Melhores de 2018: por Fernando Bueno

Melhores de 2018: por Fernando Bueno

Já tem um bom tempo que não estou tão atento às novidades vinda de bandas estreantes. Até alguns anos atrás eu tentava estar mais ligado à esse tipo de lançamento até para que no final de cada ano eu trazer algum coisa diferente para os leitores da Consultoria do Rock. Indicar algo que ninguém nunca ouviu e ser lembrado como aquele que indicou determinada coisa é legal, porém essa busca tomava um tempo enorme, eu acabava indo para os estilos que tinha mais familiaridade e o resultado nem era assim tão interessante. Assim eu me livrei dessa necessidade e acabei ouvindo o que eu já conhecia mesmo ou alguma coisa que chegava como indicação de alguém. Desse modo pode até parecer que minha lista ficou um pouco previsível ou até mesmo clichê, mas ela representa o que mais gostei do que ouvi no ano.

Na minha opinião os cinco primeiros colocados da minha lista se destacaram fazendo com que do sexto em diante poderia alternar até mais ou menos o décimo quinto. Acabei usando como critério para definir os que entrariam aqueles que mais ouvi durante o ano.


Judas Priest – Firepower

O disco anterior é no todo muito bom – a entrada do Richie Faulkner foi uma boa renovada e isso não quer dizer que K.K. Downing estivesse falhando em algo – , mas Firepower tem aquilo que qualquer banda hoje em dia sonha, ter um set list bom, consistente e forte do início ao fim. Qualquer música que tivesse sido escolhida para ser uma eventual single funcionaria. Acho que isso não acontecia desde Painkiller, que é o meu preferido de todos os tempos da banda. Vamos ver o que vai acontecer agora com o Andy Sneap. Será que ele vai assumir a guitarra de vez ou Glenn Tipton vai se recuperar? Vi o show que fizeram em São Paulo no Solid Rock esse ano e senti um pouco de falta, nem que seja apenas da presença, de um dos guitarristas fundadores. Caso esse disco tenha sido o último como foi prometido será uma despedida de respeito.


Ghost – Prequelle

A carreira do Ghost é certinha, planejada com minúcias, cada passo é calculado e dado na hora certa. O sucesso coroou todo esse esmero na construção da banda que passou praticamente ilesa aos processos movidos pelos antigos membros. Porém se o material não fosse forte tudo isso não daria em nada, mas não é que os caras acertaram de novo! Claro que por ‘caras’ eu me refiro principalmente ao Tobias Forge e as pessoas que estão em volta do grupo, já que os outros músicos me parecem que são apenas contratados sem voz no restante do que está acontecendo. Claro que o anonimato facilita quando se tem trocas de componentes, evitando que houvessem comparações. Qualquer banda que teve mudança de formação já sofreu com as comparações, mas o Ghost não. Disco mais acessível da banda que vem cada vez mais adicionando influencias ao seu som sem descaracterizá-lo. “Dance Macabre” já é um clássico.


Tribulation – Down Below

O Tribulation mudou um pouco seu som no seu disco anterior The Children of the Night e fez seu melhor trabalho de sua curta carreira. Down Below não superou seu antecessor, mas manteve a banda nessa pegada iniciada no álbum anterior que adicionou um pouco de ‘gothic’ ao melodic death metal que a banda fazia no início. Acredito que eles terão cada vez mais reconhecimento daqui para frente e torço para que venham ao Brasil.


Orphaned Land – Unsung Prophets & Dead Messiahs

A grande maioria das pessoas que indicam o Orphaned Land citam Mabool como seu grande álbum. Acredito que essa seria mesmo a obra definitiva da banda, mas eu sou um daqueles que acham The Never Ending Way of ORwarriOR e All Is One seus trabalhos mais legais. E esse disco de 2018 é muito mais na linha desses dois discos do que seu maior clássico, o que para mim significa que ele é muito bom. Eu achava que em alguma hora essa mistura de metal com sonoridades orientais iria acabar saturando, mas a cada trabalho essa ideia é desmentida.


