Discografias Comentadas: Hangar

Discografias Comentadas: Hangar

Por Thiago Reis

O Hangar é mais conhecido pelo público ligado ao heavy metal por ter no baterista Aquiles Priester o seu fundador e membro mais famoso, em função de uma passagem bem sucedida pelo Angra e também no grupo solo do guitarrista Vinnie Moore. Porém, se pararmos para analisar, o Hangar não é apenas Aquiles Priester. O quinteto formado por Nando Mello (baixo), Eduardo Martinez (guitarra), Fabio Laguna (teclado), Andre Leite (vocal), além do próprio Aquiles, é dono de muita técnica, profissionalismo, seriedade e uma estrutura de dar inveja a bandas internacionais. Ao longo das próximas linhas falaremos sobre a discografia, as mudanças de formação e os grandes clássicos que marcam as sempre competentes e energéticas apresentações do Hangar.


Last Time [1999]

Com uma formação muito diferente da descrita acima, mas não menos competente, o Hangar lançou seu debut com Michael Polchowicz nos vocais, Aquiles na bateria e Cristiano Wortmann na guitarra e no baixo. Após a gravação do álbum, Nando Mello foi efetivado como baixista. O álbum começa com uma introdução bem característica dos álbuns de prog/power, ou seja, “Secrets of The Sea” imprime o clima perfeito para a entrada da veloz “Like a Wind in the Sky”, que além da velocidade tem ótimos riffs e um bom refrão. Seguimos com “Voices”, que é um pouco mais cadenciada que a anterior, mas mesmo assim prima pela técnica e pelos riffs de ótimo gosto. “Absinth” começa de uma maneira bem diferente, com uma bonita introdução ao violão, que de repente dá lugar às guitarras pesadas, com cavalgadas em uma velocidade impressionante, mostrando exatamente o que a banda tem de melhor. Seguimos com a faixa-título, que possui um riff mais cadenciado e até certo ponto grudento, mas que funciona muito bem com a melodia vocal escolhida por Michael Polchowicz.

A música seguinte é um grande clássico do grupo: “Angel of the Stereo” reúne todas as caracterisiticas que fizeram do Hangar a banda que é. Ótimos refrões, velocidade, técnica e uma ótima performance do vocalista Michael Polchowicz. “Angel of the Stereo” não pode ficar de fora do set list de nenhum show do conjunto. “Speed Limit 55” é a próxima e mantém justamente o que o título da música propõe: velocidade em todos os momentos. No mais, é uma música normal que não apresenta nenhuma novidade se comparada às outras faixas do disco. A canção de encerramento, “Lost Dream”, merece todo o destaque, pois é uma instrumental de alto nível e bom gosto, fechando o álbum com chave de ouro. No ano de 2008 o Hangar relançou o disco com o nome de Last Time… Was Just The Beggining, contendo uma versão de “Angel of the Stereo” gravada em 2006 e uma surpresa muito agradável, a inclusão da faixa “Ask The Lonely”, do Journey, que ficou excelente. Entre os fãs do Hangar é unânime sua solicitação nos shows da banda. Além das faixas bônus há um DVD, que entre outros momentos históricos possui uma parte do show de abertura realizado para o Angra na turnê do álbum Fireworks, no Rio Grande do Sul.


Inside Your Soul [2001]

Após a boa receptividade do debut, era hora de voltar ao estúdio e gravar mais um álbum. Dessa vez as atenções foram ainda maiores, pois Aquiles já era membro do Angra, o que proporcionou ao Hangar um salto de quantidade no tamanho de seu público. Inside Your Soul é um petardo capaz de agradar a todo tipo de fã, seja aquele que já conhecia o conjunto anteriormente ou mesmo os mais novos. A faixa de abertura, “The Soul Collector”, é bem curta, mas coloca o ouvinte a postos e diante de um verdadeiro coletor de almas, pois o que vem a seguir, na faixa-título, é uma demonstração de peso, agressividade e ótimos riffs, cortesia de Eduardo Martinez, que substituiu Cristiano Wortmann com maestria. Todo esse peso segue com a seguinte, “Sailing The Sea of Sorrow”, que além de pesada, possui uma velocidade incrível em seus riffs e nas viradas de bateria de Aquiles. Continuamos com a bela introdução para a segunda parte da trilogia “The Massacre Trilogy”, a música “To Tame a Land”, que traz Fabio Laguna (que na época era tecladista convidado) em grande destaque. Após se encerrar a pequena intro, “To Tame a Land” mostra o porquê de ser o maior clássico da discografia do Hangar. Ótimas melodias vocais, refrões marcantes, velocidade em todos os instantes e uma letra muito bem trabalhada.

