Entrevista Exclusiva: Mario Linhares (Dark Avenger)

Entrevista Exclusiva: Mario Linhares (Dark Avenger)

Por Thiago Reis

O Dark Avenger é aquela típica banda de heavy metal nacional que é respeitada por todos e procura sempre fazer o seu trabalho de forma correta e honesta. Com o novo disco que será lançado em breve, com o título de The Beloved Bones: Hell, a banda estará pronta para atingir patamares ainda não alcançados, já que a qualidade instrumental, a temática do disco e o material gráfico são de qualidade excepcional. Mario Linhares, vocalista e compositor do tema que aborda o conflito entre a razão e a emoção de maneira sublime é o entrevistado da vez. Curtam, conheçam e apreciem The Beloved Bones: Hell.


Mario, em primeiro lugar muito obrigado por nos conceder essa entrevista.

O prazer é todo meu de poder conversar e trazer as novidades do Dark Avenger para o seu público

O novo disco do Dark Avenger, “The Beloved Bones: Hell” apresenta o conflito entre a razão e a emoção da consciência humana. O que o levou a abordar tal tema?

Depois de quase me entregar à morte devido a um tumor na coluna vertebral eu senti a necessidade de repensar a minha existência e a forma como eu geria a minha vida. O ato de pensar comigo mesmo sempre me trazia esse dualismo entre EMOCIONAL e RACIONAL… então eu resolvi que o substrato desse disco deveria ser algo que pudesse ser transportado para qualquer indivíduo, de forma impessoal e atemporal.

Recentemente em sua página pessoal no facebook, você explicou aos seus fãs que o novo álbum da banda não é um metal-ópera e sim um Solilóquio. Explique para nossos leitores a diferença entre essas duas abordagens.

Um solilóquio é uma conversa do indivíduo com ele mesmo.. não há outro interlocutor. No “The Beloved Bones: Hell” não há personagens nem uma história, ponto central de uma Metal Ópera. Ao invés disso há um EU (que pode ser qualquer pessoa) que conversa consigo mesmo através de onze estágios mentais que provavelmente muitos passarão ao vivenciarem situações repetitivas de descontentamento e infelicidade… o que torna a vida um “Inferno”: (Inconsciência – Negação – Fuga – Vitimização – Desespero – Súplica – Reflexão – Equilíbrio – Coragem – Decisão – Liberdade). O interessante é que, quando o EU conversa com o EU, geralmente essa conversa se dá entre o binômio da psique humana, que é o RACIONAL e o EMOCIONAL… e são essas duas entidades que “dialogam” no solilóquio do EU.

A composição das músicas veio antes das letras ou todo o material lírico veio primeiro?

Com o conceito definido e as estratégias do mesmo montada, toda a parte instrumental e poética foram sendo feitas em concomitância. O período entre a criação do conceito até a finalização do disco foram de 3 anos.

O conflito entre a razão e a emoção é algo muito comum na sociedade, em que a maioria das pessoas passa por tal problemática. Você acredita que as músicas e letras deste novo trabalho do Dark Avenger terão um poder de alcance ainda maior, em função da temática abordada?

Não haveria conflito se cada ser humano conseguisse exercer um diálogo constante entre essas duas entidades formadoras do EU. Esse é um processo inerente a todo mundo… e que eu acredito será revisitado a cada audição, por aqueles que se permitirem explorar a temática que abordamos no disco… pois ele foi feito para ser tanto universal quanto impessoal, de forma perene e atemporal.

Falando das músicas propriamente ditas, a faixa “The Beloved Bones” abre o disco, em que encontramos o Racional sendo ignorado pelo Emocional. Porém o Racional aparece e deixa o Emocional acuado. Em que momento da vida real você associa o começo da história?

Imaginemos a seguinte situação: após mais uma sessão de espancamento pelo marido, uma mulher, mãe de três filhos, que vive há sete anos um casamento abusivo, resolve perdoar o marido, após ele se desculpar e prometer, pela enésima vez, que não fará isso novamente. Ou pior, imaginemos que ele nem se desculpe e a faz acreditar que a culpa é dela por tirá-lo do sério com suas cobranças. No momento em que o EMOCIONAL da mulher tenta “desculpar” o marido agressor é que surge o RACIONAL de The Beloved Bones: Hell, jogando na cara do EMOCIONAL que ele está deixando de tomar as decisões certas da vida, acusando-o de ser “fracassado”, “vacilante” e que a teimosia em direcionar o EU para uma vida melhor está pondo a vida do indivíduo em perigo.

