Mott the Hopple – Mott the Hopple [1969]

Mott the Hopple – Mott the Hopple [1969]

Por Fernando Bueno

O Mott the Hoople é muito conhecido por sua fase glam e o culpado disso tudo é David Bowie que, como um Midas, compôs “All the Young Dudes” para os caras e a música estourou quando saiu o disco de mesmo nome em 1972. O grupo também é sempre citado como o ex-grupo de Mick Ralphs, que juntamente com Paul Rodgers criaram o Bad Company. Além, é claro, de Ian Hunter e Mick Ronson. Mas a banda merece mais reconhecimento, afinal é muito mais do que uma One Hit Wonder.

O grupo foi formado a partir de duas outras bandas que se juntaram e passaram a se chamar The Doc Thomas Group. Assinaram um contrato com um selo italiano e gravaram um álbum autointitulado  em 1967 somente na Itália. Mesmo assim seus shows em território inglês eram feitos com outros nomes – The Shakedown Sound e Silence – por serem mais conhecidos em algumas regiões da Inglaterra, o que garantiriam alguns shows a mais. Tentaram algumas gravadoras inglesas, mas não tiveram êxito em conseguir um contrato até que Guy Stevens, um produtor e empresário, os encontrou e se interessou pelo grupo. Entretanto Stevens não gostou do vocalista da época, Stan Tippins. Após alguns anúncios à procura de um cantor, Ian Hunter, vocalista que também tocava piano, foi contratado. O curioso é que Stan Tippins continuou com a banda organizando as turnês.

Capa do livro Mott the Hoople, de Williard Manus
Capa do livro Mott the Hoople, de Williard Manus

O nome do grupo foi sugerido por Stevens que, durante a prisão por problemas com drogas, leu o livro Mott the Hoople, de Willard Manus. A intenção do produtor era como se Bob Dylan se encontrasse com os Rolling Stones para uma jam e foi assim que ele tentou guiar o grupo.

Apesar dessa rotulação como uma banda glam rock, o Mott The Hoople tem em seu primeiro disco pouco daquilo que a banda fez alguns anos depois e a sua grande influência era o rhythm & blues.  Porém nessa estréia podemos dizer que temos um álbum metade dylannesco e metade jeffbeckiano. A formação do registro tinha Ian Hunter (vocal, piano e guitarra), Mick Ralphs (guitarra e vocal), Verden Allen (teclado), Dale Griffin (bateria) e Pete Watts (baixo).

O disco abre com “You Really Got Me” dos Kinks em uma versão peculiar com um pouco mais de peso, se comparada com a versão original, e totalmente instrumental. Mas mesmo sem ter vocais a faixa na minha opinião acerta em cheio, apesar de já ter lido várias críticas à ela. Para os que querem ouvir a faixa com a voz de Ian Hunter procurem a versão que saiu na coletânea Two Miles From Heaven de 1980.

Se for discutível a iniciativa de se iniciar um álbum de estreia com um cover, cada um tem uma opinião sobre isso, então o que dizer de começar com três? Entretanto, “At the Crossroads” é a melhor das versões gravadas para esse álbum e possivelmente a minha faixa preferida.  Não encontrei a versão original de Doug Sahm para essa música, mas achei uma ao vivo que dá para perceber que eles foram os mais fiéis possíveis mesmo com uma interpretação mais roqueira. O que não dá para deixar de comentar é a similaridade com o Bob Dylan. Aqui aproveito para dizer que se hoje eu gosto dos trabalhos do bardo americano, muito se deve à esse disco do Mott the Hoople. Até então eu conhecia algumas faixas soltas, mas nunca tinha tido interesse em buscar seus discos. Na primeira vez que ouvi “At the Crossroads” imediatamente achei que essa era uma música de Bob Dylan. Só um bom tempo depois que descobri que estava errado, mas aí já era tarde. Já havia arranjado alguns discos e absorvido o que até então vergonhosamente não tinha tido interesse.

