Re-Machined: A Tribute to Deep Purple’s Machine Head [2012]

Re-Machined: A Tribute to Deep Purple’s Machine Head [2012]

Por Micael Machado

Em comemoração aos quarenta anos do clássico álbum Machine Head, do grupo britânico Deep Purple, a revista Classic Rock levou a cabo este tributo ao disco, cuja ideia teve início lá em 2010. Começando por um contato com Lars Ulrich, baterista do Metallica, o pessoal da revista conseguiu reunir uma turma de peso dentro do cenário do rock mundial, para reverenciar este que é um dos mais importantes registros do estilo em todos os tempos.

Em nove faixas (dez na edição especial no formato fan pack lançada pela Classic Rock, a qual ainda conta com uma revista especial de 124 páginas  contando detalhes da gravação através de entrevistas da época e atuais com os envolvidos no processo, além de depoimentos dos músicos envolvidos no tributo), as sete canções do disco original (mais a faixa “When a Blind Man Cries”, gravada nas mesmas sessões, mas que ficou de fora do track list e acabou como lado B do single “Never Before”) são revisitadas com méritos por quase todos os convidados.

A edição fan pack da Classic Rock

Quem fez as contas, notou que há uma faixa extra na edição “normal’ lançada no mercado (e distribuída no Brasil pela gravadora ST2) . Ela é justamente o maior clássico do disco, a conhecidíssima “Smoke On The Water”, que aparece em duas versões, a primeira logo na abertura do CD, através da interpretação do magistral guitarrista Carlos Santana, tendo nos vocais o cantor da banda Papa Roach, Jacoby Shaddix. Esta versão já havia aparecido no álbum Guitar Heaven, lançado em 2010 por Santana, e não se constitui em uma novidade. Aqui, a segunda guitarra poderia ser um pouco menos rascante (além de estar muito mais alta que os demais instrumentos), e o toque percussivo latino sempre presente na obra do mexicano também marca presença. Um bom início, mas o melhor ainda virá.

A partir daí, o tributo segue a ordem do LP original, e a próxima faixa é a versão do Chickenfoot para “Highway Star“, que abria a versão lançada em 1972. Registrada ao vivo, a banda parece estar se divertindo muito ao longo de sua execução, transformando a música em um dos destaques de Re-Machined. Muito disso graças ao enorme talento dos músicos do grupo, principalmente Joe Satriani, que substitui com sua guitarra todas as faixas de teclado da versão de estúdio, respeitando as linhas originais mas também colocando suas próprias características durante a execução (vale lembrar que Satriani chegou a tocar com o Purple na turnê do álbum The Battle Rages On, em 1994, sendo inclusive convidado para se tornar membro oficial do grupo, declinando do convite para seguir sua carreira solo). Excelente!

O reconhecido Glenn Hughes (ex-membro do próprio Purple, porém em outra fase) escolheu interpretar “Maybe I´m A Leo”, música cujo ritmo “balançado” casou muito bem com seu estilo tradicional. Com Chad Smith (também do Chickenfoot e do Red Hot Chili Peppers) dando um show na bateria, e o relativamente desconhecido Luis Maldonado na guitarra (ele que gravou o álbum First Underground Nuclear Kitchen, lançado por Hughes em 2008), Hughes acerta em cheio na sua re-interpretação de uma das faixas menos lembradas de Machine Head, apesar de abusar do agudo aqui e ali. Mas um sujeito com seu talento não iria pisar na bola, e não foi desta vez que isso aconteceu.

O Black Label Society foi o convidado para “Pictures Of Home”, particularmente a minha faixa favorita do disco original. A música ficou bem mais lenta que a versão de estúdio, e até um violão aparece no novo arranjo em algumas partes. Mais uma vez, a guitarra substitui as partes dos teclados, e, apesar do estilo de Zakk Wylde tocar ser completamente diferente do de Ritchie Blackmore (como prova seu solo nesta gravação), a faixa ficou bem legal, embora bastante diferente. Vale a audição.

Um aglomerado chamado Kings Of Chaos é o responsável por “Never Before”. Reunindo o vocalista Joe Elliott (do Def Leppard), o guitarrista Steve Stevens (ex-músico das bandas de Billy Idol e Vince Neil), Duff McKagan e Matt Sorum (a cozinha do Guns and Roses e do Velvet Revolver) e o desconhecido tecladista Arlan Schierbaum (que tocou, dentre outros, com Richie Kotzen e Meredith Brooks), o “grupo” foi bastante fiel à versão original, sem grandes destaques individuais mesmo com músicos tão talentosos. Pessoalmente, gostaria de saber como uma banda com essa formação se sairia em um álbum próprio, pois são tantos backgrounds diferentes entre si que qualquer coisa poderia surgir da união desses músicos. Quem sabe um dia?

Detalhe do encarte de Re-Machined.

O que seria o “lado B” de Machine Head inicia com a segunda versão para “Smoke On The Water“, desta vez pelas mãos do grupo alternativo Flaming Lips. Esta faixa em particular só pode ser uma brincadeira da revista, pois não é possível que isso aqui seja sério. Os caras simplesmente assassinaram a música, usando equipamentos eletrônicos ao longo de toda a sua duração, e adicionando essa característica “estranha” à guitarra, que ganha um papel totalmente secundário em um dos maiores hinos onde o instrumento já esteve presente. E esse absurdo ainda conta com os vocais de Gibby Haynes, um cara a quem sempre respeitei por seu trabalho ao lado do Butthole Surfers e do Revolting Cocks. Totalmente dispensável, assim como o restante da discografia do conjunto.

