Melhores de 2015: Alisson Caetano

Melhores de 2015: Alisson Caetano

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Mais um ano que se encerra, e como de costume, “A” lista, com tudo aquilo que mais fiquei feliz em pôr meus ouvidos durante esses 12 meses de intensa garimpagem musical. Alguns tem a insistência de comparar a qualidade geral dos lançamentos com o ano anterior. Eu nunca fiz isso pois acho insano tentar fazer uma média geral de qualidade. Lembrando que listei apenas 10, mas devo ter ouvido pelo menos uns 80 discos e gostado de pelo menos 80% deles.

A lista abaixo não segue nenhum critério científico, muito menos tem base nas listas badaladas da Rolling Stone, NME e Q. Ela simplesmente se baseia em minha experiência musical durante o ano todo. Os discos estão organizados em ordem crescente de preferência.

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Wino & Conny Ochs – Freedom Conspiracy

Scott “Wino” para canonização no Vaticano! Quando ouvi pela primeira vez, eu tive o seguinte pensamento: “Se surgir algum disco melhor que Freedom Conspiracy esse ano, eu quero poder ter o prazer de ouvir algo tão maravilhoso quanto”. Não tinha como ser outro. Foi o disco que mais ouvi sequencialmente no ano, uma audição após a outra sem me cansar. Composições refrescantes, rústicas e autênticas. Wino emula um verdadeiro bluesman enquanto Conny Ochs equilibra a balança com vocais mais agudos e limpos. Em minha curta passagem pela Collector’s Room, acabei falando especificamente deste disco em uma resenha. Para conferir o que falei na época, clique aqui.

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Arcturus – Arcturian

Eu ia dizer que é o disco que heavy metal do ano, mas Arcturian é bem mais que isso. ICS Vortex entrega uma interpretação vocal monstruosamente sublime. As experimentações com breakbeat, black metal e música clássica foram habilidosamente reunidas em composições de tirar o fôlego e, o mais absurdo de tudo: são músicas de assimilação imediata. Fabuloso, tão bom quanto The Sham Mirrors [2002] e o melhor disco de avant-garde do ano. Ah, também escrevi uma resenha mais detalhada sobre ele. É só clicar aqui para entender melhor minhas impressões.

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Ghost – Meliora

A cada música, um hit instantâneo. Infestissumam [2013]  foi um ótimo disco, mas a gravação muito grandiosa e inúmeros elementos estilísticos tinham me incomodado um pouco. Meliora parece equilibrar a crueza da estreia com a megalomania do segundo, entregando um disco onde “coesão” é a palavra da vez. Quer ouvir uma das músicas mais sensacionais do ano? Preste atenção em “Mummy Dust”.

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The Soft Moon – Deeper

Como alguém, em pleno 2015, consegue gravar um disco que parece ter saído dos anos 70? O espírito post-punk é tanto que parece um elo perdido entre a depressão suicida do Joy Division com aquele clima pesado e denso do The Cure, mas com elementos eletrônicos mais intensamente usados. Um dos discos mais depressivos do ano e uma das audições mais intensas que tive o prazer de realizar.

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Elza – A Mulher do Fim do Mundo

Já havia descrito o disco de forma aprofundada em uma matéria aqui da Consultoria do Rock. Portanto, é redundante enaltecer as qualidades desse disco novamente. Caso queira saber o que falei sobre o mesmo, clique nesse link.

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Ufomammut – ECATE

Tente imaginar o Hawkwind fazendo um disco de sludge. É impensável, mas é o mais próximo de uma descrição que consigo fazer do Ufomammut como um todo, sendo ECATE uma espécie de Space Rituals dos italianos. Toda aquela vibe psicodélica vai de encontro com o peso do sludge em composições monolíticas e soberbas.

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Leviathan – Scar Sighted

Scar Sighted é certamente um disco que veio para fazer história, daqueles que apontam caminhos para o estilo que propõe a se agrupar. Eu não me lembro de nada que soe minimamente parecido com isso dentro do black metal na atualidade. Você sabe que se trata de um disco do estilo, mas ele não carrega nada das características que estamos acostumados a observar: são poucos os blast beats, os vocais são indescritivelmente variados e, o mais surpreendente: possui um dos climas obscuros mais acachapantes da atualidade.

