Fate – A Matter of Attitude [1986]

Fate – A Matter of Attitude [1986]

Por Fernando Bueno

Ano passado a dupla de guitarristas Hank Shermann e Michael Denner soltou um EP intitulado Satan´s Tomb, que cheguei a mencionar na minha lista de Melhores de 2015. Os músicos, famosos por seu trabalho no Mercyful Fate, já tinham juntado esforços no Force of Evil, que tinha Hal Patino, um ex-membro da banda solo de King Diamond, no baixo. Não estou certo se isso é uma mostra de trabalho de uma banda ou será apenas um projeto temporário deles, mas a temática lírica e instrumental, tanto desse Denner/Shermann quanto do Force of Evil, é bastante próxima à que eles faziam quando ainda eram parceiro de banda de King Diamond. Só para completar a informação, participaram desse EP Snowy Shaw na bateria, músico que tocou tanto na banda solo de King quanto no Mercyful Fate, e foi até vocalista do Therion, Marc Grabowski, do Demonica, no baixo e Sean Peck cantor do Cage.

Conta a história que algum tempo depois do lançamento de Don´t Break The Oath (1984), uma boa turnê pelos Estado Unidos e alguns festivais na Alemanha, o Mercyful Fate se separou por diferenças musicais. A ironia é que a banda quase que toda, a saber Michael Denner e Timi Hansen, além do baterista Mikkey Dee, se juntou à King Diamond em sua carreira solo. Isso mostra que as diferenças musicais tinham apenas um nome dentro do Mercyful Fate: Hank Shermann. Seu desejo de trilhar um caminho mais comercial, ainda sob o nome de Mercyful Fate, levou King a manifestar o desejo de sair da banda e este acabou levando quase que toda a turma. Shermann então estava sozinho para seguir seu desejo. Tentando manter um pouco do reconhecimento de seu antigo grupo ele resolve batizá-lo apenas como Fate, da mesma forma que o Grave Digger fez alguns anos depois quando tentou o mesmo direcionamento musical.

Pete Steiner. Jeff Limbo, Hank Shermann e Bob Lance

Hank não perdeu tempo. Juntou-se ao vocalista Jeff Limbo, ao baterista Bob Lance e ao baixista/tecladista Pete Steiner e logo em 1985 lançaram o primeiro disco autointitulado. Não sabemos se o tipo de som que Shermann queria para o Mercyful Fate era esse mesmo, mas se isso tivesse acontecido seria um choque sem precedentes. Outro ponto que podemos levar em consideração é que uma vez fora das “amarras” do Mercyful Fate ele pode ter radicalizado e resolveu dar uma guinada de 180 graus. Mas o fato é que o som do Fate estava muito mais para o Europe, Foreigner e Journey do que para o heavy metal blasfemo de sua antiga banda.

Logo no ano seguinte A Matter of Attitude foi lançado. O direcionamento musical foi mantido e dessa vez eles acertaram já que esse é certamente o melhor trabalho da banda durante a permanência de Shermann no grupo.

Os teclados de “I Won´t Stop”, uma das melhores do álbum e que foi lançada como single, entregam o jogo logo de cara. O timbre radiofônico que ficou em voga durante os anos 80 aparece e o vocal de Jeff se mostra um dos grandes trunfos da banda. Em “Hard As A Rock” a guitarra de Shermann aparece com maior destaque. Um pitada de Asia é sentida no solo de teclado de “(I Can´t Stand) Losing You” que é seguido de um ótimo solo de guitarra em mais um faixa com grande refrão.

Mais Asia e quem sabe o Kansas tenham sido a inspiração de “Point of No Return”. O AOR com tempero progressivo foi uma tendência na época e temos isso novamente na primeira faixa que aparece Shermann como compositor, “Hunter”. Aliás, das dez faixas do disco ele participou em apenas três, o que mostra que apensar de estarem usando o nome Fate remetendo ao Mercyful Fate, tentando capitalizar seu sucesso, quem mandava mesmo ali eram Jeff e Steiner.

Capa do disco de estréia

O clima de “Summerlove” nos remete ao litoral e nos faz pensar que esse verão na Dinamarca deve ser bem diferente que do temos em mente. Enquanto “Summerlove” nos lembra praia a seguinte, “Farrah”, a mais radiofônia e pop do disco, é perfeita para aquela festa à beira da piscina. Lembra muito as músicas do auge do hard rock californiano. Nunca li ou ouvi nenhuma dessas bandas americanas citarem o Fate como influencia, mas não seria nenhuma surpresa ou mesmo absurdo. Algo do Van Halen aparecem “Get Up And Go”, principalmente em seu refrão que lembra “Jump”.

Um disco com esse direcionamento não poderia acabar sem uma balada. “Limbo A Go Go”, é uma balada digna do Harem Scarem ou alguma outra banda do chamado melodic harrd rock, apesar de que no refrão a música ficar mais animada. Para fechar, “Do It”, uma brincadeira jazzística/blueseira. A versão do relançamento em 2004 tem mais duas faixas muito parecida com o track list do disco, mas de qualidade mais baixa: “Hardcore Romance” e “ Memories of You”. Vale a pena procurar essa versão até porque é difícil de achar a versão original.

O Fate ainda lançaria o médio Cruisin’ for a Bruisin’ antes de Shermann sair sendo substituído por Jacob Moth. Mais um bom álbum foi lançado em 1990, Scratch ‘N’ Sniff,  antes da fim do grupo. Anos depois o Fate foi reformulado com vários músicos diferente sob a batuta de Pete Steiner e já possuem três álbuns depois dessa volta. Desconheço essa fase de sua carreira, mas as notas dos discos e a opinião de alguns fãs nos sites de músicas são animadoras. Enquanto isso Shermann se reuniu ao seu companheiro Michael Denner por um perído curto em uma banda chamada Lavina, para então acontecer a esperada reunião do Mercyful Fate juntos de King Diamond e Timi Hansen, além do baterista Morten Nielsen, produzindo cinco álbuns de estúdio.

Capa do mais recente álbum de 2013: If Not for the Devil

Track List

01 I Won’t Stop
02 Hard as a Rock
03 I Can’t Stand Losing You
04 Point of No Return
05 Hunter
06 Summerlove
07 Farrah
08 Get Up and Go
09 Limbo a Go Go
10 Do It
11 Hardcore Romance
12 Memories of You

8 comentários sobre “Fate – A Matter of Attitude [1986]

  1. Eu olhei a foto da banda e nem dei muita bola, levando um susto ao ler o nome do Hank Shermann na legenda. Só então fui ler o texto, ainda chocado pela foto “promocional”. Eu já ouvi o Force of Evil, mas não conheço o Denner/Shermann ainda. Já o Fate nunca fiz muita questão de conhecer, justamente por causa desta característica AOR/oitentista tão bem ressaltada no texto, e que não me agrada muito. Não sabia que tinham três discos com Hank, nem uma carreira sem ele. Mas, sinceramente, apesar de muito bem escrita, a crônica não me animou a conhecer o grupo. Afinal, Asia e Kansas não são lá minhas bandas favoritas, então, melhor nem arriscar…

    Tomara que Hank continue sempre do lado do “mal” em termos de música, pois, quando segue este caminho (ainda mais ao lado de Denner e Diamond), normalmente se dá bem!

  2. Eu escuto o Fate há tempos e nunca me dei conta de ligar a banda ao Mercyful Fate ou ao King Diamond. Bem interessante essa história e esse possível interesse do Shermann com a farofada oitentista.

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