Discografias Comentadas: Mercyful Fate (Parte II)

Discografias Comentadas: Mercyful Fate (Parte II)

Mercyful fate em 1993: Michael Denner, Snowy Shaw, Timi Hansen, King Diamond e
Hank Shermann

Por Micael Machado

Em 1992, após ouvir as novas composições de Michael Denner para sua banda Zoser Mez (que também contava com Hank Shermann e Timi Hansen), o vocalista King Diamond propôs o retorno do Mercyful Fate. Após algumas ligações telefônicas, tudo estava pronto para a volta, a não ser a falta de um baterista (Kim Ruzz, que ocupou este posto nos primeiros discos, não foi sequer cogitado, pois não tinha uma boa relação pessoal com Denner e King). O amigo Morten Nielsen foi escalado para a posição, e o grupo estava pronto para renascer.
Confira agora a segunda parte da discografia comentada do Mercyful Fate!

In the Shadows [1993]

O álbum de retorno foi o primeiro pela nova gravadora, a Metal Blade, após anos com a Roadrunner. Apesar de levemente diferente dos dois clássicos primeiros discos, acabou sendo muito bem aceito pelos fãs, com os clipes para as faixas “Egypt” (uma das melhores composições da carreira do grupo) e “The Bell Witch” ajudando a torná-las os destaques do track list, junto com a faixa título. Apesar de creditado no encarte, o baterista Snowy Shaw não participou das gravações, que contaram com Morten Nielsen em todas as faixas (Morten não teve condições de fazer a turnê devido a um problema no joelho, e Snowy, que já havia tocado na banda solo de King, assumiu o posto). A temática satânica foi substituída quase que inteiramente por letras relatando contos de terror, mais ou menos como King fazia em sua carreira solo, porém sem ser um disco conceitual. Bons exemplos disso são as longas e climáticas “The Old Oak” e “Legend of the Headless Rider”, baseada no conto “A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça”. “A Gruesome Time” foi composta para o Zoser Mez, enquanto “Thirteen Invitations” e a instrumental “Room of Golden Air” (com passagens de violão e teclados em seu arranjo) acabam sendo pouco lembradas, apesar de sua qualidade. “Is That You, Melissa?” encerra o track list regular, retomando a história da bruxa Melissa, presente na faixa título do primeiro LP, em uma música em muitos aspectos parecida com aquela. A edição em CD ainda conta com uma faixa bônus para lá de especial, a regravação de “Return of the Vampire” (chamada “Return of the Vampire… 1993“) com a participação de Lars Ulrich, do Metallica, na bateria (ele que também é dinamarquês, e era fã da banda desde o começo). Durante a turnê de promoção foi lançado o EP The Bell Witch, que conta com a faixa que lhe dá nome, a citada “Is That You, Melissa?”, e quatro clássicos gravados ao vivo em 1993 na cidade de Los Angeles. O Mercyful Fate estava de volta com tudo!

Time [1994] 

O único álbum de estúdio com Snowy Shaw marcou também a estreia do baixista Sharlee D’Angelo no Mercyful Fate, substituindo Timi Hansen, que deixou a banda por motivos particulares. Apesar da sonoridade geral ser um pouco mais leve que a de In The Shadows, este foi também o disco que atraiu novamente minha atenção para o grupo (depois da decepção com o vinil de Don’t Break The Oath, como relatei na primeira parte), graças ao clipe para “Witches’ Dance“, que passava no saudoso Fúria Metal, da MTV. As letras continuaram contando histórias de terror, como as de “The Afterlife”, “Lady in Black” (um dos destaques), “Nightmare Be Thy Name” (que também ganhou clipe) ou “The Mad Arab“, baseada nos contos de H. P. Lovecraft, embora “My Demon” e “Angel of Light” retomem alguns dos antigos conceitos, a segunda referindo-se especialmente aos da faixa “The Oath”, do segundo álbum. King mais uma vez gravou alguns teclados, como os que aparecem na quase sinfônica faixa título, uma composição diferente dentro da carreira do grupo. As faixas “The Preacher” e “Mirror” (com mais peso que as anteriores) completam o track list, que se encerra com a variada e enigmática “Castillo del Mortes”, com letra em inglês apesar do título. No final da turnê deste disco, o grupo veio ao Brasil pela primeira vez (ao lado da banda solo de King Diamond), em 1996, onde se apresentaram no festival Monsters Of Rock em São Paulo, além de realizarem outras quatro apresentações no país. 

Into the Unknown [1996]

Após a intro “Lucifer” (uma espécie de “Pai Nosso” satânico), Into the Unknown começa com tudo, com a veloz “The Uninvited Guest”, que ganhou um clipe de divulgação. No geral mais pesado que o anterior, o disco marca a estreia do baterista Bjarne T. Holm, e é o mais bem sucedido da banda até o momento, comercialmente falando, tendo como destaques, para mim, a faixa título (com algumas guitarras limpas no arranjo), “Fifteen Men (And a Bottle of Rum)” (com o baixo bem destacado), “Holy Water” (novamente com conceitos anti-cristãos na letra) e a continuação de “The Mad Arab”, do disco anterior, aqui chamada “Kutulu (The Mad Arab, Part 2)” (com alguns toques de música árabe no seu arranjo). “Deadtime” começa apenas com King cantando sozinho, a capella, para então passar a uma música pesada, mas bastante melódica. As pesadas “The Ghost of Change” e “Under the Spell”, junto com a variada “Listen to the Bell”, completam o track list, que na versão japonesa apresenta a cover para “The Ripper”, do Judas Priest, gravada para um tributo à banda britânica chamado Legends of Metal: A Tribute to Judas Priest, lançado no mesmo ano. Um bom disco, que vale a audição.

