Na Caverna da Consultoria: Antônio Cândido da Silva

Na Caverna da Consultoria: Antônio Cândido da Silva

Por Mairon Machado

Voltamos hoje para o Rio Grande do Sul, mais especificamente para a fronteira com a Argentina, na Terra dos Presidentes, São Borja. A cidade berço dos gaúchos, primeira das cidades criadas na chamada Região das Missões, apresenta hoje seu filho legítimo Antonio Candido, mais conhecido por Toninho.

Com uma formação musical baseada principalmente nos anos 80, Toninho veio para as páginas da Consultoria cobrindo cobrindo shows na Argentina, entre outras matérias, exatamente no período inicial de transição do blog para o site, e as quais estamos ainda na justiça tentando reavê-las. Simpático e torcedor do Vasco da Gama, Toninho traz aqui sua história de amor pelo The Cure e outros grandes nomes dos anos 80, bem como curiosidades que passou com sua proximidade com a terra dos hermanos.


1. Consultoria do Rock: Fala Toninho, tudo tranquilo? Bem vindo de volta às páginas da Consultora. Obrigado por compartilhar sua história conosco. Por favor, apresente-se para os leitores.

Antônio Cândido: Bueno, Meu nome é Antônio Cândido, mas todos me conhecem por Toninho. Sou colega de instituição do Mairon, onde coordeno a infraestrutura. Tenho 40 anos , e boa parte deles eu gastei ouvindo música e colecionando. Também coleciono HQs da Marvel e Vertigo (selo da DC).

2. Como você conheceu a Consultoria do Rock?
A primeira vez que vi o consultoria foi depois do show do Roger Waters, The Wall. Eu fui no show em Poa e o Mairon também foi, e na volta um colega nosso, Alexander Machado, que também tinha ido no show (com o Mairon), me mostrou o site.

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Onde a coleção esta guardada

3. Como foi que você passou a colaborar com o site?
Porra Mairon, tu sabe como eu passei a colaborar com o site!! kkkkkk. Eu te disse que ia a Buenos Aires ver o The Cure e tu me chamou na responsabilidade de escrever uma resenha do show.

4. É que os leitores não sabem que tú mandas aqui, hehehe. Adiante, você já tinha experiência em escrever anteriormente ou a Consultoria foi sua primeira experiência?
Eu já tinha escrito para jornais, blogs e fanzines de amigos. Mas sempre esporadicamente. Porém foi a primeira vez que tive o prazer de fazer resenha de shows.

5. Qual a matéria que você mais gostou de ter feito para o site?
Cara, a do The Cure significou muito pra mim. É a minha banda preferida, foi um puta show, três horas de duração, e foi a primeira. Não que a do Loolapalooza tenha sido menos gratificante.

6. Além do Loolapalooza e do The Cure, você chegou a assistir outros shows grandes na Argentina?
Não, mas em compensação o Loolapalooza me deu a chance de assistir muitos shows bons como Pixies, Nine Inch Nails, Arcade Fire, Johnny Marr, El Mato a un policia motorizado. Esse último pretendo rever quando vierem aqui por perto.

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Parte da coleção de vinis

7. No período que você viveu em Porto Alegre, conseguiu assistir muitos shows bons por lá?
Lá sim. Eu tive sorte de morar em Porto Alegre numa época com muitos shows legais. Vi Morrissey e Echo and the Bunnymen no opinião, bem de pertinho. Placebo, que foi um show decepcionante. Vi um show com Wander Wildner, Jupiter Maçã e Graforréia Xilarmônica na mesma noite, Sepultura,Metallica, Rammstein (que matou o show do Kiss, que eu vi mas foi uma bosta), Spy vs.Spy, Midnight Oil, Man At Work e James Reyne (do Australian Crawl), toda essa galera da surf music australiana que tava chegando no final dos 80 e até o meio dos 90 aqui, e descobriram o RS, então faziam muitos shows aqui. Vi muita coisa boa nacional, Titãs, Raimundos, Paralamas, Planet Hemp (o Primeiro deles em Poa (muito bom), e o último da banda (uma bosta que tinha mais convidados do que membros da banda), Charlie Brown jr, antes de ficar horroroso. Ira!, uma meia dúzia de vezes. Muita coisa boa como Black Sabbath e os dois do Roger Waters. E coisas meia boca, como Dog Eat Dog (vi na faixa porque trabalhava na loja de CD que vendia os ingressos).

