Thrashback – Parte III

Thrashback – Parte III
Testament em 2008
Por Leonardo Castro
Complementando os posts anteriores (Parte I e Parte II), publicamos hoje a última parte da matéria sobre as bandas de thrash metal formadas nos anos 80 que estiveram em baixa na década seguinte e voltaram com tudo nos anos 2000:
Testament – The Formation Of Damnation [2008]
Ao contrário da maioria das bandas de thrash metal, o Testament vivia um ótimo momento no fim dos anos 90. Apesar das muitas mudanças, os membros fundadores Eric Peterson e Chuck Billy conseguiram formar um dream team para a gravação do disco The Gathering, com Dave Lombardo (Slayer) na bateria, Steve DiGiorgio (Sadus, Death) no baixo e James Murphy (Death) na guitarra solo. O disco, lançado em 1999, foi muito bem recebido e manteve o nome da banda em alta.
Entretanto, logo após o lançamento do álbum,  James Murphy foi diagnosticado com câncer e se afastou da banda para fazer seu tratamento. O Testament então se reuniu com os ex-membros Alex Skolnick (guitarra) e Greg Christian (baixo), além do baterista John Tempesta (ex-Exodus) para regravar músicas dos seus dois primeiros discos com novos arranjos e tecnologias (veja a resenha deste álbum aqui). Durante a gravação das novas versões, foi a vez de Chuck Billy descobrir que estava com câncer. Após a recuperação deste, a banda voltou a se apresentar ao vivo e a anunciou que estava gravando um novo álbum de inéditas. Ainda assim, as mudanças de formação eram uma constante, e Jon Allen (Sadus), Steve Smyth (ex-Vicious Rumours e Nevermore, atualmente no Forbiddden) e “Metal” Mike Chlasciak (Halford) foram alguns dos que passaram pela banda nesta época. 

