Amy Winehouse: 14/09/1983 – 23/07/2011

Amy Winehouse: 14/09/1983 – 23/07/2011

Por Mairon Machado
Sei que a notícia já ficou velha, mas é que talvez eu seja o único dos colaboradores do blog que admira a carreira musical de Amy Winehouse, chegando ao ponto de ter o vinil Back to Black na minha prateleira, e também na lista dos mais ouvidos nos últimos quatro anos. Ainda não havia parado para assimilar tal fato, e foi hoje pela manhã que consegui encaixar as coisas.
Tirando o lado pessoal de Amy Winehouse, cercado de polêmicas, encrencas e muita baixaria, musicalmente e pessoalmente a cantora inglesa mostrou para os jovens dos anos 2000 aquilo que muitos deles enxergavam apenas em ídolos do passado: talento, inovação e muita transpiração.
Conheci o som de Amy Winehouse através de uma ex-namorada, que insistia em me dizer que eu estava perdendo tempo em não ouvir o som dela. De tanta encheção de saco, um dia ouvi “Back to Black” (cujo vídeo, por acaso, apresenta um enterro) e pirei. Essa canção é uma aula sentimental para os anos 2000, e o arranjo jazzístico/orquestral da mesma é fantástico. Na sequência, ouvi  as cinco canções que me haviam sido indicadas: “Tears Dry on Their Own”, “Love Is a Losing Game”, “Me & Mr. Jones”, “In My Bed” e “Some Unholy War”. No meio delas,  exatamente em “Me & Mr. Jones“, o vírus contagiou.
Amy e Blake Fielder-Civil
Baixei os dois discos da cantora, Frank (2003) e Back to Black (2006), ouvindo-os praticamente sem parar, encantado com a sonoridade antiga empregada nos anos 2000. Frank é um disco que deve ser curtido em doses homeopáticas. Com uma potência destrutiva de uma banda altamente entrosada, é nele que o mundo conheceu a voz rouca e rasgada de Amy, com toques de rock ‘n’ roll envolvidos pelo blues e pela soul music. Já Back to Black é um disco que deve ser proibido para uma pessoa que quer cometer suicídio. Um dos melhores álbuns da década passada, nele Amy coloca para fora todo o seu amor pelo então marido Blake Fielder-Civil, cuja relação foi uma bomba atômica implodindo rapidamente dentro de seu corpo através de muito álcool e o quíntuplo de entorpecentes. Através de canções planejadas para tocar a alma do ouvinte, Amy misturou ritmos como jazz, gospel, soul, funk e, por que não, rock ‘n’ roll, como quem mistura uma sopa com veneno, e, não satisfeita, afiando as facas para cortar os pulsos. Achei o vinil de barbada em uma das muitas incursões minhas pelos sebos cariocas, e tenho o mesmo até hoje guardado entre meus favoritos dos últimos anos.

Back to Black, o melhor disco de Amy

A mistura acima me lembra muito o que Janis Joplin fez quando saiu da Big Brother and the Holding Company, fundando a Kosmic Blues Band em 1969 e colocando para fora todo o sentimento que não era possível de ser colocado dentro do Big Brother and the Holding Company.

Aliás, creio que não seria injusto dizer que Amy Winehouse foi a Janis Joplin dos anos 2000. Sua carreira meteórica, com apenas dois discos oficiais, a diferença principal foi que Amy vendeu muito ao redor do mundo, além de ter gerado muita polêmica. Viciada em drogas, o maior sucesso foi “Rehab“, não por acaso de Back to Black. Essa canção é uma autobiografia que simpatizou com diversos fãs, e gerou problemas diversos tanto com sua família quanto com a imprensa sensacionalista, sempre preocupada em encontrar um fato novo para colocar a imagem de Amy mais para baixo do que o cocô da mosca no cocô do cavalo do bandido.
Amy

Muitos alegam que Amy não tinha voz, não tinha personalidade no palco, e era uma péssima intérprete. Não creio que seja bem assim. Envolta sempre por uma banda extremamente competente, Amy fazia do simples sua marca registrada. Não tinha a explosão vocal de uma Tina Turner, a avassaladora presença de palco de Janis Joplin, a beleza de Debbie Harry, a sensualidade de Madonna ou a sutileza musical de Elis Regina, mas como que contando para amigos, em uma mesa de bar recheada de garrafas de uísque, Amy exalava sentimento em letras construídas em sua maioria por ela mesma, narrando as histórias pessoais de sua vida com uma paixão que é rara de se encontrar na música de hoje em dia, ao ritmo principalmente de um jazz rock dançante e envolvente.