Jimmy Barnes (quem?) foi o escolhido para gravar “Lazy“. Segundo a Wikipedia, o sujeito é bastante reconhecido na Austrália, onde é ídolo e vende muitos discos. Eu nunca tinha ouvido falar dele, mas, pelo fato das guitarras terem sido gravadas por Joe Bonamassa (artista solo, também membro do Black Country Communion) e Brad Whitford (do Aerosmith), resolvi lhe dar um crédito. Com quase nove minutos, essa acabou sendo a maior faixa do álbum, sendo que a intro ficou muito boa, com os teclados também tocados pelo “famoso” Arlan Schierbaum, também presente na faixa do Kings Of Chaos. É claro que Bonamassa e Whitford não iriam deixar a peteca cair em um tributo de tal importância, e a cozinha segura bem a onda (ainda que o andamento esteja um pouco mais lento que a original). O entrosamento entre os guitarristas e Schierbaum é bastante interessante, e isso tudo pode ser avaliado ainda nos quatro minutos e meio iniciais, onde o tal Jimmy não dá sequer um pio, para, quando iniciar a cantar, revelar um timbre bem parecido com o de Ian Gillan, o que torna esta uma das melhores faixas do tributo. O solo de harmônica presente na versão de estúdio é substituído por um de guitarra, e os berros da parte final são feitos com competência por Barnes. Uma troca de solos entre guitarras e teclados encerra uma faixa muito boa, sendo um dos destaques do álbum.

Com apenas três minutos e meio, a versão do Iron Maiden para “Space Truckin’” (gravada durante as sessões para o disco A Matter of Life and Death, de 2006, mas nunca lançada oficialmente) ficou bem parecida com a original, sem que o grupo imponha seu estilo ao arranjo (a não ser pelo fato do baixo do chefão Steve Harris estar bem à frente dos demais instrumentos). O vocalista Bruce Dickinson está bem à vontade na faixa, e a banda exibe bem o seu talento, mas não acrescenta nada à ainda insuperável versão original. Trata-se de uma curiosidade, mas pouco mais do que isso.
Encerrando o disco, jamais imaginei o Metallica gravando algo como “When a Blind Man Cries“. A banda respeitou o tristonho arranjo original, mas colocou algumas características próprias na sua versão, como o solo de Kirk Hammet na parte do meio. O vocal de James Hetfield está quase irreconhecível, mais agudo que o normal, e Robert Trujillo consegue encaixar alguma linhas de baixo bem interessantes ao longo da duração da faixa. Ficou uma cover bem atraente, com alguns acréscimos à original, porém sem descaracterizá-la. No que seria a parte final, o Metallica finalmente se revela, com Kirk executando um solo animal, e Lars Ulrich sentando o pau na bateria, ao mesmo tempo em que James canta de forma mais agressiva do que antes. Ao fugir da simples cópia do original, o grupo acabou criando a melhor parte da música, elevando-a a outro patamar. Excelente!

Contracapa do tributo.

Ficou de fora da versão lançada à parte do fan pack a cover para “Highway Star” interpretada pela união dos já citados Glenn Hughes e Chad Smith com o mago das guitarras Steve Vai e o desconhecido tecladista Lauchlan Doley. Mesmo assim, o tributo ficou muito bom, embora sem conseguir superar a qualidade do álbum original, um dos maiores clássicos que o mundo do rock já ouviu. Se você curte a versão “quarentona”, vale conferir esta “nova edição”, mas não espere a re-invenção da roda. Afinal, ela já está aí há muito tempo!

“We all came out to Montreaux, on the Lake Geneva shoreline”.

Tracklist:

1. “Smoke on the Water”
2. “Highway Star” (Live)
3. “Maybe I’m a Leo”
4. “Pictures of Home”
5. “Never Before”
6. “Smoke on the Water”
7. “Lazy”
8. “Space Truckin'”
9. “When a Blind Man Cries”

Classic Rock Magazine Fan Pack Bonus Track:

10. “Highway Star”

4 comentários sobre “Re-Machined: A Tribute to Deep Purple’s Machine Head [2012]

  1. Eu já havia comentado em minha recente resenha de "Driving Towards the Daylight", mais recente álbum de Joe Bonamassa, o quanto eu gostei da versão de "Lazy" gravada junto com Jimmy Barnes. Porém, ainda adiciono: pra mim, é a melhor entre todas as presentes em "Re-Machined", e olha que "Lazy" nem está entre minhas preferidas de "Machine Head". Bonamassa cada vez mais se firma como uma realidade de alto nível, e Jimmy é um baita vocalista, desses que nunca sobrepõem técnica à raça. Conheci o cara pelo fato de Neal Schon e Jonathan Cain, ambos do Journey, terem trabalhado com ele na segunda metade dos anos 80 antes de formarem o Bad English. Micael, dá uma conferida nessa música, rock de caminhoneiro! http://www.youtube.com/watch?v=-G3rpMurkX4

  2. Com um repertório desses, até a Banda Calypso se sairia bem, imagina com esta plêiade de craques!

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