Discografias Comentadas: Circle II Circle

Discografias Comentadas: Circle II Circle

Por Adrian Dragassakis

Para os órfãos da lendária banda Savatage, talvez o Circle II Circle, junto com o Jon Oliva’s Pain, sejam os legados atuais aos quais podemos apoiar. Apesar de não possuirem o mesmo sucesso comercial do Trans-Siberian Orchestra (outra banda provinda do Savatage, criação de Jon Oliva e Paul O’Neill (1956-2017), ainda possuem um seleto grupo de fãs e seguidores fiéis.

A banda liderada por Zak Stevens, ex-vocalista do Savatage entre 1993 e 1999, ainda possui em suas composições aquele toque das canções da sua antiga banda, até certo ponto, o que é ótimo para nostalgia e para quem é fã também do Circle II Circle, pois a intenção é ter vida própria e não viver do passado. Ao vivo, as homenagens ao Savatage e Criss Oliva (lendário guitarrista morto em 1993) nunca faltam. Apesar de não ter uma formação sólida, se tratando dos integrantes da banda, a boa essência continuou a fluir, pelo menos até o seu último álbum, que apresentamos logo abaixo.


Watching in Silence [2003]

O debut do CIIC foi composto por Jon Oliva, Chris Caffery e Zak Stevens, que fizeram parte do Savatage e pelo então guitarrista Matt LaPorte (que faria parte da banda de Jon Oliva, anos depois). Apesar disso, não é um disco do Savatage, possuindo uma cara mais moderna, intencional por parte de Zak Stevens, em ter uma banda que se aproxima dos moldes do Power Metal, tendo como diferencial, sua voz de barítono.O álbum agradou em muito os fãs do Savatage, principalmente a fase anos 90, que Stevens participou. Enfim, a confiança era grande, uma vez que havia a “mão” de Jon Oliva nesse trabalho. O álbum já inicia com a pesada e bem trabalhada “Out of Reach”, passando por “Sea of White” e sua incrível linha de baixo e a faixa-título, que é até hoje, a canção mais conhecida da banda e é tocada em todos os shows. “Walls” tem uma linda letra, falando sobre superação de problemas e volta por cima. As power ballads “Face to Face” e “Into the Wind” também merecem seu destaque por suas lindas melodias. “F.O.S. (Fields of Sorrow)” fecha o álbum com chave de ouro com sua composição épica, melancólica e com os vocais característicos do estilo de Stevens.


The Middle of Nowhere [2005]

Após dois anos do álbum de estréia, a banda lança The Middle of Nowhere, que talvez seja um disco um pouco diferente do Circle II Circle, mas de maneira positiva. Com a estréia da formação que mais durou na carreira da banda (foto), exceto pela gravação da maioria das linhas de guitarras, que foram gravadas por Matt LaPorte, o álbum em si tem uma pegada mais Hard Rock, como podemos ouvir, por exemplo, nas excelentes “Psycho Motor” e “Hollow”. É difícil definir em qual fase da banda foi o auge da voz de Zak Stevens, mas aqui, está impecável. Muitas das canções foram escritas por Jon Oliva em parceria com Chris Caffery (também guitarrista do Savatage) e o próprio Zak. O álbum abre com letras que questionam dilemas pessoais, primeiro de forma mais melancólica, com “In This Life” (composta também em parceria com Bernd Aufermann, guitarrista do Angel Dust), seguindo com a pesada “All That Remains”. Destaque também para a semi-balada “Faces in the Dark” (que pode ter sido composta durante as sessões do primeiro álbum) e a faixa-título, contendo os clássicos vocais em contraponto no final, ao estilo do que o Savatage fazia, como em “The Wake of Magellan” e “Chance”. No geral, é um álbum mais pesado e direto, em comparação ao anterior.


Formação dos álbuns The Middle of Nowhere, Burden of Truth e Delusions of Grandeur, com Tom Drennan (bateria), Andy Lee (guitarras), Zak Stevens (vocais), Mitch Stewart (baixo) e Evan Christopher (guitarras).

Burden of Truth [2006]

Dessa vez, a banda apostou em um álbum conceitual, inspirado nos livros O Código da Vinci e Anjos e Demônios, que contam a história que envolvem o Santo Graal e os descendentes de Cristo. Após bons trabalhos compostos por Jon Oliva, que estaria se dedicando ao TSO e sua carreira solo no Jon Oliva’s Pain, o disco foi composto pelo baixista Mitch Stewart, em parceria com Zak Stevens.Talvez tenha sido o álbum que melhor divulgou a banda e deu um certo “up” na carreira, fazendo a ficar conhecida mesmo entre os que não acompanhavam ou conheciam o Savatage. O álbum abre com as excelentes e trabalhadas “Who am I to Be?” e “A Matter of Time”, passando por dois petardos “Revelations” e “Evermore”, em que os guitarristas Andy Lee (o que esse cara toca chega a ser assustador!) e Evan Christopher mostraram para o que vieram. O álbum ainda conta com as belas “Heal You”, “Your Reality” e “Sentenced”. Pode parecer óbvio dizer que a faixa-título tem as mesmas características das demais faixas-títulos dos outros álbuns? Pode. Mas não deixa de ser um acerto. “Burden of Truth” é uma das melhores canções do grupo. O álbum fecha com a linda “Live as One”, que pode seguir de ponte para ouvir todo o álbum do início ao fim mais uma vez.