8. Por que o show do Placebo foi ruim e o do Planet Hemp foi uma bosta?

O show do Placebo não foi Ruiiiim, foi apenas formal demais. Eles tocaram as musicas de forma mecânica, não houve uma entrega, não deram o sangue. E foi curto demais. O Planet Hemp prefiro não comentar.

9.  Quanto ao show do Rammstein ser melhor do que o do Kiss, jamais. Eu estava lá, e aquele show foi bizarro demais. Por que você foi no show, já que não gosta de Kiss?

Sim, o show do Kiss foi muito fraco, até os fãs de cara pintada acharam isso. Os efeitos 3D frustraram todo mundo. E o show do Rammstein foi uma experiencia que ninguém que estava lá vai esquecer. Um dos melhores shows que vi na vida. Fui pois era um show que prometia, eu tinha duvidas se Kiss era ruim mesmo, e por que eu queria ouvir “I Love It Loud”, que é a unica deles que eu acho legalzinha e escutava direto quando criança(meus irmãos tinham o Creatures of the night e o Alive III). No fim, eles não tocaram “I Love it Loud” e eu confirmei que hard rock tipo Kiss é um saco.

10. Sem comentários … Vamos lá, a vida segue. O que você caracteriza como principal característica do Consultoria do Rock, que o torna um diferencial nos demais sites de música?
A diferença é o conhecimento infindável dos irmãos Machado. Sério, vocês dois parecem o google. E também a qualidade dos demais colaboradores.

11. Depois de algum tempo, você acabou deixou de colaborar. O que aconteceu?
Na verdade foi um somatório de fatores. Meu filho nasceu, parei de ver shows, minhas atribuições aumentaram assim como minhas responsabilidades enquanto meu tempo diminuiu. E eu comprei um Xbox One , o que me rouba todo o pouco tempo livre.

12. Falando um pouco do lado pessoal, como foi a sua formação musical? (quais estilos/bandas você ouviu com frequência)
Eu comecei a ouvir musica com meu pai que é extremamente ortodoxo. Então era Tango, Samba(Noel Rosa,Chico Buarque, Cartola, Sinhô), muito bolero e Nelson Gonçalves. Depois, um pouco mais velho (10,11 anos) começo a ouvir rock. Pink Floyd (não lembro da primeira vez que vi o The Wall). Daí minhas influências são os anos oitenta, principalmente o lado mais soturno: The Cure, com certeza a maior influência, U2 (impossível não ouvir naquela época), os medalhões do rock nacional (Legião, Camisa e Ira! principalmente), Indie Rock (o verdadeiro) e então fui ampliando o leque. Rap, Thrash Metal, Industrial, ShoeGazzer… Tudo, exceto hard rock farofa, metal farofa e qualquer coisa que virasse sucesso… kkkk.

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Poster do the cure in orange com os ingressos do show de buenos aires

13. E sobre sua coleção. Quais são suas principais lembranças de quando começou a ouvir música?
Eu sou o mais novo de três irmãos, então meus irmãos mais velhos tinham já uma coleção mais ou menos. Tinha Led Zeppelin, Kiss (que eu abomino), Ratos de porão, Cólera, Ramones. Quando eu comecei a comprar discos, eu era muito influenciado por cinema. Daí eu fui numa grande loja em Porto Alegre com minha mãe, devia ter uns 11 anos, e comprei as trilhas sonoras do Mad Max 3 e da A Hora do pesadelo 3. Anos depois me dei por conta que eu tinha uma obra do genial Angelo Badalamenti.

14. Quando você percebeu que iria virar um colecionador?
Desde que comprei os dois primeiros LPs eu queria colecionar, queria ter uma coleção de discos imensa. Nunca consegui…. kkkk.

