Melhores de 2012: Por Mairon Machado

Melhores de 2012: Por Mairon Machado

Nesta semana, de segunda a sexta-feira, diversos colaboradores da Consultoria do Rock apresentarão listas com suas preferências particulares envolvendo os novos álbuns de estúdio lançados em 2012. Cada redator tem a oportunidade de elaborar sua listagem conforme seus próprios critérios, escolhendo dez álbuns de destaque, além de uma surpresa e uma decepção (não necessariamente precisam ser discos). Conforme o desejo de cada um, existe também a possibilidade de incluir outros itens à seleção, como listas complementares, enriquecendo o processo e apresentando impressões relacionadas ao ano que acabou de se encerrar. Como culminância da seleção, no sábado, os dez álbuns mais citados serão compilados e receberão comentários de todos os colaboradores, não importando o teor das opiniões.

Por Mairon Machado

2012 foi um ano estranho em termos de lançamentos. Apesar da grande quantidade de material que chegou às lojas nos últimos doze meses, a maioria deles só apresentou qualidade em grupos com mais de vinte anos de carreira. Poucos foram as bandas novas que fizeram um trabalho relevante, mas, o lado positivo, é que os melhores trabalhos vieram do lado brazuca.

Álbuns do ano

Quaterna Requiém – O Arquiteto

Após doze anos do álbum ao vivo Livre, e dezoito anos do último disco de estúdio (Quasímodo), o quinteto carioca, liderado pela tecladista Elisa Wierman, voltou com gás total, e fez um disco perfeito. O Arquiteto homenageia alguns dos principais arquitetos mundial, como o recém falecido Oscar Niemeyer, na bela “Niemeyer”, quinta parte da suíte “O Arquiteto”, com quase cinquenta minutos de duração, homenageando “Bramante”, “Mansart”, “Gaudi” e “Frank Lloyd”, cada um com uma peça da suíte especialmente criada para ele, comparando a criação da canção com o estilo do artista. A suíte de abertura, “Preludium”, com mais de onze minutos de duração, é uma forte candidata a Maravilha Prog, com Elisa dando show no piano e nos sintetizadores, e o guitarrista Roberto Crivano mandando ver em solos arrepiantes. Um álbum que será ouvido muitas vezes pelos fãs de rock progressivo, emocionante, belo e o melhor de 2012 (e também o melhor da década).


Thiago França – Sambanzo: Etiópia

Durante a abertura do show do Los Hermanos em Porto Alegre, as caixas de som reproduziam um som indefinido aos meus ouvidos. Agradável, harmonioso, diferente, encantador, entusiasmante, vários são os adjetivos positivos para Sambanzo: Etiópia, segundo álbum do saxofonista paulista Thiago França. Simplesmente, é uma canção melhor que a outra. A mistura de jazz, rock, samba e bossa-nova casou muito bem, e a criatividade rola solta em pérolas como “Sino da Igrejinha”, “Xangô da Capadócia” e “Xangô”. Outro belo trabalho nacional, mostrando que, em época de escassez no mercado brasileiro, ainda tem muitos artistas que conseguem fazer um som moderno e ótimo.


Toy Dolls – The Album After the Last One

Quando o grupo punk Toy Dolls lançou The Last One? em 2004, os fãs ficaram com uma pulga na orelha se realmente a trupe do guitarrista Olga iria encerrar suas atividades. Graças aos deuses do rock, Olga resgatou sua criatividade, e ao lado de Tommy Gobber (baixo) e Mr. Duncan (bateria) gravou um álbum engraçado pacas, respeitando o fã do grupo e, claro, satisfazendo o desejo de ouvir as canções irônicas e cheias de graça de um trio mais que especial para o rock mundial. “Sciatia Sucks”, “Decca’s Drinkin’ Dilemma”, “Kevin’s Cotton Wool Kids”, “Credit Crunch Christmas”, enfim, todo o álbum faz você relaxar e dançar, relembrando os clássicos Wakey Wakey e Bare Faced Cheek. Que o trio continue na ativa, pois o rock perderá muita graça se este for o último álbum do Toy Dolls.