Delusions of Grandeur [2008]

O sucessor de Burden of Truth talvez seja o álbum mais pesado e direto do grupo, além de ser um dos mais bem produzidos. O disco abre com a pesada “Fatal Warning”, lembrando o álbum Handful of Rain (1994) do Savatage, que abria com Taunting Cobras, uma música que muitos dizem ser inspirada no Metallica. Podemos destacar a bela cozinha de Mitch Stewart (baixista e compositor de quase todas as músicas desde que entrou na banda, junto a Zak Stevens) e Tom Drennan (baterista,sendo este, o último álbum dele com a banda). As faixas seguintes, “Dead of Dawn” e “Forever” tem um clima mais denso, mas não abandonam o peso e excelente trabalho de guitarras de Andy Lee e Evan Christopher. “Echoes” é mais uma obra-prima do subestimado Mitch Stewart, com uma bela composição de teclado, contando com um solo incrível de Andy Lee. “Waiting” é mais uma grande canção de Power Metal, que deixa o clima do álbum um pouco menos denso, possuindo uma mensagem bem positiva nas letras. A épica “Every Last Thing” fecha o álbum de forma maestral, com diversas passagens progressivas e o trabalho vocal de Zak Stevens se destacando mais uma vez. Algumas edições contam com a animada Bônus Track “Darkness Rising”. A banda viria pela primeira vez em terras brasileiras, realizando shows em São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro e Curitiba. Em meio a tour do álbum, o guitarrista Evan Christopher daria seu lugar ao brasileiro Bill Hudson (Ex-Cellador e PowerQuest).


Consequence of Power [2011]

Após a bem sucedida tour do álbum Delusions of Grandeur, a banda sofreria com a saída do baterista Tom Drennan (sendo substituído por Johnny Osborn) e do guitarrista Bill Hudson. A banda teria pela primeira vez, apenas um guitarrista em sua formação. Apesar disso, Consequence of Power não foi um total desastre, pois ainda contém grandes composições, como as balada “Take Back Yesterday” e “Blood of an Angel”, que mostram que Zak Stevens ainda está em uma excelente forma vocal. “Remember” também é um dos destaques do álbum, além da faixa-título, uma excelente música pra nenhum fã de Power Metal colocar defeito. “Out of Nowhere” também é animada e possui um refrão pegajoso, com excelentes linhas de baixo. Mas ainda parecia que faltava algo para ser um álbum com um destaque maior e não agradou tanto assim seu seleto grupo de fãs, ainda mais por suceder os excelentes álbuns que a banda havia lançado. O guitarrista Andy Lee também decidiu sair da banda devido à problemas pessoais e talvez tenha sido a baixa que mais desfalcou o time da banda até então, sendo substituído pelo guitarrista Rollie Fieldman. Durante essa tour, a banda retornou mais uma vez ao Brasil, realizando shows em São Paulo e Campinas.


Seasons Will Fall [2013]

Agora um sexteto, sendo a primeira vez que a banda integra o tecladista Henning Wanner e o retorno do brasileiro Bill Hudson, e a entrada do baterista Adam Sagan, junto ao guitarrista Christian Wentz (Future’s End), Seasons Will Fall foi uma grata surpresa. Apesar de não possuir a intenção de parecer com o Savatage, deve parecer estar no sangue de Stevens os anos em que esteve na banda de Jon Oliva, assim como os outros integrantes, que, querendo ou não, tem o Savatage como influência. O álbum abre com a energética “Diamond Blade” (que ganhou um videoclipe com imagens enviadas por fãs durante os shows da turnê), passando pela épica “Epiphany”, uma obra de arte composta por Mitch Stewart, com várias passagens progressivas e um belo refrão. A faixa-título também é digna de sua qualidade e ganhou vídeo-clipe, apesar de não ter sido tocada ao vivo, merecia seu lugar nos setlists. “Downshot” também é uma grata surpresa, com um refrão pegajoso e de fácil audição. “Only Yesterday”, fecha o disco, sendo dedicada ao guitarrista Matt LaPorte, falecido em 2013 e a Criss Oliva, lendário guitarrista do Savatage, morto em 1993. A tour desse disco também passou pelo Brasil, com shows em diversas cidades, como Cataguases, Recife, Campinas, Rio de Janeiro e dois shows em São Paulo. Sendo que nessa tour, a banda homenageou o épico disco The Wake of Magellan (1998) do Savatage, tocando na íntegra nos shows, e no segundo dia em São Paulo, tocaram na íntegra o álbum Edge of Thorns (1993), primeiro trabalho de Stevens na banda de Jon Oliva.


Formação atual, que conta com Christian Wentz (guitarras), Henning Wanner (teclados), Mitch Stewart (baixo), Zak Stevens (vocais) e os brasileiros Bill Hudson (guitarras) e Marcelo Moreira (bateria).