15. Você chegou a acompanhar a transição do LP para o CD? Em caso positivo, conseguiu adquirir algumas bagatelas naquela época que hoje são consideradas raridades?
Sim, acompanhei. Sou da época que se trocava CDs pra “ouvir por um tempo” devido a dificuldade de comprar e de encontrar CDs bons. Comprei alguns LPs de barbada, principalmente nas lojas de discos usados em Poa. O CD atirou o preço do LP lá embaixo.

16. Com quantos anos você comprou seu primeiro disco, e qual foi? Você ainda tem ele?
Essa eu já respondi!!! kkkkk. Uns 11/12 anos, foram as trilhas sonoras do Mad Max 3 (Tina Turner) e A Hora do Pesadelo 3 (Angelo Badalamenti). Tenho ambos!!

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Os primeiros LPs

17. Morando em uma cidade do interior do Rio Grande do Sul, como você faz para manter a chama acesa da coleção?
Pois ai é que tava o rolo! Aqui era muito difícil. Eu lia a saudosa revista Bizz, ficava na fissura pra ouvir os discos, ia nas Lojas (principalmente a Grazziotin) e torcia pra achar o disco que eu queria. Achava mais lançamentos, mas as peças de coleção não. Dai, toda vez que meus pais iam a Porto Alegre eu mandava uma listinha com eles. Lembro de uma vez ter ido junto com eles e levei meu pai na galeria Malcom, onde tinha várias lojas de disco. Entrei e achei o The best of The Clash e o London Calling, e eu queria os dois, mas os dois eram álbuns duplos. Dai olhei com aquela cara de infeliz pro meu pai, crente q ele ia me dar só um…. e levei os dois. Que felicidade…kkkkkkk

18. São Borja tem uma fama recente de uma geração de boas bandas de rock, como Soldas em Geral, Frenesi, entre outras. O que falta, na sua visão, para essas bandas poderem estourar?
Sinceramente, não vejo nenhuma banda de rock estourando com o atual cenário. Boa, pelo menos. Se for banda comercial chorona pode estourar, mas as portas se fecharam para o rock. Acredito que agora o rock vai ser pra quem gosta mesmo, não mais uma coisa mainstream. Mas em geral, para uma banda ser reconhecida, ela não pode ser mais do mesmo. Querer ser “tipo a banda tal”. Tem que inovar, ter qualidade e originalidade.

19. A quantas anda sua coleção? 
A minha coleção parou. O MP3 e a internet mataram minha vontade de colecionar (e os preços altos também). Hoje você entra na internet, busca o que quiser e baixa. É pratico, mas é meio chato, por que tira a vontade de correr atrás.
Devo ter cerca de 300 a 400 CD’s, uns 100 Discos e uns 30 DVDs, mais alguns livros sobre o assunto.

20. Qual a banda que você tem mais itens na sua coleção? 
The Cure. Não sei dizer de cabeça, mas algo entre uns 7 DVDs, uns 20 Cds, e 15 Lps, e mais a bibliografia, lembranças do show e ingressos.

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Coleção do The Cure

21. Que outras bandas / artistas tem destaque na sua coleção?
Pixies, Smiths, Pink Floyd, U2, Placebo, Legião Urbana, Nine Inch Nails.

22. Como você organiza sua coleção?
Eu costumava organizar por ordem alfabética, e no artista por ordem cronológica. Trabalhei numa loja de CDs em Poa, a CD Express, e lá aprendi a fazer assim.

23. O que todo mundo gosta e você não consegue gostar? O que só você gosta?
Não gosto:Kiss, Pitty, Charlie Brown Jr, Cachorro Grande, Hard Rock farofa em geral.
Acho que só eu gosto de El Mato un policia motorizado (a melhor banda do momento) e Maria Bacana.

24. Há algum item bizarro ou diferente na sua coleção, que quando algum amigo vai visitar pergunta “O que isso faz aqui”?
Trilha sonora da novela O Outro… kkkkk (já me perguntaram)

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Alguns discos “diferentes” na coleção de Antônio

25. Já fez alguma loucura por algum disco/show?
Já fiz cagada por um disco. Troquei dois álbuns raros por um comum na pressa. E também fiz uma inversa, troquei o Sonic Temple do The Cult pelo compacto do “Boys Dont Cry”, de 86, do The Cure.

