Thrashback – Parte I

Thrashback – Parte I
Por Leonardo Castro
Depois da gloriosa década de oitenta, as bandas de thrash metal passaram por maus momentos no fim dos anos 90. Apesar do enorme sucesso de discos como Black Album (Metallica), Seasons in the Abyss (Slayer) e Countdown To Extinction (Megadeth) no começo da década, a partir da segunda metade da mesma a grande maioria das bandas do estilo passava por situações difíceis, com inúmeras mudanças de formação, flertes com outros estilos e, principalmente, uma queda de qualidade drástica em seus discos.
Outros estilos, como o black metal e o metal melódico, explodiram nesta época, relegando o thrash a um certo ostracismo. Mesmo dentro do estilo, bandas mais novas e com uma sonoridade mais moderna, como o Pantera, Sepultura e Machine Head, assumiram a dianteira. A exceção à regra era, obviamente, o Metallica, que vivia dias de extrema popularidade no mainstream, apesar da grande rejeição que seus discos sofriam junto aos seus fãs mais antigos.
Felizmente, a partir da virada do milênio, as mesmas bandas que vinham lançando discos medíocres pareceram ter acordado, colocando no mercado álbuns de qualidade indiscutível, e em alguns casos até melhores dos que os lançados no auge do estilo. Assim sendo, separei os principais discos lançados na última década por bandas de thrash metal surgidas nos anos 80, para que possamos compará-los aos clássicos lançados há mais de 20 anos. Os 4 primeiros, por ordem cronológica, são:
Annihilator – Carnival Diablos
Annihilator – Carnival Diablos [2001]
No fim dos anos 90, o Annihilator estava despedaçado. Depois de tomar a cena thrash de assalto com seus 2 primeiros discos, a banda foi sofrendo inúmeras mudanças de formação e perdendo popularidade, até o guitarrista e fundador Jeff Waters gravar sozinho o péssimo Remains, em 97. Após a reunião da formação original que durou apenas 1 disco, Criteria For a Black Widow, de 1999, o futuro da banda parecia ainda pior.
Mas foi aí que Joe Comeau, ex-vocalista do Liege Lord e então guitarrista do Overkill, foi convocado para assumir os vocais, e este sensacional Carnival Diablos foi gravado, mostrando uma banda totalmente revigorada, pesada e melódica como nos 2 primeiros discos. As rápidas “Denied” e “Battered”, a cadenciada “Carnival Diablos”, a maideniana “Epic Of War” (que tem uma passagem com inegável influencia de Bruce Dickinson no vocal do Comeau) e a homenagem ao AC/DC, “Shallow Grave”, são os destaques desse disco essencial, que ressuscitou a carreira da banda. Pena que o vocalista gravaria apenas mais um disco com eles, e desde então a banda tem lançado discos bons e outros nem tanto, mas nenhum com a qualidade deste Carnival Diablos.
Destruction – The Antichrist
Destruction – The Antichrist [2001]
Depois de ser uma das bandas do Big Three do thrash alemão, o Destruction passou boa parte dos anos 90 no ostracismo, com uma formação que só tinha o guitarrista Mike do line-up original. Em 1999, foi anunciada a volta do baixista/vocalista Schmier à banda, além da adição de um novo baterista, e também que a banda voltaria a praticar o thrash metal que a fez famosa. Lançaram All Hell Breaks Loose no ano seguinte, que apesar de ser um bom disco e ter um “hit”, “The Butcher Strikes Back”, não podia ser comparado aos clássicos que a banda havia gravado no passado.
Eis que em 2001 eles lançam este fabuloso The Antichrist, que já começa com dois novos hinos para a banda, “Thrash Till Death” e “Nailed To The Cross”, ambas com riffs insanos de Mike, que lembram os melhores momentos da banda, o vocal típico do Schmier e uma produção perfeita para o estilo, conduzida por Peter Tatgren. O disco segue em alta até o fim, passando por pérolas como a rápida “Dictators Of Cruelty”, a cadenciada “Bullets From Hell” e concluindo com a regravação da clássica “Curse The Gods”. Depois deste disco, a banda continuou lançando bons álbuns, mantendo seu nome em alta e recuperando o espaço perdido no fim da década passada.
Kreator – Violent Revolution
Kreator – Violent Revolution [2001]
Entre 1992 e 2000, o Kreator sofreu diversas mudanças, tanto de formação quanto em seu som. Renewal e Cause For Conflict apostaram em uma mistura de thrash com industrial, não sendo bem aceitos por boa parte dos fãs. Os discos seguintes, Outcast e Endorama, flertavam com o gótico, e agradaram ainda menos. A banda que outrora era apontada como a principal do thrash alemão, perdia espaço e popularidade a cada lançamento.
Mas a capa e a primeira música de Violent Revolution, lançado em 2001, já deixavam claras as intenções da banda com este álbum: “Reconquering the Throne” mostrava um thrash metal vigoroso, como o praticado no disco Extreme Aggressions, e servia como uma declaração que o antigo Kreator estava de volta. A capa, por sua vez, fazia clara referência ao clássico Coma Of Souls. A faixa título demonstra o excelente trabalho de guitarras do finlandês Sami Yli-Sirnio, que deixou o som da banda um pouco mais melódico que o costume, mostrando um pouco de influência da cena death metal melódico da Suécia. Estas duas primeiras faixas são os destaques do disco, que continua com a mistura de agressividade e melodia até o fim.
Após este disco, a banda lançou um sensacional DVD ao vivo e mais dois discos de estúdio, ambos excelentes, levando-os literalmente a reconquistar o trono do thrash metal alemão.
Exodus- Tempo Of The Damned
Exodus – Tempo of the Damned [2004]
Quando o Exodus voltou à ativa com o vocalista Paul Baloff, em 1997, todos pensavam que a banda voltaria com tudo. Depois de alguns lançamentos irregulares entre 1990 e 1992, o retorno do vocalista original gerou um interesse enorme na banda, ratificado pelo lançamento do seminal ao vivo Another Lesson In Violence. Entretanto, os anos foram passando e nada da banda lançar material inédito. Os integrantes passavam por diversos problemas com drogas, e a situação só piorou com o falecimento de Baloff em 2002.
Quando ninguém esperava mais nada, a banda ressurge em 2004, com o segundo vocalista Steve Zetro Souza de volta e com o lançamento de Tempo of the Damned. E que lançamento! Um dos melhores discos de thrash do novo milênio e que se equipara em qualidade aos principais álbuns da banda, Bonded By Blood (1985) e Fabulous Disaster (1988). As duas primeiras músicas, “Scar Spangled Banner” e “War Is My Sheppard” têm riffs destruidores, e mostram um vocal um pouco mais agressivo que outrora. “Blacklist” é um pouco mais cadenciada, mas tem um dos melhores refrões da história da banda e se tornou uma das favoritas dos fãs ao vivo. “Sealed With A Fist” lembra a clássica “Toxic Waltz”, e tem outro refrão matador. Há ainda a regravação de “Impaler”, presente em uma das primeiras demos da banda.
Durante a turnê de promoção do disco, mais precisamente minutos antes da banda embarcar para o Brasil, Zetro decidiu abandonar a banda para passar mais tempo com a família. A banda recrutou um novo vocalista e lançou mais 3 discos de estúdio desde então, onde tem apostado em músicas mais longas e épicas, sem repetir infelizmente o resultado espetacular deste disco.
E vocês, o que acham destes discos? Se comparam aos lançados pelos mesmos grupos na década de ouro do estilo?

