Sangue Novo: Augustine Azul

Sangue Novo: Augustine Azul
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Crédito: Eduardo Phillipe

Os anos 2000 vivem, de certa forma, um intenso resgate da música instrumental no rock. Atribuo isso à dois fatores, essencialmente: uma ausência generalizada de bons vocalistas/letristas e uma forte influência da música psicodélica de inspiração setentista no rock, que ainda que não fosse totalmente instrumental, tinha, nesse aspecto, um de seus arrimos.

Positivamente, observo que a ausência de um vocalista obriga a banda a se dedicar a temas que tenham forte apelo, passagens ganchudas, solos de guitarra que grudem na cabeça e uma interação insana entre bateria e baixo.

Esse prólogo me leva a chegar ao som dessa banda instrumental de João Pessoa, PB. Meu conhecimento sobre eles era nulo até vê-los em um festival no Rio, junto com outras bandas que também figurarão em breve nessa coluna e cujo headliner era a banda norte-americana Radio Moscow, um ícone da estereotipada denominação retro-rock. E no meio daquele turbilhão de fumaça e riffs em formato power trio, o som do grupo me conquistou.

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Crédito: Emanuel Alves

Ainda continuo sabendo pouco sobre eles, já que o release disponibilizado pela banda não conta nada sobre a trajetória de formação do grupo. Mas o que vale mesmo é conhecer os trabalhos deles, que humildemente trago aqui ao conhecimento dos nobres leitores dessa Consultoria. Seus integrantes são João Lima (guitarra), Jonathan Beltrão (baixo) e Edgar Moreira (bateria) e o lançamento de estreia aconteceu com um EP autointitulado, que ganhou vida em julho de 2015. Há poucos dias atrás lançaram seu primeiro álbum completo, batizado de Lombramorfose.

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O EP de estreia, lançado em 2015

No EP, um ataque furioso de marteladas, como a capa sugere magistralmente. A guitarra, em afinação dropada, abre a cortina com um riff catártico e dali bateria e baixo, esgrimam-se num duelo de sangue. A paisagem descrita para a primeira faixa poderia servir para quase todas as 6 curtas e eficazes faixas do trabalho. Algumas delas tem maiores referências ao blues-rock e outras são mais soturnas e sabáticas; mas em todas tem-se alta octanagem, uma bateria veloz e muita intensidade.

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Crédito: Marcos Myara

A banda tem uma virtude de saber tratar solos de guitarra com frases muito precisas, trabalhando-os como espécies diferentes de riffs, com o nobre objetivo de fixar o ouvinte na música. Há momentos em que o baixo destila virtuosismo, com belas e tortuosas frases. Porém, tudo é muito bem dosado, fazendo a engrenagem rodar deliciosamente pela cabeça. Algumas faixas guardam semelhanças entre si, já que a banda não explora uma diversidade de timbres, tonalidades e modulações neste trabalho, apesar dos timbres pra lá de orgânicos e uma bela captação do áudio. Se o leitor quer que eu relativize o som dos garotos, minhas impressões apontam para o som de Sir Lord Baltimore, Grand Funk Railroad e Blue Cheer.  Com o lançamento do EP, o nome da banda passou a ser buscado inclusive fora do país, com resenhas deste em sites internacionais especializados.

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O récem-lançado Lombramorfose (2016)

Lombramorfose (2016), embalado por outra interessante arte gráfica, é um rock mais luxuoso do que o apresentado na estreia. Com uma qualidade ainda superior de captura de som e timbres mais requintados, também mostra uma guinada do Augustine Azul a um maior ecletismo. Ainda estão lá os riffs fortes, mas acrescidos de maior variedade de ritmos, convenções instigantes e muita inteligência musical costurando todas as frases. A guitarra e o baixo soam ainda melhores que no EP de estreia, com maior variedade de texturas. As faixas do disco são bem variadas e algumas até trazem reminescências de rock progressivo, pela riqueza de frases; outras são pura testosterona e delírio. Os destaques ficam com os fantásticos intercruzamentos em “Amônia”, as alternâncias de climas de “Cogumelo”, a poeirenta “Pixo” e o arsenal de distorção da faixa de encerramento, “Intéra”.

Recomendo ao leitor que deixe se envenenar por Augustine Azul.

Augustine Azul

Gênero: Hard rock, Rock psicodélico

Origem: João Pessoa, Brasil

Atividade: 2015 (?) – Atualmente

Discografia:

Augustine Azul (EP) (2015)

Lombramorfose (2016)

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11 comentários sobre “Sangue Novo: Augustine Azul

  1. Ouvi o EP deles em 2015, muito bom. Mas esse Lombramorfose eu nem sabia que era deles, vou conferir. Bela matéria e ótima dica.

  2. Muito legal o som do Augustine.

    E dá vontade de gravar um disco só pro Ronaldo resenhar. Pode até meter o pau, o que vale é a honra.

  3. Cara, como senti falta de uma voz Osbourneana. Instrumental sabbhático da hora, mas bem que podia surgir uma voz totalmente desafinada, cantando sobre drogas ou sei lá o que, para engradecer ainda mais o som da banda. Ótimo baixista desse power trio, e sucesso para os paraibanos (ouvi “MEsclado”, “Jurureba”, “Cogumelo” e o EP de 2015). Valeu a dica Ronaldo, nosso Indiana Jones dos tempos modernos

      1. Em tempo, “Nando Reis/Aquele Regaço” é uma viagem sensacional. A única em que Ozzy não fez falta

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