26. Qual o item mais raro de sua coleção?
Acredito que seja o Vinil do Zero: Passos no escuro.

27. Você chegou a pegar o tempo da loja de discos de Santo Tomé (cidade argentina vizinha à São Borja)? Como era trocar informações musicais com os hermanos.
Nunca comprei nada em Santo Tomé. A loja que tinha ali não tinha nada além de cantores regionais. Naquela época não havia a ponte, a passagem era feita através de balsa, e a cidade era bem menor do que é agora. E mesmo vivendo na fronteira, o que conhecíamos deles era bem pouco, isso dificultava até no que procurar.

28. Cite cinco itens que, se você tivesse que vender sua coleção, não venderia de jeito nenhum.
O compacto do “Boys don’t Cry” (club mix-New Voice) (em 45 rotações!!!), Punks not Dead (The Exploited), o EP do Zero, e um Bootleg do The Cure ao vivo em 1979.

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Preciosidades que Antônio jamais iria se desfazer

29. Quais os dez melhores discos da década de 60?
Vou comentar esses:

The Doors – The Doors. É o disco de estreia do Doors, é uma pedra atada no pescoço lançado de cima de uma ponte na alegria hippie dos anos 60. É muito bom em tantos aspectos que nem sei o que dizer. E tem “The Crystal Ship” e “The End”.
Jefferson Airplane – Surrealistic Pillow – É a personificação de toda aura lisérgica da geração dos 60. Vocais fabulosos, e “White Rabbit” (toda vez que o Homer Simpson se chapa toca “White Rabbit”…).
The Beach Boys – Pet Sounds – O álbum que fez os Beatles mudarem o rumo. E que não era dos Beatles.
The Beatles – Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band – Não sou fã dos Beatles, mas essa fase deles é a que mais gosto. Bom de ponta a ponta.
Os Mutantes – Os Mutantes – Tão importante que fez o rio subir morro acima. Ao invés de nós, brasileiro, sermos influenciados pelos americanos, este álbum influencio muita gente lá nos states.
Rolling Stones – Aftermath – Stones na sua formação clássica, recheado de clássicos, Brian jones começando a mostrar todo seu potencial. Bom demais.
The Beatles – Magical Mystery Tour – Mesmo motivo do Sgt. Peppers, e mais: Tem “I’m the Walrus”, uma das minhas favoritas deles.
The Jimi Hendrix Experience – Axis:Bold as Love – Sempre deixado de lado por causa dos outros álbuns, mas eu acho o melhor da breve carreira do gênio.
Chico Buarque – Chico Buarque de Hollanda – Estreia de um dos melhores letristas do Brasil. A obra de Chico Buarque é repleta de clássicos, mas nesse álbum a aglomeração de canções essenciais é tão grande que tem que estar na lista.

