Cinco Discos Para Conhecer: Templos do Rock – Cobo Hall

Por Marcello Zapelini
Como todo fã do Kiss sabe muito bem, Detroit é a cidade do rock. O Cobo Hall, ou Cobo Arena, ou ainda Cobo Center, ou, como é conhecido hoje, Huntington Place (assim chamado por ter sido concedido ao grupo financeiro Huntington), é o local mais conhecido da cidade para shows e, como veremos, foi palco de muita coisa boa. Inaugurado em 1960, reformado duas vezes em 1989 e 2012, e ampliado em 2015, o Cobo é um centro de convenções cujo nome original homenageava um ex-prefeito de Detroit, Albert Cobo, e hoje comporta 4500 pessoas no salão principal, mas originalmente permitia um público de 12000. A diminuição se refere ao fato de que a última reforma o tornou um centro dotado de múltiplos espaços, com a arena de eventos reduzida em relação à original.
Albert Cobo queria um centro de convenções que ajudasse a alavancar Detroit como destino de turismo de eventos, mas morreu antes dele ser construído. O local é bonito, às margens do rio Detroit, que acabaria sendo revitalizado após a construção do centro. Naturalmente, sendo a cidade a sede de várias montadoras de automóveis, convenções automobilísticas se tornaram comuns lá. O espaço logo passaria a ser usado para shows, e, até onde pude apurar, Hank Williams Jr. (filho do grande astro da música country) seria o primeiro a gravar um álbum ao vivo lá, em 1969 (pelo menos foi o disco mais antigo que encontrei que traz o nome Cobo com destaque).
Selecionar os cinco discos que representam este templo do rock se mostrou mais difícil do que os anteriores, pois há vários álbuns ao vivo gravados lá, mas poucos exclusivamente registrados no Cobo por artistas que conheço e aprecio. Assim, tive que quebrar minha regra e incluir álbuns que têm apenas algumas músicas gravadas na arena mais conhecida de Detroit, mas acho que ninguém vai contestar as escolhas… Um detalhe interessante é a enorme quantidade de discos piratas registrados nesse templo do rock. Rolling Stones, Led Zeppelin, Frank Zappa, Prince, Ted Nugent, Ozzy, Bruce Springsteen e o próprio Kiss, que aparece na nossa listinha, estão entre os múltiplos artistas que tiveram seus shows devidamente pirateados para a alegria dos fanáticos. Mas fazer uma lista com bootlegs, convenhamos, é uma sacanagem, pois dos que tive a oportunidade de ouvir, a qualidade sonora não é nenhuma maravilha. Portanto, hoje teremos álbuns que foram majoritariamente (em vez de inteiramente) gravados no Cobo em Detroit, e mais dois de bônus.
Kiss – Alive! (1975)
Montado a partir de shows registrados no Cobo Arena em maio, no Cleveland Music Hall em junho, no RKO Orpheum Theatre de Davenport e no Wildwood Convention Hall em julho de 1975, “Alive!” é o tipo do disco que mesmo quem não gosta do Kiss acha bom. Os três primeiros discos da banda tinham vendido bem menos do que a gravadora esperava, mas os shows eram bastante elogiados e lotavam. Assim, um disco ao vivo foi a escolha natural para catapultar o Kiss nas paradas. O problema é que, com todos os truques visuais e a movimentação frenética dos músicos no palco, havia um monte de falhas e erros nas gravações, e o resultado é que o produtor Eddie Kramer foi obrigado a colocar a banda em estúdio para fazer overdubs. Até o som da plateia entre as músicas foi retocado: Kramer escolheu os trechos em que o público estava mais histérico. No fim das contas, há quem diga que só a bateria realmente foi gravada ao vivo! E quem se importa com isso? 100% ao vivo é só para quem esteve no show, a única coisa que chega perto disso é o bootleg. Mesmo muito retocado, “Alive!” é uma verdadeira aula de rock do primeiro ao último minuto (a única coisa que eu dispensaria de bom grado seria o solo de Peter Criss, que nunca me chamou muito a atenção como baterista); com músicas como “Cold Gin”, “Deuce”, “Hotter Than Hell”, “Nothin’ to Loose”, “Black Diamond” e todo o lado 4 do vinil original, o álbum traz uma banda chegando no auge da forma e finalmente fazendo o sucesso que desejava, pois vendeu muito bem e passou 110 semanas na parada americana. Claro, como os caras do Kiss (e seu manager, óbvio) eram muito bons de marketing, “Alive!” trazia um mimo especial, um livreto recheado de fotos e notas manuscritas pelos quatro músicos. Lembro-me que o LP brasileiro dos anos 80, primeiro que ouvi, trazia os dois discos no mesmo envelope, sem capa gatefold e sem livreto; posteriormente, apesar de ter pouco mais de 78 minutos, o CD saiu duplo, como o disco original em vinil. De todo modo, nenhuma coleção de álbuns ao vivo de rock está completa sem “Alive!” – e olha que quem está dizendo isso não é um fã do Kiss.