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Komara – Komara

Trio de jazz-fusion experimental que fará a cabeça dos fãs de King Crimson — inclusive tem cara do King Crimson integrando esse projeto –. A capa medonha pode ser associada com o tipo de estruturas usadas nas músicas deste disco. Cheias de quebras, muito intrincadas, mas de extremo bom gosto e um prato cheio para amantes de instrumentos bem tocados por pessoas que sabem o que fazem com os mesmos.

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REVENGE – Behold.Total.Rejection

WAR METAL!!! REVENGE define, é o caos traduzido em pouco mais de 40 minutos de disco. É uma insanidade com bateria supersônica, guitarras demolidoras e vocais de lobos sedentos por morder uns traseiros por aí. Não escute se tiver ouvidos sensíveis.

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Antes de comentar o disco, convém traduzir seu nome. Em tradução livre, é algo como “O Nascimento de um Novo Dia”, e é quase a descrição de todas as impressões passadas pelo mesmo. As melodias vaporwave vintage, um ar de nostalgia e tranquilidade, fazem com que o melhor horário para sua apreciação seja depois da meia noite, quando as luzes das cidades vão se apagando e as cabeças cansadas vão repousando, onde só restarão os que ainda tem muito por fazer durante a noite.


Melhores Músicas:

  1. Kendrick Lammar – “How Much a Dollar Cost”
  2. Clutch – “X-Ray Visions”
  3. Wino & Conny Ochs – “Crystal Madonna”
  4. Steve Earle & The Dukes – “Better Off Alone”
  5. The Soft Moon – “Far”
  6. Ghost – “Mummy Dust”
  7. Leviathan – “The Smoke on Their Torment”
  8. Elza Soares – “A Mulher do Fim do Mundo”
  9. Gnaw Their Tongues – “From The Black Mouth of Spite”
  10. Arcturus – “Crashland”

Capa do Ano:

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Kendrick Lamar – To Pimp a Butterfly

O disco é tão fantástico quanto a capa cheia de simbolismos. Infelizmente não dei atenção ao disco muito por conta do hype. O teor experimental e a audição complicada também me afastaram um pouco da audição, mas assim que digeri devidamente seu conteúdo, acabei me rendendo aos encantos do disco. Não duvidaria nenhum pouco se a obra de Kendrick Lamar for considerada clássico do rap daqui a alguns anos.


Surpresa do Ano:

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Turma da Mônica: Lições – Victor Cafaggi e Lu Cafaggi

Eu seria injusto se dissesse que algo me surpreendeu mais do que essa belíssima HQ, sequência da absurdamente linda Laços e mais uma obra prima das Graphics MSP. Em traços limpos e nostálgicos, os irmãos Cafaggi dão uma roupagem totalmente nova para a turminha mais carismática do Brasil em uma história que é dramática, mas ao mesmo tempo muito bem humorada. Uma leitura prazerosa que faz lembrar, instantaneamente, cada aventura vivida durante nossa infância.


Decepção do Ano:

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Iron Maiden – The Book of Souls

Sou um defensor ferrenho da fase atual da donzela. Desde que Bruce Dickinson reassumiu o posto do qual nunca deveria ter cogitado sair, a banda emplacou uma sequência de discos muito concisos, com uma sonoridade revigorada com bem vindas doses de progressivo e uma vontade de sair da zona de conforto, dignas de bandas que ditam os rumos da música produzida em seu período. Com o anúncio de um disco duplo com músicas de 18 minutos, minha mente criou as maiores expectativas possíveis. E como a expectativa é um sentimento que leva o homem às alturas, o contato com a verdade provocou um retorno brusco seguido de choque contundente com o chão da decepção. O disco não é horrível. Na verdade, passa bem longe de o ser. O problema é que as canções são extremamente redundantes e com refrãos pouco contundentes para serem prolongados em músicas de 8 minutos, caso de “If Eternity Should Fail”. A paciência se esgotou quando ouvi “Shadows of the Valley” e o riff em slow de “Wasted Years”. Pode ser que daqui alguns anos eu venha a apreciar esse disco. Por hora, prefiro que ele fique quietinho em seu canto para que minha raiva não aumente.


