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| John Bonham, Robert Plant, Jimmy Page e John Paul Jones | 
Por Mairon Machado
Uma  das maiores bandas da história do rock, o grupo britânico Led Zeppelin  esteve na Terra apenas 12 anos, mas o suficiente para atingir esse posto  com mérito, sobras e principalmente, milhares de fãs espalhados ao  redor do mundo, fora as influências geradas através de seus dez álbuns  (nove de estúdio e um ao vivo). O Discografias Comentadas dessa semana  irá prestar uma justa homenagem para Jimmy Page (guitarra), Robert Plant  (voz), John Paul Jones (baixo, teclados, mandolim) e John Bonham  (bateria), o quarteto que bateu o The Beatles em vendas e em  popularidade, arrasou por onde tocou e marcou a década de 70 como sendo o  grande nome do rock daquela época. Trataremos apenas dos álbuns de  estúdio, deixando os álbuns ao vivo nos comentários adicionais.
Vamos então voar pela carreira do Zeppelin de chumbo.
Led Zeppelin [1969]
Jamais o mundo havia ouvido uma estreia tão poderosa. Nem mesmo o Cream, com 
Fresh Cream,  em 1966, conseguiu tal façanha. O primeiro LP do Led Zeppelin é uma  aula de blues psicodélico e peso, muito peso. Page avançou as  experimentações que haviam começado ainda no Yardbirds, com o essencial 
Little Games (1967), e tendo a aguda voz de Plant, combinou os elementos que  produziram o melhor disco de estreia de todos os tempos. Logo na  primeira faixa, uma pancada: “Good Times, Bad Times”. Quer música melhor  para abrir um LP? A guitarra fumegante de Page, as linhas de baixo  avassaladoras de Jones, a fúria exalada nas pancadas de Bonham, e claro,  a sensualidade na voz do ainda menino Plant, que começava a arrancar  gritos da mulherada com seus agudos que David Coverdale, David Lee Roth e  outros passariam a copiar. Depois da pancada, uma leve canção, “
Baby, I’m Gonna Leave You“,  levada pelos violões de Page e Jones, com uma interpretação vocal  fantástica de Plant, e com Bonham colocando a casa abaixo, mostrando que  mesmo uma faixa acústica pode ser pesada. “
You Shook Me“,  de Willie Dixon, é um blues safado, perfeito para uma noite regada à  vinhos, queijos e claro, sexo. A guitarra duelando com a voz excita até  uma freira totalmente virgem. “Dazed and Confused” encerra o lado A,  aproveitando das experiências de Page no Yardbirds. Essa canção era  batizada apenas de “Confused” na época do Yardbirds, e já possuía a  principal característica que fez dela essencial nas apresentações do  grupo: o solo com o arco de violino e wah-wah de Page. A diferença é que  no Led Zeppelin, Page encontrou uma cozinha pesadíssima, que acompanha  ele com um peso desigual, incomparável ao que a cozinha do Yardbirds  conseguia fazer. “Your Time is Gonna Come” abre o lado B, mostrando o  lado flower-power do Led Zeppelin, e com Jones pilotando o órgão, em uma  canção simples, mas bela, assim como a sequência, com “Black Mountain  Side”, apenas com violão e tabla, também resquícios do tempo de  Yardbirds, onde era batizada de “White Summer”. Está tudo calmo? Então “
Communication Breakdown”  coloca tudo abaixo de novo. Irmã mais nova de “Good Times, Bad Times”, é  uma rebelde canção, com a guitarra de Page pegando fogo agora, e Plant  se rasgando em agudos e mais agudos. O blues psicodélico retorna em “I  Can’t Quit You, Baby”, também de Willie Dixon, só que mais embriagante,  para um bar esfumaçado onde choramos as mágoas de uma mulher que nos  abandonou. O álbum encerra com mais psicodelia, em “
How Many More Times“.  Oito minutos e trinta segundos de muita loucura, com direito a solo de  arco de violino, duelo baixo-bateria, vocalizações estranhas e um riff  inesquecível de baixo e guitarra. A melhor canção do álbum em disparado.  Se o Led Zeppelin tivesse lançado apenas esse álbum, já seria  considerado um grande grupo, mas esse era apenas o começo.