A trilogia se encerra com “Five Hundred’s Enough”, que mesmo sendo ótima, fica ofuscada pelo brilho de “To Tame a Land”. “Savior” é a próxima e começa de uma maneira totalmente diferente: bem psicodélica, com uma introdução que mexe com o ouvinte, criando um clima oposto ao que vinha sendo apresentado no restante do álbum. Após essa introdução, voltamos com o peso característico do Hangar, mas sempre alternando com momentos mais lentos. A seguinte, “The Vision”, tem uma abertura bem elaborada, com efeitos de teclado, uma ótima introdução para o peso e a velocidade de “Legions of Fate”, que possui riffs destruidores, bases de teclado muito bem escolhidas e mais uma vez uma ótima participação de Aquiles, com a sua mais do que conhecida velocidade. Seguimos com “Living in Trouble Part 1” e “Living in Trouble Part 2”, nas quais se destacam suas suas letras de revolta e indignação contra o sistema. “No Command” é a seguinte, com ótimos rifs, seguindo um padrão mais tradicional dentro do prog/power, destacando a habilidade de todos os músicos em várias passagens. Para finalizar, fechamos com “Falling in Disgrace”, uma ótima letra de Michael Polchowicz, falando de um amigo que caiu na desgraça das drogas. Musicalmente tem riffs mais simples, que nos ajudam a captar a mensagem por trás da letra. Apesar da boa receptividade do álbum, Michael Polchowicz decidiu se desligar do Hangar, obrigando a banda a modificar sua formação mais uma vez.


The Reason of Your Conviction [2007]

De longe o álbum mais bem trabalhado do Hangar, já que Aquiles e cia. tiveram muito tempo para trabalhar as letras e os arranjos. Nando Fernandes entrou no lugar de Michael, garantindo o alto nível de seus vocalistas, algo  sempre característico no grupo. A faixa de abertura, “Just The Beginning”, é enigmática, densa e com certeza a participação mais do que especial de Arnaldo Antunes faz com que o início para o que está por vir seja ainda mais especial. Logo após a introdução terminar, a banda entra com “The Reason of Your Conviction”, que de cara exibe uma banda ainda mais madura, que mostrou ter escolhido os arranjos a dedo. A presença de Fabio Laguna como membro permanente também contribuiu muito para isso. Nando Fernandes mostra ao que veio com um vocal cativante e ao mesmo tempo técnico. A música seguinte, “Hastiness”, merece todo o destaque pela introdução de bateria mais do que marcante, tornando-a uma das mais queridas pelos fãs. Além do ótimo momento de Priester no começo, temos mais uma vez ótimos riffs, backing vocals bem elaborados e grandes solos de guitarra e teclado. “Call Me In The Name of Death” vem para acalmar os ânimos em grande estilo, imprimindo um clima sombrio e ao mesmo tempo perfeito ao que o álbum se propõe. Ótima letra, interpretação intimista e digna de nota de Nando Fernandes, além de um dos melhores solos de Eduardo Martinez, com um feeling indescritível.

Para manter o alto nível, a subsequente, “Forgive The Pain”, vem com a já citada velocidade e com ótimas melodias, pois mesmo sendo rápida, o refrão e várias partes da música ficam na cabeça do ouvinte. “Captivity ( A House With a Thousand Rooms)” mostra a versatilidade de Nando e tem bons momentos, com destaque para o solo de guitarra, mas não cativa tanto quanto outras faixas do mesmo estilo, como “The Reason of Your Conviction” e “Hastiness”. “Forgotten Pictures” segue a mesma linha da anterior, ou seja, tem bons momentos, ótimas viradas, passagens de teclado que são dignas de serem citadas, mas não chegam à altura das primeiras faixas, que se tornaram verdadeiros clássicos do Hangar. Seguimos com “Everlasting Is the Salvation”, que começa de maneira bem diferente, ou seja, é cadenciada, possui riffs mais diretos e vocais bem rasgados. Não é muito lembrada pelos fãs, mas com certeza é uma das melhores composições do disco.