Em seguida, a música “Smile Back at Me” se refere à negação da existência do Racional pelo Emocional. Você acredita que essa fase de negação está presente na maioria das ações do ser humano do século XXI?

É uma tendência normal ao EMOCIONAL, uma vez confrontado com situações que constrangem e atestam a sua incapacidade de gerir o EU, querer negar a existência de problemas em sua vida, minimizando os sintomas de infelicidade e apontando soluções inviáveis e/ou equivocadas para tais problemas. No TBB:H, nessa música em particular, cabe ao RACIONAL reafirmar, repetidamente e enfaticamente que agora, diante do fato de que há um grande problema, este não pode ser negado e terá que ser enfrentado, com consciência e firmeza: “Se a morte lhe sorrir, sorria para ela!”

A faixa “King for a Moment” tem a junção perfeita entre o instrumental e as letras, ainda mais se destacarmos a ideia de que “Quanto mais tentares evitar encarar a dor, mais ela crescerá dentro de ti. Este é o único momento que se perde o domínio da própria vida”. Explique-nos como chegar ao clima perfeito com o instrumental para que você possa interpretar as letras.

Quando fizemos essa música pensamos que a mensagem central dela deveria permear toda a canção, de forma contundente no início e no fim… por isso que o refrão dela está no início e no fim. A música funciona como um “laço” que aprisiona atenção do interlocutor fazendo com que ele passe a ter um posicionamento de consciência e  responsabilidade para com a manutenção e sobrevivência do EU.Os coros de início e fim servem como “paredes humanas” que ficam se movimentando, tentando impedir que o EMOCIONAL “fuja” do problema que ele tentou “negar” na música anterior.

A vitimização do Emocional é algo bem marcante na quarta música do álbum, “This Loathsome Carcass”. O ápice da faixa acontece quando o Racional diz que o Emocional é “um completo desperdício de existência”. Você acredita que essa vitimização do Emocional começa a se tornar uma das tônicas na relação Emocional x Racional?

Durante a parte inicial do disco vemos um EMOCIONAL claudicante, alheio às ponderações necessárias ao viver, buscando por soluções prazerosas a curto prazo que trazem sérias consequências ao indivíduo quando se pensa a longo prazo. A vitimização é um comportamento observado em muitas pessoas quando confrontadas com suas falhas e incapacidade de gerir o EU. Por a culpa em sua existência como causa das mazelas que ocorrem na vida do indivíduo.

O disco atinge o seu clímax na faixa “Parasite”, quando o Racional enxerga que o Emocional conduz o EU para a sua destruição. Você acredita que na vida real é possível atingir o perfeito balanço entre as emoções e a razão?

Em “Parasite”, apenas para marcar posição, e como uma última teimosa tentativa de sustentar seus frágeis argumentos, o EMOCIONAL tenta se impor ao RACIONAL… mas sabe que é em vão levar o confronto de ideias para um nível mais beligerante, sob pena da perda do EU. Na vida real, isso geralmente leva indivíduos ao suicídio ou a situações indeléveis de destruição do EU.

A emocionante “Breaking Up, Again” mostra um Emocional admitindo ser incapaz de lidar com os problemas sozinho.  De que maneira você acredita que devemos lidar com nossos problemas? Somente com o Racional, como o Emocional quer nas letras ou como uma junção de Razão + Emoção?

Exatamente, temos nessa música um início de virada do jogo na vida do EU… e já não era tarde! Mas ainda temos um EMOCIONAL claudicante que, apesar de assumir sua incapacidade de gerir, com qualidade a vida do EU, por pura birra tenta passar para o RACIONAL o papel que deve ser exercido pelo binômio da psique humana.

A seguir temos a faixa “Empowerment” mostra a reflexão e a colaboração entre o Emocional e a Razão. Essa tentativa de equilibrar as emoções e a razão para um bem comum é de extrema dificuldade para o ser humano.  Por que você acha que existe essa dificuldade em equilibrar esse binômio Razão + Emoção?

