Melhores de 2016: Por Diego Camargo

Melhores de 2016: Por Diego Camargo

 

Por Diego Camargo

É sempre legal participar dessas listas da Consultoria, mas eu tenho que admitir que esse ano foi MUITO difícil de escolher 10 discos. Foi difícil sim, mas não porque 2016 foi repleto de discos sensacionais, 2016 pra mim foi BEM meh!
Confesso que nunca fui de lançamentos, enquanto muita gente corre pros sites de streaming pra ouvir o último disco de determinado artista que saiu hoje, eu prefiro continuar com a minha marolinha de descobrir diferentes e inusitados artistas de todos os tempos. Como eu costume sempre dizer: “se eu nunca ouvi é lançamento pra mim”.

Ouvi apenas 88 lançamentos de 2016, o que comparados com os anos anteriores (132 em 2015, 215 em 2014, 336 em 2013 e 266 em 2012), é quase nada. Desses 88 discos escolher 10 foi uma tarefa difícil, porque pouca coisa REALMENTE me fez socar o ar e dizer “putaqueopariu que discaço!”. Os discos que entraram nessa lista são ótimo, sem sombra de dúvida, mas ainda não ouvi O disco do ano se é que me entendem.

Com certeza ouvirei muitos outros discos de 2016 nesse ano, é sempre assim, e minha lista com certeza irá mudar (pra falar a verdade o novo disco do Kansas entraria fácil nessa lista, mas o escutei apenas depois do Natal por ter ganho de presente). Mas no momento esse é o meu top 10 de 2016:



1. Macroscream – Macroscream

O Rock Progressivo em geral me decepciona cada vez mais de (cerca de) 5 anos pra cá. Agora que toda e cada banda pode gravar seus discos e lançá-los de forma independente isso acaba sendo uma faca de ‘dois legumes’: É ótimo ouvir bandas que nunca teriam chance de lançar seus discos através de uma gravadora, mas também a quantidade de porcaria é assustadora. Especialmente pra mim que era um ferrenho ‘resenhista’, entre 2012 e 2014 eu fiz cerca de 200 resenhas de discos Prog, e isso me mostrou um outro lado do gênero, o lado que todo mundo reclama, as cópias, as bandas pedantes, o mesmo disco sendo lançado todo ano, etc.

Entratanto, se tem um selo que acerta 90% do tempo é o selo Italiano AltrOck/Fading. O selo começou em 2006 e desde então lançou diversos discos que figuram entre os melhores de seus respectivos anos em minhas listas como Camelias Garden, La Coscienza Di Zeno, The Worm Ouroboros, Rhùn (em 2013), Syndone (em 2014), La Coscienza Di Zeno (em 2015) e esse Macroscream em 2016.

Na minha opinião em geral os Italianos estão fazendo o melhor Rock Progressivo atual, utilizando o modelo clássico dos anos 70 sem estar amarrado e soando originais e novos, mas também sem cair no filão idiotizado de Porcupine Trees que fazem um som quase Pop com um mínimo de elementos Prog.

Macroscream é o segundo disco dessa jovem banda de Roma e vem 4 anos após o disco de estreia Sisyphus (2012). Na minha opinião Macroscream é quase perfeito. Melodias suaves com muito violinos, pianos e órgãos mas também cheio de melodias intensas, bem ao estilo Italiano. Mas não apenas isso, em seus momentos mais ‘King Crimson’, como em ‘Then It Goes Away’ a banda também mostra que tem em suas veias o experimentalismo.

Mas os momentos que brilham de verdade são os momentos clássicos como na faixa de abertura ‘Mr.Why’, ‘Unquiet’ ou ‘Goliath’. Discaço!


2. Metá Metá – MM3

Confesso que não sou adepto ao hype direcionado ao Metá Metá. , banda formada em São Paulo em 2008 e que segue um estranho caminho sonoro altamente experimental. Também confesso que ainda não ouvi os dois primeiros discos do grupo, apenas ouvi o EP de 2015 e esse disco novo, MM3.