O alto nível continua com “One More Chance”, que junto a “Call Me In The Name of Death” tem o papel de mostrar o lado mais acessível do Hangar. Ótimas bases de teclado, vocais cativantes, letra muito bem elaborada e um riff simples que funciona perfeitamente no contexto da música. “When the Darkness Takes You” mostra já em seus segundos iniciais ao que veio, ou seja, técnica, precisão e muita velocidade. Após esse começo mais do que veloz, entra um riff mais lento, bem quebrado e trabalhado. Com certeza é outra das ótimas faixas do disco, mas que não é tão lembrada pelos fãs da banda. O álbum se encerra com a faixa bônus “Your Skin and Bones”, mantendo as características do Hangar intactas, ou seja, riffs bem pesados, melodias muito bem escolhidas, vocais marcantes, velocidade empregada através dos dois bumbos de Aquiles e bons refrões. Com certeza uma ótima maneira de encerrar o álbum. Após a turnê de divulgação, Nando Fernandes decidiu deixar o Hangar, frustrando os fãs, já que era planejado o lançamento de um DVD. A sina de trocar de vocalistas continuava para o conjunto, mas como veremos a seguir a banda mais uma vez conseguiu achar um substituto à altura.


Infallible [2009]

Apostando em uma sonoridade mais acessível mas sem perder o peso e a técnica, o Hangar entrou em estúdio para gravar seu mais recente full-lenght, que contou com a entrada do vocalista Humberto Sobrinho. O álbum começa com “The Infallible Emperor (1956)”, pesada e muito técnica, com grande destaque para o trabalho de dois bumbos de Aquiles. A diferença aqui é que os vocais ficaram mais palpáveis mas não menos poderosos e marcantes. “Colorblind” segue a mesma linha, com ótimos riffs e uma grande participação da banda como um todo, sendo mais uma faixa a ser destacada no play. A terceira, “Solitary Mind”, é uma canção ao estilo radio friendly, que teoricamente teria potencial para emplacar nos meios de comunicação, pois possui uma ótima melodia, que mistura tristeza e uma sensação de solidão (o nome da música caiu como uma luva), além de uma grande participação de Humberto, que deu um toque especial com sua excelente voz. O estilo mais acessível continua com “Time to Forget”, uma linda faixa com ótimos arranjos, boas linhas de guitarra e uma bela letra. Com certeza mais uma música que terá espaço cativo nos futuros set lists do conjunto. A técnica e a velocidade à toda prova, marcas registradas do Hangar, voltam com “A Miracle in My Life”. Nesta canção com mais de sete minutos, todos os membros têm o seu espaço para brilhar, com maior destaque para as viradas ultra rápidas de Aquiles, os solos de Martinez, muito bem acompanhados por Nando Mello e Fabio Laguna.

Também é destaque o vocal rasgado de Humberto, que mostra porque foi o escolhido para substituir Nando Fernandes. “The Garden” é outro registro bem pesado e técnico, que prima pela velocidade. Tem seus bons momentos, com Humberto executando vocais rasgados mais uma vez. Também é de grande destaque o solo de teclado, cortesia de Fabio Laguna, sempre com bom gosto para escolher os timbres. A seguinte, “Dreaming of Black Waves”, foi a escolhida para ser o carro-chefe de divulgação do álbum, já que reúne as principais características que o Hangar queria mostrar em Infallible. Possui melodias acessíveis, que podem atingir um público diferente do usual, mas sem desagradar os fãs mais antigos. Seguimos com “Based on a True Story”, que também tem um clima mais radio frienly, mas não possui o mesmo brilho que faixas como “Time to Forget” e “Dreaming of Black Waves” têm. O peso volta com força máxima através de “Handwritten”, com riffs poderosos, ótima base de teclado e um vocal ainda mais poderoso de Humberto Sobrinho, nos remetendo a um metal mais tradicional e sem frescuras, direto ao ponto. A seguinte, “Some Light to Find May Way”, mostra ao ouvinte como se fazer um metal mais técnico, mas com uma melodia bem marcante por trás, que com certeza sempre foi um diferencial do Hangar. Os grandes destaques dessa faixa vão para as criativas viradas de Aquiles, os solos de Martinez e Laguna e o vocal mais uma vez bem trabalhado. Como bônus, encontramos os covers para as faixas “’39”, do Queen, e “Mais Uma Vez”, do Roupa Nova. Nestes dois tributos prestados encontramos competência, capacidade e bom gosto, adjetivos que realmente cabem não só para as duas músicas citadas, mas para o disco como um todo.


Formação atual: Eduardo, Aquiles, Andre Leite, Nando e Fabio.

