cláudio Heinz na guitarra e Heron Heinz no baixo, além do baterista Cleber Andrade, com o grupo desde o final dos anos oitenta).

Algumas faixas já eram bem conhecidas por quem acompanha o quarteto de perto, como a quase “bubblegum” “O Futuro” (que já havia aparecido antes no disco A volta dos que Não Foram, de 2001, e que ganha aqui uma nova versão, acredito eu que como homenagem póstuma à sua autora, a artista plástica gaúcha Cláudia Barbisan, falecida em 2015 após anos lutando contra um câncer, e cuja voz aparece tanto na versão antiga quanto nesta), a variada “Solução De Contorno” (que inicia com um ritmo quebrado e “estranho”, mas logo ganha a velocidade de um caminhão descontrolado indo ribanceira abaixo, e que já havia aparecido na coletânea Volume 11, lançada em 2016 para comemorar os onze anos de funcionamento do estúdio gaúcho Dubstudio), a veloz “Não Me Leve A Mal” (que parece saída dos primeiros discos do grupo, e que ganhou um vídeo clipe de divulgação), a “ramônica” “Cobertor” e a impactante (tanto musical quanto liricamente) faixa título, três faixas que já haviam aparecido (ao lado de uma regravação em francês para “Corrida Espacial”, do disco de estreia) em um EP com o nome do grupo lançado de forma quase artesanal pela banda em 2015.

Os Replicantes: Júlia Barth, Cleber Andrade, Heron Heinz e Cláudio Heinz

Dentre as “novidades”, destaque para a contagiante abertura com “Bergamotas” (um punk rock mais “tradicional”, se é que esta palavra cabe ao estilo), a pesada (para os padrões da banda) “Nightmares” (uma das poucas músicas da carreira dos gaúchos com letras em inglês, e que apresenta um dos melhores refrões do disco), e a mais cadenciada “Nada É Por Acaso”, com um refrão cuja letra não esconde a origem gaúcha de seus intérpretes.

Claro que, como toda banda punk que se preze, a parte lírica é tão importante aqui quanto a musical. Assim, dentre temas que tratam de relacionamentos mal resolvidos, desilusão com o futuro e críticas às dificuldades e mazelas sociais do país e da sociedade (uma delas um verdadeiro “tapa na cara” daqueles que se consideram “ativistas” e “engajados”, mas não passam de paspalhos manipulados e ridículos, retratados com bom humor pela banda na divertida “Punk de Boutique”), ganham destaque os temas de cunho feminista trazidos ao universo do grupo, acredito eu, pela vocalista Júlia. Se no disco de 2010 tínhamos “Maria Lacerda”, agora ganhamos a contundente “Feminicídio“, com uma letra impactante sobre a condição da mulher na sociedade atual (cabe lembrar que o mesmo tema aparece brevemente também na faixa título, embora com uma evidência um pouco menor). Ainda na questão das letras, gostaria de citar um trecho de “Solução De Contorno” com o qual concordo plenamente: “show punk que se preze não tem área VIP” (e todo show que se preze deveria ser assim, acrescento eu).

Capa, CD e encarte de Libertà

Fecha o track list de Libertà (que teve a arte criada por Fábio Alt, onde se destaca o encarte com várias ilustrações remetendo a temas como o filme “Psicose”, a capa do disco London Calling, do Clash, e ícones como Joana D’Arc e o famoso quadro “A Liberdade guiando o povo”, ligado à Revolução Francesa) a bela homenagem a Júpiter Maçã, na regravação da sua “Síndrome de Pânico”, onde os conterrâneos do autor conseguiram traduzir a psicodelia e a lisergia da original para o universo punk do quarteto, em mais um dos destaques de um álbum que, até pelo tempo de maturação e elaboração, acaba sendo mais robusto e de fácil assimilação que o anterior (onde os “Repli” contavam há pouco tempo com Júlia, que desde então já fez inúmeros shows e turnês com os “guris”, aumentando, obviamente, o entrosamento do “time”). A se lamentar apenas a curta duração do play (em torno de 34 minutos), e a ausência da faixa “O Inverno Está Chegando”, lançada como single virtual ainda no calor dos protestos contra o governo ocorridos em 2013, e que poderia fazer parte deste novo disco, dando assim a chance dos colecionadores como eu a terem em “formato físico” nas suas estantes. Mas estas são questões menores, que não abalam a qualidade de Libertà, mais um destaque na discografia de uma das mais relevantes e históricas formações musicais do Rio Grande do Sul. Que o próximo disco não demore tanto a chegar!

Track List:

1. Bergamotas

2. Punk de Boutique

3. Nightmares

4. Libertà!

5. Feminicídio

6. O Futuro

7. Nada É Por Acaso

8. Solução De Contorno

9. Cobertor

10. Não Me Leve A Mal

11. Síndrome de Pânico

Um comentário em “Os Replicantes – Libertà [2018]

  1. A melhor banda punk brasileira, não tem pra ninguém. E os irmãos Heinz são gente fina e sempre simpáticos com os fãs.

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