Pior disco do ano:

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Miley Cyrus – Miley Cyrus & Her Dead Petz

Pode soar como uma heresia a simples menção do nome da moça aqui na Consultoria do Rock para alguns. Para mim, independente do estilo, só julgarei a qualidade de um trabalho após eu ter ouvido o dito cujo, e não importa de quem seja o disco: pode ser dos Beatles ou do Justin Bieber. O que mais me induziu a ouvir este disco, com certeza, foram a quantidade de críticas favoráveis ao trabalho de veículos conceituados. Não sei o que raios viram neste trabalho para o considerarem digno de elogios, para dizer a verdade. A vibe do disco é o dream pop com uma forte influência psicodélica — lembrando que Miley compôs o disco junto dos Flaming Lips –, mas nada faz o mais absoluto sentido. A produção é plástica e saturada de reverb. Os vocais gravados são irritantemente processados no AutoTune para tentar mascarar a já péssima voz da moça. Chamar as letras de ginasiais seria direcionar um elogio — “Why You Put the Dick in the Pussy?!” –. Versos sobre como fumar maconha é maneiro e como ela é fodona e não dá a mínima para opinião alheia sobre ela. Enfim, Her Dead Petz são 90 minutos de um desastre musical completo que nunca deveria sequer ter visto a luz do dia.

19 comentários sobre “Melhores de 2015: Alisson Caetano

  1. Listinha bem interessante. Gostei de praticamente tudo que ouvi. O Ufomammut pode lembrar o Hawkwind, mas com a Stacia de tpm num dia de mau humor assassino. O Arcturus é tudo aquilo que você escreveu e mais um pouco. O Wino com o Ochs devem pelo menos uma cesta básica ao Johnny Cash. Comentar o Ghost e a Elza é chover no molhado: discos ótimos. The Soft Moon é legal demais. O resto vou ouvir melhor.

        1. Pelo que vi, tem o “From Sleep” e outro chamado “Sleep”, que não achei ainda pra ouvir, mas que estão dizendo ser tão bom quanto esse que citei.

  2. Algumas considerações:

    – sou completamente desatualizado e, assim, a lista do Alisson se torna um guia imprescindível para eu finalmente chegar a 2015.
    – contudo, alguma coisa eu ouvi. Acho o disco da Elza muito bom (fui vê-la ao vivo no Teatro Riomar, aqui em Fortaleza e é ainda melhor), embora seus trabalhos imediatamente anteriores sejam tão bons ou melhores do que este, embora tenham passado quase em branco. Ghost não engulo…metal repetitivo e quase infantil musicalmente.
    – no mais, texto me instigou a ouvir muita coisa…haja tempo!

  3. Excelente a ideia de apontar referências de livros e HQs. Quero aproveitar para reforçar a indicação de Turma da Mônica – Lições, dos ótimos e boas praças irmãos Cafaggi (temos exemplar autografado em casa). Aliás, corram atrás de Turma da Mônica – Laços, dos mesmos autores e de toda a nova linha autoral dos estúdios de Maurício de Souza. Queria, inclusive, dizer que o lançamento do ano na área foi, pro meu gosto, o volume dedicado ao Louco. Mas tá valendo muito a escolha do Alisson. Quem gostar desse trabalho de Victor Cafaggi não pode deixar de ler a genial série Valente.

    1. Essa do Louco eu ainda não consegui comprar, surgiram outras prioridades, como o relançamento do “A Última Caçada De Kraven”, mas pelas artes conceituais, realmente deve estar incrível. Mas li também outras hq’s bem interessantes esse ano. A que quase entrou no lugar dessa dos Cafaggi foi Gotham – No Cumprimento do Dever, que eu não esperava muita coisa, mas acabou me surpreendendo enormemente. Já fico no aguardo da Panini colocar o volume 2 nas bancas.

      1. Quem me atualiza nas HQs atuais são meus filhos (sou comprador inveterado de velharias da Ebal). Por insistência deles li Batman – Novos 52 do 1 ao 12, com a saga da Corte das Corujas, assim como Dinstia M, da Marvel, e gostei! De um tempo pra cá, fundimos minha coleção e a deles…chegamos a uns 3 mil exemplares, dos anos 50 até agora.

        1. Deve ser uma coleção linda. Mas a minha não chega nem perto disso kkk. Leio boa parte das coisas por scans, mais por falta de grana mesmo. As que acho mais interessantes eu acabo comprando. Essa q tu citou da Corte das Corujas eu li as primeiras por scans para saber se valiam a pena, mas acabei não curtindo muito não. Dinastia M é uma das que estão na lista de espera pra compras.

          1. Temos aqui em Fortal uma feira bacaninha de vendas, compras e trocas de HQs. Funciona uma vez por mês e a gente encontra coisa boa e barata, embora poucas raridades.

  4. Fiquei interessando no Arcturus e no Revenge. O Komara pode entrar também, mas não gostei do Leviathan, concordo sobre o Ghost e discordo sobre o Iron Maiden….rs

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