Discos que Parece que só Eu Gosto: Supertramp – Supertramp [1970]

Discos que Parece que só Eu Gosto: Supertramp – Supertramp [1970]

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Por Ronaldo Rodrigues

…talvez o melhor título fosse “discos que parece que só eu gosto muito

Algumas bandas famosas do rock podem surpreender os ouvintes por terem se iniciado em estilos diferentes daqueles com as que ficaram, de fato, famosas. Deep Purple, UFO, Status Quo, Pink Floyd, Kraftwerk, Judas Priest, Journey, Pantera, e outros são exemplos possíveis. O Supertramp, por apenas um disco, cometeu um pecado capital ao ser inatingível por si próprio, lançando seu melhor disco logo de cara e nunca mais chegando perto de tamanha candura musical.

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Obviamente, essa é uma tese bastante pessoal que exponho nesta polêmica coluna. Igualmente óbvio é já estar com a carapaça preparada para todo o tipo de pedras e cusparadas. Também trato de uma banda que divide opiniões no meio roqueiro, até por não ser decididamente rock.

Nem mesmo este disco está livre de tal questionamento, numa visão estrita, apesar de estar alinhado com grupos indiscutivelmente associados ao rock. Em 1970, o disco homônimo do Supertramp poderia figurar com tranquilidade junto a Tresspass, do Genesis, Moody Blues, Procol Harum, Rare Bird, Fairfield Parlour, Beggars Opera, Argent, Titus Groan, Cressida, Audience, e dezenas e dezenas de outras bandas esquecidas do esquecido período pré-progressivo do rock europeu.

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Apenas dois elementos unem o Supertramp de 1970 ao Supertramp do ano seguinte em diante: a presença de seu líder inconteste, Roger Hodgson, e sua incrível habilidade na criação de boas melodias. Contudo, essa segunda característica, neste disco, encontra-se travestida de uma atmosfera bem mais densa, cinzenta e introspectiva que em todo o restante de sua obra, combinada ao mais tradicional R.G. do início dos 1970’s – órgão Hammond em profusão, guitarras ardidas, um clima jazzy, muitos solos e passagens instrumentais. É como visualizar um óasis, pois frequentemente estes suculentos elementos estiveram a serviços de freaks e músicos descompromissados, nem sempre detentores da necessária arte da boa composição.

E as provas destas capacidades, nesta estréia do Supertramp, vão sendo dadas uma-a-uma. “Surely” é uma deliciosa abertura, em que a voz de Roger Hodgson se posta de cara, como nos momentos mais contemplativos da voz de Peter Gabriel, encontrando de forma certeira piano e violão. “It’s a Long Road” tem apelo e balanço, com a belíssima intro ao som do piano Wurlitzer, e o ingresso gradual da guitarra, do órgão, do baixo e da bateria, até descambar numa ótima passagem instrumental e fechar com uma intervenção de gaita. “Aubade and I Am Not Like Other Birds” é de uma beleza transcendental, desconcertante, assim como a bucólica “Words Unspoken”, que lhe segue. “Maybe I’m Beggar” tem uma estrutura semelhante a de “It’s a long Road”, com outra boa passagem instrumental, alternando-se com partes mais lentas. “Nothing to Show” é mais exploratória, com um jeitão de jam-session e bagunça organizada. A longa e sinuosa “Try Again” poderia até antecipar o Genesis de Nursery Crime, com um bocado menos de virtuosismo. Pode até ser a cereja do bolo em um bolo de cerejas. Por fim, “Surely” retorna com uma segunda parte, emulando o Procol Harum.

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O grupo, surgido a partir de Rick Davies e do grupo beat-psicodélico The Joint, gravou esse disco sob um contrato na A&M Records, vendendo, assim como os pares citados lá em cima, bem pouco. Contudo, caiu na graças de alguns ouvidos importantes, sendo convidado para grandes ocasiões na época, como a magna edição do Festival da Ilha de Wight de 1970. Ok, foi em um horário de pouco destaque, mas não se pode negar a importância de tocar para um público algo acima de 100.000 cabeças. O então guitarrista Richard Palmer se mandou naquele mesmo ano e o baterista Richard Millar teve um colapso nervoso em uma turnê na Noruega, desmontando a banda. A dupla remanescente, Hodgson e Davies reformou o grupo no ano seguinte, apontando o leme para um som mais pop e acessível, rumo a conquistar o mundo inteiro a partir de 1974. A dupla enterrou o repertório desse disco e nunca mais o visitou de forma consistente. Felizmente, o disco não deixa mentir a respeito.

Track list

1. Surely
2. It’s a Long Road
3. Aubade and I Am Not Like Other Birds of Prey
4. Words Unspoken
5. Maybe I’m a Beggar
6. Home Again
7. Nothing to Show
8. Shadow Song
9. Try Again
10. Surely

20 comentários sobre “Discos que Parece que só Eu Gosto: Supertramp – Supertramp [1970]

  1. Eu acho esse disco FANTÁSTICO, um dos melhores da banda. Lembro inclusive que “Try Again” quase pintou como uma Maravilha Prog, nos mesmos padrões de clássicos como “Rudy” e “Fool’s Overture”. Um disco excelente para um texto excelente do colega Ronaldo, que nesse momento, causa estardalhaço no banheiro do ASPABROMI …

  2. Vou me dar ao trabalho de escutar para ver se mudo minha opinião sobre a banda, ao meu ver, pelo que conheço, apenas uma formação insípida.

    1. Eu estou impressionado como tem gente que não conhece esse álbum. Terão uma grata surpresa. Nos grupos do facebook que divulguei, a maioria se quer sabia da existência desse disco. Impressionante como um álbum tão bom é menosprezado.

  3. O único disco do Supertramp do qual eu conheço algo é “Breakfast in America” (1979). Preciso dar uma ouvida nos discos que vieram antes desse.

  4. Obrigado pelos comentários, pessoal!
    Mairon, acho que o presidente da ASPABROMI deve estar protocolando a minha carta de desfiliação do clube depois dessa! kkk

    1. Capaz, não manda mais nada. Diz que passa babando uma foto recente que saiu da Yoko Ono fantasiada de Lady Ga Ga. Pode isso, Arnaldo?

  5. Eudes Baima já teve várias manias. Uma delas foi criar pombos. Não pombo-correio, mas pombo viralata mesmo. Usou os fundos do terreno onde está localizada a sede do ASPABROMI para erguer um pombal a 3 metros de altura. O problema, como vocês podem imaginar, é que a área sob o pombal virou terra arrasada, tamanha quantidade de cagada de pombo que recebia diariamente. Um dia, uma recém-associada, dessas bem novinhas, uns 59 aninhos, quis me agradar e me deu de presente um disco do Supertramp, aquele que tem Dreamer. Falei pra ela assim: “Adoro Supertramp, muito obrigado! Gosto tanto que acho que o disco merece um satuário.” E fiz um, bem embaixo do pombal do Eudes.

  6. É que quem conhece os discos posteriores, Mairon, prefere gastar tempo pesquisando as gravações perdidas do Roupa Nova. Melhor ir aos mestres do que perder tempo com derivativos.

        1. Isso aí: também prefiro o técnico e eclético Richard Clayderman ao engessado Roger Hodgson.

  7. disco maravilhoso, muito bom mesmo, conheci por indicação de um amigo, baixei me impactei só sosseguei agora que comprei em vinil, recomendadíssimo…. It’s a Long Road é uma obra prima…

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