Ace Frehley (guitarra, vocais), Gene Simmons (baixo, vocais), Paul Stanley (guitarra, vocais), Peter Criss (bateria, vocais)
- Deuce
- Strutter
- Got To Choose
- Hotter Than Hell
- Firehouse
- Nothin’ To Lose
- C’mon And Love Me
- Parasite
- She
- Watchin’ You
- 100,000 Years
- Black Diamond
- Rock Bottom
- Cold Gin
- Rock And Roll All Nite
- Let Me Go, Rock ‘N Roll
Bob Seger And The Silver Bullet Band – Live Bullet(1976)
Único disco de nossa lista gravado na íntegra no Cobo Hall, Live Bullet era a última cartada de Bob Seger; se o disco fracassasse, ele iria abandonar a música. Depois de dez anos gravando discos de pouco sucesso, com apenas um hit regional, Seger estava cansado de nadar contra a corrente, e decidiu gravar um álbum ao vivo com sua Silver Bullet Band (uma das melhores bandas de apoio da história, perdendo apenas para a E-Street Band de Bruce Springsteen e os Heartbreakers de Tom Petty, na minha opinião), e escolheu fazê-lo em Detroit (registrou dois shows, em 4 e 5 de setembro de 1975), em que seus shows sempre lotavam. Deu certo! “Live Bullet” é um disco fenomenal, com repertório impecável e uma banda afiada acompanhando um cantor que estava com a faca nos dentes, e Seger entrou no radar do público americano. Mesclando clássicos como “Nutbush City Limits”, “Let it Rock”, “Bo Diddley” e “I’ve Been Working” com originais de Seger como “Turn the Page”, “Beautiful Loser”, “Ramblin’ Gamblin’ Man e “Heavy Music”, “Live Bullet” é uma festa do início ao fim, pois a sintonia entre os músicos e o público é impressionante, e o DJ que anuncia os trabalhos agita bastante a plateia quando preciso. Bob Seger (vocal, guitarra e piano) e a Silver Bullet Band (Drew Abbot, guitarra; Alto Reed, saxes; Robyn Robbins, teclados; Chris Campbell, baixo; Charlie Allen Martin, bateria) faziam entre 250 e 300 shows por ano nessa época, então sabiam como fazer o público reagir, pular, gritar e dançar, energizando os músicos de volta. E Seger, logo no começo, ganha a plateia dizendo que tinha lido que o público de Detroit tinha sido considerado um dos melhores do mundo para um show, coisa que ele já sabia há dez anos… Depois dessa, era só correr para o abraço. Live Bullet é frequentemente citado nas listas dos melhores discos ao vivo da história. É pena que é um duplo curtinho, com cerca de 70 minutos de música (uma reedição em CD de 2011 acrescentou apenas uma bonus track), e que a Capitol nunca tenha lançado mais material dessa época. Em seguida, “Night Moves” iria consolidar o sucesso de Bob, que continuaria até os anos 80, emplacando sobretudo baladas agradáveis nas paradas; quem quer ouvir o rocker desabalado que ele era não pode deixar Live Bullet de lado. Gravar no Cobo foi algo marcante para Seger, pois ele e a Banda da Bala de Prata registraram parte de seu Nine Tonight (1981) lá.