Sim…. finalmente temos os entes da personalidade humana reiniciando o processo de reconstrução da atuação natural de ação do EU na sua existência, em busca da felicidade do viver, ou do viver feliz. Eu penso que muito do desequilíbrio emocional do EU deve-se a dois fatores: falta de diálogo do EU com o EU. A gente costuma muito a perguntar “como foi o dia do outro”, mas se esquece de perguntar “como foi o dia do EU”. Outro fator é a atenção exagerada que existe no mundo exterior ao indivíduo… fazendo com ele passe a conhecer ou se dedicar mais ao exterior do que a si mesmo.

Na música “Nihil Mind”, os dois personagens passam a ter a certeza de que o isolamento entre Razão e Emoção é uma das causas da destruição do EU. Quando penso em tal isolamento, associo essa questão às pessoas com tendências suicidas, em que não existe mais o equilíbrio entre a Razão e a Emoção. Você concorda com essa associação? 

Sabe aquela famosa frase “… tá no inferno, abraça o capeta” e suas variáveis: “… o que é um peido pra quem tá cagado…”,  “… tá na merda abraça o tolete…”, etc.; pois é… isso não é bom para quem pretende gerir sua vida de forma efetiva para fora de uma situação longa e repetitiva de dor e sofrimento. Equilíbrio emocional e firmeza de propósito são elementos chaves para quem quer dar uma guinada na vida e se direcionar para novos horizontes de paz e contentamento.

Em “Purple Letter” pode-se identificar o conflito do Emocional em abandonar o passado (com a trilha sonora bem adequada para isso) e seguir em frente. Nesse momento o Racional incentiva e está ao lado da Emoção para que não tenha recaídas. Você acha que este é um dos momentos mais críticos de todo o conceito que você criou? 

Nessa música o EMOCIONAL sabe que não há mais volta para a vida de outrora… e que o caminho a seguir é o desconhecido adiante… é como se nos destinássemos para a morte daquela antiga vida… para vivermos uma nova, desconhecida, mas esperançosa de ser mais feliz. E é super normal esse temor, esse medo primal dentro de cada um de nós, antes de tomarmos medidas tão drásticas que vão mudar permanentemente a vida do EU. Nesse momento o RACIONAL precisa estar super equilibrado para incentivar e apoiar um EMOCIONAL que se encaminha para o equilíbrio.

“Sola Mors Liberat” que significa “Somente a Morte Liberta”, mostra o fim de um ciclo, para o renascimento do EU. A que situações da vida real você associa esse renascimento do EU e a parceria entre Razão e Emoção? Não podemos deixar de mencionar a construção de harmonias da música que casam perfeitamente com o clima que a letra cria. 

Somente A MORTE DO PROBLEMA liberta a pessoa das situações de infelicidades. O disco não trata da morte física do EU e sim da dor de ter que interromper uma situação dolorida na vida…. abandonar uma antiga vida de infelicidade não deixa de ser uma decisão muito difícil de tomar… é como se fosse uma morte… e é disso que a música fala: “enquanto o EU não matar essa situação de infelicidade e desconforto… ele continuará vivendo um inferno”

“When Shadows Falls” finaliza o álbum em grande estilo, em um ritmo mais lento, que realmente nos remete ao equilíbrio que a letra se propõe a mostra. O equilíbrio da Razão e da Emoção. A diferença desta última música é que ela é toda narrada pelo EU. O que você pretende mostrar nessa narração “solo” do EU após tantos conflitos?

A pessoa que morre para seus problema tem a obrigação de fazer valer a sua existência. Como fazer? O que vai ser ou acontecer? Ainda não se sabe… só no próximo disco. O importante é NÃO TER MEDO DO DESCONHECIDO…. NÃO TER MEDO DO QUE ESTÁ NAS SOMBRAS DO CONHECIDO… e é disso que a música fala… aquilo que eu amo.. ainda me é desconhecido… ainda descobrirei.

“The Beloved Bones: Hell” é um álbum que necessita ser tocado na íntegra. Existem planos para a execução de todas as músicas em sequência e o lançamento de um DVD mostrando tal performance?