Mercyful fate sem Michael Denner: Bjarne T. Holm, Sharlee D’Angelo, King Diamond,
Hank ShermannMike Wead

Dead Again [1997] 

Durante a turnê de Into the Unknown, Michael Denner decidiu sair do grupo por motivos familiares, indicando Mike Wead como seu substituto. Desta forma, Dead Again foi o primeiro álbum do Mercyful Fate sem o guitarrista, que deixou sua marca nas mentes e corações de todos os fãs da banda pelo mundo. “The Night” foi a música escolhida para receber um clipe de divulgação, mas os destaques vão para “Torture (1629)” (cuja letra trata de uma mulher torturada pela Santa Inquisição), “Since Forever” (que parece saída da carreira solo de King) e a insana faixa título, a música mais longa da carreira da banda, com quase quatorze minutos e muitas partes diferentes. Enquanto algumas faixas são mais diretas, como “Fear”, “Banshee” (que trata da lendária criatura que lhe dá nome) e “Sucking Your Blood” (que tem por tema os vampiros), outras são cheias de climas e mudanças de ritmo, como a “satânica” “The Lady Who Cries” (que tem um refrão contagiante), “Mandrake” (que fala sobre a raiz da mandrágora), ou “Crossroads”, que encerra o disco de forma abrupta, deixando o ouvinte com a sensação de que houve algum problema com o CD (isto foi feito de forma intencional pela banda para provocar o ouvinte, causando-lhe uma certa perturbação, como se algo muito errado tivesse ocorrido). Felizmente, a saída de Michael Denner não comprometeu a qualidade da música do quinteto, e Dead Again é um dos melhores álbuns gravados depois do retorno do Mercyful Fate, e merece ser conferido!

9 [1999]

O nono full lenght da banda (contando os álbuns The Beginning e Return of the Vampire), gravado no ano de 99… Parecia claro que o título do novo disco tinha de ser 9, número que, para completar, tem diversos simbolismos no ocultismo, assunto do qual King sempre foi um apreciador. Pois o (até agora) último registro do Mercyful Fate não deixou por menos. Com faixas bastante velozes como “Insane”, “House on the Hill” e a “satânica” “Burn in Hell”, os destaques ficam para a faixa título, “Last Rites” (com um ritmo empolgante) e “Church of Saint Anne” (com um riff excelente, que lembra o Black Sabbath da fase Dio). “Sold My Soul”, mais cadenciada, destaca o baixo de Sharlee D’Angelo, e “Buried Alive”, apesar de bastante pesada, conta com alguns efeitos de passarinhos cantando tanto no início quanto no final, algo bastante curioso em um disco do Mercyful Fate. “The Grave” e “Kiss the Demon” completam o track list, que na versão japonesa teve uma faixa bônus, “S.H.”, um curto tema instrumental. Um bom disco, mas que não supera o anterior.

Os membros do Mercyful fate ao lado do Metallica no show do Fillmore em 2011

Após a turnê de divulgação para 9, King se concentrou em sua banda solo, tendo a companhia do guitarrista Mike Wead. Hank Shermann e Bjarne T. Holm uniram-se a Michael Denner para formar o Force of Evil, enquanto Sharlee D’Angelo juntou-se ao Arch Enemy. Desde 2005, King trabalha em algumas fitas VHS que ganhou de um fã, na tentativa de compilar um DVD com apresentações da banda, algo que ainda não saiu do papel. Em 2008, a formação que gravou os dois primeiros discos (sem o baterista Kim Ruzz) se reuniu para gravar dois temas para o jogo “Guitar Hero: Metallica”, tendo Bjarne na bateria, mas apenas uma faixa foi efetivamente usada no game. As regravações chegaram a sair em um Picture Disc de edição limitada, com as faixas rebatizadas de “Evil 2009” e “Curse of the Pharaohs 2009”. Outra reunião (sem Bjarne) ocorreu em 2011, no show comemorativo aos trinta anos do Metallica, no Fillmore de San Francisco. 

Existem duas coletâneas do Mercyful Fate no mercado, A Dangerous Meeting, lançada em 1992 (que reúne material tanto do grupo quanto da banda solo de King Diamond) e The Best of Mercyful Fate, de 2003. Ambas são boas portas de entrada para o som do grupo, ao lado dos clássicos dois primeiros discos. O vocalista sempre afirmou que a banda não acabou, estando apenas “hibernando”, então resta a esperança de ainda vermos o grupo lançar algum material novo por aí! Afinal, não se pode quebrar o juramento, certo?

3 comentários sobre “Discografias Comentadas: Mercyful Fate (Parte II)

  1. Denner e Sherman são a minha dupla favorita de guitarristas de heavy metal. Gosto muito do Mercyful Fate, já do King Diamond solo não tanto… apesar do Fatal Portrait eu achar um baita petardo.

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