Bob Seger (vocal, guitarra e piano), Drew Abbot (guitarra); Alto Reed (saxofone), Robyn Robbins (teclados), Chris Campbell (baixo) e Charlie Allen Martin (bateria)
- Nutbush City Limits
- Travelin’ Man
- Beautiful Loser
- Jody Girl
- I’ve Been Working
- Turn The Page
- U.M.C.
- Bo Diddley
- Ramblin’ Gamblin’ Man
- Heavy Music
- Katmandu
- Lookin’ Back
- Get Out Of Denver
- Let It Rock
The J. Geils Band – Blow Your Face Out (1976)
A J. Geils Band vinha desde o começo dos anos 70 percorrendo os EUA com sua mescla de rock’n’roll, rhythm & blues, soul e blues. Formado por Peter Wolf (vocal), um ex-DJ que compensava a voz pouco marcante com um carisma fenomenal, Seth Justman (teclados/vocal), Magic Dick (harmônica), Danny Klein (baixo), Stephen Jo Bladd (bateria/vocal) e pelo guitarrista que emprestou seu nome, J. (John) Geils, o grupo de Boston já tinha seis discos de estúdio e um ao vivo (Live Full House, também gravado em Detroit) quando registrou dois shows (um no Boston Garden e outro no Cobo Hall) em novembro de 1975 para este álbum duplo. Em 1976, a J. Geils Band tinha vivido dias melhores, pois depois de ter atingido o 10º lugar com Bloodshot, de 1973, os discos seguintes venderam cada vez menos. Como o grupo tinha fama de ser melhor ao vivo do que em estúdio, um segundo live parecia ser a escolha natural, ainda que não tenha sido aquilo tudo nas paradas (40º lugar). Mas do início com “Southside Shuffle” até o final com “Give it to Me”, o álbum é uma sucessão frenética de rock e rhythm & blues, interpretados por músicos muito bons que jogavam para o time, sem abrir muito espaço para solos extensos ou voos instrumentais. As versões para “Sno-Cone”, “Love-Itis”, “Raise Your Hand” e “Musta Get Lost” são boas provas da capacidade deste grupo quase esquecido. A J. Geils Band faria grande sucesso em 1981 com o álbum Freeze Frame (que chegou ao 5º lugar nos EUA, puxado pela faixa-título e por “Centerfold”), cuja turnê de lançamento foi imortalizada em Showtime (que, curiosamente, também foi gravado em Detroit como os dois anteriores), mas logo depois sofreria um golpe quase fatal com a saída de Peter Wolf. Justman e Bladd assumiram os vocais e o grupo ainda tentou continuar até terminar em 1985, armando alguns retornos nos anos subsequentes até acabar definitivamente em 2015 – curiosamente, sem J. Geils, expulso do grupo em 2012 (faleceria em 2017). Blow Your Face Out é uma boa representação do potencial do grupo ao vivo e serve como uma boa introdução ao seu trabalho nos anos 70.