Em 2005, os planos para um novo álbum são interrompidos quando a formação original, incluindo o baterista Louie Clemente, se reúne para uma turnê. Como Clemente não tocava bateria há anos, John Tempesta também foi recrutado, e cada um dos bateristas fazia uma parte do show. Este retorno da formação clássica da banda teve um feedabck tão positivo de crítica e público que Skolnick e Christian retornam a banda de forma definitiva, e músicas para um novo disco de estúdio começam a ser compostas.
Em 2008, The Formation of Damnation é finalmente lançado, contando com Billy, Peterson, Skolnick, Christian e o retorno do baterista Paul Bostaph, que esteve na banda por um curto período antes de entrar para o Slayer. E ainda que The Gathering fosse um grande disco, a presença de Alex Skolnick faz toda a diferença no novo lançamento. Seus solos, altamente técnicos e melódicos, são rapidamente reconhecíveis, e mesmo que os outros guitarristas que passaram pela banda tenham sempre feito grandes trabalhos, sua ausência sempre foi sentida pelos fãs. As composições também resgatavam o que o Testament tinha feito de melhor, tendo riffs e melodias marcantes como nos discos The Legacy e The New Order em músicas como “More Than Meets The Eye” e “Dangers Of The Faithless” e todo o peso contido no Low e no The Gathering em outras, como “The Persecuted Won’t Forget” e “Henchmen Ride”. Um retorno destruidor que mostrou que a banda ainda tem muita lenha para queimar, e um novo disco é esperado para este ano.
Artillery – When Death Comes [2008]
Se existe uma banda que deveria ter tido muito mais reconhecimento na cena thrash metal durante o seu auge nos anos 80, essa banda é o Artillery. Suas primeiras demos, lançadas entre 82 e 84, têm o mesmo vigor e força de demos como a clássica No Life Till Leather, do Metallica, e seus dois primeiros discos, Fear of Tomorrow (1985) e Terror Squad (1987), tinham a mesma qualidade de discos como Spreading The Disease (Anthrax) ou Killing Is My Business… (Megadeth), mas nunca chegaram a ter a mesma repercussão. By Inheritance, de 1990, mostrava uma banda mais técnica e melódica, mas com composições pesadas e rápidas, no entanto também falhou em alavancar a carreira da banda. Talvez a localização geográfica da banda, na Dinamarca, tenha colaborado para tal, e a banda nunca conseguiu a exposição que bandas americanas e alemães conseguiram. Com isso, o Artillery encerrou suas atividades em 1991. O vocalista Flemming Rönsdorf chegou a ser convidado para substituir Schmier no Destruction, mas as partes não chegaram a um acordo.
Em 1998, uma coletânea de demos e singles foi lançada sob o nome de Deadly Relics, o que reacendeu o interesse do público na banda. O núcleo formado por Flemming Rönsdorf e pelos irmãos guitarristas Morten e Michael Stützer se reuniu mais uma vez e compôs o disco B.A.C.K., que teve a participação do baterista Per M. Jensen, do The Haunted. O álbum teve boa repercussão, mas a banda decidiu encerrar as atividades mais uma vez.
Em 2007, a gravadora polonesa Metal Mind relançou toda a discografia da banda em um box set, entitulado Through the Years. Como boa parte do material se encontrava fora de catálogo há alguns anos, a receptividade foi enorme, o que motivou os irmãos a reformar a banda mais uma vez. Com a recusa de Flemming Rönsdorf em retornar, muitos fãs ficaram temerosos sobre como a banda iria soar, uma vez que a voz do ex-vocalista é única, com um timbre incomum, agressivo e melódico ao mesmo tempo. O anúncio de Søren Nico Adamsen, vindo da banda de metal melódico Crystal Eyes aumentou os temores, mas o lançamento do CD e DVD ao vivo One Foot in the Grave, the Other One in the Thrash tranqüilizou a todos. O novo vocalista podia não ter o alcance e a potência do anterior, mas se encaixava bem ao som da banda, que continuava  fantástica ao vivo.
As poucas dúvidas que restavam foram dizimadas com o lançamento de When Death Comes, em 2009. As novas composições seguiam a linha mais técnica e melódica do By Inheritance, mas com a energia dos dois primeiros discos. E a performance de Søren Adamsen também era arrebatadora. Tudo isso, somado aos solos e riffs insanos dos irmãos Stützer, fez do disco um dos melhores lançamentos de 2009. Destaque para os riffs da faixa-título e de “10.00 Devils“, a pegada de “Upon My Cross I Crawl” e para a sensacional “Uniform”, cheia de influências NWOBHM.
A banda está prestes a lançar um novo disco, My Blood, que se seguir a linha deste When Death Comes, tem tudo para ser um dos melhores de 2011.
 
