Jimi Hendrix: People, Hell & Angels [2013]

Jimi Hendrix: People, Hell & Angels [2013]

 

Por Micael Machado

O guitarrista Jimi Hendrix era um maníaco por estúdio. Dizem que era comum o músico passar horas em uma sala de ensaios tocando, improvisando, criando e registrando tudo o que sua fértil mente inventava em termos musicais. Desde sua morte, em 1970, diversos álbuns compilando parte destas gravações surgiram no mercado, e, desde que sua família ganhou os direitos sobre estes registros em 1995, passaram a ter um caráter “oficial” na discografia do norte americano. Um destes vários lançamentos é People, Hell & Angels, anunciado como mais um álbum de inéditas do mestre.

Mas o disco não é bem isso. Algumas faixas já estavam, inclusive, disponíveis em alguns dos muitos lançamentos anteriores, como “Earth Blues” (cuja versão é a mesma utilizada em First Rays of the New Rising Sun, de 1997, porém aqui sem alguns overdubs daquela), “Crash Landing” (que deu nome a um álbum de 1975), “Hey Gypsy Boy” – que sob o nome “Hey Baby (New Rising Sun)” pode ser encontrada em Midnight Lightning, de 1975, além de também fazer parte de First Rays – ou “Mojo Man“, que, apesar de soar como nova, foi lançada como single em 2011 pela dupla Ghetto Fighters (que chegou a fazer algumas gravações com Hendrix, como nos backing vocals de “Freedom”).

band of gypsies
Billy Cox, Jimi Hendrix e Buddy Miles – a Band Of Gypsies

Com exceção de “Inside Out“, espécie de rascunho para “Ezy Ryder” registrada em 1968 (com Jimi também no baixo e Mitch Mitchell na bateria) e da citada “Mojo Man” (gravada em 1970), quase todas as demais faixas são versões alternativas gravadas ao longo de 1969 para composições que já apareceram em outros álbuns póstumos (a maioria registrada aqui com Jimi ao lado da Band Of Gypsies, ou seja, Billy Cox no baixo e Buddy Miles na bateria), como o cover para “Bleeding Heart”, de Elmore James, que dentre outras possui uma versão em Valleys of Neptune (2010), “Hear My Train a Comin’”, que aparece em diversos álbuns, seja ao vivo ou em estúdio (embora aqui possua um arranjo mais rápido que o normal), “Somewhere” (que faz parte do box set The Jimi Hendrix Experience, de 2000, mas que aqui tem Stephen Stills no baixo), “Izabella” (que está no track list de First Rays of the New Rising Sun) e “Easy Blues” (encontrada em Nine to the Universe, de 1980), sendo que estas duas aparecem aqui em raros registros de estúdio da Gypsy Sun and Rainbows, o grupo que acompanhou Hendrix no festival de Woodstock, e que tinha Mitchell na bateria, Cox no baixo e Larry Lee na guitarra base, além de Jerry Velez e Juma Sultan nas congas. Como “Villanova Junction Blues” é pouco mais que uma vinheta instrumental de menos de dois minutos, sobra “Let Me Move You“, composição funkeada que apresenta Lonnie Youngblood na voz e saxofone, como única faixa realmente “inédita” neste lançamento, o que, convenhamos, é muito pouco.

hendrix band woodstock
A Gypsy Sun and Rainbows em Woodstock

 

É um álbum ruim? Longe disso, afinal, o talento de Jimi Hendrix como compositor, guitarrista e, por que não, cantor, era suficiente para fazer soar interessante até simples brincadeiras de estúdio (o que não é o caso de nenhuma das faixas presentes aqui, que fique claro). As composições são todas de alto nível, e sempre valem a pena serem ouvidas e apreciadas. Apenas não justificam, a meu ver, todo o alarde criado em cima de mais uma “novidade” no catálogo do mestre, algo que o citado Valleys of Neptune, por exemplo, possuía com sobras. Mas, se você for fã de Hendrix (e alguém não é?), pode conferir sem medo. Apesar da sensação de “já ouvi isso antes em algum lugar”, sua satisfação será garantida!

“Every mornin’ I can hear out of my window the blues come winning”

Track List

1. Earth Blues
2. Somewhere
3. Hear My Train a Comin’
4. Bleeding Heart
5. Let Me Move You
6. Izabella
7. Easy Blues
8. Crash Landing
9. Inside Out
10. Hey Gypsy Boy
11. Mojo Man
12. Villanova Junction Blues

Um comentário em “Jimi Hendrix: People, Hell & Angels [2013]

  1. É sempre um prazer ouvir um disco “novo” do mestre. Mas o marketing tem sido um tanto enganoso, pois como destacado na resenha não se trata de lançamento com músicas inéditas, no máximo versões diferentes de músicas já lançadas. Às vezes me pego pensando no que Hendrix diria de tantos lançamentos!! Tenho este e os outros discos “inéditos” lançados pela família, bem como os lançamentos originais, fazendo do Jimi Hendrix um dos artistas de quem mais tenho discos na minha coleção, mas confesso que alguns deles não saem muito da estante…

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