30. Quais os dez melhores discos da década de 70?
Leonard Cohen – Songs of Love and Hate: De longe o melhor album do bardo canadense. Traz coisas inigualáveis como “Avalanche”, “Last Years Man” e “Diamonds in the Mine”. E talvez a melhor canção de Leonard Cohen: “Famous Blue Raincoat”.
Black Sabbath – Paranoid: Outro álbum que é bom do inicio ao fim. “War Pigs”, “Paranoid” e “Iron Man” no mesmo álbum? Mais a chapante “Planet Caravan” e “Rat Salad”. Vai pra lista, certo.
The Clash – London Calling: Nesse eu considerei o ano de lançamento que é 1979, ainda que muitas listas o deixem nos anos 1980. Com London Calling o The Clash atinge um status que transcende o punk. É um álbum duplo que deve ser apreciado aos poucos, pois sempre deixa uma surpresa a cada audição.
Sex Pistols – Never Mind the Bollocks, Here’s the Sex Pistols … – Um álbum que de certa forma oficializa o punk para o mundo. Influenciou tanta gente que até esquecemos que antes houveram Ramones e os Dolls.
Pink Floyd – The Wall – Eu vi/ouvi tantas vezes o The Wall que não poderia ficar de for a. Tem “Another Brick in the Wall” part 2? Tem, tudo bem. Já encheu o saco ouvir? Ok. Mas tem muito mais coisa. É “Hey You”, é “Comfortably Numb”, “The Trial”, a realista visão dos relacionamentos de “One of My Turns” …
Led Zeppelin – Houses of the Holy – Sem comentários. De um lado “The Rain Song”, do outro “Dancin’ Days”. Tem “D’yer Mak’er” e “No Quarter”. Dá pra ficar triste, alegre, chapado e bater cabeça e tudo num álbum só.
David Bowie – The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars. Junto com a fase industrial, é a que mais gosto do Bowie. Cria todo o conceito que o acompanharia até a morte.
Joy Division – Unknow Pleasures – O álbum que pariu a década de 80. Acredito que sem Unknow Pleasures não teriamos, The Smiths, The Cure, Mission, REM, Nirvana, Sex Gang Children, Sisters of Mercy. Não como os conhecemos, pelo menos.
Luiz Melodia – Pérola Negra – Luiz Melodia une o samba, o chorinho com jazz, rock e letras que iam além do lugar comum. Essencial.
Cartola – Cartola – O ultimo álbum de samba que vale a pena comprar. Depois tudo foi se deteriorando, se pasteurizando.
*Bonus – João Bosco – Tiro de misericórdia – Ta aí por que eu gosto. Por que é João Bosco antes de ficar chato. Por que tem duas músicas da trilha sonora do Se segura, Malandro, um dos melhores filmes feitos na historia do cinema brasileiro. É indicação minha…kkkkk.

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Ingressos dos shows do The Cure

31. Quais os dez melhores discos da década de 80?

Já aviso, vou extrapolar a cota!!!
The Cure – Disintegration – Kyle Broflovski já dizia que Disintegration é o melhor. Robert Smith conseguiu unir toda a depressão de Pornography com o pop do The Head on the Door e transformar um guia sonoro para a tristeza. Leva toda a pegada indie do final dos 90, tem os teclados com uns climões para viajar longe. É perfeito do inicio ao fim, e foi o primeiro álbum que comprei do The Cure.
Pixies – Surfer Rosa + EP Come on Pilgrim – Tem que ser os dois juntos pra sentir tudo o que o Pixies fez com a música. Pesado, agressivo, barulhento. Uma mistura de coisas que fez nascer o Rock dos anos 90.
Pixies – Doolittle – Pixies volta num segundo album tão bom quanto o primeiro mas mais domesticado. Impossível não estar na lista.
The Smiths – The Queen is Dead/ The Smiths – Strangeways, Here We Come – Smiths é uma das bandas basilares dos anos 80. Assim como Pixies e The Cure, tudo que eles fizeram reverberou nas décadas a seguir. Escolhi estes dois por que enquanto The Queen is Dead é bem mais comercial (não desmerecendo), com hits como “The Boy with a Thorn in His Side” e “There is a Light …”, além de trazer coisas menos populares mas igualmente lindas como “I Know it’s Over” e cáusticas como “Frankly, Mr.Shankly”, o tornando um álbum essencial da rica discografia do Smiths. Strangeways … é meio esquecido (e não devia) mas é repleto de petardos. Morrisey critica a ganância da industria fonografica (“Paint a Vulgar Picture”), despeja veneno nos antigos relacionamentos (“Unhappy Birthday”) na família e em tudo mais.
The Cure – Pornography – O álbum que fez com que a década de oitenta fosse a década do gótico. Robert Smith sempre rejeitou o rótulo, mas o clima soturno e desesperador de Pornography, com suas letras escritas debaixo de toneladas de drogas e álcool fazem deste álbum uma peça básica da década.
Guns N ‘Roses – Appetite for Destruction – Não gosto de hard rock, e não gosto do GnR depois do Apettite. Mas justiça seja feita, que álbum! Hard rock agressivo e com letras violentas. Saindo daquele clima sertanejo universitário com guitarras das outras bandas da época.
Midnight Oil – Diesel and Dust – Quem cresceu na década de 80 não ficou sem ouvir esse álbum. O ápice do Midnight Oil. Levantando questões de ecologia, aborígenes e trabalhistas. Engajamento e guitarras!
Spy .vs. Spy – Xenophobia(why?) – Podia ter escolhido qualquer um dos primeiros álbuns deles. Para mim, junto com Midnight Oil, são as melhores bandas australianas (AC/DC não merece ser chamado de australiano).
The The – Soul Mining – Se eu tivesse que dizer um álbum que fosse o som dos anos 80 seria Soul Mining. Vocal marcante, teclados e bateria eletrônica, letras desesperadas e engajadas.
The Stone Roses – The Stone Roses – O melhor representante do movimento Shoegaze. Um baita disco que, infelizmente, ficou sozinho na carreira dos caras. Essencial, fecha a década com chave de ouro e abre pra entrada de um novo cenário.
Tears For Fears – Songs From the Big Chair – Um dos melhores duos da historia do Rock. Aqui na sua melhor fase.
Faith No More – The Real Thing – Revolucionou tudo que conhecíamos na época. Mike Patton pega uma banda desconhecida e a transforma num ícone do rock. Outros que pariram os anos 90.
Rush – Grace Under Pressure – Esse é pessoal. Pode não constar nem nas listas de melhores do RUSH. Mas para mim é uma obra prima oitentistas. Escuto de ponta a ponta. Ótimo pra ouvir em alta velocidade.
The Cure – The Head on the Door – The Cure para o público em geral. Canções pop com forte apelo radiofônico que marcaram o The Cure. Um álbum pra fãs e não fãs.