John Geils (guitarras), Peter Wolf (vocais), Seth Justman (teclados, vocal), Magic Dick (harmônica), Danny Klein (baixo), Stephen Jo Bladd (bateria, vocal)
- Southside Shuffle
- Back To Get Ya
- Shoot Your Shot
- Musta Got Lost
- Where Did Our Love Go
- Truck Drivin’ Man
- Love-itis
- Intro (Lookin’ For A Love)
- (Ain’t Nothin’ But A) Houseparty
- So Sharp
- Detroit Breakdown
- Chimes
- Sno-Cone
- Wait
- Raise Your Hand
- Start All Over
- Give It To Me
Yes – Yesshows (1980)
O segundo álbum ao vivo oficial do Yes saiu em 1980, um ano depois de ter sido preparado por Chris Squire – e engavetado por conta das discussões entre os músicos, que discordavam da escolha de repertorio feita pelo baixista. Assim, quando Yesshows saiu, o Yes estava em turnê promovendo Drama, e com isso apenas Squire, Steve Howe e Alan White apareciam simultaneamente nos shows contemporâneos e no álbum duplo. As sete músicas que o compõem foram registradas em cinco concertos diferentes (gravados entre 1976 e 78), mas a maior parte do álbum (cerca de 2/3 da duração total) saiu de uma apresentação no Cobo Hall em 1976, ainda com Patrick Moraz nos teclados (as outras músicas trazem Rick Wakeman): as épicas “Ritual” (dividida em duas partes para caber no vinil) e “The Gates of Delirium”, e por isso Yesshows merece ser lembrado nessa seção. As versões para os dois épicos, um de Tales from Topographic Oceans e o outro de seu sucessor Relayer, são indispensáveis para os fãs da banda, e tornam este disco uma adição valiosa ao catálogo do Yes, pois gravações ao vivo com Patrick Moraz são relativamente raras. As outras músicas (com destaque para as versões de composições lançadas em Going for the One), que trazem Wakeman, são mais curtas e sucintas, mas não deixam o nível cair. A decepção fica pelo aspecto visual, pois a parte interna da capa, infelizmente, traz apenas quatro fotos, que foram tiradas em algum show da turnê de 1978-79, facilmente reconhecível por causa do palco circular. É uma pena que a Rhino, que tem lançado boxes dos principais discos de estúdio do Yes, ainda não tenha cogitado o lançamento de uma box set contendo os shows completos de onde foram retiradas as músicas desse disco. A incrível musicalidade dos integrantes do Yes transborda a cada música, mas para mim é necessário destacar o trabalho fantástico de Moraz, que não deixa nada a dever a Wakeman ao revisitar “Ritual”, e de Jon Anderson, que arrepia no segmento “Soon” de The Gates of Delirium, acompanhado pela pedal steel guitar de Howe e o mellotron pilotado pelo tecladista suíço. Yesshows foi meu primeiro disco do Yes, e até hoje é um dos que mais frequentam meu CD player quando quero ouvir os ases do prog rock.
Steve Howe (guitarra, violões, vozes, pedal steel guitar), Jon Anderson (vocais, violão, percussão), Chris Squire (baixo, vocais, percussão), Patrick Moraz (teclados, mellotron, sintetizadores em 4, 6 e 7), Rick Wakeman (teclados em 1, 2, 3, 5 e 8), Alan White (bateria, percussão)
- Parallels
- Time And A Word
- Going For The One
- The Gates Of Delirium
- Don’t Kill The Whale
- Ritual (Part 1)
- Ritual (Part 2)
- Wonderous Stories
Journey – Captured (1981)
No começo dos anos 80, o Journey tinha alcançado o sucesso que sonhava quando Departure chegou ao 8º lugar na Billboard – e iria ainda mais longe, pois Escape, lançado em 1981, lideraria essa parada. Com Steve Perry (vocal), Neal Schon (guitarra), Ross Valory (baixo), Steve Smith (bateria) e Gregg Rollie (teclados/vocal), o grupo estava quase com sua formação clássica (só faltou Jonathan Cain, que entrou pouco depois da gravação dos shows para este disco, que marcou a despedida do membro fundador Rollie), e decidiu comemorar o sucesso com um álbum ao vivo. Captured traz 16 músicas ao vivo, dez das quais registradas no Cobo Arena (as demais vieram de shows em Montreal e em Tokyo), mais uma inédita gravada em estúdio; três shows dos 105 que o grupo fez em 1980. O Journey já tinha seis discos de estúdio (mais a obscura trilha sonora do filme japonês Dream, After Dream), mas o repertório de Captured se concentrou no material mais recente – e mais comercial – do grupo. Músicas da fase inicial, mais progressiva, até foram tocadas nos shows originais, mas não foram selecionadas para o álbum final. Assim, tem-se material registrado entre 1978 e 1980, com cinco músicas de cada álbum com Perry no vocal (Infinity, Evolution e Departure), com destaque para as ótimas versões de “Wheel in the Sky”, “Lovin’ Touchin’ Squeezin’” (minha música favorita da banda, aliás), “Anyway You Want It”, mais solos de Neal Schon e Steve Smith. Há também uma