Os Últimos Dias de Jim Morrison [2009]

Os Últimos Dias de Jim Morrison [2009]

 

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Por Mairon Machado

Um livro sobre um artista geralmente narra uma história cronológica, destaca a biografia, discografia / filmografia, frases e grandes momentos (positivos ou negativos) do tema central da obra, servindo muito mais como uma base de pesquisas para gerações futuras.

Pois Philip Steele mudou totalmente a concepção de um livro sobre um artista de rock, e através de uma visão pessoal, baseada em histórias reais vividas pelo próprio ou por amigos próximos, criou o bom e curioso livro Os Últimos Dias de Jim Morrison (no exterior, City of Light: The Last Days of Jim Morrison). Com mais de quatrocentas páginas, o leitor nem irá sentir esse número, já que a história é bastante envolvente, e sempre nos deixa uma pulga se aquilo aconteceu.

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Áudio book da versão alemã do livro

Philip Steele era um jovem músico americano que andava por Paris na primavera de 1971, mais precisamente em abril daquele ano, e encontrou Jim Morrison pela primeira vez às duas da madrugada, no Café l’Astroquet, em uma noitada de bebedeira que era o encerramento de um fatídico e depressivo passeio noturno de Morrison, e que durou até o amanhecer. Segundo o que consta na “orelha” do livro, Steele foi um amigo de Morrison nesses dias em Paris, mas não fica claro se todo o texto que estamos lendo é real. Porém, com certeza, é baseado em fatos reais, alguns contados para Steel pelo próprio Jim, outros por pessoas ligadas a ele, como a namorada de Jim que o acompanha em Paris, Pamela Susan Courson, que talvez seja a personagem principal do livro, ao lado do eterno vocalista do The Doors.

Bastante detalhista, Steele conta em terceira pessoa como foram os últimos dias de Morrison, o qual é chamado por várias vezes de Poeta Barbudo ou Poeta Americano, em Paris, vivendo em um apartamento na Rua Beautrellis de forma um pouco arrastada e cansativa, mas sempre com um apelo emocional muito forte, onde na visão de Steele, Morrison acabou indo parar em Paris muito mais por questões relacionadas à sua ligação com Pamela do que por vontade própria.

Jim e Pam em Paris: uma de suas últimas fotos juntos
Jim e Pam em Paris: uma de suas últimas fotos juntos

As brigas e discussões com Pamela, bem como uma série de traições de ambas as partes, são o cerne da leitura. O relacionamento aberto do casal permitia que Pamela tivesse um caso amoroso com a fotógrafa Natasha Khan, e fosse amante oficial de Jean de Breiteuil, um rico conde francês que ganhou fama no final da década de 60, início dos anos 70, por ser um dos maiores fornecedores de drogas para artistas de renome, dentre eles Jimi Hendrix, Rolling Stones e Janis Joplin, sendo que muitos atribuem a morte de Janis por conta das drogas que de Breiteuil repassou para ela, as quais eram da mais alta qualidade, e muito fortes. de Breiteuil na época estava em um relacionamento com Marianne Faithfull, que recentemente, em agosto de 2014, comunicou à imprensa que seu ex-namorado havia sido o responsável pela morte de Morrison, por conta da heroína que Morrison havia adquirido de de Breiteuil.

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Contra-capa (acima) e Orelha (abaixo) do livro de Philip Steele

No livro, Steele traz uma nova versão para a morte de Jim, mas antes de chegar a ela, é importante ressaltar que Morrison também não era um santo. Todos os fãs de The Doors conhecem os vários casos extra-conjugais do Poeta Barbudo, que inclusive realizou um casamento pagão com Patricia Kennealy, e em Paris, ele teve um relacionamento com duas garotas, apresentadas por Philip como Fabienne, uma garçonete de um clube parisiense chamado Rock ‘n’ Roll Circus, onde Jim curtiu alguns tragos e músicas, e Sophie, uma jovem estudante de literatura francesa na Sorbonne, a qual Jim conheceu no Café La Palette, e que se apaixonou fervorosamente, ao ponto de pensar em abandonar Pamela para começar uma nova vida com a jovem garota.

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Jim no famoso caso de Miami (acima) e sendo fichado em 1970 (abaixo)

Um ponto que chama a atenção positivamente do livro é que algumas partes da história foram construídas em cima dos poemas que Jim escreveu em Paris, que vieram ao público posteriormente através do álbum An American Prayer (1978) e dos livros Wilderness: The Lost Writings of Jim Morrison vol. 1 (1991) e The American Night: The Writings of Jim Morrison vol. 2 (1991), bem como a cobiçada The Lost Paris Tapes: The Private Tapes of James Douglas Morrison. A ida de Morrison para Paris era também um novo recomeço para o Poeta Barbudo, depois da prisão por conta do famoso Incidente Miami (para quem não sabe, em um show na cidade de Miami, Jim completamente em outro mundo baixou as calças para o público e mostrou seu membro genital para a plateia, além de ofender aos policiais, sendo preso em pleno palco, em um dos casos policiais mais famosos da história do rock), assim como ele pretendia fugir das loucuras dentro do The Doors, focando-se em ser um poeta, e não mais um músico.

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Jim e seus últimos momentos em Paris

Porém, o livro transparece que a vida íntima de Pam e Morrison não estava boa para fazer com que Jim conseguisse sobreviver dessa forma. Noitadas, bebedeiras, sexo, drogas dos vários tipos, brotam nas páginas de Os Últimos Dias de Jim Morrison de forma tão usual quanto trocar de roupa íntima, e mesmo os passeios que o casal fez pelo Marrocos, narrados detalhadamente por Phil no que considero a parte mais cansativa do livro, não ajudaram em nada para trazer a felicidade para o lar dos pombinhos.