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Os hoje raros álbuns do grupo Os Eles (acima) e o primeiro CD da coleção de Antônio (abaixo)

*Bonus Brasil: Explico. Para mim a melhor fase do Rock brasileiro foi a década de 80. Depois muito se perdeu e as bandas se tornaram mais preocupadas em ser cópia de algo ou o mais cool possível, e cada vez menos em fazer musica sem pretensão mas com gosto.
Engenheiros do Hawaii – A Revolta dos Dândis – Uma adolescência inteira ouvindo este álbum. O melhor que os Engenheiros já fizeram.
Replicantes – Historias de Sexo e Violência – Após O Futuro é Vortex eles voltam ainda mais agressivos. Amor, politica, taras e frustrações.
Ira! – Vivendo e Não Aprendendo – Uma ode a juventude, com todos seus medos, incertezas, preconceitos e paixões.
Legião Urbana – Dois – Para mim a Legião foi a maior banda brasileira. A mais coerente e estável. Enquanto Titãs e Paralamas oscilavam em álbuns bons e ruins (tanto para crítica quanto para os fãs), a Legião sempre manteve o padrão (tanto de críticas quanto de vendas). Poderia escolher qualquer um deles, mas fico com o Dois pela força sonora de um álbum de músicas que não saem da cabeça (talvez “Plantas Embaixo do Aquário” fique fora….)
Titãs – Cabeça Dinossauro – Foi aqui que o Titãs ganhou respeito. Melhor álbum.
Paralamas do Sucesso – Selvagem? – Escolha pessoal. É o meu preferido deles.
Violeta de Outono – Violeta de Outono – Outra escolha pessoal.
Camisa de Vênus – Correndo o Risco. Acredito que foi aqui que o Camisa encontrou sua identidade (e depois perdeu). Antes de cair em bobagens demasiadas sexistas, antes do Marcelo virar um chato, antes de começar a ruir, eles lançaram Correndo o Risco. Criticas a igreja (“Mão Católica”), ao regime militar (“Simca Chambord”), um crossover com uma sinfônica para contar uma história de fantasia estilo Robert E.Howard (“A Ferro e Fogo), balada (“Morte ao Anoitecer”) e muito mais.