Van Halen – A Different Kind of Truth

O retorno mais aguardado dos últimos anos foi também o mais ovacionado de 2012. Afinal, para 90% dos fãs de Van Halen, o grupo só é O GRUPO com David Lee Roth nos vocais. A Different Kind of Truth é um sensacional atestado de que, apesar das indiferenças, David e Eddie Van Halen são capazes de satisfazer os seus fãs, superando o ego individual e retornando às origens do grupo, ao mesmo tempo que soa extremamente original. O que é o riff de “Outta Space”, o baixão de Wolfgang Van Halen em “She’s the Woman” ou o embalo safado de “Stay Frosty”, se não uma visita ao final da década de 70, início dos 80, onde o Van Halen explodiu para o mundo como a maior banda de sua época, e Eddie Van Halen aparecia em tudo que era capa de revista como o maior guitarrista a pisar na Terra desde Jimi Hendrix? Se vai continuar, não se sabe, mas que a parceria gerou um saboroso fruto em 2012, isso ninguém pode negar.


UFO – Seven Deadly

Desde que Vinnie Moore assumiu as guitarras do UFO em You Are Here (2004), o grupo vem lançando discos regularmente, com um som característico de uma nova fase, independente das guitarras afiadas de Michael Schenker, e, por que não, tão relevante quanto antes. É inegável que Moore mudou o estilo do UFO, transformando o hard pesado da década de 70 (e o desprezível AOR dos 80) em um hard simples mas convincente. Seven Deadly segue a linha de The Visitor (2009), sem uma canção mais atraente que a outra, e tendo como único ponto negativo a balada “Burn Your House Down”. As demais onze canções são diretas e sem firulas, fazendo um feijão com arroz que, enquanto durar, sem inovações, vai alimentar e muito a fome dos fãs do quarteto.


Europe – Bag of Bones

Bag of Bones é outro álbum que mantém uma nova linha para um velho grupo, desta vez o Europe. Desde Start from the Dark (2004) que Joey Tempest e cia. deram uma guinada de 180 graus, só que aqui o grupo está muito setentista, o que torna o som ainda mais atraente. E John Norum então, o que ele faz na guitarra é demais, ou até mesmo no violão, através da bela faixa-título. Inspirações no Led Zeppelin aparecem praticamente em todas as canções, mas “Firebox”, “Not Supposed to Sing the Blues” e “Riches to Rags” são perfeitas demais para o fã do grupo. Aliás, nunca vi a voz de Tempest soar tão parecida com a de Robert Plant quanto em “Riches to Rags”. Só não é o melhor disco de 2012 por que UFO e Van Halen (além dos brasileiros) fizeram discos essenciais. Mas está na sexta posição, com a diferença de milésimos para o segundo colocado.


Beach Boys – That’s Why God Made the Radio

Diz o ditado que de onde menos se espera, daí que não saí nada. Para o The Beach Boys, isso não procede. Afinal, ninguém esperava que Brian Wilson, Bruce Johnston, Mile Love e Al Jardine pudessem voltar a gravar juntos. Afinal, haviam vinte anos desde o último lançamento do grupo, e, apesar de Wilson ter trabalhado bastante nesse período, pouco de relevante foi lançado de forma inédita (tivemos mais resgastes de obras primas como Pet Sounds ou Smile do que canções novas). Pois That’s Why God Made the Radio apanhou a todos de surpresa, e que ótima surpresa. Comemorando os cinquenta anos da banda, nele estão as harmonias vocais, o embalo californiano e as baladas características do grupo. Ouça a faixa-título, “Shelter” e “Summer’s Gone”, essa última com a participação especial de Jon Bon Jovi, e duvido que resista a esse grandioso álbum.