Behemoth – I Loved You as Your Darkest

Como fazer um disco depois de ter gravado seu maior clássico? Diversas bandas já sofreram com isso e poucas conseguiram sair ilesas das comparações. O Behemoth apostou em poucas mudanças, se levarmos em comparação o que foi feito em The Satanist em termos de sonoridade, timbres e estruturas musicais e se deu bem. Não é tão bom quanto seu antecessor, mas ainda sim um discaço, o que comprova mais uma vez a grandeza do seu antecessor.


Primordial – Exile Amongst the Ruins

Nunca tinha ouvido falar do grupo e achei até graça quando vi num anúncio da Roadie Crew sobre o show que farão aqui em 2019 sendo citados como “lenda do metal irlandês”. As vezes na nossa arrogância achamos que por não conhecermos determinado grupo é por que ele não interessa. Claro que é impossível conhecer de tudo e o mais legal para quem gosta de música é quando pegamos algo totalmente novo para nós e vamos descobrindo. Foi o que aconteceu com o Primordial que depois de ouvir esse álbum acabei descobrindo seus outros disco o que me tomou boa parte do ano.


Night Flight Orchestra – Sometimes the Wordl Ain´t Enough

Por mim o tal Bjorn nunca mais precisaria fazer shows com o Soilwork. Como que essa banda ainda não saiu do underground é um mistério. Suas músicas trazem o rock setentista e oitentista para o mundo atual de uma maneira que agradaria qualquer pessoa. Pode colocar o NFO no palco mundo do Rock In Rio que seria um sucesso com certeza. Nos padrões atuais esse disco saiu muito rápido. Apenas um anos depois de seu disco anterior, mas ouvindo os dois álbuns dá para perceber que as músicas foram feitas praticamente ao mesmo tempo, tamanha unidade entre o material o que justifica seu lançamento até pelo fato do anterior ter sido tão aclamado.


Blitzkrieg – Judge Not!

Como banda e carreira acho o Satan superior ao Blitzkrieg, mas dessa vez, na minha opinião, Brian Ross conseguiu reunir um conjunto melhor de músicas do que o Satan. Mas a diferença entre um disco e outro é mínima e bastante subjetiva, tanto que não vi esse em nenhuma das listas de melhores do ano e vi o do Satan em uma ou outra. A carreira do grupo é uma bagunça com músicos indo e vindo ao longo de todos esses anos, o que pode ter prejudicado bastante os ingleses. Destaque para a balada “Without You” que é cantada pelo guitarrista Alan Ross, filho de Brian Ross.


Satan – Cruel Magic

O Satan não tem medo de fazer aquilo que os fãs desejam e no caso da banda é trazer aquele som da NWOBHM para os dias atuais sem ter a necessidade de modernizar seu som. Pegue todos os discos da banda gravados ao longo dos anos, ouça todos em sequencia e vai parecer que foram lançados praticamente ao mesmo tempo. Brian Ross se aventura um pouco mais no Satan do que no Blitzkrieg em termos vocais, usando de agudos pontuais para agradar os fãs. Porém está claro que seus registros vocais já buscam se adaptar às limitações que a idade está trazendo.


Amorphis – Queen of Time

Sempre digo que meu disco preferido do Amorphis é o Elegy, lançado há mais de 20 anos. A melodia que a banda coloca em sua música cheia de influencias me chamou atenção de cara. Porém prefiro a fase atual da banda que aposta justamente na junção da melodia e peso para construir sua música de uma maneira que poucos conseguem. Impossível não citar as duas primeiras faixas do álbum como destaque: “The Bee” aposta numa sonoridade que para quem não conhece a banda não vai saber já era usada há muito tempo pelo grupo; já “Message in the Amber” traz aquela mistura de progressivo com folk e metal que só a banda saber fazer.