Em seu novo disco o Metá Metá arrebata pelo ‘estranhismo’, pela mistura inusitada de Samba, Jazz, Candomblé, Art Punk e tudo mais que vier em seu caminho. Ora melódico por alguns minutos (ou segundos) como na faixa de abertura ‘Três Amigos’ (que me dá a impressão ter sido influenciada por Gentle Giant), ‘Imagem Do Amor’ ou ‘Angolana’. Ora altamente estranho como em ‘Angouleme’, ‘Mano Légua’ ou ‘Obá Kossô’. No entanto essa estranheza sonora casa e é extreamente bem executada. Vale muito a pena, especialmente porque está disponível para download gratuíto no site da banda (http://metametaoficial.com.br/).



3. Оргия Праведников [Orgia Pravednikov] – Для тех, кто видит сны. Vol.2

A banda Russa Orgia Pravednikov é uma das minhas favoritas, e eu falo isso em alto e bom som. Desde que ouvi a banda pela primeira vez lá por volta de 2006 fiquei de boca aberta com o som do outro mundo que o grupo estava fazendo.

Для тех, кто видит сны. Vol.2 (ou Dlya tekh, kto vidit sny. Vol.2 – Para aqueles que estão sonhando) é o quinto disco de estúdio do grupo e como o nome sugere é a continuação do fantástico disco lançado em 2010. Financiado com sucesso em um crowdfunding no final de 2015 o disco é mais direto que seus antecessores. Também é mais ‘metal’, a banda sempre misturou o Folk com o Metal, mas nesse novo disco isso está mais presente.

Confesso que não é meu disco favorito da banda, mas pra ser honesto, qualquer coisa que essa banda Russa lança é melhor que 75% do que é considerado fantástico atualmente no que diz respeito ao Rock, em minha opinião claro.

Toda vez que um novo disco do grupo é lançado eu fico animado, e toda a vez vale a pena, e muito.


4. Anderson / Stolt – Invention of Knowledge

Roine Stolt, mentor do Flower Kings e membro do Transatlantic é um cara que sempre sonhou com o estrelato, mas nunca chegou lá, não da mesma forma que o Yes, por exemplo. Nos últimos anos Roine decidiu que iria deixar a busca pelo reconhecimento de lado e resolveu embarcar em seus sonhos de criança.

Em 2015 embarcou em uma turnê como baixista/guitarrista de Steve Hackett (ex Genesis) e em 2016 lançaou um disco com o ex vocalista do Yes, Jon Anderson. Essas duas bandas, Genesis e Yes, são a maior influência na música de Roine, então é óbvio que o músico não poderia estar mais feliz.

Invention Of Knowledge foi lançado em Junho de 2016 e traz, como nos moldes dos anos 70, 4 longas faixas em um disco de pouco mais de uma hora. Eu tinha, inicialmente uma esperança gigante nesse disco, que meio que foram derrubadas ao ouvir o disco. De maneira nenhuma o disco é ruim (seria um 4 entre 0 e 5), mas por algum motivo ele não superou minhas expectativas, talvez minhas expectativas tenham sido grandes demais, não sei dizer. O que sei dizer é que o disco tem tudo que um fã de Yes e Flower Kings poderia querer, Jon ainda canta muitíssimo bem, mesmo que seja perceptível que sua voa não é a mesma (o que é completamente compreensível no alto de seus 72 anos), e é louvável ver Jon nessa idade se arriscar em novos projetos e não apenas cantar seus clássicos de novo e de novo. Também é perceptível que Roine é o nome por trás das composições, suas marcas registradas estão por toda parte.

De qualquer forma se você é um fã de Prog e das duas bandas, deveria, com certeza, ouvir Invention of Knowledge com calma.