Van der Graaf Generator – ALT

Se no ano passado o Van der Graaf Generator já havia lançado um disco soberbo, o trio Peter Hamill, Hugh Banton e Guy Evans se superaram em 2012. Somente com canções instrumentais, é um fantástico disco, com arranjos complexos como manda o figurino do mundo prog, mas com o diferencial de que não há nenhuma suíte. Apenas faixas curtas recheiam ALT em sua quase uma hora de duração. As três canções mais longas (“Colossus”, “Repeat After Me” e “Dronus”) são sessões zen dificilmente encontradas na obra do Van der Graaf, e as demais, girando entre um e cinco minutos, preenchem o disco e o local onde você o está escutando misturando delírios jazzísticos, viagens progressivas e inspirações psicodélicas muito complicadas. Um disco experimental do início ao fim, e do Van der Graaf Generator. Precisa ser dito algo mais?


Peter Buck – Peter Buck

Quando o R. E. M. acabou em meados do ano passado, parecia evidente que, musicalmente, os integrantes do grupo não ficariam parados. Restava saber quem iria lançar o primeiro álbum solo. Coube ao guitarrista Peter Buck a tarefa. A curiosidade é que Peter Buck, o álbum, foi lançado apenas em vinil. Com a participação do baixista Mike Mills (também do R. E. M.), e mais uma superbanda, Buck fugiu do que estava acostumado a criar para seu antigo grupo, e, mesmo assim, se superou. Faixas como a folk “Some Kind of Velvet Sunday Morning”, a agitada “So Long Johnny” e a oitentista “Nothing Means Nothing”, essa com os vocais de Corin Tucker, são algumas das canções principais de um disco surpreendente, abrindo espaço para uma próspera carreira solo.


Rush – Clockwork Angels

Ano passado coloquei como maior decepção o não lançamento do novo álbum do Rush. A expectativa criada pela turnê em 2010, bem como a canção “BU2B”, faziam crer que o novo álbum seria excelente. Eis que Clockwork Angels veio às lojas em 2012. O disco não é de todo o ruim, mas para uma banda como o Rush, esperava bem mais. Aos poucos, fui me acostumando com o som, e canções como a citada “BU2B”,  “Seven Cities of Gold” e “The Garden” entraram na minha lista de “possíveis faixas para uma coletânea do grupo”. Assim como todo disco do Rush, a primeira vez que se ouve temos uma sensação de estranheza, mas o tempo nos faz acostumar com o mesmo.


Bacamarte.

Melhor notícia: O retorno de bandas nacionais aos palcos

Pois o ano de 2012 acabou trazendo uma surpresa melhor que a outra em termos de bandas nacionais. Nada mais que Planet Hemp, Los Hermanos, Viper, Sagrado Coração da Terra, Quaterna Requiém, Arnaldo Baptista e Bacamarte voltaram à ativa, todos com a formação quase original, interpretando clássicos que estavam engavetados há alguns anos. Os casos mais emblemáticos foram de Arnaldo, Planet Hemp, Los Hermanos e Viper, que voltaram com uma super turnê pelo país. Já Bacamarte e Sagrado Coração da Terra fizeram shows específicos, mas a tendência para 2013 é de que uma turnê pelo país também ocorra. O Quaterna Requiém simplesmente lançou o melhor disco do ano, que, para fechar com chave de ouro, apresentou o retorno do Mutantes na fase progressiva, com Sérgio Dias, Túlio Mourão, Rui Motta e Antônio Pedro de Medeiros, durante o festival Psicodália, apresentando na íntegra o clássico Tudo foi Feito Pelo Sol. Tomara que essas bandas saiam em turnê pelo país, e, quem sabe, grupos como Secos & Molhados, Terreno Baldio, Som Nosso de Cada Dia e tantos outros retornem para agradar ainda mais os fãs brazucas.

Encerramento do constrangedor MOA 2012.