Reign of Darkness [2015]

Pessoalmente, é difícil escrever sobre esse álbum, pois na época, a expectativa já era baixa para as canções desse trabalho. Segundo comentários nas redes sociais, o principal compositor e baixista Mitch Stewart teve alguns desentendimentos com Zak Stevens e Christian Wentz, guitarrista, tomou a frente das composições. Logo, o clima não era dos melhores, o que pode ter refletido no trabalho da banda. O disco também marcaria a saída do baterista Adam Sagan (que viera a falecer em 2016, sendo substituído pelo brasileiro Marcelo Moreira, ex-Almah e Burning in Hell).Verdade ou não, é um bom álbum, porém, abaixo da média dos outros. É denso, obscuro, como o próprio nome do álbum condiz. E bem diferente, por sinal, não tendo nenhuma semelhança com a característica da banda e sem nenhuma ligação com o legado do Savatage. Fora alguns bons momentos em “Somewhere”, não há nada de muito especial – salvo por “Ghost of the Devil”, que também é uma das boas faixas do álbum, com um ótimo refrão e boas melodias de guitarra. Mas no álbum em si, a sensação é que o clima não era dos melhores e faltou inspiração.


Atualmente, o Circle II Circle está vivendo um hiato, enquanto Zak Stevens sai esporadicamente em tour com o Trans-Siberian Orchestra. E claro, que após Reign of Darkness, os fãs aguardam um novo disco e uma nova turnê, especialmente os brasileiros, país em que existem ainda fãs fiéis da banda, ou pelo menos, fãs do Savatage que gostam de ir aos shows e acompanhar a carreira de Zak Stevens. Enfim, aguardamos um retorno, com composições bem inspiradas e shows em terras tupiniquins.

6 comentários sobre “Discografias Comentadas: Circle II Circle

  1. Só me falta o último deles… Gosto bastante da banda, e o primeirão e o Seasons Will Fall são meus favoritos, talvez por serem os “mais Savatage” deles…

  2. Conheço dois discos deles: Delusions of Grandeur e Consequence of Power. O primeiro deles é um ótimo disco, power do estilão que eu gosto, mas o segundo achei mais fraco e genérico embora a faixa título me agrade.

    A banda insistir demais no legado do Savatage é o que eu acho que mais atrapalha do que os ajuda. Eles possuem um baita vocalista e ótimos músicos, podiam ser tão grandes quanto os conterrâneos do Kamelot mas aí aceitaram o papel de uma “super banda cover do Savatage” que os minaram demais. De qualquer maneira, espero que o Zak Stevens esqueça um pouco sua antiga banda e que possam lançar discos melhores (pela resenha do último que não ouvi, aparentemente a banda saiu dos eixos).

    1. Exatamente, mas você sabe o pq o vocalista assumiu o “cover de Savatage”, não é mesmo? Fez isso até ele conseguir o que queria: voltar pro Trans Siberian. Pode perceber que agora que o Zak foi para lá, o CIIC sumiu. Todo show de CIIC era mesma coisa, mais Savatage do que CIIC e eles sabem disso, as pessoas no meet & greet reclamavam, clamavam por mais CIIC. Ele sabia que era arriscado e assumiu o risco…
      Delusions eu amo! Consequence é ok, mas nem a banda mesmo gosta. Sugiro que ouça os outros! hahaha!

  3. Lembro quando o primeiro disco foi lançado. Adorei a faixa-título, pois remetia àquilo de melhor que o Savatage havia feito com Zak no vocal, com muita classe sem ser algo excessivamente pomposo, como andava na moda naquela época. O tempo passou e acabei perdendo o interesse na banda, creio eu por ter achado o segundo disco bem abaixo do primeiro, mas também por ter coincidido com uma época em que comecei a explorar mais a fundo outros estilos dentro do rock, mais distantes do heavy metal. Mesmo assim, sigo tendo grande apreço por Zak. Sua voz é formidável e seu trabalho junto ao Savatage é inesquecível.

  4. Excelente artigo Adrian! Agora duas comentários pra você:

    1) Na turnê do “Seasons will Fall” eles também tocaram no Rio, mas foi apenas o show com o Edge of Thorns na íntegra. Se minha memória não falha, tocaram apenas uma ou duas músicas do Wake of Magellan e uma foi “The Storm” pro Zak descansar. 😛

    2) Eu gosto muito do Reign of Darkness justamente por ser o trabalho do CIIC que mais se afasta do Savatage. Para mim o destaque do disco foram os teclados do Henning, que dão um tom diferenciado.

    Infelizmente acho que não veremos mais o CIIC trabalhando, como já disseram aqui, tudo o que o Zak queria era voltar a ter bons termos com o Paul O’Neill e o Jon Oliva para entrar no elenco da TSO. A gente precisa lembrar que ele já não é tão jovem e tem uma família, a TSO providencia uma estabilidade que o CIIC não tem. O Zak é meio bagunçado e desorganizado sim, mas infelizmente manter uma banda como o CIIC de forma coesa exige muita energia.

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