5. Jack Dupon – Empty Full Circulation

O Jack Dupon, vindo da França, é uma banda que eu aprendi a gostar. Tenho seguido a banda desde 2013 com seu disco Jésus l’aventurier e esse novo disco, mais uma vez, foi uma grata surpresa pra mim. A banda toca um caótico Avant Prog que em muitos momentos soa tão complexo e torto que se torna difícil acompanhar os detalhes, mas mesmo assim, é possível achar o fio da meada e aproveitar cada minuto.

Quer algo estranho altamente bem feito? Jack Dupon é o nome que você procura!



6. NOFX – First Ditch Effort

De certa forma é muito estranho que o NOFX seja uma das minhas bandas favoritas, mas a verdade é que o Hardcore/Skate Punk/Hardcore Melódico é um gênero que sempre me encantou, especialmente os discos lançados nos anos 90.

O disco anterior da banda Self/Entitled (2012) estava num dos postos mais altos da minha lista de melhores daquele ano e o novo disco da banda não fica muito atrás.

Depois de lançar um livro no começo de 2016 o grupo entrou em estúdio para gravar seu décimo terceiro disco de estúdio com um novo foco. No livro a banda conta as mais podres histórias, muitas delas nunca antes contadas, até mesmo para os outros membros da banda, e isso abriu muitas portas para as letras do novo disco. Dá pra ver, pelo menos pra quem acompanha a banda, que a abordagem foi bem diferente nesse disco.


7. Violeta De Outono – Spaces

O Violeta de Outono, desde 2007, vem lançando discos fantásticos, um após o outro. É fato que a banda compõe e lança discos em um ritmo bem lento (este é o quarto disco deles desde a volta em 2005), mas temos que levar em consideração que Fabio Golfetti andou excursionando com o Gong antes e depois de Daevid Allen morrer e agora é membro official da banda.

Spaces vem com o maravilhoso som da banda que é influenciado pelo Canterbury Sound de bandas como Caravan e Camel. Mas sua essência psicodélica do início de carreira que remontam ao Pink Floyd de início de carreira ainda estão presentes.

É bom ver Gabriel Costa (baixo) ganhar mais espaço e solar na faixa de abertura (‘Imagens’), também é bom ver que o órgão de Fernando Cardoso ainda é o esqueleto essencial à música da banda. Mas é claro que Fabio Golfetti continua sendo a cara do Violeta De Outono com sua voz calma e suave e sua guitarra atmosférica.

No geral é difícil resenhar um disco como Spaces, não porque ele é ruim, muito pelo contrário, ele é ótimo, mas por que as faixas passam e te fazem cair num transe, e nesse momento você se vê balançando a cabeça ao som ritmado de bateria e baixo enquanto os sons flutuantes do órgão simplesmente te levam pra uma outra dimensão.

‘A Painter Of The Mind’ é um exemplo perfeito, prefiro o Violeta de Outono cantando em português, mas essa faixa, cantada em inglês, é o exemplo perfeito do que eu disse acima. No entanto é bem possível que ‘Cidade Extinta’ seja minha faixa favorita do disco. Altamente Progressiva mas com aquela melancolia a la Caravan, sem deixar de ter a cara e a alma do Violeta de Outono.

Disco altamente recomendado para qualquer amante de boa música.


8. Bavid Bowie – Blackstar

Mais uma vez, eu não entrei no hype, por causa da morte de David Bowie logo após o lançamento do disco, tive a impressão de que todos os elogios vinham da melancolia que o fato trouxe, também é comum no mundo musical que ao morrer, o músico se transforme em uma lenda perfeita. Por esses motivos deixei Blackstar pra lá, por um bom tempo.

Ouvindo o disco sem o hype, consegui entender que sim, David Bowie, sabendo de sua condição e do pouco tempo que tinha, tentou ao máximo criar a obra definitiva de adeus e ele basicamente conseguiu. O disco traz a essência de Bowie que durante anos foi a experimentação, a inovação o fato de que ele conseguia olhar sempre pra frente, mesmo utilizando elementos do passado. O disco anterior do músico The Next Day não era lá o tão esperado retorno após 10 anos sem lançar nada, já Blackstar merece estar em listas de melhores do ano.