Led Zeppelin II [1969]
 Se o álbum de estreia do Zeppelin de Chumbo é uma avassaladora mistura de blues, psicodelia e sensualidade, em 
Led Zeppelin II o grupo tenta dar uma puxada de mão. Mas não consegue! A locomotiva  sonora saiu dos trilhos, e logo na primeira faixa, um clássico que até  hoje destrói salas e quartos mundo afora, “Whole Lotta Love”. Com um  riff grudento, uma levada manhosa e uma viajante sessão ao teremim, esse  clássico alavancou ainda mais as vendas do grupo (que já tinham  alcançado mais de oito milhões apenas nos Estados Unidos), fazendo com  que o Led supera-se o Beatles pela primeira vez. Mas nem só de “Whole  Lotta Love” vive o álbum. A sequência 
bluesy com “
What is and What Should Never Be” e “The Lemon Song”, apesar de não serem tão sensuais quanto a dobradinha de Willie Dixon em 
Led Zeppelin, mantém o charme e a bela performance do grupo. O lado A encerra com uma das mais belas canções do rock, “
Thank You“,  uma balada de chorar, com Jones pilotando o órgão com uma suavidade que  nem Chopin conseguiria fazer, que revela ao mundo o lado hippie do  grupo. O lado B de 
II é muito diferente. Pesado ao extremo, começa com a  paulada “
Heartbreaker“,  um show de virtuosismo de Page. “Living Loving Maid (She’s Just a  Woman)” é um rock rápido, que passa despercebido depois da paulada  sonora da faixa de abertura do lado B, e principalmente pelos violões de  “Ramble On”, mesclando peso com momentos acústicos, e com Page tirando  timbres cada vez mais inéditos em sua Les Paul. O solo de Bonham em  “Moby Dick” hoje já está manjado, mas na época, era considerado o melhor  já gravado por um baterista. E o álbum encerra com aquela que eu  considero a melhor do disco, “
Bring it on Home“,  uma versão para a canção de Willie Dixon, com Plant solando na gaita de  boca em um blues poderoso e detonador. Muitos consideram 
Led Zeppelin II o melhor álbum do grupo. Eu particularmente acho um bom álbum, mas longe de estar entre os cinco primeiros.

Led Zeppelin III [1970]
Uma análise desse disco já foi feita 
aqui no blog.  Mesmo assim, alguns pontos precisam ser recapitulados. É nesse disco  que o Led finalmente amadurece. O retiro em Bron-Yr-Aur fez surgir um  novo grupo, que prestava mais atenção ao processo de composição, à busca  por novas sonoridades, e também ao aperfeiçoamento da técnica de cada  integrante. Considerar 
III como sendo um disco acústico é no  mínimo estupidez. Afinal, qual disco acústico começa com uma paulada tão  forte quanto “Immigrant Song”, seguida pela psicodélica “Celebration  Day”, onde o baixo de Jones parece que vai derrubar seu quarto. “
Since I’ve Been Loving You“,  construída em cima de “Never” (do grupo Moby Grape), é o grande momento  do Led Zeppelin tocando blues, sendo este o melhor blues de toda a  carreira do grupo. E “Out on the Tiles” é um tiro na nuca, com sua  violência descomunal para uma canção do Led, onde os gritos de Plant  estão acima do normal, e a levada de Bonham simboliza bem o que era o  homem tocando: uma avalanche. Mas claro, o lado acústico se destaca por  ser a primeira vez que aparece com mais regularidade (lembrando que isso  já havia ocorrido nos dois anteriores, mas em uma e outra canção).  “Tangerine” é a balada meio sem sal, que perto de “
That’s the Way” ou “
Gallows Pole“,  soa mais como complemento do álbum. A citada “That’s the Way” é  merecedora de prêmio obra-de-arte. A afinação desconcertante de Page, a  levada dos violões, e a interpretação de Plant, me arrancam arrepios em  cada audição. As experiênciais orientais de “
Friends”  são marcantes, com o Led Zeppelin fazendo um pequeno flerte ao  progressivo. “Bron-Yr-Aur Stomp” e “Hats Off to (Roy Harper)” fecham o  melhor dos três primeiros discos do grupo, o mais bem trabalhado e  elaborado, com a sensação de que finalmente o Led Zeppelin havia  amadurecido, podendo ser aclamado tanto pelos fãs quanto pela imprensa.