música inédita, “Dixie Highway”. Captured põe em destaque os pontos fortes do Journey, ou seja, a habilidade individual dos músicos, os bons arranjos vocais capitaneados pela poderosa voz de Steve Perry, a capacidade de escrever melodias atraentes e os refrões que convidam a cantar junto, e, com boa qualidade de gravação, é essencial para os fãs da banda (até porque foi o único álbum ao vivo oficial por um bom tempo), mas não vai fazer ninguém mudar de ideia se eventualmente não gostar do grupo. Um detalhe curioso é que o disco é dedicado a Bon Scott, pois o AC/DC abrira os shows do Journey nos EUA em 1979 e os músicos se tornaram amigos. Ainda em 1981, já com Jonathan Cain nos teclados, o Journey lançaria Escape, que explodiria comercialmente, e faria mais de 100 shows novamente – no fim do ano eles seriam o segundo nome no cartaz da American Tour 1981 dos Stones (George Thorogood, Journey e Rolling Stones no mesmo show?! Inveja de quem assistiu). Essa turnê também foi documentada em CD e vídeo, em show gravado em Houston.
Steve Perry (vocais), Neal Schon (guitarra), Ross Valory (baixo), Steve Smith (bateria) e Gregg Rollie (teclados, vocal)
- Majestic
- Where Were You
- Just The Same Way
- Line Of Fire
- Lights
- Stay Awhile
- Too Late
- Dixie Highway
- Feeling That Way
- Anytime
- Do You Recall
- Walks Like A Lady
- La Do Da
- Lovin’, Touchin’, Squeezin’
- Wheel In The Sky
- Any Way You Want It
- The Party’s Over (Hopelessly In Love)
Bonus Tracks
A seleção de bônus para este Templos do Rock seguiu um critério simples, o fato de ser formada por lançamentos “póstumos”. Dentre eles, um integralmente gravado no Cobo pelo The Doors em sua última turnê com Jim, e uma compilação de gravações ao vivo do Grand Funk Railroad no ano crucial para sua carreira de 1971. Um lançamento interessante que pensei em comentar aqui é o vídeo da turnê do álbum Animalize, do Kiss, que poderia ter entrado aqui, mas confesso que só assisti uma vez, na época em que foi lançado em VHS (santo Deus, estou velho mesmo). Como não sou fã do Kiss a ponto de ir buscar alguma versão na Internet, decidi passar por cima desse (até porque não tem lançamento oficial em LP ou CD, até onde sei). Mas admito que, se a minha memória não me trai, o show era muito legal (mas isso os kissmaníacos já sabiam, hehehe). Os dois discos que selecionei como bônus são, na minha opinião, muito interessantes para os fãs de ambos os grupos. Vamos a eles!
The Doors – Live in Detroit (1970 – lançado em 2000)
1970 foi o último ano em que The Doors excursionou em sua configuração original, e na época o duplo Absolutely Live documentou os shows desse ano. Eventualmente, no começo do século XXI, uma enxurrada de álbuns ao vivo da banda foi colocada no mercado, e um deles é este Live in Detroit, um dos vários lançamentos da turnê Roadhouse Blues de 1970. Considero The Doors uma banda melhor em estúdio do que ao vivo, especialmente por causa da performance um tanto errática de Jim Morrison (às vezes desafinado, às vezes fora do tempo, às vezes bêbado demais para saber o que estava fazendo…), ainda que Ray Manzarek, Robbie Krieger e John Densmore normalmente dessem o melhor de si. Mas neste álbum Morrison está consistentemente bom, na minha opinião, e por isso selecioná-lo para os discos do Cobo Hall é válido. Este Live in Detroit é bastante interessante, primeiro porque o show foi bastante longo, com duas horas e quinze minutos de duração. Em segundo lugar, temos o convidado especial John Sebastian, do Lovin’ Spoonful na guitarra rítmica e harmônica em algumas músicas. Por fim, tem-se vários clássicos do blues e do rock’n’roll, como “Mystery Train”, “Rock me Baby/Heartbreak Hotel”, “I’m a King Bee”, “Carol” e “Crossroads”, que trazem algumas surpresas ao ouvinte. E da própria banda temos os clássicos “Break on Through”, “Roadhouse Blues”, “Five to One”, os épicos “When the Music’s Over” e “The End”, além de uma versão gigantesca de “Light my Fire” (14 minutos!), ao final da qual Morrison chama John Sebastian para o palco. Tudo isso fez com que o show se estendesse além do tempo originalmente planejado, e a direção do Cobo Hall proibiu a banda de se apresentar ao vivo novamente no local. Este “Live in Detroit” pode ser encontrado na box set The Bright Midnight Archives, que traz mais shows do grupo e, embora não substitua o clássico Absolutely Live, é uma excelente adição para as coleções dos fãs do The Doors. Após o término da turnê Roadhouse Blues, a banda faria o show no festival da Ilha de Wight e posteriormente mais três em dezembro de 1970, as últimas apresentações com Jim Morrison.