Pior notícia: Metal Open Air

Quando o Metal Open Air foi anunciado no final de 2011 para meados de 2012, os fãs de metal no Brasil entraram em polvorosa. Afinal, apesar de o festival ser realizado fora do centro do país, na cidade de São Luis (Maranhão), e com a quantidade de bandas prometidas, principalmente as internacionais, valeria a pena o esforço. Pois muitos foram os que venderam o que não tinham e se largaram para o festival, e todos viram apenas meio dia de shows, e nada mais. Um fiasco enorme, que o mundo inteiro viu e deu risada. Uma pena, pois dificilmente um cast como o que foi montado para esse Festival irá se repetir.

Roger Waters e a The Wall Tour.

Surpresa: quantidade de shows no país

Havia anos que o Brasil não recebia tantos shows internacionais de qualidade. Tivemos no país de tudo um pouco, sempre com ingressos concorridos e locais lotados. Mark Farner, Roger Waters, Alanis Morrisette, Anthrax, Misfits, Dream Theater, Megadeth, Exodus, Martin Turner’s Wishbone Ash, Jack Bruce,  Robert Plant, Slash, Kiss, Rick Wakeman, Black Label Society, Nightwish e Madonna foram alguns dos grandes nomes da música mundial que passaram por nosso país e aos quais o  Consultoria do Rock esteve presente, mas vários outros shows preencheram os doze meses do ano, trazendo alegria e esperança de que, para 2013, mais shows importantes venham para cá, sendo que dois grandiosos espetáculos já foram anunciados: Elton John e Yes (além de mais uma edição do Rock in Rio).

Decepção do ano

Decepção: Steve Harris – British Lion

Os fãs do Iron Maiden fizeram mais alarde que Quero-Quero quando souberam que Steve Harris iria lançar um álbum solo. Particularmente, pensei que Harris iria vir com um disco fortemente inspirado em rock progressivo ou nas linhas tradicionais de UFO, Thin Lizzy e Wishbone Ash (que tanto foram importantes para o Iron anos atrás). Pois nem um, nem outro. British Lion é de uma pobreza sonora inimaginável para os padrões da Donzela, e serviu apenas para caçar níqueis dos fanáticos pelo grupo. Sem falar que a voz de Richard Taylor é tinhosa. Inexplicável como alguém do porte de Harris lança tamanha atrocidade.

Outros destaques

Ian Anderson – Thick as a Brick 2
Lynyrd Skynyrd – Last of a Dyin’ Breed
ZZ Top – La Futura
Black Country Communion – Afterglow
Bob Dylan – Tempest

4 comentários sobre “Melhores de 2012: Por Mairon Machado

  1. Confesso que nunca havia ouvido o Toy Dolls. Assisti o videoclipe para "Decca's Drinkin' Dilemma" e vi uma banda punk, sim, mas tocando melhor do que normalmente se espera para um grupo do gênero, em uma música bastante divertida e interessante. Curti.

    A respeito do UFO: ouvi pouco esse disco, apenas duas ou três vezes, mas será que é muito exagero meu encontrar uma semelhança entre "Seven Deadly" e a sonoridade do álbum "No Prayer For the Dying", do Iron Maiden? Nada específico, apenas a sonoridade em geral… Aquele hard no limite do considerado heavy, mais largadão, do jeito que o Maiden resolveu fazer conscientemente após toda a pompa de "Seventh Son…" e "Somewhere in Time"… Sei lá, né?

  2. Um dos discos citados pelo Mairon será tema de um texto meu que entrará depois das férias e adianto que não será com a mesma empolgação do nosso amigo gaúcho…
    Outra coisa…essa foto do MOA na verdade não é bem do encerramento. Nessa hora aí eles reuniram o público para tentar acalmar os ânimos….mas depois disso ainda tivemos duas ou três bandas…

  3. Nobre Bueno, seria esse disco o ALT? Não consigo comparar o No Prayer com o Seven Deadly, mas que o UFO cada vez mais vem entrando na zona de conforto, isso é verdade

  4. Com certeza ouvirei o Quaterna Requiem, e também o Beach Boys e o VdGG, mas estes em um futuro não tão próximo.. De resto, nada que chame a atenção.

    P.S.: Essa capa do Bag of Bones é a cara do primeiro Mott the Hopple, hein?

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