Unitopia – The Garden [2008]

Unitopia – The Garden [2008]

 

Por André Kaminski

O Unitopia foi uma banda de Rock Progressivo nascida na Austrália em 1996, quando o vocalista Mark Trueack e o tecladista Sean Timms se conheceram quando foram apresentados por um amigo em comum. Tendo ambos os mesmos gostos musicais (prog setentista) e ambos com vontade de criar uma banda, a dupla se uniu para começar a compor algumas canções ainda neste ano. Foram aos poucos recrutando novos membros para seu projeto e compondo algumas canções em seu tempo livre. Após muitos anos de trabalho, o Unitopia veio a tomar vida e a lançar seu primeiro álbum More Than a Dream somente em 2005.

More Than a Dream não foi um sucesso e passou despercebido pela maioria, porém, a dupla ainda acreditava no seu potencial. Após decidirem se dedicar totalmente ao seu projeto, os australianos trabalharam em novas músicas que iriam gerar este álbum duplo, The Garden, em 2008. Diferente da boa parte das atuais bandas prog que tentam emular o som da década 70, o Unitopia se caracteriza por dar mais peso as suas guitarras quase como uma banda de Heavy Metal, embora estejam ainda bem longe de se comparar a um Dream Theater. É uma banda difícil de caracterizar também pelo fato deles acrescentarem outros estilos em meio as suas canções tais como umas pitadas de jazz, rock clássico e pop. O cd varia muito entre canções mais complexas com outras bem simples. Com The Garden, os australianos receberam boas críticas, ainda mais em um cd duplo que não é de audição fácil em seu início.

A formação que gravou este álbum era composta por Mark Trueack (vocais), Sean Timms (teclado), Matt Williams (guitarra e violão), Shireen Khemlani (baixo), Monty Ruggiero (bateria) e Tim Irrgang (vibrafone, xilofone, congas, bongos, cowbells e diversos outros instrumentos de percussão). Além dos integrantes fixos, há também uma porção de convidados que tocaram outros instrumentos nesse disco formando praticamente uma mini-orquestra.

AK1
Shireen Khemlani, Matt Williams, Monty Ruggiero, Tim Irrgang, Sean Timms e Mark Trueack

Abrindo o primeiro disco com “One Day”, acompanhado no piano e no violoncelo, é uma pequena faixa de introdução antes de partir para a primeira grande suíte de mais de 22 minutos: “The Garden” apresenta uma gama imensa de instrumentos tais como xilofone, gongos, sinos… nem vou citar todos porque eu mesmo não conseguiria reconhecer cada um que foi usado. A guitarra de Matt Williams já dá aquela amostra com um peso a mais do que normalmente se ouve no prog rock. Mark Trueack sempre prefere utilizar timbres mais graves e médios na sua voz, lembrando um estilo vocal muito utilizado por Roger Waters, apesar de Trueack ser um cantor muito melhor do que o baixista floydiano. Os teclados ajudam a dar aquele clima bem The Flower Kings, variando entre atmosferas e sonoridades à la hammond. As letras possuem algumas ironias bem colocadas, fazendo uma espécie de “mundo perfeito” com alguns questionamentos sobre se é aquilo mesmo que se deseja.

“Angeliqua” já é mais levada pelo baixo e pelos teclados, com as guitarras (até bem pesadas por sinal) aparecendo em alguns momentos chave e alguns vocais femininos. As letras falam de um amor perdido de uma maneira até bem açucarada. A simplicidade aparece já na quarta música “Here I Am”, com um andamento mais direto e sem muitos atrativos. “Amelia’s Dream” é um instrumental levado no violão, teclado e flauta, do qual eu gostei pela beleza e bons arranjos principalmente deste último instrumento de sopro. Em “I Wish I Could Fly”, senti uma influência floydiana principalmente da bateria, com Ruggiero (o Zacarias australiano…) tocando no mesmo estilo de Nick Mason. Mais uma boa faixa simples e levando naquela linha mais lenta tal como o Pink Floyd. Diferente de “Inside the Power” que leva mais para o lado do Prog Metal, com as guitarras e até mesmo os violinos bem rápidos.

Seguindo para o disco 2, mais influenciado pelo metal, “Journey’s Friend” é a segunda grande suíte do álbum com riffs bem pesados e em alguns momentos me senti até mesmo ouvindo uma banda de puro Heavy Metal. Como é de se esperar nessas músicas mais longas, há muita variação entre momentos mais calmos e outros mais agressivos. Gostei principalmente dos ótimos solos de saxofone em meio a canção dando aquele toque de jazz. Um ponto baixo do disco é esta próxima canção “Give and Take”, com alguns efeitos nos vocais (coisa que raramente aprecio) e utilizando-se de um excesso de atmosferas que fazem bocejar. “When I’m Down” segue com mais peso e alguns solos de teclado, mas não é uma música que chame muita atenção. “This Life” é uma surpresa boa e é praticamente toda Prog Metal, além de ter um belo solo de guitarra. Por sinal, esta música gerou o primeiro videoclipe da banda.

Estava faltando uma balada mesmo e “Love Never Ends” cumpre bem a função. Levada no violão e nos teclados, com participação de vocais femininos, é uma daquelas músicas bem românticas mesmo. Apesar da letra meio piegas, compensa pelo belo instrumental. “So Far Away” é aquela instrumental bem prog sinfônica, música que tecladistas adoram compor. Não a toa que foi criada pelo próprio Sean Timms. “Don’t Give Up Love” é outra boa faixa mais grooveada no baixo e no violão, utilizando novamente vários instrumentos de percussão já listados nesta mesma resenha, sendo a principal música Jazz Fusion do disco. E finalizando, “321” é outro prog com cara de filler que, infelizmente, não acrescenta muita coisa ao álbum.

The Garden pode soar longo para muitos, mas posso dizer que para mim o saldo foi positivo. Há muito mais qualidades do que defeitos e o álbum foi bem absorvido por mim, tirando algumas poucas faixas e momentos. É um bom começo para quem deseja confirmar que na terra dos cangurus não existe apenas AC/DC.

Uma pena que, como eu disse lá na primeira frase da resenha, Unitopia foi uma banda australiana de Rock Progressivo criada em 1996. Infelizmente, o grupo anunciou o encerramento de suas atividades no início de 2014, visto que seus líderes Mark Trueack e Sean Timms querem dar seguimento a outros projetos pessoais, sem terem tido qualquer conflito. Lamentável pelo fato da cena Prog da Austrália perder uma banda com potencial de crescer muito mais.

AK2
Tim Irrgang, Matt Williams, Sean Timms, Mark Trueack, Monty Ruggiero e Shireen Khemlani

Track list
CD 1
1- One Day
2- The Garden
3- Angeliqua
4- Here I Am
5- Amelia’s Dream
6- I Wish I Could Fly
7- Inside the Power
CD 2
8- Journey’s Friend
9- Give and Take
10- When I’m Down
11- This Life
12- Love Never Ends
13- So Far Away
14- Don’t Give Up Love
15- 321

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