Heathen – The Evolution Of Chaos [2009]
A mais surpreendente e inesperada volta à ativa de todas as bandas de thrash metal deve ter sido a do Heathen. Apesar de ter lançado dois excelentes álbums, Breaking the Silence, em 1987, e Victims of Deception, em 1991, pouco se ouviu falar da mesma após sua dissolução, em 1992, até 2004.
Neste ano, a banda se reuniu para um show no festival Thrash of the Titans, organizado para angariar fundos para o tratamento de Chuck Billy, do Testament, e Chuck Schuldiner, do Death, ambos sofrendo de câncer na época. Este festival, aliás, serviu de pontapé inicial para o retorno de várias bandas de thrash metal que estavam inativas, como o Death Angel, Laaz Rockit, Forbidden e o próprio Heathen. Após o festival, a banda ameaçou um retorno, lançando Recovered em 2005, uma coletânea de faixas demo e covers não lançados oficialmente até então. Entretanto, no mesmo ano de 2005 Lee Altus é anunciado como novo guitarrista do Exodus, substuindo Rick Hunolt. Apesar do Heathen continuar ativa e com Altus como líder e principal compositor, os planos para um novo disco de inéditas foram adiados devido aos compromissos do guitarrista com sua nova banda.
Assim, no fim de 2009, é anunciado o lançamento de The Evolution of Chaos, o novo disco da banda. E para quem esperava algo mais brutal e agressivo, baseado nos discos que o Exodus lançou com Lee Altus na guitarra, o disco foi uma surpresa. Extremamente técnico, o disco apresenta riffs sensacionais, muito melhores que os apresentados nos últimos discos da banda de Gary Holt. As músicas também tem uma sonoridade mais épica, e assim como Victims of Deception, o disco foi comparado ao And Justice For All…, do Metallica. Outro destaque positivo do disco é a performance do vocalista David R. White, que com sua voz aguda e limpa dá muita personalidade à banda.
Os principais destaques do disco são as faixas “Dying Season”, “Control By Chaos” e a longa “No Stone Unturned”, mas o nível é elevado em todas as composições do disco. Definitivamente, o melhor disco da banda e um dos melhores discos de thrash metal da década!
Sacrifice – The Ones I Condemn [2009]
Ainda que contasse com excelentes bandas, a cena thrash metal do Canadá nunca teve a mesma repercussão que a americana ou a alemã. Apesar da proximidade com os Estados Unidos e do sucesso do Anvil no início dos anos 80, poucas bandas conseguiram uma maior exposição ao longo da década, entre elas o Voivod e o Annihilator.
Apesar de hoje em dia ser considerado um clássico, o primeiro disco do Sacrifice, Torment in Fire, trazia pouca inovação, e mostrava uma banda muito influenciada pelo Slayer do início de carreira. Entretanto, os dois discos seguintes, Forward to Termination e Soldiers of Misfortune mostraram um amadurecimento enorme, e traziam um som muito mais original, técnico e com personalidade. Apesar do peso continuar lá, os riffs de Rob Urbinati e Joe Rico eram mais complexos e intrincados, e o baterista Gus Pynn criava levadas extremamente originais e empolgantes. O vocal de Rob Urbinati também era incomum, meio gritado, mas não gutural, o que deixava o som do Sacrifice ainda mais original A banda ainda lançaria mais um disco, o ótimo Apocalypse Inside, em 1993, e logo em seguida se separaria.
No início dos anos 2000, todos os discos da banda se encontravam fora de catálogo, e atingiam preços astronômicos em sites como o Ebay. Além disso, diversos bootlegs com demos e apresentações ao vivo apareciam nas lojas, e se tornavam items disputadíssimos entre os fãs da banda. Devido a essa procura, em 2005 a banda relançou seus três primeiros discos pela gravadora brasileira Marquee Records, em edições especiais duplas, contendo faixas demo e apresentações ao vivo, além de um grande trabalho gráfico.
Dada a boa repercussão destes lançamentos, Rob Urbinati convence os companheiros a reativarem a banda e a gravar material novo. O resultado foi The Ones I Condemn, lançado em 2009 pela mesma Marquee Records. O disco remete a fase clássica da banda, e soa como uma mistura dos riffs intrincados do Heathen ou Metallica com a agressividade do Sadus, e é mais um álbum onde é difícil apontar destaques, dada a qualidade de todas as faixas. A produção também é ótima, e faz justiça às excelentes composições sem soar extremamente digital ou moderna, nem tampouco demasiadamente old school. “The Ones I Condemn”, “The Great Wall” e “Hiroshima” sãos os destaques imediatos, mas como dito antes, o disco inteiro é maravilhoso e foi apontado por muitos críticos como o melhor disco de “comeback” de uma banda de thrash metal. De bônus, as primeiras prensagens ainda apresentam versões gravadas em 2007 para as clássicas “The Entity” e “Burning At The Stake”.
Em 2010, a banda lançou um single split com a banda Propagandi, onde gravou um cover dos compatriotas do Rush, “Anthem”, e continuam fazendo shows para divulgar o último álbum.

2 comentários sobre “Thrashback – Parte III

  1. Bom, quem já leu meu texto anterior sobre o Testament sabe que a tenho como uma de minhas favoritas em se tratando de thrash metal, Top 5 sem dúvida, então fica até repetitivo querer discorrer mais, e "The Formation of Damnation" não escapa à regra. Quanto às outras, praticamente estou sendo apresentado agora, gostei do Artillery e do Sacrifice, mas o que ouvi do Heathen foi a surpresa mais positiva, músicas trabalhadas entremeadas por grandes riffs, mas com melodia, sem soarem cansativas, como um tal de Metallica costumava fazer com grande facilidade nos anos 80.

  2. Diogo, procura do disco anterior do Heathen, Victims Of Deception, de 91. Eu gosto mais do ultimo, mas tambem é excelente!

    Como ja disse antes, esse thrash mais "melodico" e com vocais limpos é provavelmente meu estilo de musica favorito.

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