Led Zeppelin IV [1971]
Quando  este disco foi lançado, ninguém sabia de quem era e do que se tratava.  Apenas ao abrir o vinil e ler o rótulo do mesmo que estava estampado  “Led Zeppelin”, e somente isso. O nome dos músicos era expresso através  de quatro diferentes símbolos, e por isso, até hoje alguns chamam o  quarto LP do Led Zeppelin de 
Four Symbols.  Eu considero esse álbum uma  sequência de 
III, sendo tão acústico como ele, como  se fosse o lado C e D do mesmo.  Afinal, “Black Dog” é uma continuação  de “Out on the Tiles”, tanto que ao vivo, o grupo a interpretava assim, e  seu riff saiu dos ensaios da mesma. “Rock and Roll” é um clássico,  também surgida do acaso (uma tentativa de Bonham em tocar a introdução  de “Keep a Knockin”, de  Little Richard). “Misty Mountain Hop” revela um  lado alegre do grupo,  através do piano elétrico de Jones e de uma  harmonia mais suave, e que começava a surgir vagarosamente, assim como a  obsessão por temas épicos, com  a longa “
When the Levee Breaks“, sete minutos de muita exploração da guitarra, dos vocais e da gaita de boca de Plant, soltando notas rasgadas. Porém, 
IV é recheado de belíssimos momentos acústicos. “
Going to California“, assim como “That’s the Way”, pertence a elite das melhores baladas já registradas em um álbum. “
Four Sticks” expande o horizonte de sons orientais que havia surgido em “Friends”, com um Plant cantando muito. “
The Battle of Evermore”  traz a linda participação de Sandy Denny, a única pessoa a participar  de um disco do Led como convidada nos vocais, e que, com os seus duelos vocais com  Plant, faz dessa linda canção uma maravilhosa e encantadora audição. E o  que dizer de “Stairway to Heaven”? Não importa que a introdução tenha  sido chupinhada de “
Taurus”  (do Spirit), não importa que já tenha tocado tanto que até quem nasceu  semana passada já conhece, não importa que tenha sido tema do Nuno Leal  Maia, É um clássico! Um verdadeiro hino da música! Ela que me apresentou  ao Led Zeppelin, e por causa dela, hoje estou escrevendo para vocês,  pois sem o Led Zeppelin, creio que ainda hoje eu estaria ouvindo Erasure  e Madonna. Sua levada suave, com um crescendo envolvente, entrando cada  instrumento aos poucos, estourando no maravilhoso solo de Page, com  Plant cantando tudo o que pode e mais um pouco, demonstra 100% o que era  o Led Zeppelin: talento, inspiração e muita, mas muita transpiração. Um  grande álbum, divisor de águas na carreira do grupo, e que só seria  superado em termos de grandiosidade quatro anos depois.

Houses of the Holy [1973]
Ainda hoje eu tenho certos resquícios com esse LP. Passados 20 anos ouvindo quase sem parar os discos do grupo, 
Houses of the Holy as vezes me soa como um disco confuso. Page, Plant, Bonham e Jones  tentam criar novos rumos para sua música, que começava a ser fortemente  associda à canções celtas e também para músicas acústicas, sendo que  alguns críticos chegavam ao ponto de dizer que o Led Zeppelin não era um  grupo de rock. Então, gravaram esse álbum, e que transmite duas ideias  bem diferentes. A primeira delas é que sim, o Led Zeppelin era uma banda  de rock, e tocava esse estilo muito bem, como ouvimos em “
The Song Remains The Same“, uma paulada veloz, com mais uma interpretação sensacional de Plant, e com Bonham despejando batidas furiosas, ou então em “
Over the Hills and Far Away“,  cuja introdução é um aprendizado de arpejos e dedilhados, e que assim  como “The Song Remains the Same”, possui uma velocidade que cansa só de  ouvir. Mas “The Ocean”, “The Crunge” e “Dancing Days” são leves demais, e  não fazem jus ao que o quarteto já havia construído. Além disso, o reggae de  “D’yer Mak’er”, apesar de ser conhecido mundialmente, sinceramente não me agrada. Porém, graças a  segunda ideia, o álbum se salva de um fiasco maior. Essa ideia é  justamente de que além de ser uma banda de rock, o Led era a MAIOR banda  de rock da década de 70, e podia investir em algo muito além de  simplesmente acordes simples, fazendo composições extremamente complexas  que beiravam o progressivo. São essas canções, duas na verdade, que  elevam o nível de 
Houses of the Holy, fazendo-o essencial tanto como os  outros. A primeira delas, “
No Quarter“,  é um show de John Paul Jones no piano. Longa, sombria e penetrante,  choca com a quantidade de efeitos empregados na guitarra de Page, e com a  praticamente ausência de Bonham. Essa ausência também é sentida em “T
he Rain Song“.  Se “That’s the Way” é merecedora de prêmio de obra-de-arte, e “Stairway  to Heaven” é um clássico, “The Rain Song” é a mistura das duas, e muito  mais. Sua construção ao violão de 12 cordas de Page, com Plant cantando  praticamente sussurrando, o crescendo com a entrada de Bonham, a  harmonia das cordas arranjadas por Jones, e uma letra emocionante,  colocam “The Rain Song” entre as minhas favoritas da carreira do Led e  também em todos os tempos. Só por ela já vale o investimento em 
Houses of the Holy,  que por deslizes em “The Crunge” e “Dancing Days”, é um álbum abaixo  dos seus antecessores, mas bem melhor do que muito que ouvimos hoje em  dia, sendo que com ele, o Led conseguia atingir o número 1 em casa, algo  que nos Estados Unidos havia sido conquistado desde o início.