11 comentários sobre “Thrashback – Parte I

  1. Infelizmente eu sou bitolado demais no thrash. Slayer, Possessed e Venom formam uma santíssima trindade que eu, muito burro e idiota, não consigo ouvir outras bandas e não pensar "o slayer ou o venom já fez isso em tal disco".

    É erro meu, eu sei, mas já faz 22 anos que ouço thrash, sou fã-zaço, mas nunca achei nada igual a santíssima trindade acima.

    Abraços

  2. Mairon,

    Cara, existe muita coisa diferente dessas tres bandas, principalmente as bandas mais "melodicas" como o proprio Annihilator, Anthrax, Death Angel, Heathen… Eu gosto mais desse thrash mais "tecnico" do que do lado mais extremo do estilo.

    E concordo com o Ricardo, apesar de inovador e extremo, nao consideraria o Venom como thrash. Um proto-thrash, talvez. Mas, para mim, só em 83, com os discos do Metallica e Slayer que o thrash nasceu.

  3. Me perdoem, mas eu acho o At War with satan um disco thrash. A faixa titulo até considero um prog-thrash. Eu gosto de Anthrax, Leonardo. A fase com o Belladona é muito bom. Apesar da maioria nao gostar, eu acho o State of Euphoria e o Persistence of Time dois baita discos. Tb tenho apreciação por Hellhammer, carcass,, morbid angel e annihilator, só que sempre q eu ouço uma dessas bandas, eu acabou ouvindo um disco da ST depois.

  4. Mas Mairon, uma coisa é você achar, outra coisa é o disco ser de verdade o que você pensa que ele é. E, no caso do At War with Satan, ele está longe disso.

    Sei lá, daria para classificar ele como speed metal ou até mesmo MWOBHM, mas thrash metal não rola …

  5. Eu sei disso cadão. Eu não tenho opinião formada sobre o que o Venom é. As vezes até me parece uma banda punk. O At War eu acho sujo e pesado demais, e estou ciente que realmente estou enganado na classificação de thrash metal para ele, mas vai dizer isso para o coração.

  6. O Shovel Headed comecou com esse negocio de só ter musicas com 6, 7 minutos, e eu acho que o Exodus se dá melhor com músicas mais curtas. Além disso, apesar de hoje em dia eu gostar do Rob Dukes, a performance dele nesse disco não é muito boa, lembra muito o Phil Anselmo, o que nao combina com o Exodus. Dos mais recentes, depois do Tempo o meu favorito é o último, Exhibition B.

  7. Consigo apreciar as diversas correntes do thrash… desde o Testament, com seus discos mais melódicos como "The Ritual" e "Souls of Black" ao Dark Angel com um disco extremo como "Darkness Descends, passando pelos baluartes Metallica, Megadeth, Slayer, pela alemãozada, da qual o Kreator é meu favorito, e mais uma penca de bandas menos conhecidas.

    Acho ótimo que as boas bandas de thrash tenham voltado com força nessa última década, inclusive mostrando pra galerinha do pony mvp branco e da jaqueta com patches que não basta repetir o passado. As melhores estão atualizando seu som, com mais técnica e produções mais caprichadas. Para mim, quem mais se destacou nessa década que passou foi o Kreator, que lançou só discos muito bons, sem dever nada aos antigos clássicos.

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