9. Niechęć – Niechęć

Completa surpresa essa jovem banda Polonesa. Em seu segundo disco o Niechęć (pronuncia-se Niérrent) conseguiu a façanha de misturar coisas bem díspares como Post Rock e Jazz Rock e fazer com que elas funcionem.
Por diversos momento a escola de Jazz Fusion, que é tão forte na Polônia, nos toma de assalto e até mesmo eu, que não gosto de Jazz Fusion acabei me rendendo.

Som de qualidade que vale a pena ser conferido!



10. Big Big Train – Folklore

Vou começar dizendo o óbvio, Folklore NÃO é o melhor disco do Big Big Train, nem de longe. Esse título ainda fica com The Underfall Yard (2009) ou o maravilhoso English Electric Part One (2012). No entanto seria um erro craso dizer que Folklore é ruim.

Como o nome sugere, Folklore é um disco mais Folk, as influências Folk da Inglaterra foram usadas como referência para o conceito do disco (todos os discos da banda são conceituais e há muito tempo a banda trata apenas de assuntos Ingleses em seus discos). Não que não tenhamos momentos mais ‘Prog’, pois os temos. No entanto, eu sinto que em diversos momentos, por culpa dos elementos Folk, o disco perde força, e longo tempo de duração do disco (mais de 68 minutos) não ajuda muito também.

Em minha opinião, se o disco tivesse sido enxugado um pouco (talvez perdendo uma ou duas faixas ‘fillers‘) ele estaria bem alto na minha lista. Da maneira que foi lançado é muito bom, mas passa longe de ser perfeito.


Menção honrosa

Kansas – The Prelude Implicit

Na verdade é mais do que uma menção honrosa, esse disco facilmente entraria na lista no lugar do Big Big Train. O problema é que eu estava esperando os preços do disco baixarem pra comprar, mas fui supreendido pela minha esposa que me deu o disco em LP de presente de Natal.

Apesar de contar com apenas dois membros de sua formação original, o primeiro disco de estúdio do Kansas em 16 anos me lembra e muito do Kansas clássico. Na verdade é uma bela mistura do Kansas anos 70 com o AOR que a banda tocava nos anos 80. O violino mais uma vez está presente e o novo vocalista soa muito como Steve Walsh mas tem personalidade na hora de criar suas melodias.

‘With This Heart’ e ‘Visibility Zero’ são fortes canditadas a ficarem no setlist dos shows da banda americana por muito tempo.

10 comentários sobre “Melhores de 2016: Por Diego Camargo

  1. Escutei ambos os English Electric, Bard e The Infant Hercules. Ainda acho Folklore superior a todos que ouvi deles.

    1. O The Infant Hercules não dá pra contar, assim como o From The River to the Sea, eles são mais demos do que discos completos.

      Gosto é gosto, mas posso dizer uma coisa André: VOCÊ TÁ É LOUCO! 😉 haha

      1. Mas a ponto de me chamar de louco, então vou me obrigar a ir atrás do Underfall Yard. hahahahahahahahaha

  2. Acho que foi a melhor lista (depois da minha, lógico) até agora. Ótimos discos de ótimas bandas. O Kansas citado no final foi-me surpreendente. Um bom disco perto do que foi lançado nas décadas de 80 e 90, mas ainda acho que a essência do grupo foi perdida há tempos.

    Agora, esse NOFX foi surpresa total na lista. Nunca imaginaria que o Diego curtisse algo similar.

    1. Valeu Mairon! Mas a verdade é uma só, minha lista é melhor que a tua. Fim da discussão 😉

      Agora valeu os comentários, e até eu ainda me surpreendo por gostar de NOFX e outras bandas do gênero, tipo Hi-Standard, rs

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