Physical Graffiti [1975]
Uma das tarefas mais difíceis de serem feitas por mim  aqui no blog é fazer essa discografia comentada. Não por que eu  desconheço os álbuns ou por que tenha muita música para ouvir, mas  simplesmente por que em poucas linhas, estou comentando uma das minhas bandas favoritas,  que lançou aqueles que para mim, estão entre os melhores discos da  história. E pior, pelo menos dois deles estão  entre os 10 mais, sendo um deles, 
Physical Graffiti, o que considero o melhor disco de todos os tempos (lado a lado com 
Tales from Topographic Oceans, do Yes). 18 meses para ser gravado (um recorde à época), experimentações, reconstrução de canções abandonadas em 
Houses of the Holy e 
IV,  e muito trabalho, resultaram em um álbum duplo inigualável, perfeito. De ouvir, ouvir, ouvir e não parar enquanto o disco furar (como aconteceu comigo). Com certeza, 
Physical Graffiti é o  disco que mais ouvi em minha vida. E não é a toa. Todas suas 15 canções  são suculentos pedaços de filet mignon, que devem ser saboreadas  prazerosamente, sem nada para incomodar. O quarteto cumpria sua meta de  ser a maior banda do mundo, sem um estilo definido, e colocando respeito  nas demais. “
Black Country Woman” e “Bron-Yr-Aur” revivem os momentos  acústicos de 
III e 
IV, sendo a primeira uma canção  agitada, e a segunda, um bonito dedilhado ao violão de Page. “Custard  Pie”, “Houses of the Holy”, “
Night Flight“, “The Wanton Song” e “Sick Again” são rocks  dançantes, swingados, com suas levadas bluesísticas, as vezes mesclando teclados, e principalmente com Plant cantando muito. “
Boogie With Stu” é uma divertida peça musical, saída dos ensaios de 
III, com Jones pilotando o mandolim, assim como havia feito em “Going to California”, bem como o próprio Jones dando um show no piano. As baladas tambem aparecem, uma mais melosa, “Down by the Seaside”, a outra, um revelador horizonte de quanto o grupo havia crescido em composições, chamada “
Ten Years Gone“, outra bela letra de Plant. Experimentações em “The Rover”, onde Page esgota as possibilidades de efeitos em sua guitarra, em uma melodia lindíssima, e também na funkeada “
Trampled Underfoot“, com Jones estraçalhando os dedos em seu piano elétrico, Bonham forte na bateria, Plant gastando a voz e Page destroçando o wah-wah, são complementadas pela parte épica do LP, composta por três espetáculos sonoros, onde o Led conquista o reinado do rock e os súditos que  ainda não haviam se curvado. “
In My Time of Dying” é lisergia e blues exalando  do slide de Jimmy Page em uma afinação estranhíssima, empregados para uma noite de sexo selvagem, com Plant gritando  enlouquecidamente em onze alucinantes minutos, e Page, Jones e Bonham  fazendo a cama sonora para a orgia vocal de Plant. Delírio total! “In  the Light” leva as experimentações com teclados e efeitos de Jones ao  limite, flertando direto com o progressivo, e destacando cada vez mais  os dotes musicais de Jones (talvez o melhor instrumentista do grupo)  também nos teclados. E por fim, mais uma obra-prima, “
Kashmir“.  Seria essa uma Maravilha do Mundo Prog? Mesclando sons orientais, um trabalho de cordas fantástico, a guitarra  de Page quase que apenas como um acompanhamento, uma batida chocante de  Bonham e uma emocionante intrepretação de Plant, fazem dessa a preferida  dos membros do grupo, e da maioria dos fãs (eu me incluo). Perdoem  pelo longo texto, mas como eu disse, é difícil falar do melhor álbum da  história em poucas linhas. Esse foi o primeiro disco do grupo pelo selo Swan Song, e também é o mais vendido da carreira do Led Zeppelin.
