Maravilhas do Mundo Prog: Gerard – 今宵使者は来たりぬ (The Acts of the Apostles) [1985]

Maravilhas do Mundo Prog: Gerard – 今宵使者は来たりぬ (The Acts of the Apostles) [1985]

Por Mairon Machado

Um dos grupos japoneses que melhor expressa o que se convencionou chamar de synth prog é o Gerard. Este grupo foi formado em 1983, por Toshio Egawa (teclados), Yukihiro Fujimura (vocal, guitarras), Masaki Tanimoto (bateria) e Yasumasa Uotani (baixo), sendo o nome de batismo uma homenagem a uma loja de Tóquio especializada em roupas. Egawa é um dos tecladistas mais influentes do rock nipônico, sendo que muitos o consideram a resposta japonesa para Rick Wakeman (Yes). Tendo passado durante a década de 70 por grupos como Rumble, Fromage, Scheherazade e o excelente Novela, acabou construindo uma sólida reputação no país
Foi em uma modificação da formação do Novela que o Gerard nasceu, e não demorou muito para entrar em turnê e lançar  ジェラルド (Gerard), o primeiro LP, na primavera de 1984. As composições alternativas dos sintetizadores, alternando sessões delirantes de mellotron e moog, quase psicodélicas, com piano e guitarra tentando manter o formalismo clássico do rock progressivo, em ritmos bastante incomuns para o estilo, marcaram a estreia do grupo, que apesar das AORanas “狂おしき愛の日々” (“Lasting Memory”) e “リヴェンジ” (“Revenge”), deu sequência ao som característico dos teclados de Egawa, o qual já haviam conquistado o Japão no Novela, com destaque para a bela suíte “神よオルフェのように (ORPHEUS)”.

Gerard em 1985: Yasumasa Uotani, Toshio Egawa, Masaki tanimoto e Yukihiro Fujimura

 

Em 1985, o grupo lançou seu segundo disco. Mais maduros e tentando se afastar do AOR, em 虚実の城 (Empty Lie, Empty Dream) o Gerard deu um gigantesco passo para conquistar o mercado internacional. Tendo uma forte influência do Genesis fase pós-Peter Gabriel (quando o grupo virou um quarteto contando com Phil Collins nos vocais e bateria, Steve Hackett nas guitarras, Mike Rutherford no baixo e guitarras e Tony Banks nos teclados), o quarteto nipônico cômpos o que podemos dizer de álbum clássico do rock progressivo japonês, sendo sua instrumental faixa de abertura uma Godzilla Maravilha Prog.
Egawa e Uotani

 

“今宵使者は来たりぬ (The Acts of the Apostles)” começa com os sintetizadores, fazendo notas perdidas, enquanto o moog surge com o tema introdutório, e então bateria, baixo e vocalizações fazem um tema marcado, para o sintetizador repetir o tema do moog. As vocalizações surgem novamente, e então o piano elétrico fica solando sozinho, fazendo um bonito tema, trazendo bateria e baixo para comandar o solo de guitarra, muito parecido com o timbre da guitarra de Hackett, e com escalas igualmente idênticas. O bonito andamento de piano, baixo e bateria acompanha as complicadas escalas de Fujimura, e a canção muda o tom, com a guitarra alterando a distorção, mais pesada e fazendo um tema marcado, para sintetizadores fazerem acordes longos enquanto o ritmo de baixo e bateria torna-se cadenciado, e o piano elétrico solta notas em cima dos acordes centrais.
A guitarra Hackettiana volta a entrar em ação sobre o mesmo andamento anterior, com Egawa fazendo uma ótima participação, e com Fujimura alterando escalas graves e agudas, além de arpejos e tappings muito bonitos, voltando para o tema cadenciado, onde a distorção da guitarra foi substituída pelo moog, que faz o tema marcado, destacando os longos acordes de teclados, para então voltar a uma imitação de seu primeiro solo, acompanhado pelos teclados, com direito ainda a um momento para Uotani exibir seus dotes no baixo, que encerra essa maravilha nipônica.
Gerard ao vivo
A seqüência de 虚実の城 (Empty Lie, Empty Dream) é um pouco diferente da faixa de abertura, mas muito interessante. Canções como “心の壁 (Wall)”, “叶わぬ夢、そして運命 (Future)” e a própria faixa-título não tem como passar despercebidas, exigindo, com o passar do tempo, audições cada vez mais atentas para essas intrincadas peças compostas pelo quarteto, mas nenhuma delas sendo tão bela e maravilhosa quanto “今宵使者は来たりぬ (The Acts of the Apostles)”, que merece seu resgate e homenagem no Maravilhas do Mundo Prog dessa semana.
Toshio Egawa
Após o lançamento de 虚実の城 (Empty Lie, Empty Dream), a gravadora do grupo, King Record, decidiu não mais patrocinar álbuns de rock progressivo. Egawa montou o grupo Earthshaker, enquanto os demais passaram a participar de projetos paralelos.

Gerard anos 2000. Egawa, Atsushi Hasegawa e Kenichi Fujimoto
Em 1990, Egawa reformou o Gerard, ao lado de Fujimura, Toshimi Nagai (baixo) e Kota Igarashi (bateria), lançando Irony of Fate no mesmo ano. Depois disso, Fujimura saiu do grupo, indo parar no Vienna, e somente em 1994, o Gerard voltaria a entrar em ação novamente,  contando com Masuhiro Goto (bateria), Atsushi Hasegawa (baixo) e Robin Suchy (voz). Essa formação lançou os álbuns The Pendulum (1996, coletânea com canções inéditas) e Pandora’s Box (1997), que mantém a linha synth pop dos dois primeiros álbuns, principalmente a suíte “The Pendulum”. Em 1997, Robin Suchy saiu do grupo, que permanece como um power-trio progressivo muito similar ao UK, tendo lançado mais sete álbuns, sendo o último deles Ring of Eternity, de 2010.

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