Uma introdução ao rock progressivo brasileiro – Parte final

Uma introdução ao rock progressivo brasileiro – Parte final

Por Diego Camargo

Nessa última parte do nosso guia para conhecer o Rock Progressivo feito no Brasil trago à vocês os últimos 5 nomes da lista. Além dos 5 discos eu estou incluindo um extra, que ao meu ver deveria ser ouvido por todo mundo que quer conhecer mais o Prog BR.

Lembrando que você pode ler a parte 1 AQUI e a parte 2 AQUI.

Boa leitura!

Bailarina especializada em dançar Prog se apresenta durante a execução de uma suíte com 1 hora de duração


O Terço – Criaturas Da Noite [1975]

O Terço foi na verdade uma das primeiras bandas brasileiras a tocar Rock progressivo de verdade. A banda gravou o seu primeiro disco, totalmente voltado para a psicodelia e a MPB, em 1970 e o primeiro disco Prog em 1973 onde podemos encontrar a suíte “Amanhecer Total e seus quase 20 minutos.

No entanto não há como negar que o auge Progressivo da banda foi com o seu terceiro disco, Criaturas Da Noite. A mudança de formação e a adição de um tecladista permamente (ninguém menos que Flávio Venturini que depois fundaria o 14 Bis) fez com que o som da banda mudasse, além da influência do Hard Rock agora a banda também entrava de vez no Progressivo Sinfônico.

Após Criaturas Da Noite o grupo continuou gravando até meados de 1983, voltando em 1990 e nunca realmente parou desde então apesar de não lançar um disco com material inédito desde 1998, 20 anos atrás.

Destaque: “1974”

Terreno Baldio – Terreno Baldio [1976]

O Terreno Baldio foi formado em São Paulo no início dos anos 70 e eles são frequentemente chamados de ‘Gentle Giant brasileiro’ por fazer um Prog inspirado nos Ingleses e por fazer um som que muitas vezes não pode ser classificado.

O grupo gravou apenas dois discos e este primeiro é uma peça rara para colecionadores já que foi lançado por um pequeno selo chamado Pirata em uma tiragem de apenas 3 mil cópias.

Durante 1975/1976 a banda fez uma turnê bem completa tocando em várias cidades pelo Brasil, e em 1976, depois do lançamento do primeiro disco, assinaram com a gravadora Continental que apostava no Rock Progressivo naquele momento.

Quando chegou o momento de gravar um novo disco, a gravadora insistiu para que a banda lançasse um álbum conceitual sobre as lendas brasileiras. O grupo foi relutante à ideia já que eles já tinham material para um segundo disco, mas acreditando que isso compraria a liberdade que precisavam eles aceitaram a empreitada e lançaram o disco Além Das Lendas Brasileiras [1977].

O álbum não teve uma boa aceitação entre os fãs que não conseguiam associar a banda com toda a “brasilidade” no novo álbum e o Terreno Baldio acabou se dissolvendo em 1978.

Em 1993, o grupo se reuniu novamente para reescrever seu primeiro álbum, mas dessa vez com letras em Inglês, novos arranjos e novas faixas para um ‘relançamento’ do primeiro disco em CD. Eles acabaram fazendo alguns shows e se dissolvendo de novo. Entre 2008 e 2009, a banda fez vários shows novamente, um dos quais tive a sorte de ver em São Paulo, mas desde então o Terreno Baldio anda mais vazio do que nunca.

Destaque: “Grite”

Quaterna Réquiem – Quasímodo [1994]

O Quaterna Réquiem é uma das bandas mais honestas e fieis ao som que sempre se propôs a fazer: Rock Progressivo Sinfônico. Mesmo que isso tenha feito com que a banda, em seus mais de 30 anos de estrada, tenha gravado apenas 3 discos de estúdio.

Formada em 1986 e capitaneada pela tecladista Elisa Wiermann o grupo gravou seu primeiro disco, Velha Gravura, em 1990 mas na minha opinião foi com o segundo, Quasímoso, que eles tiveram seu momento ao Sol. Apesar de ser um disco extremamente longo (mais de 74 minutos) o disco traz diversos momentos de musicalidade ímpar, incluindo a faixa título, uma suíte de 39 minutos.

O grupo ainda lançou um disco ao vivo em 1999 e o tão aguardado terceiro disco, O Arquiteto, em 2012. Eles continuam na ativa apesar de tocarem pouco nos dias de hoje.

Em tempo, Cláudio Dantas, baterista da banda, retomou um velho projeto chamado Vitral, com quem lançou o disco Entre As Estrelas em Dezembro de 2017.

Destaque: Quasímodo

Cartoon – Bigorna [2002]

O Cartoon, formado em 1995 em Ouro Branco Minas Gerais, é uma daquelas bandas que engrandeceram o Prog nacional no início dos anos 90 e depois jogaram tudo pra cima em busca de uma popularidade que difícilmente vai ser encontrada…

Se no primeiro disco, Martelo [1999], a banda ainda procurava o seu som e uma identidade própria no segundo disco, Bigorna, o grupo encontrou o seu som e ‘quebrou tudo’ com uma Ópera Rock contando a história do Rei Artur de uma forma completamente diferente e bem humorada. ‘A trilogia dos ossinhos do ouvido’ ainda seria fechada por Estribo, em 2008, e apesar deste ser um ótimo disco eu sempre volto para o Bigorna e não poderia não recomendar o disco nesta lista.

