The Cult: 30 Anos de Sonic Temple

The Cult: 30 Anos de Sonic Temple

Por Davi Pascale

Não parece, mas já jaz 30 anos que Sonic Temple chegou às lojas. Vivíamos um mundo totalmente diferente de hoje. Os discos vendiam horrores e geravam grandes cifras. O rock imperava nas rádios. As bandas estampavam pôsteres, capas de revista, bottoms… E as grandes bandas lotavam arenas mundo afora. E o The Cult, claro, não foi exceção.

Lançado em 10 de Abril de 1989, a banda estava no topo. Tudo foi meticulosamente pensado. Como o álbum deveria soar, como deveria ser o som da guitarra, quem seria o baterista ideal. E o mais importante de tudo, quem seria o nome certo para produzir o novo trabalho. Electric, seu trabalho anterior, havia gerado bons frutos, mas a banda ainda buscava a sonoridade ideal.

“Bob Rock não era um cara famoso ainda. Lembro que alguém disse para mim que ele era um grande fã da banda e fui checar. Fomos apresentados em Vancouver, ainda na época do Electric. Me pareceu um cara legal”, recorda Billy Duffy em entrevista ao jornalista Mitch Lafon. “Lembro que me disse: ‘Acho o Love fabuloso. Gosto muito do Electric também, mas gostaria de fazer uma mistura entre os 2. Quero criar o álbum definitivo do The Cult’. Essa era sua ideia”.

O rock n roll estava em alta, mas por algum motivo as bandas estavam apostando cada vez mais em canções com teclados. A banda quis fazer o oposto. Decidiram fazer um álbum de rock n roll centrado nas guitarras. A capa com Billy fazendo uma pose àla Pete Townshend já dava a dica. O elemento que tanto queriam do Love era a pegada psicodélica que aparecia por trás de diversas canções do álbum, mas assim como o Electric, o Sonic Temple é um álbum essencialmente de hard rock.

“Sun King” abre o trabalho em grande estilo. Com um ótimo riff e um refrão que fica na cabeça, a música trazia Ian Astbury fazendo algumas declamações com uma vibe bem Jim Morrison logo após o solo. “Fire Woman”, outro grande hit, vem a seguir. Mais um hard guiado pela guitarra. Faixa que poderia muito bem aparecer em seu trabalho anterior. O lado b “American Horse” é a primeira que deixa em evidência a mistura que o produtor procurava quando começaram a produzir esse LP.

Talvez, muitos de vocês sintam uma pegada meio americanizada (para quem não sabe, a banda é inglesa), mas isso tem um porque. Cansados do estilo de vida que levavam e vendo todo o alvoroço que existia na cena de Los Angeles, os músicos se mudaram para lá no início de 1988. Portanto, toda aquela vibração da cena hard da época, os músicos estavam vivendo no seu dia-a-dia há praticamente um ano. A influência era inevitável. “Fomos sugados pela mitologia de Los Angeles. Havia todo um sentimento multi-cultural, uma diversidade, que era estimulante”, reconhece Ian Astbury em entrevista para o site Global News. Uma das principais mudanças no som da banda creio que seja os backing vocals mais encorpados.

O lado A se encerra com a mega-balada “Eddie (Ciao Baby)”, além do rock “Sweet Soul Sister”. Outros 2 grandes hits. Interessante constatar que todas as músicas que foram trabalhadas se fazem presente no primeiro lado do LP.  É verdade que “Sweet Soul Sister” tem uma introdução marcante com teclado, mas o grupo não estava explorando aquela sonoridade com o instrumento tomando a frente junto com as guitarras como vinham fazendo grupos como Bon Jovi, Winger e Europe. Queriam uma sonoridade mais raiz. Nessa entrevista que ouvi de Billy Duffy, o músico comenta que uma das razões de ter optado pela produção de Bob Rock foi o fato de ter gostado da sonoridade do debut do Kingdom Come. “As bandas estavam procurando resgatar aquela sonoridade mais Led Zeppelin, mais do começo do rock, o que me agradava”.

A banda vinha em ascensão, porém, quando entraram em estúdio para começar a gravar o disco, estavam sem baterista. Les Warner havia sido demitido. Ainda não haviam decidido quem seria o novo integrante. Nas demos, Eric Singer (à época, tocando no Badlands) e Chris Taylor haviam feito o serviço. Bob Rock seria o responsável por encontrar quem iria gravar o disco de fato. “Foi uma decisão de Bob. Embora Eric fosse ótimo, ele achava que não era o cara certo para o projeto. Foi ele quem trouxe Mickey Curry para o álbum”.

Essa vibe, meio anos 70, é muito sentido em faixas como “Soul Asylum” e, principalmente, “Automatic Blues”. Nessa, é quase impossível não nos recordarmos de Zeppelin quando ouvimos o riff de guitarra. Outro grande destaque do lado B é a empolgante faixa “New York City”, que traz o músico Iggy Pop, fazendo uma participação na ponte que antecede o solo.

O disco se encerra com “Soldier Blue”, que se destaca pela empolgante levada de bateria de Mickey e “Wake Up Time For Freedom”, a menos inspirada, mas que não chega a ser uma faixa ruim. A jogada deu certo. Bob Rock conseguiu a sonoridade ideal. Não muito leve, para não afastar os fãs de “Love Removal Machine”. Não pesado o suficiente para afastá-los das rádios e do público de seus primeiros álbuns. Comercialmente falando, foi o melhor trabalho, mas isso tudo teve um preço.

A fama mexeu com a cabeça dos músicos e as coisas começaram a sair do eixo. Matt Sorum, baterista que saiu em turnê, não pensou duas vezes quando recebeu o convite para ir para o Guns n Roses. Outra banda que estava em uma fase incrível. O baixista Jamie Stewart pediu as contas alegando estar cansado da rotina da estrada. Mais tarde, revelou em algumas entrevistas que achava que a banda não sobreviveria. Dizia que no fim da turnê, Billy Duffy e Ian Astbury andavam em ônibus separados e não se falavam.

Em entrevista para o site Rockpit, Ian Astbury lembra que “as pressões vieram antes do Sonic Temple. Em 1987, havíamos completado uma turnê sold out na Inglaterra e saímos em seguida em uma gira com o Billy Idol que foi uma tragédia. Depois, saímos em excursão com o Bowie e o Iggy Pop. Também foi um caos. Um ano mais tarde cancelamos uma turnê no Japão. (…) Foi tudo meio consequência do que ocorreu em 87″. Se para o publico, a banda vivia seu auge. Internamente, estavam em seu pior momento. O ideal seria os músicos pararem para uma respirada, colocar a cabeça no lugar. Ao invés disso, encabeçaram um novo álbum, (o ótimo) Ceremony, mas deixaremos isso para um post futuro.

Faixas:

Lado A:

01) Sun King

02) Fire Woman

03) American Horse

04) Edie (Ciao Baby)

05) Sweet Soul Sister

Lado B:

06) Soul Asylum

07) New York City

08) Automatic Blues

09) Soldier Blue

10) Wake Up Time For Freedom

2 comentários sobre “The Cult: 30 Anos de Sonic Temple

  1. Grande álbum. Vale lembrar também que as versões em cd vinham com a faixa bônus Medicine Train.

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