Presence [1976]
Gravado após diversos problemas pessoais, principalmente com Plant, que sofreu um grave acidente de carro meses antes das gravações, e fez todo o processo de gravação em uma cadeira de rodas, Presence é tido por muitos como o pior disco da carreira do Led. Para mim, Presence perde apenas para Physical Graffiti. Mesmo não sendo tão diversificado quanto Houses of the Holy e Physical Graffiti, ele mostra um Led Zeppelin voltando suas sonoridades para as raízes do blues, sem perder o status atingido de mega banda. O LP abre com outra canção que pode ser considerada a melhor da carreira do grupo, a épica “Achilles Last Stand“, e que também poderia ser considerada uma maravilha Prog. Fãs de Iron Maiden que me perdoem, mas baixo cavalgante é o de Jones nessa canção, que permanece como um martelo periódico na sua cabeça. As mudanças de acordes de Page, repleto de variações climáticas e melodias, naquela que sem dúvidas é a mais complicada canção do Led Zeppelin para Page, a levada tinhosa de Bonham, com rufos, viradas e um pique assombroso, e a interpretação vocal de Plant, são um violento golpe logo na abertura do álbum, e os mais de dez minutos da canção hipnotizam o ouvinte para o que vem pela frente, uma doce e viajante visita ao blues moderno. “For Your Life” é justamente isso, a versão moderna do blues que influenciou o Led Zeppelin, mas adaptada para o que o grupo estava fazendo. “Royal Orleans”, apesar de ser curta, é outro violento soco no ouvinte, que mesmo tendo acalmado os ânimos em “For Your Life”, balança na faixa que encerra o lado A. O lado B abre com “Nobody’s Fault But Mine”, mais um blues moderno, com Plant trazendo seus dotes na gaita de boca, em um solo de tirar o fôlego. “Candy Store Rock“, com o boogiezão de baixo e guitarra, e “Hots on for Nowhere” , outro que Jones e Page fazem belos duelos, são pontes belíssimas e envolventes entre a canção que abre o lado B e o tiro de misericórdia que encerra esse lado, chamado “Tea For One“. A animada introdução não diz o que é a canção. Um blues  de se cortar os pulsos. Nove minutos para colocar o ouvinte de joelhos, e  pensar na vida, correndo sérios riscos de cometer um suicídio depois. Nove minutos de dramaticidade, tristeza, depressão e todo sentimento ruim que alguém poderia registrar, mas só o Led conseguiu fazer isso com tanta perfeição. “Tea For One” é outra canção que, assim como “Achilles Last Stand”, figura entre minhas favoritas. O solo de Page reflete um improviso de um cidadão perdido, em sua última noite na Terra, tomando seu último chá sozinho. É arrepiante! As linhas de baixo e bateria, suaves, quase que inaudíveis, e Plant chorando ao microfone, marcaram minha infância, e me mostraram que o Led Zeppelin era muito mais do que “Stairway to Heaven”. Presence é o disco mais pesado, mais denso e talvez o menos virtuoso e trabalhado, sendo o único a não conter teclados ou violões. Ou seja, é um álbum totalmente cru, somente guitarra, baixo, bateria e voz, o que reflete, por outro lado, em ser o mais sentimental dos álbuns do Led. Rodou (ainda roda) muito na minha vitrola, sendo que dois vinis acabaram furados (assim como Physical Graffiti). 