Descoberta do ano

Acredito que todo mundo tem ou já teve um algum caso parecido: aquela banda que você ignora mesmo todo mundo ouvindo ou aparecendo em todo lugar. Esse ano isso aconteceu comigo com o Moonspell. Como gostei muito do Primordial fui fazer uma busca sobre a banda e o Moonspell aparecia sempre como banda parecida. Resolvi ouvir o último álbum de estúdio porque me interessei pelo assunto do disco conceitual 1755, gravado no ano passado. Por coincidência eu estava em um período de leitura da história das grandes navegações e do imperialismo português e tudo casou perfeitamente. Baseado nos acontecimentos da grande inundação decorrente de um grande terremoto que aconteceu em Lisboa naquele ano o disco me ganhou de cara. Acabei indo para os discos anteriores e até agora não ouvi nada ruim do grupo. Até mesmo aquele início mais death metal, que normalmente não me agrada, em Wolfheart é bom.


Melhor música do ano

Resolvi citar uma música pois o disco que ela saiu não entrou na minha lista dos 10 melhores. Claro que também estou querendo provocar um pouco os detratores tanto da banda quando dos envolvidos. Mas quem pode dizer que a participação da Sandy em um disco de heavy metal ficou ruim? A escolha da cantora para fazer a voz suave no conceito da música foi perfeita. Principalmente para nós brasileiros que acompanhamos a Sandy desde criança pela televisão e temos uma visão dela como uma garotinha inocente e angelical. A música em si foi muito bem pensada aliando o comportamento da viúva negra que atrai o macho para o acasalamento e o mata em seguida com o que acontece com as redes sociais que a princípio podem seduzir as pessoas com toda a felicidade que as pessoas tendem a passar por elas com os aspectos prejudiciais que elas podem trazer para quem não as usam corretamente. O contraponto da voz suave da Sandy com a potência e ferocidade com que Alicia White-Gluz emprestou à música trouxe ainda mais força ao todo. No fim das contas Fabio Lione serve apenas como um narrador e coadjuvante de tudo, o que é um pouco simbólico com a imagem que muitos ainda têm em relação à participação do italiano na banda brasileira. Além de tudo a participação da Sandy fez com que a curiosidade fizesse a banda alcançar os primeiros lugares das músicas mais executadas no Spotify logo após seu lançamento, um feito incrível para uma banda de heavy metal aqui no Brasil.

3 comentários sobre “Melhores de 2018: por Fernando Bueno

  1. Gostei das observações do Fernandão sobre Firepower, o primeiro de sua lista dos melhores de 2018 e o mais recente disco do meu amado Judas Priest. Gostaria de ressaltar algumas coisas: o álbum anterior (Redeemer of Souls, 2014) seria sim um clássico da discografia do Priest se fosse produzido por Andy Sneap ou Roy Z, mas infelizmente a banda pecou neste quesito (apesar do mesmo conter uma série de músicas bem legais). É só comparar com o álbum mais recente deles para perceber o quanto uma produção de alto nível como a de Firepower (cortesia de Andy Sneap e do veterano Tom Allom) é importante para um trabalho sair perfeito na hora da audição. Não vou nem comentar sobre as músicas, já que todas são excelentes, mas eu tenho uma quedinha por “Flame Thrower”.

    E quanto a situação da banda, acho que Firepower será mesmo o último trabalho do JP em definitivo. Não acho que a banda vai conseguir sobreviver sem Glenn Tipton, já que antes eles conseguiram superar a ausência de K. K. Downing (trazendo Richie Faulkner para o lugar dele). Aliás, fico imaginando como seria o Judas Priest hoje ainda com Tipton e Downing, novamente unidos com Halford, Hill e Travis, e quem sabe até formando um trio de guitarras com o Faulkner… Seria algo simplesmente maravilhoso!

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