Zephyr – Zephyr [1969]

Zephyr – Zephyr [1969]

Por Daniel Benedetti

Zephyr é o autointitulado álbum de estreia da banda estadunidense de mesmo nome, lançado oficialmente em 1969. Candy Ramey nasceu em 1946 em uma família descrita como “jogadores e bandidos mesquinhos”, que vivia em uma casa de madeira com vista para o lago perto de Evergreen, a oeste de Denver, no Colorado. Quando ela tinha onze anos, a família se mudou das montanhas para Applewood, perto de Golden.

O amor de Candy pela música e sua voz poderosa a fizeram ser eleita a “cantora com maior probabilidade de se tornar famosa” em seu último ano na Golden High School. Ela estudou na Northern Colorado University, em Greeley, com a intenção de se tornar professora. Mas a música era seu foco, e ela e seu amigo do ensino médio, Doug Lubahn, pegaram carona até a Califórnia. Lubahn procurou emprego como baixista e acabou tocando nos dois primeiros álbuns do Doors. Candy se mudou para São Francisco para se juntar à amiga Connie Kay; ela fez sua estreia no rádio tocando violão e cantando “Greensleeves” em uma estação de língua chinesa.

Depois de um ano no litoral, ela retornou ao Colorado e se mudou para Aspen, juntando-se a outro amigo do ensino médio, Doug Whitney, na Piltdown Philharmonic Jug Band. Foi lá que ela conheceu David Givens, compositor, guitarrista e baixista; eles se mudaram para Boulder e se casaram em outubro de 1968. A banda deles, Brown Sugar, tocou de Denver a Salt Lake City, também na Califórnia, e de volta a Boulder naquele outono. A Brown Sugar acabaria se transformando no Zephyr. Na época, a cidade de Boulder era um ponto de encontro de grandes músicos e tinha uma cena musical incrivelmente diversa. Rick Roberts, do The Flying Burrito Brothers e Firefall; Jock Bartley, do Graham Parsons e Firefall; Poco; Freddi Henchie & the Soulsetters; Flash Cadillac; Joe Walsh & Barnstorm e Steve Stills foram todos atraídos pelas montanhas e pelos estúdios de gravação Caribou Ranch.

Robbie Chamberlin, John Faris, David Givens, Candy Givens e Tommy Bolin. Zephyr em 69

Após uma jam monumental com o mago da guitarra Tommy Bolin no The Buff Room, na colina, Candy e David Givens se juntaram ao tecladista e flautista John Faris e a Bolin, os líderes da banda Ethereal Zephyr. Com a adição de Robbie Chamberlin na bateria, os membros do conjunto começaram a compor e a arranjar músicas, aproveitando sua experiência tocando pop, blues, jazz, country e folk. Eles estouraram na cena musical do Colorado com vários shows explosivos começando no The Sink em Boulder, onde trabalharam com Chuck Morris para promover um burburinho sobre a banda, e depois no Glenn Miller Ballroom da Universidade do Colorado, abrindo para John Mayall, entre outras apresentações, incluindo vários shows gratuitos no Boulder Band Shell.

Depois de tocarem em Phoenix, onde conheceram músicos como Steve Miller, Vanilla Fudge e a banda de David Lindley, Kaleidoscope, eles foram para Nova York, São Francisco e Los Angeles, onde tocaram no Avalon Ballroom, no The Whisky A-Go-Go e no The Boston Tea Party. Por onde passavam, seus shows sem restrições conquistavam novos fãs, especialmente no Denver Pop Festival, onde tocaram em duas noites memoráveis. Eles também passaram um tempo em Boulder, preparando-se para gravar seu primeiro álbum no outono de 1969. Seu álbum de estreia autointitulado foi lançado pela ABC Probe, uma divisão da ABC Records. As gravações se deram no Wally Heider Studios, em Los Angeles, Estados Unidos. A produção ficou a cargo de Bill Halverson.

Compacto francês de “Sail On”, com “Cross the River” no lado B

“Sail On” traz ótimos vocais de Candy e a guitarra de Bolin incendiária, em um blues rock, com toques sutis de prog em seus mais de 7 minutos. A deliciosa pegada bluesy continua na viciante “Sun’s a Risin’”. “Raindrops”, uma versão para a faixa de Dee Clark, tem uma pegada que lembra o CCR, com vocais de Candy que trazem à mente Janis Joplin. “Boom-Ba-Boom” é uma pequena canção instrumental com destaque para a guitarra de Bolin. Os “duelos” entre a guitarra de Bolin, a harmônica de Candy e os teclados de Faris são notáveis em “Somebody Listen”, um blues rock de categoria excepcional.

“Cross the River” traz Faris afiado no órgão, em um rock um pouco mais direto. Nesta versão para “St. James Infirmary”, de Joe Primrose, a musicalidade é mais contida e o destaque vai para a impressionante atuação vocal de Candy Givens. “Huna Buna” é mais curtinha, com órgão, gaita e guitarras em solos pontuais. “Hard Chargin’ Woman” tem mais de 9 minutos e encerra o álbum em um clima de improvisação.

O grupo apostou em Zephyr numa sonoridade mais baseada no Blues Rock, com toques de psicodelia e um peso considerável para sua época, muitas vezes um Hard Rock vigoroso. A banda é bem consistente com sua sólida seção rítmica permitindo boas intervenções de John Faris nos teclados ou da vocalista Candy Givens na gaita. Falando nela, seus vocais poderosos e “exagerados”, por vezes remetem à Janis Joplin. Porém, é inegável que o maior destaque é para o incrível guitarrista Tommy Bolin, com solos notáveis, já mostrando o talento que o levaria ao Deep Purple anos mais tarde. Canções como “Sail On”, “Raindrops” e “Somebody Listen” são soberbas e estão entre minhas preferidas, embora no disco não há faixas descartáveis.

Raríssima edição australiana de Zephyr

A estreia do Zephyr conseguiu repercutir em termos de paradas de sucesso, atingindo a 48ª colocação da principal parada norte-americana. Com a presença de palco, as composições, os vocais e a harpa de Candy; os solos mágicos da guitarra de Bolin e o poder da seção rítmica do Zephyr, além das performances de blues/jazz/rock da banda em shows com Jimi Hendrix, Led Zeppelin, Leslie West’s Mountain, Mad Dogs and Englishmen, Spirit, Fleetwood Mac e praticamente todos os grandes grupos da época, o Zephyr estabeleceu uma base de fãs nos EUA, no Canadá e internacionalmente na Europa, no Japão e na Austrália.

O cenário estava pronto para que o Zephyr ,com a vocalista Candy Givens, tornasse-se o herdeiro lógico da dinastia de Janis Joplin e Grace Slick, ou seja, de bandas poderosas lideradas por mulheres no final dos anos 1960. O Zephyr fez uma aparição no American Bandstand em 31 de janeiro de 1970, dublando “Cross the River”. Embora as performances carismáticas de Candy Givens fossem o ponto focal da banda, o trabalho de guitarra chamativo de Bolin é o motivo pelo qual a banda é mais lembrada. Em 1970, o grupo lançaria seu segundo disco, agora pela Warner Bros., Going to Colorado.

Contra-capa da edição estadunidense

Faixas:

1. Sail On
2. Sun's a Risin'
3. Raindrops
4. Boom-Ba-Boom
5. Somebody Listen
6. Cross the River"
7. St. James Infirmary
8. Huna Buna
9. Hard Chargin' Woman

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