Steamhammer: Do Blues ao Prog

Steamhammer: Do Blues ao Prog

Por José Leonardo Aronna

Steamhammer foi uma banda de blues rock, formada em Worthing, Inglaterra, em 1967, A primeira formação consistia de Steve Davy (baixo), Chris Aylmer (guitarra), Chris Slade (vocals, harmonica), Andrew Fizackesly (órgão) e Des Mills (bateria) que logo foi substituído por Ken Druro. Re-alocados em Londres e com uma formação mais estabilizada com a entrada de Martin Pugh (guitarra), Michael Rushton (bateria), Martin Quittenton (guitarra), e Kieran White (vocal, harmônica, guitarra), a banda excursiona intensamente em pubs e faculdades do país, fazendo muito sucesso em virtude da qualidade de suas músicas e instrumentistas. Estas qualidades chamaram a atenção do blues hero americano Freddie King, quando ele pediu a banda para apoiá-lo em duas turnês européias. “Foi uma experiência única”, lembra Martin Pugh. “O Steamhammer iria tocar o seu set, em seguida, Steve Davy, Mike Rushton e Martin Quittenton continuariam no palco com Freddie a executar o seu set. Eu e Kieran ficávamos na platéia assistindo o mestre”.

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No final de 1968, a banda é contratada pela CBS, e em março de 1969 é lançado o primeiro LP Steamhammer, que teve boa aceitação de crítica, mas infelizmente não teve muitas vendas. Esse primeiro trabalho é um blues-rock típico da época, com pitadas psicodélicas. Além do quinteto, também participaram da gravação Harold McNair na flauta e Peter Sears no piano. Nesse Lp aparecem as características que definem o grupo: a voz inconfundível de Kieran White e invejável técnica de Martin Pugh, em seus solos incendiários. Os destaques são duas ótimas versões para standards do blues, “Twenty-Four Hours” de Eddie Boyd e “You’ll Never Know” de B.B. King. Mas o material original não fica nada devendo, como podemos verificar em “Lost You Too”, “Down the Highway”, “Even the Clock”, “Down the Highway” e em “Junior’s Wailing” (gravada pelo Status Quo, no ano seguinte). Um mês após o lançamento do álbum, uma versão editada de “Junior’s Wailing” seria lançada em single, tendo como lado B, a ótima “Windmill”, que ficou de fora do Lp, e com uma flauta que nos remete ao early Jethro Tull.

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front 2Mas tão logo o primeiro disco é lançado, ocorre a primeira baixa, o baterista Michael Rushton sai da banda e é substituído por Michael “Micky” Waller (ex-John Mayall, ex-Jeff Beck Group). Assim, continuam com uma intensa agenda de apresentações, até que, em meados de 1969, Martin Quittenton e Micky Waller saem da banda para atuar junto de Rod Stewart. Ambos são substituídos por Mick Bradley (bateria) e Steve Jollife (sax, flauta, harpsichord). Com a entrada de Steve Jollife a banda se afastou um pouco de suas raízes blues, e começou a flertar com uma sonoridadeas jazzistica. O primeiro lançamento dessa nova formação foi o single “Autumn Song”/”Blues for Passing People”, lançado em setembro de 1969.

back 2O lado A tem influências folk psicodélicas enquanto o lado B, uma canção um pouco mais longa, é um tema instrumental com arranjos jazz e blues. O segundo Lp MK II, é lançado em novembro de 1969, e temos aqui mais um belo trabalho, da jazzy “Supposed to Be Free”, passando pela jam de 16 miunutos “Another Travelling Tune”, tudo é muito bom. Outro destaques vão para “Passing Through”, com a guitarra de Pugh solando o tempo inteiro, o blues incendiário, com uma bela introdução ao violão e solos de sax, “Contemporary Chick Con Song”, a galopante e psicodélica “Johnny Carl Morton”, a lenta e tristonha “Turn Around”.

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Essa formação também gravaria algumas sessões ao vivo no estúdio para a BBC. Infelizmente esse material deve estar engavetado ou perdido. A presença de palco extrovertida de Steve Jollife, bem como seu talento, chamou a atenção do público que comparecia massivamente nos shows da banda, mas devido ao seu comportamento indisciplinado, o mesmo sairia (ou foi forçado a sair) da banda no final de 1969. Ele reapareceria anos depois no álbum Cyclone do grupo alemão Tangerine Dream.

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Sendo assim, a banda reduzida a um quarteto, Kieran White, Martin Pugh, Steve Davy e Mick Bradley, entraria em sua formação mais duradoura, até março de 1971 e registrara seu terceiro Lp Mountains, lançado pela B&C Records, considerado seu melhor trabalho. Lançado em novembro de 1970, Mountains, mostra uma banda mais amadurecida musicalmente. O lado A apresenta cinco excelente canções, a bela “I Wouldn’t Have Thought”, com seu viajante solo de guitarra, a jazzy “Levinia”, “Henry Lane” , com destaque para o banjo tocado pelo músico convidado Keith Nelson, “Walking Down the Road”, e seu baixo galopante, a ótima e psicodélica “Mountains” e a acústica e melancólica “Leader of the Ring”. O lado B do disco apresenta duas músicas gravadas ao vivo no Lyceum Theatre em Londres: uma cover do jazz, “Riding on the L&N” e “Hold That Train” de autoria da banda. Essas duas faixas mostram a competência e qualidade de seus músicos nas apresentações ao vivo.