 In Through the Out Door [1978]
In Through the Out Door [1978]
 Se Houses of the Holy eu ainda não consigo ouvir redondinho, esse álbum segue a mesma linha. Depois de mais problemas pessoais (Page quase perdeu o dedo em um acidente de trem, e estava altamente viciado em heroina, enquanto Plant perdeu seu filho para uma doença rara), o Led voltava aos estúdios tentando se adaptar aos novos sons. O uso exagerado de teclados acaba dando um som diferente para as canções do quarteto, e a própria voz de Plant está em um timbre diferente do comum, sem tantos agudos e com algum efeito. Por trás dos teclados, a guitarra de Page acaba sendo encoberta, e o único que ainda toca algo no mesmo estilo é Bonham. O disco começa bem, com a viajante “In the Evening“, repleta de efeitos na guitarra de Page. Essa é a única canção que Page aparece mais, e aqui já percebemos a mudança na voz de Plant. A sequência do álbum peca, principalmente em canções como “South Bound Saurez”, “Fool in the Rain” e “Hot Dog”, que complementam o lado A. Acho que sou o único que não gosta de “Hot Dog”. Ok, não é uma canção ruim, mas para o que o Led já havia feito, é simples demais. O piano e o estilo country não combinaram. As outras duas parecem sobras inacabadas de Houses of the Holy, e de novo, os teclados destacam-se muito mais do que deveriam. O Lado B abre com “Carouselambra“, e finca o pé do Led no  progressivo de vez. Agora, ele já não mais flerta, e sim, arranca as  roupas do progressivo em um sexo animalesco, dividido em três etapas de  uma longa peça, variando com climas orientais, outros mais lentos e  muitas partes intrincadas. A melhor canção do disco, e uma das melhores  do Led. “All My Love” é a balada do disco, com uma linda letra e um belíssimo arranjo, além do solo eterno de Jones nos teclados, e ficou bem como sequência de “Carouselambra”. O álbum encerra-se com “I’m Gonna Crawl”, uma balada que antecipa o que viria a ser a carreira solo de Plant nos anos oitenta. Depois da crueza de Presence, esse é um álbum muito moderno para o meu gosto, sendo o último que deve ser ouvido na minha opinião. O grande destaque do LP (fora “Carouselambra”) era a capa. Sua versão original vinha envolta de um envelope, e dentro, o fã encontrava apenas duas das seis capas desenvolvidas para o mesmo. Uma grande jogada de marketing, que ajudou In Through the Out Door a vender mais do que Presence, e colocou o nome do Led novamente no topo. Mas infelizmente, Bonham faleceu no dia 25 de setembro de 1980, e a maior banda de rock a pisar na Terra encerrava precocemente suas atividades com um álbum que para mim, está abaixo do esperado. 
  Coda [1982]
Coda [1982]
 Como uma despedida aos fãs, Jones, Page e Plant resolveram lançar algumas sobras de estúdio desde o seu início de carreira. Coda acaba sendo um passeio pela discografia do Led Zep, refletindo bem cada momento do grupo. “We’re Gonna Groove“, que abre o LP, é uma paulada raivosa que injustamente ficou de fora do álbum de estreia, e poderia ter ocupado o lugar de “Your Time is Gonna Come”, por exemplo. “Poor Tom”, com sua sonoridade acústica, poderia ter facilmente entrado em III ou em IV, e certamente, ficou de fora por ser “alegre” demais. “I Can’t Quit You Baby” é uma versão diferente da mesma canção que está no álbum de estreia, e não sei por que o grupo colocou essa versão em Coda, deixando de lado por exemplo “Hey Hey What Can I Do“, que acabou saindo como bônus na versão em CD. “Walter’s Walk” é um regresso aos tempos de Houses of the Holy, sendo bem melhor que “Dancing Days” ou “The Crunge”, e que talvez pudesse ter sido melhor trabalhada, apesar  do belo trabalho de baixo e guitarra. “Ozone Baby” é outra que lembra os tempos de Houses of the Holy, e certamente, o maior destaque vai para o baixão retumbante de Jones. “Darlene” é uma prévia do que seria o Led em In Through the Out Door, não trazendo muitos acréscimos na discografia do grupo, e “Bonzo’s Montreux” é uma brincadeira entre Bonham (o Bonzo) e Page, sendo um solo de bateria com participações de um estranho piano elétrico (tocado por Page). Agora, o que é inexplicável é como uma paulada chamada “Wearing and Tearing” não havia aparecido em um álbum oficial do grupo. É pornográfico ouvir essa canção e saber que ela poderia ter estado em In Through the Out Door. A violência dos vocais de Plant, a poderosa batida de Bonham, com o baterista destruindo o bumbo, o riff complicado de Page e Jones, impressionam pela crueza, sendo um belo seguimento à Presence. Mas claro, pela ausência de teclados, fica justificada a ausência de um dos maiores petardos da carreira do grupo, e que graças à Coda, o mundo ficou conhecendo. Somente por isso, Coda já vale o investimento, e no geral, é um álbum muito bom, apesar do sentimento nostálgico que ele deixa ao final de seus sulcos.