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A sequência dos três covers finaliza com “Laugh At Me” de Sonny Bono. Ouvindo as duas notamos que Ian Hunter tentou emular pelo menos a energia que Sonny emprestava à canção. As leves e contidas adições de teclados dão um charme especial à música.

“Backslinding Fearlessly” é a primeira original do grupo.  Ainda na linha folk rock das duas anteriores com o piano e o teclado comandando as ações. Destaque para os backing vocals que aparecem muito bem. Na sequência o maior hit do álbum, “Rock and Roll Queen”, bem hardeira e mostrando que o grupo não era, e não seria, apenas uma banda folk e, como a própria letra já sugeriria, poderiam ser rock stars. “Rock and Roll Queen” mostra que a grande quantidade de covers do álbum foi apenas ocasional e não um modo de esconder a pobreza do grupo como compositores. Eles compõe sim e muito bem!

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A instrumental “Rabbit Foot and Toby Time” mantém a pegada hard e serve também como introdução para a faixa mais longa do álbum – 11 minutos –, a quase balada “Half Moon Baby”, na qual o folk volta novamente. Lá pela metada da faixa um piano toma conta parecendo um trecho de alguma sinfonia clássica. Para fechar o álbum a instrumental “Wrath and Wroll”, composta por Guy Stevens.

O CD relançado em 2003 ainda contém mais 2 faixas como bonus, uma versão ao vivo para “Ohio”, que Neil Young escreveu para o Crosby, Stills, Nash & Young, e “Find Your Way”, uma faixa instumental composta por Mick Ralphs. Essa versão de 2003 vale a pena pelo seu encarte com a história muito bem detalhada dessa época do grupo. Erros de prensagem acabaram atrapalhando o disco na época de seu lançamento. Na primeira vez incluíram “Road to Birmingham”, que era para ser apenas o lado B do single de “Rock and Roll Queen”  no lugar da própria “Rock and Roll Queen”. Como esse era o carro chefe do álbum, um novo lançamento foi feito. Porém esqueceram de colocar “Backsliding Fearlessly”. A explicação desses erros é a que o álbum foi mixado duas vezes por pessoas diferentes e cada um deles tinha uma versão final. Porém essa versão da história não é totalmente confiável. Se isso trouxe problemas para a banda imagino que para os colecionadores de hoje em dia isso seja ótimo. Em tempo tenho que tecer um breve comentário para a belíssima capa com seus simpáticos jacarés em um ciclo que você não consegue acompanhar apenas uma vez.

mott-ianA repercussão tanto na Inglaterra, quanto nos EUA foram muito boas e as constantes comparações com Bob Dylan, que chegaram ao ponto de incomodar Ian Hunter, foram relegadas à um segundo plano. Guy Stevens ficou com a banda em seus dois discos seguintes e em 1979 trabalhou com o The Clash em seu clássico London Calling.

Track List

1. You Really Got Me

2. At the Crossroads

3. Laugh At Me

4. Backsliding Fearlessly

5. Rock and Roll Queen

6. Rabbit Foot and Toby Time

7. Half Moon Bay

8. Wrath and Wroll

2003 CD bonus tracks

9. Ohio

10. Find Your Way

Um comentário em “Mott the Hopple – Mott the Hopple [1969]

  1. Disco excelente de uma banda fantástica. Gosto mais dos quatro primeiros álbuns do Mott The Hoople do que dos subsequentes (All the Young Dudes, Mott e The Hoople) – a fase glam do grupo para mim fica bem resumida ao Live, em especial a reedição em CD duplo, que é excepcional.
    Rock’n’Roll Queen, You Really Got Me, Backsliding Fearlessly e At the Crossroads são essenciais (tem uma versão ao vivo inacreditável de You Really Got Me de 1970 que mostra o quanto a banda ia longe nos seus shows). Já Laugh at Me, no meu ponto de vista, ganhou sua versão definitiva no sensacional Welcome to the Club, duplo ao vivo lançado por Ian Hunter em 1980, um disco relativamente pouco conhecido e que merece mais divulgação.

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