Dia 30 de Setembro na casa de show Clash Club em São Paulo iremos fazer um show com dois atos e um interlúdio. No primeiro ato iremos executar o THE BELOVED BONES: HELL na íntegra; então faremos um interlúdio acústico com 4 ou 5 das melhores baladas do Dark Avenger, para então voltarmos com um segundo ato de dez a doze músicas clássicas que marcaram a história do Dark Avenger. Pretendemos levar esse formato de show para os locais em que haja infraestrutura para tal espetáculo acontecer. Isso deve dar cerca de duas horas e meia a três horas de show.

Existe a chance de que o Dark Avenger lance uma sequência deste solilóquio, evidenciando outros conflitos da mente humana?

O The Beloved Bones é uma peça em dois atos: HELL e DIVINE. Estamos lançando o HELL agora em Julho e é nossa intenção ter o DIVINE pronto em 2019.

Este é um disco que todas as pessoas que leiam as letras possam se identificar de alguma maneira, afinal todos nós passamos por algum conflito interno na vida. No lançamento físico do CD, existe a possibilidade de que no encarte as letras também venham traduzidas para que uma parcela maior dos fãs possa entender o que se passa nas letras?

Esse era o objetivo nosso desde o início. Foi um trabalho muito bem pensado, construído para ser solidário e generoso com quem interagir com ele. Estamos felizes com os primeiros resultados… as pessoas tem se enxergado nele e nos procurado para dar seus depoimentos pessoais… isso é algo que não tem preço.A edição brasileira vem com a tradução da história e das músicas para que essa interação seja mais rápida e intensa.

Recentemente você anunciou em sua página no facebook uma parceria com a Cofradia Metalica Management da Argentina. Existe a possibilidade de uma tour pela Argentina e outros países da América do Sul?

Estamos iniciando um processo de internacionalização desse trabalho e é nossa firme intenção de leva-lo para os quatro cantos do mundo… executando-o da maneira que sempre imaginamos fazer… com a emoção que ele exige. Será um prazer estar em vários locais do Brasil e do mundo levando a música e a mensagem do The Beloved Bones.

The Beloved Bones: Hell” é um álbum que não se encaixa em nenhum estilo do Metal. Diversos elementos podem ser encontrados ao longo do disco, como Prog Metal, Thrash Metal, Metal Tradicional, dentre vários outros. Você acredita que o fato de não se encaixar somente em um estilo é positivo para o álbum?

Não temos vontade de sermos ou estarmos em um único estilo do Heavy Metal. Queremos poder continuar fazendo o som que o Dark Avenger sempre fez, aprofundando cada vez mais naquilo que acreditamos como sendo a nossa forma de compor e executar. Acredito piamente que mergulhamos muito na nossa identidade para tornar o Dark Avenger mais DARK como ele deve ser… e esse é um caminho sem volta.

Mario, gostaria de agradecer o seu tempo e lhe parabenizar por um dos melhores lançamentos de 2017. Mande uma mensagem para os leitores do Consultoria do Rock.

Eu queria agradecer pela oportunidade de poder falar desse trabalho para quem nos lê e dizer que é um prazer enorme estar perto de quem busca e aprecia o nosso trabalho. Fiquem bem e tenham uma vida prazerosa, procurando sempre fazer escolhas que beneficiem a existência de cada um. Felicidades SEMPRE!!!

4 comentários sobre “Entrevista Exclusiva: Mario Linhares (Dark Avenger)

  1. Tema bastante complexo e bem interessante. Particularmente não sou tão fã do Dark Avenger, mas confesso que ouvi bem pouco. Parabéns para o Mario pelo trabalho e domínio do assunto e para o Thiago que fez a entrevista com um conhecimento impressionante sobre o assunto abordado…

    1. Muito obrigado, Fernando. Tive que entrar 100% nesse tema para fazer as perguntas. Fico feliz que tenha gostado. O disco está sensacional, vale a pena conferir o material.

  2. Bela entrevista. Me remeteu direto ao álbum Hemispheres – Rush. Curioso para ouvir se o material apresentado pelo Dark Avenger condiz com essa baita entrevista. Parabéns Thiago

    1. Pensei de forma semelhante, Mairon. O Hemispheres me veio logo à cabeça quando li as letras. Escute o material e me diga o que achou. abraços e obrigado pelo comentário.

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