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| Led Zeppelin, ao vivo no filme The Song Remains the Same | 
 Depois, o Led se reuniu algumas vezes, mas nunca mais voltou aos estúdios. Por outro lado, coletâneas e álbuns ao vivo tem pipocado regularmente com o passar dos anos. Alguns destaques são as coletâneas Remasters (1990) e Mothership (2007), que apesar de não trazerem novidades, são um bom começo no início do som do Led. Ao vivo, o grupo lançou o ótimo The Song Remains the Same, em 1976, que também virou filme de mesmo nome, enquanto que em 1997, BBC Sessions saciou os fãs que queriam ouvir o Led ao vivo no início da carreira, e How the West Was Won (2003) apresenta o grupo no começo de seu auge, logo após o lançamento de IV, em dois shows nos Estados Unidos durante a turnê de 1972. Uma bela experiência, que complementada pelo DVD Led Zeppelin (2003), encerram o valioso material disponível deste que é um dos meus grupos favoritos, e que eu espero ter conseguido trazer um pouco de minha paixão e da representividade de sua discografia nesse Discografias Comentadas.
Cara…
Mais legal ainda seria um guia de bootlegs…..
A propósito to ouvindo o Earl Court 75 gravado no dia 18 de maio (primeira noite de cinco)
Conhece ????
Abraços
Não só conheço como tenho oscinco mais os dois DVDs (espetaculares)
Abraços
Legal !!!!
Quais são seus shows preferidos em boot ????
Os meus são o Listen to this Eddie de 1977 gravado na primeira noite no LA forum
O audio do show do Royal Albert Hall de 1970 (aquele que depois virou o 1 DVD da caixa do LED)
O show de Southampton de 1973
O Baton Rouge de 1975….versão da mesa de som !
O meu bootleg favortio do Led é o Brutal Artistry, cd triplo com as gravações e ensaios do Physical Graffiti. A caixa Led Outtakes, com 11 CDs, repleta de ensaios, também é uma ótima pedida.
Ao vivo, eu gosto bastante da fase inicial (Surrey 68, Texas POp 69, Bath 1970), mas nada supera a sequência citada no Earls Court. Também tem um show muito bom em Vancouver, 1970, com uma baita versão de We're Gonna Groove, e outro que eu gosto bastante é o Japan Tour de 71.
Depois do Physical, o Page e o Plant já não tocavam mais a mesma coisa
Cara…um bacana de 1973 é o Vibes are Real…tem o show completo em gravação de audiência com qualidade muito boa e o final do show em mesa de som….em excelente qualidade…
Outro de 73 que também vale a pena é o Vienna 16-03-1973 … meso meia de som meso audiência…mas tudo em ótima qualidade e performance….
Sobre os que vc citou só não conheço o Bath 70, Suurey 68 e Japan Your 71….eles são audiência ou mesa de som ???
Valeu
Fabio, o Surrey e o Bath são audiencia, enquanto que o Japan Tour é tirado de um programa de TV q transmitiu o show ao vivo na época, e foi lançado em vinil no japão (caindo depois na versão mp3 para download, que é o que eu consegui)
Vou atras desses q tu citaste,valeu
Abraço
Fabio
depois da uma ouvida nesse botleg. Muito bom!!!
http://www.youtube.com/watch?v=GV6dzGfvxDk&feature=related
Abraço
Led Zeppelin o verdadeiro PAI REI do HEAVY METAL. Mereciam comentários que o incluíssem n posição de pais rei do metal e não mero pró-forma.
Dazed and Confused do Lez 1, na minha opinião foi a criadora do doom metal e que com certeza, devia ser a música de cabeceira do Tony Iommi. Eu diria mais, sem Jimmy Page não existiria Tony Iommi.
O melhor é ouvir Dazed and Confused ainda nos tempos do Yardbirds, e perceber quão John Bonham foi importante para a música. O que o McCarthy fazia na hora do solo do Page nas épocas de Yardbirds é constrangedor …
Bom, eu costumo ouvir com o criador da música mesmo, Jake Holmes. Não fosse ele a gente nem estaria discutindo essa música por aqui. E o Plant, aliás, não acrescentou nada à música.
Acrescentou sim, Marco. Mais groupies enlouquecidas, e mais ferormônios nos palcos (além do Coverdale)
Coverdale, cara que tem cover até no nome. Esse copiou até os caracóis do Plant.
