Por que Iron Maiden? Parte 2: Stranger in a Strange Land

Por que Iron Maiden? Parte 2: Stranger in a Strange Land

Por Amâncio Paladino Messina 
Capítulo de hoje – Stranger in a Strange Land 
Uma das mais profundas músicas do Maiden, “Stranger in a Strange Land”, constitui também uma das experiências mais ricas na busca de uma nova sonoridade no já aclamado e perfeito Somewhere In Time. A harmonia, a melodia e a técnica característica de Adrian Smith são presença marcante e fogem da temática durona do puro Metal. O solo é uma obra prima digna de ser recordada e ouvida até o fim dos tempos. 
Como veremos, a polêmica da música não se limita às distorções e ao eventual uso de teclados em certos trechos, mas e principalmente, se estende à letra e ao que ela transmite. “Stranger in a Strange Land” se autoproclama: é uma música fora do comum num disco fora do comum! 
A sexta música 
Ela é a sexta música do álbum Somewhere In Time do Maiden, e ao que tudo indica, parece existir uma magia em torno das sextas músicas. Por vezes ela é o que há de melhor no álbum, por outras vezes ela é o clímax de uma trama muito bem urdida, ou ainda é somente uma fuga do tema principal e um alívio no meio de uma densa e profunda obra. Assinada por Smith, “Stranger in a Strange Land” não foge a esta sina. 
Adrian Smith
Robert A. Heinlein 
Quando comecei as pesquisas a cerca desta música, me deparei com um extenso material sobre Robert A. Heinlein, autor de ficção-científica, mais conhecido em nossos dias por histórias recém filmada como Starship Troopers (livro de 1959) e Planeta Vermelho (livro de 1949). Dentre muitos contos e livros, destaca-se com toda razão a obra prima de Heinlein: Stranger in a Strange Land (1961). O livro, tido por muitos como “a ficção científica definitiva”, foi ganhador de diversos prêmios de literatura. Lançou as bases para muitas outras lançadas a posteriori: visitas de E.Ts na Terra, governo negando informação, governo mesclado com religião num futuro totalitário e muitos outros clichês de hoje em dia. 
Martian Manhunter
A história trata da vida de um sobrevivente da primeira missão tripulada à Marte. O jovem chamado Valentine Michael Smith teria nascido em solo marciano após ter sido concebido durante a viagem de seus pais ao planeta vermelho numa primeira tentativa de colonizá-lo. De uma forma muito triste todos os viajantes, exceto Valentine, teriam morrido. Ele foi então encontrado pelos habitantes de Marte, e no maior estilo Tarzan Das Selvas, foi criado pelos próprios, adquirindo a sabedoria e a cultura marciana, bem como poderes psíquicos imensuráveis nas escalas humanas (qualquer semelhança com o herói Martian Manhunter não é mera coincidência). Após vinte e cinco anos, Valentine retorna ao planeta Terra, encontra uma espécie de sociedade dominada por um regime que mistura religião e totalitarismo, é aprisionado pelo governo devido a seus poderes especiais e… 
Ok,ok… Vou fazer uma parada estratégica aqui para citar que quando eu estava na metade do livro de Heinlein, relacionando as referências à letra de Smith, recebi de amigos a informação de que a música “Stranger in a Strange Land” não seria sobre o livro de Heinlein! Assim apesar do livro ser sensacional, a história vibrante e tudo o mais, o título seria apenas uma coincidência! 
Capa do livro de Heinlein
Tais informações afirmavam que na verdade a música teria sido composta por Smith após uma conversa com um pesquisador que encontrou um corpo congelado no Ártico. Outra versão é que Smith teria conversado com um explorador sobrevivente que voltou do Pólo Norte, enquanto seus companheiros lá ficaram. A música trataria então de um explorador que, sozinho no Ártico, teria morrido, sendo seu corpo encontrado por outro explorador cem anos depois. 
Seria a magia da sexta música me impedindo de achar a verdadeira inspiração para tão primorosa obra? Será que nunca conseguiria achar alguma referência que me desse uma pista de onde os solos do eterno Adrian Smith teriam vindo? Comecei a ponderar o que seria mais provável: 
1. Adrian Smith conversar com um pesquisador que achou um corpo congelado. 
2. Adrian ter conversado com um sobrevivente de expedição ao Pólo Norte. 
3.Ele ter lido o livro de Heinlein e escrito a música sobre uma expedição que teria achado restos congelados de quem ficou para trás no planeta Marte? 
Para responder a esta pergunta, assim como um detetive, vou entrar em detalhes do texto de Heinlein (lembrem-se amigos,detalhismo é a chave!). 
Evidência 1 
No primeiro capítulo do livro (edição estendida com o texto original, ou seja, sem os cortes do editor), Heinlein descreve a primeira expedição à Marte na nave Envoy. Nela, 4 casais com habilidades e conhecimentos específicos, viajaram para o planeta vermelho para fundar a primeira colônia. Algo saiu muito errado, e ao que tudo indica, os casais não sobreviveram. Nunca se recebeu nenhuma transmissão desta tripulação que indicasse que tipo de situação teria provocado seu desaparecimento. 
No segundo capítulo uma segunda expedição é enviada vinte e cinco anos depois. Os corpos dos tripulantes da Envoy são encontrados, e o humano criado em Marte, o protagonista do livro chamado Valentine Michael Smith, filho de um dos casais da Envoy, também é encontrado. 
Portanto há um indício de que a música poderia ser sobre o momento em que o corpo de um dos tripulantes da Envoy é achado em Marte. 
No entanto existe uma pequena incompatibilidade da música com o livro: 
One hundred years have gone and men again they came that way
To find the answer to the mystery
They found his body lying where it fell on that day
Preserved in time for all to see” 
Ou seja, na música, cem anos se passaram até que o corpo fosse encontrado e não vinte e cinco como no livro de Heinlein. 
Evidência 2 
Em outro trecho da música ouvimos: 
Stranger in a strange land
Land of ice and snow
Trapped inside this prison
Lost and far from home” 
Entendemos que a pessoa perdida está numa “Terra de Gelo e Neve”. Seria esta terra Marte, que em seus polos possui inverno eterno como a Terra? Ou seria o Ártico do próprio planeta Terra? 
Anotações em minha cópia de
Stranger in a Strange Land
Final 
Fãs do Maiden, nunca achei uma evidência que comprovasse a tal conversa entre um pesquisador que achou um corpo congelado e Adrian Smith, ou mesmo da conversa entre o sobrevivente de uma expedição e Adrian Smith. 
A melhor coisa que tenho sobre isso é o testemunho de Nicko, em Listen with Nicko Part VIII: “Anyway! Yes, Stranger In A Strange Land, that’s moving on, I’ve only got a few minutes now to tell youabout the sleeve for this here single. And, Stranger In A Strange Land was based on a story that Adrian hadread in the newspaper about and expedition that got lost in the North Pole… silly gits! Course they f’king getlost, there’s no signposts up there, are there! And they found some frozen bodies almost perfectlypreserved… I wonder what parts were not preserved… hmmm… Anyway! Adrian, apparently he met one ofthe expedition who was a survivor…. I guess he must have been a bit old, eh, it was f’king years ago. Idunno. Anyway no, he bought the album because of the song, apparently, and now he’s actually one of Maiden’s top fans.
Portanto apesar de não haver uma prova cabal que determine a relação direta entre a letra da música e o texto de Heinlein, os temas são muito parecidos para desprezarmos a influência do livro sobre a música. 
Fica a dúvida? Você escolhe… Afinal quem assina a música é Smith (Valentine ou Adrian?). 
Cenas do próximo capítulo: Powerslave – O Escravo do Poder

