A Sound of Thunder – Tales From the Deadside [2015]

A Sound of Thunder – Tales From the Deadside [2015]

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por Ulisses Macedo

Alguns poucos dias antes do lançamento de The Lesser Key of Solomon (2014), lembro de ficar sabendo de uma breve parceria entre o A Sound of Thunder e o site Humble Bundle: no Humble Horror Book Bundle, anunciado para o Halloween daquele ano, estariam várias histórias em quadrinhos digitais e, junto do pacote, uma canção da banda nunca antes vista, chamada “Punk Mambo”, figurando numa capa interessante. Paguei o preço mínimo, só para ganhar a música, e acabei nem lendo as HQs na época. Ouvi, achei bem interessante (falarei mais sobre ela depois) e fui conversar com o guitarrista Josh Schwartz sobre a inusitada faixa; descobri que era baseada na personagem de mesmo nome, dos quadrinhos Shadowman (eu só conhecia o jogo, de PlayStation) e que a composição, a princípio, era exclusiva do Bundle. Enquanto isso, o quarteto provocava os fãs dizendo que já tinham várias ideias para o disco seguinte. “Nem lançaram o Solomon e já estão planejando o próximo álbum?”, pensei.

E que planejamento! A ideia vagava discretamente desde 2013, quando a própria banda chegou no pé de ouvido da Valiant e disse “somos fãs, e gostaríamos de fazer um disco sobre o universo Shadowman”. A oferta foi aceita e o esboço do conceitual Tales From the Deadside teve início, começando a ser gravado imediadamente após The Lesser Key of Solomon. Como esperado, foi financiado com a ajuda da plataforma Kickstarter, tendo novamente Kevin Gutierrez como produtor. E a tal “Punk Mambo” estaria presente no tracklist!

A canção da personagem Punk Mambo é destaque do disco
A canção da personagem Punk Mambo é destaque do disco

Tales From the Deadside é um mergulho no universo dos quadrinhos Shadowman, uma das séries de maior sucesso da Valiant Entertainment. “Children of the Dark” se apresenta com uma breve narrativa sobre o espectro Shadow Loa, trazendo um som bem cheio, cadenciado e até um coro formado por crianças. O fim da canção nos conta que a personagem Sandria procura escapar da presença de seu irmão, o vilão Master Darque, e aí vem “Sandria (Carry On)”, trazendo a melhor performance de Nina Osegueda no álbum, soando forte e convincente, cheia de feeling, como se realmente encarnasse a personagem. “Can’t Go Back” é onde Jack Boniface descobre a verdade sobre sua família e se funde com o Shadow Loa, tornando-se Shadowman; o destaque da faixa é sua acessibilidade, já que tem um refrão grudento e um andamento cadenciado. Também não posso deixar de falar do fantástico solo de guitarra de Schwartz. Na verdade, leitor, praticamente todas as faixas têm um solo de guitarra fabuloso. Quer dizer, desde quando comecei a curtir a banda percebi que Josh é um guitarrista competente, mas caramba, o cara está possuído aqui, trazendo solos super memoráveis. E vocês não sabem o quão feliz eu fico de poder presenciar assim, de disco pra disco, a evolução notável dos músicos.

A macabra “Deadside” pinta um clima do além, descrevendo o mundo espiritual com um andamento doom. A bateria soa retumbante e o baixo se faz sentir com firmeza, até que, quando parece que a faixa vai acabar, o quarteto dá uma enganadinha e pisa no acelerador, finalizando a canção com aquele heavy metal veloz que eles fazem muito bem. “Tower of Souls“, revelada antes do lançamento do disco através de um lyrics video, é daquele típico power metal americano a la Manowar e Iced Earth, narrando uma batalha entre Shadowman e Master Darque. “Losing Control (The Unquiet Shadow)” também é bem sólida, mas sem maiores destaques. Em seguida vem a divertidíssima “Punk Mambo”, começando com vocais avassaladores e muita velocidade, para logo na metade trazer um solo de saxofone (?!) e uma inebriante mudança de tempo, e aí finalizar da forma que começou. O solo de saxofone não é nem um pouco deslocado, visto que o protagonista, em sua versão original, era também um saxofonista de jazz.

“Alyssa (Life in Shadows)” é a balada do álbum. Além de cativante, mantém um bom balanço entre peso e melodia, não ficando chata em nenhum momento, se bem que também nem se compara com as baladas anteriores da banda. A pesada e cadenciada “Tremble” traz um estilo que remete um pouco aos últimos registros de Dio. Já “End Times” traz bastante distorção; o começo lembra um pouco o Black Sabbath da era Ozzy nos primeiros discos, com aquela voz assombrosa e os riffs monolíticos. As mudanças de tempo e o instrumental bombástico ajudam a manter a épica canção nos eixos, prendendo a atenção do ouvinte até o encerramento da contagiante narrativa – o fim traz um plot twist arrepiante!

Apesar de ser inteiramente baseado nos eventos que aconteceram nos quadrinhos Shadowman, Tales From the Deadside consegue agradar quem apenas quer ouvir um ótimo disco de heavy metal com uma produção caprichada, já que basta prestar atenção nas letras e nas narrações para entender o que se passa na história. Aliás, as narrações são curtas, bem posicionadas e atingem o objetivo de imergir o ouvinte na atmosfera do CD sem atrapalhar o feel musical; um alívio, já que esse tipo de coisa pode facilmente dar errado. A estréia do disco em oitavo lugar no Billboard Heatseekers e décimo sexto no Billboard Hard Rock representa uma conquista inesperada para o quarteto, que a cada ano vai ganhando o reconhecimento que merece. Mais um ano, mais um disco do A Sound of Thunder, mais um petardo que inegavelmente entra para os melhores lançamentos de 2015. Espero que nunca deixem a peteca cair. Welcome to the Deadside!

Paródia da capa de Shadowman #19 (1993), que contava com o Aerosmith.
Paródia da capa de Shadowman #19 (1993), que contava com o Aerosmith.

Tracklist:

  1. Children of the Dark
  2. Sandria (Carry On)
  3. Can’t Go Back
  4. Deadside
  5. Tower of Souls
  6. Losing Control (The Unquiet Shadow)
  7. Punk Mambo
  8. Alyssa (Life in Shadows)
  9. Tremble
  10. End Times

3 comentários sobre “A Sound of Thunder – Tales From the Deadside [2015]

  1. Só consegui achar Tower of Souls no youtube para conhecer melhor. E para vocês que deixam passar essas bandas desconhecidas recomendadas aqui no site, só digo o seguinte: não sabem o que estão perdendo.

    Procurem “Kill That Bitch” no youtube e confiram o trabalho primoroso de guitarras dessa faixa. Peso do heavy metal e chacoalhador de cabelos do hard rock.

    1. Desse disco, por enquanto, só tem “Tower of Souls” mesmo.

      “Kill That Bitch” é hilária, mas tem gente que ouve e se deixa enganar achando que a banda é naquele estilo. Veja “Murderous Horde” que é do mesmo álbum e é insana. Álbum esse que é meu favorito da banda.

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