Os últimos capítulos, quando nos aproximamos da morte de Jim, são capítulos tristes, que mostram a degradação que Jim sofreu. Seus últimos instantes são de tristeza e depressão, por estar afastado de Pamela – a qual curtia a vida  com De Breteuil enquanto Morrison estava bebendo o que podia durante a madrugada – tendo uma garrafa de uísque e muitas dúvidas. Dentro de seu apartamento, ele acaba experimentando um pó branco que Pamela guardava escondido dele, por ser um presente de De Breteuil o qual pensou ser cocaína, mas era uma das mais puras heroínas que já haviam sido fabricadas, chamada China White. Pra Philip, Jim cheirou várias linhas do tal pó e teve um colapso nervoso, vindo a falecer na banheira do apartamento, sem ninguém por perto. Quando Pam retornou ao “lar”, encontrou Morrison morto. Os primeiros a verem o corpo de Jim foram de Breteuil, para quem Pam prontamente ligou, e Marianne Faithfull, a qual recentemente confirmou o fato de que de Breteuil seria o responsável pela morte de Jim, mas não confirmou sua presença na cena de morte do vocalista do The Doors. No livro, Philip diz que Marianne insistiu para ir ao apartamento de Jim, com a intenção de ajudar, mas nada mais podia ser feito além de apagar as provas da overdose de heroína que Jim havia sofrido.

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Jean de Breteuil, o suposto assassino – indireto – de Jim Morrison (e também de Janis Joplin)

De Breteuil veio a falecer ainda em 1971, na cidade de Tânger (Marrocos), vítima de uma grande overdose de heroína, enquanto Pam morreu no dia 24 de abril de 1974, já em Hollywood, também por overdose de heroína.

O que fica no livro é a imagem de um ídolo decadente, andando praticamente desconhecido pelas ruas de Paris (principalmente quando ainda ostentava uma enorme barba), arrastando-se bêbado por sarjetas, esbanjando dinheiro em bebidas caras e sofrendo por um amor que ele não sabia mais se existia. Por mais fictício que seja, a obra advém de alguém de renome – Philip foi o responsável pela trilha sonora do filme Kill Bill 2, de Quentin Tarantino, pelo qual concorreu ao Grammy, e é famoso por suas trilhas para filmes de Bruce Willis, Ken Russell entre outros, além de ter ganho vários discos de ouro na sua carreira – que acredito não ter por que sujar sua reputação de forma tão gratuita contando uma história sem pé nem cabeça. Os fatos narrados possuem tons de ficção, mas parecem ser com um grande fundo de verdade, já que além da própria experiência com Jim, Phil Boy (como é chamado pelo vocalista americano no decorrer do livro) fez várias entrevistas e pesquisas para endossar sua história.

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O bolha que escreveu o texto, homenageando com uma cerveja o ídolo Jim Morrison

Não há imagens no livro, mostrando que a literatura é o importante, e para quem apreciar a obra, terá a certeza que muitos mitos criados pela mídia/tempo são apenas seres humanos com seus problemas, tristezas, esperanças e também alegrias, e não deuses intocáveis capazes de fazer o que bem quiserem, o que não nos impede de sermos seus fãs e gostar de suas canções, letras ou apenas respeitar sua história. E claro, fica aquele gostinho de tristeza por saber que alguém tão inteligente como Jim foi embora tão cedo da Terra, ainda mais com a pobreza intelectual que perambulam nas rádios de hoje em dia.

8 comentários sobre “Os Últimos Dias de Jim Morrison [2009]

  1. Eu não sei se gostaria do livro. Acho que eu sentiria falta da parte musical do livro. A história de um maluco beirando a decadência e se acabando em substâncias talvez me cansaria. O que eu fiquei pensado é como que o escritor guardou todos os detalhes para escrever o livro. Será que ele andava com um gravadorzinho e registrava tudo o que Morrison dizia para ele? Nesse caso me parece que alguma coisa pode ter sido fantasiada para encher linguiça….

    1. Pois é Fernando, acredito que muito seja encheção de linguiça, mas baseado em uma história real. O que fica para mim é que o Morrison na verdade se perdeu na carreira, não queria ser um artista do rock e tão pouco sua ida para a França ajudou a melhorar na vida. Claro que é bobagem ficar discutindo o por que disso, mas é lamentável. Fez ótimos trabalhos com o The Doors, e é um dos exemplos grandes de que o mau uso das drogas pode realmente acabar com um cidadão.

  2. Houve recentemente um bate boca entre Steele e Sam Bernett, autor de uma nova biografia do Morrison e que diz trazer uma nova versão para a morte do Jim: ele teria morrido de overdose no banheiro da casa noturna Rock’n’Roll Circus. Engraçado que Steele afirma que Bernett sujou a memória de Morrison, desprestigiando um grande poeta. Agora eu pergunto: o que fez Steele nessa biografia senão contar o lado Notícias Populares de Jim Morrison? Ele pode sujar a memória porque ficou uns meses amiguinho do músico? Entre os dois autores, melhor ler Seleções de Reader’s Digest.

  3. O historiador deve ser fiel em primeiro lugar aos fatos. Por outro lado, porque, considerando a vida pública que Jim levou, seria sujar sua memória revelar que ele morreu de overdose? Salvo se o fato não for esse…

  4. Que ele morreu de overdose, isso é fato. Qto mais eu leio sobre a vida dele, mais tenho a lamentar o qto ele foi depressivo e se perdeu no meio da fama, sucesso, sexo e drogas.

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