Corpo de Amy sendo carregado

A morte da cantora, aos 27 anos, já era esperada pelos fãs. Afinal, Amy entrou para o hall dos grandes nomes da música da mesma forma que Janis Joplin, Jimi Hendrix e Jim Morrison, todos falecidos aos 27 anos. Claro, não tenho como comparar Amy com os artistas citados, que para mim (e creio que para todos vocês, leitores do blog) são muito melhores e mais emocionantes de se ouvir do que a cantora inglesa, mas no fundo, muitas das canções de Amy dizem mais para mim do que alguma letra de Jimi Hendrix, por exempo.

Perdoem o desabafo, mas Amy Winehouse é uma merecedora inclusive de um artigo na coluna “A Little Respect”, já que, repito, em termos de música, poucos conseguiram fazer algo com uma qualidade tão elevada nos últimos anos. Acabei não conseguindo assistir à cantora ano passado, quando ela esteve no Brasil e se apresentou perto de Porto Alegre, em Florianópolis, pois estava em viagem naquela data, mas quem foi, por melhor ou pior que tenha sido a apresentação, viu com certeza o principal nome da música desde Kurt Cobain. 
De uma forma especial,  Amy Winehouse tocou milhões de almas ao redor do mundo, passando a ser lembrada por aqueles que apreciam sua música para sempre principalmente por suas composições emocionantes, dosadas de um talento único e que aparece raramente.
Rust in Peace!!!

Que os astros lhe recebam com muito uísque, ceva gelada e claro, um palco montado para você deixar sua voz rouca soar entre os comentários de “como ela está melhor agora!”.

8 comentários sobre “Amy Winehouse: 14/09/1983 – 23/07/2011

  1. Eu não curtia o som dela (que, aliás, nem conheço direito, só o que tocou por aí). Mas tenho de reconhecer seu valor e sua importância no mundo da música atualmente, um mundo onde a imagem e a pose são mais importantes que a qualidade e a capacidade dos artistas.

    Concordo com o Mairon quando diz que Amy foi o nome mais importante da música desde Kurt Cobain. E se servisse para inspirar as pessoas a comporem músicas com a qualidade e a beleza das que ela compôs, além de servir de exemplo de como não conduzir a sua vida, se tornaria ainda mais importante do que já foi.

    Rest in Peace, Amy!

  2. A morte era esperada, mas não menos chocante. Fiquei triste e abalado com o fato. Considero o álbum 'Back to Black' uma obra-prima, um disco muito bom e que está muito acima da média do pop. Ela pavimentou o caminho que seria seguido mais tarde por cantoras como Adele e Duffy, além de trazer Sharon Jones para a grande massa.

    Quem não conhece deveria aproveitar a morte de Amy e ouvir ao menos o álbum 'Back to Black', que é sensacional.

    Parabéns pela lembrança, Mairon.

  3. Que ela era, sim, muito talentosa, é fato inegável. Mas estou certo de que a repercussão de sua carreira e de sua morte, que ainda se estenderá por anos, superará os níveis suportáveis, assim como foi com outros artistas que foram relevantes, mas que acabaram tendo sua genialidade elevada mais do que mereciam.

    Enquanto alguns investem nessa patacoada dos 27 anos, eu prefiro olhar para quem ainda está vivo: Pete Townshend, Bruce Springsteen, Robert Fripp, Justin Hayward, Paul Rodgers… a lista vai longe…

    De qualquer maneira, essa é apenas uma opinião pessoal. Isso não anula de maneira alguma o belo depoimento prestado pelo Mairon.

  4. Sem querer desmerecer a falecida, não vamos supervalorizar a moça né pessoal!
    Dois albums de carreira, sendo o segundo uma jogada de marketing megaproduzida pautada principalmente na imagem 'junkie' da cantora, seguido de uma decadência vertiginosa e shows cada vez piores, como o ultimo no Brasil que por pouco não foi um vexame, Amy aparecia mais pelos 'escandalos' de bebedeira, drogas e violência que pela música.
    Tinha muito o que mostrar ainda, quem sabe aparecem algumas gravações póstumas ainda, manipuladas com todos os recursos que a tecnologia atual possui…

  5. Mania boba que nossa midia tem de fazer comparações…

    Ela era Ela… tem valor por si mesma e já basta…

    Infelizmente nos anos de sua carreira os escandalos falaram mais que a música…. embora me pareça que muitas vezes ela mesma contribuiu para isto….

    Para se fazer história não é necessário uma carreira longa…de que adianta 50 discos medianos se um ou dois excelentes já bastam ? Embora eu concorde que seria muito melhor que ela tivesse tido uma carreira consistente, superando ou pelo menos igualando a pequena obra prima que é Back to Black, do que ter sofrido tamanha degradação em sua vida pessoal e artistica (vide as performances sofríveis dos ultimos anos)
    Mas os artistas devem ser julgados artisticamente em seu melhor…. e não quando estão chapados… pelo menos essa é minha opinião

    E sim…ela foi uma das maiores da última década…. pena que não transcendeu e se autodestruiu …

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