Grand Funk Railroad – Live – The 1971 Tour(1971, lançado em 2002)
1971 foi um ano mágico para o Grand Funk Railroad em termos de sucesso. A banda vinha conquistando fãs na mesma velocidade que angariava o ódio dos críticos desde o início em 1969, e em 71 lançou Survival, que chegara ao 6º lugar da parada da Billboard (ainda haveria mais um álbum, E Pluribus Funk, que atingiria o 5º posto), mantendo o desempenho dos discos imediatamente anteriores. Ao vivo, os shows lotavam, e a banda quebraria o recorde de público dos Beatles no Shea Stadium em New York. Quando foi anunciado que um álbum ao vivo documentando a turnê de 1971 seria lançado, os fãs esperavam que trouxesse o show do Shea, mas apenas quatro músicas deste álbum foram registradas lá. O Cobo Arena forneceu cinco, e as outras duas saíram de uma apresentação em Chicago. Ao vivo, o Grand Funk se destacava pela performance enérgica, que agitava bastante o público. O repertório deste álbum apresenta muitas sobreposições com o Live Album de 1970, mas arrisco dizer que as performances são ainda melhores, e apenas “Gimme Shelter” representa o disco que a banda estaria promovendo; ainda há “Footstompin’ Music”, que faz parte de E Pluribus Funk, mas era inédita até então. “I’m Your Captain (Closer to Home)” é apresentada numa versão concisa, com cerca de metade da duração da original, mas prefiro essa gravação ao vivo à original, que acho desnecessariamente longa. No mais, “Inside Looking Out”, “Into the Sun”, “T.N.U.C.” e “Paranoid”, todas registradas em Detroit, são destaques absolutos e permitem visualizar que o Grand Funk tinha evoluído musicalmente em relação ao ano anterior. E uma coisa se confirma: Mel Schacher é um baixista excelente, com uma sonoridade bem pessoal e uma habilidade incomum nas quatro cordas. O Grand Funk Railroad, como é sabido, foi uma das bandas americanas de maior sucesso no começo dos anos 70, mas hoje parece um pouco esquecido. Enquanto outras bandas da época têm dúzias de lançamentos de arquivo, o GFR praticamente só tem este, além das coletâneas; eles não eram revolucionários, nem queriam fazer grandes contribuições à estética do rock, e suas músicas e letras eram bastante simples. Tudo o que a banda queria era divertir seus fãs, e este Live – The 1971 Tour é diversão garantida do início ao fim.
Que postagem incrível, Marcello, uma lista para ninguém botar defeito!
Gostei bastante do seu texto para o álbum do Bob Seger, que eu já conhecia, porém sem o contexto histórico, e sua análise deu mais valor ainda ao que ele fez. Também gostei do que escreveu sobre o disco da The J. Geils Band, texto honesto e que faz jus ao registro.
Da lista bônus, confesso que não conheço o do Grand Funk Railroad, mas vou atrás.