Os anos de 2010 e 2011 foram bem agitados para o Hangar, com muitos shows, workshows e a entrada de um novo vocalista, o versátil e competente Andre Leite, que em nenhum momento deixou a peteca cair, garantindo a qualidade mostrada pelos seus antecessores. No ano passado foi lançado o álbum Acoustic But Plugged In, com versões acústicas para os maiores sucessos do Hangar no formato e uma faixa inédita, “Haunted By Your Ghosts”. Neste álbum acústico, os grandes destaques vão para o novo vocalista e para os sempre excelentes arranjos de Fabio Laguna. Tal lançamento foi um sucesso e a banda já gravou um DVD todo acústico, que eternizará mais um ótimo lançamento do Hangar. 2012 começou muito agitado para a banda, já que ela decidiu tocar o álbum Inside Your Soul na íntegra em algumas ocasiões especiais (03/02 em São Paulo e 05/02 em Volta Redonda, no RJ) deixando os fãs mais do que satisfeitos. Além disso, o lançamento do tão aguardado DVD acústico está agendado para meados do primeiro semestre.

12 comentários sobre “Discografias Comentadas: Hangar

    1. E incrível o ouvido musical de algumas pessoas.
      Pelo comentário da pra perceber que não entende muito de musica.Angra e Hangar possui músicos reconhecidos pela tecnica no mundo todo, padrão internacional…..
      Ta acostumado com grandes nome como Frank Aguiar e seus teclados furiososr e quando escuta uma musica de uma banda realmente boa, fica falando coisas do tipo, comentário que merece ser desconsiderado

  1. Interessante! Vi o show do Hangar aqui de Volta Redonda e fiquei pensando no seguinte: "Caramba, os caras são bons mesmo… por que eu não conheci antes?!" É a realidade, infelizmente… o som é bacana, o guitarrista, vocalista e o Aquiles realmente roubam o show e te deixam com vontade de treinar cada vez mais para poder compor e executar música como eles. Parabéns mesmo à banda e ao crítico Thiago, bacana mesmo os seus posts! Show,…

  2. Muito obrigado pelo comentário, Marcio! Realmente a execução dos caras é perfeita, um show a parte mesmo.
    Vamos ver se esse post te anima a pegar uns discos deles emprestados comigo hehe…
    abração!

  3. Leandro, fiquei curioso agora. Qual é a definição de tudo muito frouxo? Digo com argumentos dentro das propostas musicais das bandas mesmo…
    abração!

  4. obrigado pela correção, Leonardo. Acabei confundindo na hora de digitar o texto, justamente pq os caras do Roupa Nova participam da versão do Hangar…
    abraços!

  5. Acho que o Leandro quis dizer que os grupos não tem pegada … é tudo regado a muita técnica…mas falta…eu diria "T" …. acho que é isso…

  6. Quando "Inside Your Soul" saiu, em 2001, curti bastante. Na época eu ouvia com frequência as vertentes mais melódicas do heavy metal e procurava conhecer as novidades do gênero, e o Hangar havia sido uma boa adição. Hoje em dia, esse tipo de som, apesar de ter qualidades, não desperta mais aquele tesão em ouvir, não empolga mais da mesma maneira. A entrada de Nando Fernandes no grupo foi algo muito positivo (o cara canta demais!), mas sinto que as composições do Hangar deixam a desejar quando o assunto é cativar um ouvinte como eu, e grande parte da "culpa" parece ser do próprio Aquiles, que apesar de ser um grande músico, acaba orientando demais as músicas para a instrumentação e um tanto menos para as melodias.

  7. Oi Diogo!
    Músicas como "Call me in the Name of Death", "Time to Forget", "Dreaming of Black Waves", "Solitary Mind", "Haunted By Your Ghosts" e muitas outras recentes do Hangar podem fazer vc mudar de opinião, já que o lado melódico fica em primeiro plano ao invés da técnica…
    vlw pelo comentário!!!
    abrasss

  8. Sempre achei o Hangar uma banda perfeita ao vivo. Pena que a mídia e a maioria dos fãs que curtem o estilo, se prendam ao Angra e afins. O Hangar tem uma sonoridade diversificada, são excelentes músicos ao vivo e a cada disco,mesmo que de diferentes sonoridades, mostram que merecem um patamar cada vez maior no cenário brazuca e até lá fora.

    1. Hangar e Almah não tiveram a recepção que mereciam do público brasileiro que ficam presos ao Angra e Sepultura aqui no país e colocam nos pedestais as bandas gringas. Por isso o metal não é tão reconhecido no país. A moeda da mídia já não ajuda e a galera que gosta de música pesada não sabe se unir e apoiar a sena da no que dá. Jovens que não têm gosto musical e só pensam em merdas que a mídia vende.

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