Infelizmente desde cerca de 2010 a banda procura pelo sucesso popularesco, chegando inclusive, a participar de um programa no estilo ‘batalha de bandas’. Depois disso a banda lançou o vergonhoso Unbeatable [2013] que já deixava claro que a banda não mais tocava Rock Progressivo.

Em 2017 o Cartoon lançou um novo disco, o acústico V. A banda afirma que não mais quer seguir o caminho Progressivo, mas se em Unbeatable era descarada a busca pelo sucesso comercial (que não veio), em V o grupo fez um disco de respeito.

Vale a pena ouvir os 3 primeiros discos da banda para conhecer o que o Prog Br andava fazendo no início do novo século.

Destaque: “Knight’s Nightmare”

Ultranova – Orion [2017]

Orion é uma ‘espiada’ no que o Rock Progressivo moderno anda fazendo em solo Brasileiro. E como toda boa surpresa, vem de onde se menos espera!

O Ultranova é uma banda vinda de Belém, no Pará, longe demais das capitais mas não longe demais da qualidade sonora!

Orion nos mostra que os novos grupos de Rock Progressivo podem ser modernos sem mudarem completamente o estilo e decaírem para o Pop disfarçado como muitas bandas atuais tem feito. O disco também fecha um buraco que o Brasil tinha em relação ao Rock Progressivo, há anos uma banda interessante não aparecia no cenário, pois eis aqui o Ultranova.

Eu espero que a banda continue a seguir esse caminho e mal posso esperar pra ouvir os próximos trabalhos!

O disco está disponível no Bandcamp.

Destaque: “Órbita”

Menção honrosa:

Eclipse – Jumping From Springboards [2003]

Quando eu estava organizando essa lista o nome do Eclipse foi um dos primeiros a vir na minha cabeça. Banda fantástica que lançou somente esse disco e que, basicamente, ninguém conhece.

Mas ao mesmo tempo que eu acho que incluir a banda na lista seria justo eu também acho que iria fugir do foco do guia. A intenção era listas de discos que na minha opinião são fundamentais para entender o Prog Br, mas que ao mesmo tempo tem uma certa importância dentro do cenário, o que certamente o Eclipse (infelizmente) não teve. Foi quando eu decidi que deixar o grupo de fora seria um desfavor para com o ouvinte.

A banda carioca gravou esse disco em 2003 para o selo Rock Symphony e basicamente sumiu. O fato de que a banda se chama Eclipse (um nome extremamente comum) também não ajuda em nada já que encontrar informações sobre a ‘banda Eclipse’ leva o internauta a lugar nenhum. Mesmo em 2003 já haviam pelo menos 20 bandas com o mesmo nome.

Deixando isso de lado Jumping From Springboards é um disco absolutamente fantástico com elaboradas melodias, som rebuscado, gravação de primeira e um time de músicos competentíssimos.

Taí uma verdadeira pérola perdida!

Destaque: “Jumping From Springboards”

Não gostou das escolhas? Achou que o escritor não sabe do que está falando? Está indignado(a) que aquele disco que você acha perfeito não foi escolhido? Desce a lenha aqui embaixo nos comentários e até a próxima!

13 comentários sobre “Uma introdução ao rock progressivo brasileiro – Parte final

  1. “Criaturas da Noite”, d’O Terço, é fácil fácil um dos grandes discos da música brasileira. Não apenas no gênero rock, ou rock progressivo. “1974” é o auge da banda, é claro. Mas a beleza de “Criaturas da noite” é algo que me fascina sempre. Dá uma tristeza ver que, quando se fala em música no Brasil hoje, “titãs” (numa referência a “Attack on Titan”, mangá japonês, ok?), como Pabllo Vittar, Jojo Toddynho, Anitta e aquelas trocentas duplas de “”sertanejo” “”””universitário””””, é que se destacam. “Queimada” e “Jogo das pedras” são outros grandes momentos desse grupo. É uma pena que O Terço não receba a consideração que merece.

  2. Outros dois grandes talentos da década passada, no rock progressivo nacional, e que eu até achei que pintariam por aqui, são o grupo Octophera e o artista Marcio Rocha. O primeiro com certeza é o novo Gentle Giant, e o segundo é um dos grandes talentos cariocas a serem descobertos pela comunidade prog.

    Valeu pela série, Diego

    1. O Octophera ficou a um triz de entrar na lista, Bons Amigos é um disco que eu ouvi muito e gosto muito. Mas sempre achei que faltava uma coisa no disco: um tecladista, e ainda acho isso 🙂

      Quanto ao Marcio Rocha, nunca ouvi falar 🙁

    1. Alessandro, eu entendo que você tenha ficado contrariado quanto à esse fato. Mas na minha modesta opinião a Casa é uma banda de Hard Rock e o disco Lar de Maravilhas, apesar de um bom disco, não é essencial ao Prog br, pelo menos eu acho 🙂

  3. Infelizmente o vocalista João Kurk (Terreno Baldio), morreu ano passado. O que significa que provavelmente, a banda não volta mais mesmo.

    1. Vinnie, muito obrigado pela informação, eu realmente não tinha ficado sabendo desse fato. Triste 🙁

  4. Fiquei muito feliz em ver o álbum Jumping from Springboards, que gravei com a banda Eclipse, na sua lista. Caso queira saber mais informações sobre o grupo e sobre o próprio álbum, coloco-me à disposição.

    Grande abraço

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