30. Quais os dez melhores discos da década de 90?

Vou extrapolar de novo!!!
Fuzzy – Grant Lee Buffalo – Simplesmente uma obra prima que foi deixada de lado pela avalanche do grunge.
Daves Mathews Band – Crash – Outra maravilha dos anos 90. Eu comprei este álbum por que ouvi “Two Step” na rádio e fui atrás (sem saber nome da banda ou da música). Acabei comprando o álbum e cada música era uma descoberta feliz.
Sponge – Rotting Piñata – Outro da lista das “escolhas pessoais”. Puta álbum que mistura guitarra distorcida e umas atmosfera que lembram The Cure.
Jeff Buckley – Grace – Jeff Bucley morreu cedo mas produziu um legado que mesmo pequeno é essencial. Sua versão para “Hallelujah” de Leonard Cohen é tida por muitos como a definitiva, superando até a original. Mas Grace não é só esta cover. Não mesmo…
The Cure – Wish -O último álbum do The Cure que eu realmente gostei muito. Ainda que alguns digam que podia ser um álbum simples, prefiro manter todas as músicas. Destaque pra “From the Edge of a Deep Green Sea”.
Radiohead – OK Computer – Foi com OK Computer que Radiohead alcançou a maturidade e o status de banda essencial.
R. E. M. – Automatic For the People – Assim como Fuzzy e Crash, é um daqueles álbuns gostosos de ouvir. Que te relaxam e te fazer apreciar cada musica como uma coisa unica dentro de um conjunto perfeito.
Pixies – Bossanova – Pixies namorando com cosmic rock, bom pra viajar e namorar.
Maria Bacana – Maria Bacana – Daquelas coisas que só a gente gosta. Acho impecável o álbum de estreia dos baianos, mas só eu achei.
Pato Fu –Gol de quem?
Nirvana – Nevermind -Precisa explicar?
The Smashing Pumpkins – Siamese Dream – O lado mais chapado e experimental do grunge se torna mais comercial, e nem por isso menos bom.
Rage Against the Machine – Rage Against the Machine – Apesar de que com o tempo achar eles meio panfletários e não conseguir aceitar a veneração deles por um psicopata como Che Guevara e pelos regimes socialistas,mas a sonoridade deles influenciou toda uma leva de bandas.
Depeche Mode – Violator -De longe o melhor álbum do Depeche. “Enjoy the Silence”, “Policy of Truth”, “Personal Jesus”, “Waiting for the Night”. Só coisa boa.
Marilyn Manson – Antichrist Superstar – Produzido por Trent Reznor, este é o álbum que tira MM das sombras e joga ele no mainstream.
Prodigy – The Fat of the Land – Melhor álbum dos ingleses, não tão bom pras pistas mas ótimos pra mostrar o que viria por ai na musica eletrônica.
Nine Inch Nails – The Downward Spiral – O ápice do tormento de Trent Reznor transformado em música.
Cypress Hill – Black Sunday – Mais uma escolha pessoal. Um álbum que valeu cada centavo.
Raimundos – Raimundos – A última coisa realmente boa e original no Rock Brasileiro. Sarcástico, debochado, pesado, sem frescuras.
Placebo – Without You I’m Nothing – Outro álbum que não sei dizer por que gosto, mas é que é tão bom que fica ate chato falar.
Suede – Sci-Fi Lullabies – Eu sei que é uma coletânea. Mas é só de lados B. E que coletânea, melhor que qualquer álbum dos caras.
Sepultura – Chaos A.D. – Dentre tantos álbuns fodas do Sepultura na dácada de 90, Chaos A.D. se destaca.
Sonic Youth – Dirty -Sonic Youth para todos os ouvidos.
Belly – Star – Uma das vozes mais belas dos anos 90, letras que misturam canções de ninar com historias da Vertigo e guitarras cheias de efeito. É muito bom mesmo. Só não entendo por que nunca assinaram com a 4AD.
Live – Throwing Copper/Soul Asylum – Grave Dancers Union – Dois álbuns que representam as bandas que ficaram nos anos 90. Símbolos de uma época maravilhosa . Dois álbuns irrepreensíveis que não foram seguidos por algo a altura.