6 comentários sobre “Por que Iron Maiden? Parte 2: Stranger in a Strange Land

  1. Posso estar errado porque não estou com a revista aqui, mas no final dos anos 80, foi publicado no Brasil uma revista com material sobre o Somewhere in Time – (é tipo um livreto promocional oficial do Iron sobre o Somewhere in Time – capa do Eddie Cyborg saindo do seu carro voador) Tem entrevistas com todos durante as ferias deles (a do Bruce é uma loucura, e quando o leitor chega ao final do relato dele, Bruce diz "isso aí tudo foi em dois dias"…). Enfim, Harris também comenta todas as músicas, acho que Adrian também comenta, e essa história me parece que apareceu aí pela primeira vez.

  2. Ótimo texto, mas quer saber da minha opinião? apesar do próprio Nicko ter afirmado que o Adrian se baseou na historia do polo norte, fica evidente que o livro também tem suas influencias na música, basta olhar a capa do single, varios et's em um bar e é como se o Eddie estivesse nessa segunda expedição até Marte pra saber o que aconteceu com a 1º tripulação…pensem nisso…

  3. Matéria show. Mas pelo single me parece que
    Eddie está como disse o amigo acima em outro planeta mesmo, como se estivesse em busca da tripulação perdida. Enfim Somewhere in Time é uma obra prima, desde a capa do mestre Riggs, as letras, as músicas, melodias, solos, tudo é perfeito neste disco. Gostei dessa matéria. Muito legal mesmo. Parabéns!

  4. Após o lançamento do álbum definitivo do Iron Maiden em 1984, o majestoso Powerslave (os fãs de The Number of the Beast que me desculpem) que lhes rendeu a maior turnê feita em toda sua história, a World Slavery Tour, cujos melhores momentos foram registrados no ótimo ao vivo Live After Death (1985), a banda mais superestimada do mundo retorna em 1986 com um som totalmente renovado, e pra melhor! Trata-se do álbum Somewhere in Time. Essa renovação sonora se deve ao uso de guitarras sintetizadas e teclados, que causou um certo desconforto entre os fãs na época, mas que com o passar do tempo se acostumaram com isso.

    A abertura com “Caught Somewhere in Time” é das melhores que um disco do IM possui; os singles “Wasted Years” e “Stranger in a Strange Land” (analisada aqui) são das músicas favoritas dos fãs nos shows ao vivo, assim como a minha favorita deste álbum: “Heaven can Wait” que quando tocada ao vivo era o momento em que vários fãs subiam no palco e faziam a festa junto com a banda.

    “Sea of Madness” se destaca por sua simplicidade melódica e seu refrão cativante; “Deja-Vú” é daquelas músicas quase desconhecidas do grupo, enquanto “The Loneliness of the Long Distance Runner” mostra a importância de Bruce Dickinson como um dos melhores e maiores vocalistas do rock pesado, e olha que ele evoluiu muito de 1982 até este disco (o cara é simplesmente um gênio!).

    Agora, a grande razão de Somewhere in Time ser tão injustiçado reside, a meu ver, no fato do IM nunca ter tocado ao vivo o épico encerramento com “Alexander the Great” o que realmente é uma pena. Aproveitando que o grupo está deitando e rolando em sua nova turnê atual, nada mais justo que a banda atender este pedido almejado pelos fãs que quase não foi realizado há 30 anos.

    Finalmente, ressalto que depois deste disco, o IM encerrou a década de 80 com mais um álbum polêmico: o conceitual Seventh Son of a Seventh Son (1988) com uma história maluca e complexa criada pelo Steve Harris, e que em breve será detalhada aqui na Consultoria. Vamos aguardar!

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