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Em março de 1971, Steve Davy cansado com a vida rockeira decide abandonar a banda e para seu lugar é contratado Louis Cennamo (ex-Renaissance). A banda continua com sua agenda para apresentações ao vivo bem intensa, até que em setembro de 1971, Kieran White resolve sair do grupo para se dedicar à carreira solo. Ele lançaria um álbum em 1975 chamado Open Door, com uma sonoridade soft rock com influências country. Também teve uma breve passagem pelo grupo Nucleus, mas não consegui maiores detalhes sobre isso. Infelizmente Kieran faleceu de câncer, em 1995, em Oregon, Estados Unidos, onde estava radicado já fazia alguns anos.

full_fr 4No final de 1971, o trio remanescente entra em estúdio para registrar seu quarto e último Lp, Speech, que é lançado no início de 1972, apenas na Alemanha, pelo selo Brain. Desta vez, o blues, jazz e psicodelia dão lugar ao hard prog experimental Contando com a participação de Garth Watt-Roy (ex- Greatest Show On Earth, ex-Fuzzy Duck) no lead vocals. O Lp apresenta apenas três longas faixas: O lado A é ocupado pela suíte “Penumbra”, com quase 23 minutos e com 5 partes e no lado B temos “Telegram (Nature’s Mischief)” com 12 minutos e “For Against” com quase 11 minutos. “Penumbra” é de um intensidade sonora pura e é infalível do começo ao fim. O jogo feroz entre guitarra e percussão é soberbo e o baixo é intermitentemente estridente e cacofônico (Cennamo utilizou um arco de violino), que é simplesmente fantástico, além dos esfeitos “espaciais”. “Telegram” é também uma peça espetacular e totalmente original do rock progressivo pesado e “For Against”, também é muito boa, apesar de seu longo solo de bateria, que ao meu ver é desnecessário (mas são coisas da época…).

Infelizmente, logo após o lançamento do Lp, Mick Bradley falece vítima de leucemia, com apenas 25 anos de idade. Um concerto em sua homenagem é realizado no Marquee, com a participação das bandas Beggars Opera, If e Atomic Rooster, entre outras. Com o baterista John Lingwood e vocalista Ian Ellis (ex-Clouds), a banda faria uma turnê européia e logo após outra pelo Reino Unido, com Ian Ellis sendo substituído por Bruce Michael Paine.

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No final de 1972 a banda é reduzida novamente a um trio com a saída de Bruce e a partir daí até meados de 1973 realizam apenas alguns shows em Universidades. Com o nome modificado para Axis e com a volta de Martin Quittenton, o grupo segue até o final do ano quando se separam. Martin Pugh e Loius Cennamo formariam a banda Armageddon com Keith Relf (ex-Renaissance) nos vocais e Bobby Caldwell (ex-Captain Beyond) na bateria. Infelizmente a banda durou pouco e só lançaria um único e excelente álbum em 1975, pela A&M Records. Nos anos 80 Pugh e Caldwell tentaram reviver o Armageddon sem sucesso. Caldwell retornaria ao Captain Beyond, e Cennamo se juntaria aos ex-integrantes da formação original do Renaissance no grupo Illusion e, tempos depois, trabalharia com Jim McCarty no projeto Stairway. Pugh aparentemente desistira da indústria musical, residindo na California e tocando esporadicamente apenas por prazer.

Junior’s Wailing:

When All Your Friends Are Gone:

Another Travelin Tune:

Walking down the Road:
Telegram:

11 comentários sobre “Steamhammer: Do Blues ao Prog

  1. Grande banda e ótimo resgate! o que acho mais legal no Steamhammer é que são 4 discos em pouquíssimo tempo e os 4 são bem diferentes entre si e todos muito bons! mas o meu favorito é o terceiro…a começar pela capa maravilhosa e por aquela sonoridade densa, meio misteriosa que eles sempre souberam adaptar independente da direção que o som deles estava seguindo. Muito bom! parabéns pelo texto!

  2. Uma banda fantástica, composta por músicos excelentes, que nunca alcançou o sucesso que merecia. Aliás, parabéns pela matéria, que me trouxe algumas informações sobre as formações da banda que eu desconhecia, especialmente no período após o Speech. Gosto de todos os 4 discos originais, especialmente porque eles nunca se prenderam a uma fórmula, mas acho “Mountains” o melhor dos quatro. A menção ao Garth Watt-Roy me fez lembrar: o Greatest Show on Earth não merece uma matéria aqui na Consultoria?

    1. Em tempo: alguém sabe se o Chris Aylmer mencionado no início da matéria é o mesmo que tocaria baixo no Samson?

    2. Escrevi sobre o GSOE na série Clássicos da Harvest. Acho que não se perdeu! Obrigado pela msg.

    3. Garth Watt-Roy participou de uma das formações de outra banda muito interessante do começo dos anos 70: East of Eden. É fácil encontrar no youtube vídeos de uma participação da banda em 1972, em um canal de TV alemão, com a presença de Watt-Roy na guitarra e nos vocais.

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