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Camisa de Vênus é um dos grupos preferidos de Antônio

31. Quais os dez melhores discos dos anos 2000 (de 2001 até agora)?

Após a hecatombe do pensamento politicamente correto e do “deboismo” o rock acabou, o pouco que restou esta aqui nesta lista
El Mato a un Policia Motorizado – Un Milion de Euros
El Mato a un Policia Motorizado – Dia de los Muertos
El Mato a un policia Motorizado – Dinastia Scorpio
The Killers – Sam’s Town
Rammstein – Mutter
At the Drive – In-Relationship of Command
Arcade Fire – The Suburbs
Arcade Fire – Neon Bible
System of a Down – Toxicity
Of Monsters and Men – My head is an Animal
Racionais Mcs – Nada Como Um Dia Após o Outro Dia
U.D.R666 – Seringas Compartilhadas Vol. 2 (Concertos para Fagote Solo, em Sí Bemol)

32. Cite dez discos que você levaria para uma ilha deserta.
The Cure – Disintegration
Sonic Youth – Dirty
Spy vs Spy – The Best of Spy vs Spy
Fuzzy – Grant Lee Bufalo
Placebo – Without You i’m Nothing
Suede – Sci-Fi Lullabies
E mais algumas coletâneas…kkkk

33. Cite dez itens que deveria ter nessa ilha deserta para completar o prazer de estar com esses dez discos.
Levaria uma lancha pra sair da ilha. Não sou da vida na natureza, nem da solidão social. kkkkk

34. Como sua família vê a sua coleção de discos?
Na verdade já nem sabem que existe. Minha esposa vê como “coisas para arrumar um lugar para guardar”…kkkkk

35. Conte-nos algumas história que o marcou, seja em busca de um disco ou em termos de conhecer um artista que fosse seu ídolo.
Eu já contei aqui, na resenha do Lolla. Eu estava no Lollapalloza e saímos de um show e íamos pra outro e neste momento, noutro palco, acabava o show do Perry Farrel, Idealizador, criador, dono do Lollapalloza e vocal do Janes Addiction, Porno for Pyros. Eu e meu amigo fomos até lá pra ver o fim e ficamos na grade de contenção (não tinha muita gente). Então ele desce do palco e sai pelo backstage que de onde estávamos ficava bem na frente. Começou a aglomerar gente e começaram a chamar o cara. Ele olhou e com toda a simpatia foi até onde estávamos e nos cumprimentou. Só deu tempo de dizer “Gênio”.

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The Clash e seus álbuns mais importantes para Antônio

36. Há um fim para a sua coleção?
A internet acabou com a minha coleção. E a falta de dinheiro. Hahahahah.

37. Hahahahaha. Alguma coisa mais que gostaria de passar para nossos leitores?
Procurem o difícil, saiam do óbvio, não sigam as correntes ou a moda. E nunca, NUNCA, troquem um EP do Cólera por um álbum do Sex Pistols!!!!

38. Huahauhauhaua. Muito obrigado, e saiba que as portas da Consultoria estarão sempre abertas para você.

Muito obrigado pelo convite. Abraços à todos e Kiss fede!!!  kkkkkk

12 comentários sobre “Na Caverna da Consultoria: Antônio Cândido da Silva

  1. Parabéns pela entrevista. Enfim, encontrei um consultor que me identifico totalmente na área musical. The Smiths, The Stone Roses, Sonic Youth, Pixies, Suede, enfim, somente pérolas. Só faltou Jesus & Mary Chain, já que tem o disco Automatic. Uma das melhores entrevistas até agora. Show!

    1. Acho que a grande sacada dessa entrevista foram os comentários dos discos. Valeu pela ideia Antônio

    1. O Antônio é um fanfarrão, meu caro Zué. Não gosta de Kiss mas é apaixonado pelo G. G. Allin. Pode isso?

  2. Gosto finíssimo do Antônio. Não pude deixar de reparar na indicação do Cypress Hill. Baita disco curioso de hip-hop. Chapadíssimo e divertido.

    1. Alisson, quando você apareceu no site, logo achei que irias te identificar com o Antônio. Uma pena que vocês não são contemporâneos no site e o Antônio participou pouco, mas ele promete voltar em breve com matérias de bandas da linha que tu gosta.

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