Holmes teve muita sorte do Led Zeppelin ter recriado sua obra.
Também considero Bring It On Home a melhor do Led Zeppelin II, depois vem empatadas Heartbreaker e Living Loving Maid. Considero o melhor trabalho do Led Zeppelin, talvez por ser ainda mais pesado que o também ótimo Led Zeppein IV.
Obrigado pelo comentário, Giggios. Bem vindo ao site e puxe um banco para continuarmos a prosa. Não curto tanto Living loving Maid, e meu top 3 hoje seria Bring it on Home, Heartbreaker e The Lemon Song. Abraços
Muito boa a resenha da discografia. Led Zeppelin é a minha banda favorita, e eu a ouço desde 1988. Concordo com o comentário sobre Achiles Last Stand: é sensacional! E discordo de outros, como que o Led III é melhor que o II, e que Tangerine é uma música “pra cumprir tabela” (acho muito boa). Mas não adianta, gosto é gosto!
Só gostaria de acrescentar que, por tudo que já li, o disco mais vendido do Led é o IV, e que até alguns anos atrás somente o Led e o cantor Country Garth Brooks tinham vendido 4 álbuns com mais de 10 milhões de cópias cada nos EUA.
Grande abraço!
Obrigado Rafael. Opiniões e gostos cada um tem o seu, mas concordamos que Led é uma das maiores bandas de todos os tempos, sem dúvidas!!! Abraços
Amo Led Zeppelin, e tenho toda a discografia em cd’s importados e alguns em vinil, mas se tem um disco dêles que não consigo gostar é o “Physical Graffiti”, acho o som muito “sêco” e “barulhento”, beirando o insuportável. Na minha opinião, a banda deveria ter optado por um bom lp simples, pois tem poucas musicas nesse disco que se salvam, e que eu até tolero.
Eu até tenho o Physical Graffiti em cd, mas só pra completar a coleção, mas raríssimamente eu o ouço, gosto mesmo é dos Led I,II,III e IV.
Uma das raras opiniões sobre o álbum …
Adorei a resenha da banda que me apresentou ao mundo do rock e hoje é a minha segunda banda favorita, perdendo apenas pra Rush. Parabéns pelo ótimo trabalho!
Tenho no entanto uma dúvida, tu escreveste que Physical Graffiti é o álbum mais vendido da carreira do Led, porém se eu não me engano Led Zeppelin IV possui esse posto, inclusive aparecendo nos álbuns mais vendidos de toda a história.
Abraços!
Olá meu caro. Acho que ficou mal entendido mesmo. Ele foi o mais vendido da carreira do Led pela Swan Song. No total, com certeza é o IV. Abraços Oberdan!!
Ah, valeu pelo esclarecimento!!
Ótima resenha, mas tenho impressão que todo mundo tenta dar uma “força” pro Led III. Eu, particularmente, não gosto de nada desse disco, exceto “Since …”
Obrigado meu caro. Poxa, eu não tento dar força não. Penso que é um discaço do início ao fim. Abraços
Discaço do início ao fim ?? Menos camarada, menos, é um disco que parece só ter um lado, pois o lado 2 com Gallows Pole, That’s the Way, Bron-yr-aur-Stump e a chatíssima e cansativa Hats Off To Roy Harper…não desce até hoje, tanto que só escuto um lado desse disco.
Com todo o respeito aos fãs de Physical Grafitti (incluindo o chefão Mairon), acho que o disco duplo do Led Zeppelin sofre do mesmo mal que The Lamb Lies Down on Broadway (Genesis) sofre, aquela coisa de que se o disco fosse lançado em forma de um LP simples, seria algo maravilhoso. Olha só: no lado A, “Custard Pie”, Trampled Under Foot”, “Sick Again” e “In my Time of Dying”; e no lado B, “In the Light”, “Ten Years Gone”, “Wanton Song” e “Kashmir” encerrando dignamente os trabalhos. Em suma, todas essas foram registradas durante as sessões de Physical Grafitti. Já as outras que saíram das sessões dos álbuns anteriores e que só foram registradas neste LP duplo do LZ, pra mim não acrescentam nada a este trabalho e não fariam feio se estivessem registradas em seus discos respectivos lançados anteriormente.
Ômi, num diga uma coisa dessas!
Você quer deixar de fora Houses of the Holy, Bron-Yr Aur, Down by the Sea Side e as adoráveis Boogie with Stu e Black Country Woman,,,
O Igor é polêmico!!