Direto do Forno: Vãn Züllatt – Betelgeuse [2011]

Direto do Forno: Vãn Züllatt – Betelgeuse [2011]
Por Mairon Machado
Depois de três anos de expectativa, finalmente o grupo pelotense Vãn Züllatt lançou seu segundo álbum. Betelgeuse consegue a façanha de superar o trabalho inicial do grupo. Mais maduros e com uma técnica cada vez mais aprimorada, Cleber Vaz (teclados, guitarras, flautas, violão e sampler), Marcelo Silva (bateria e sampler), Gabriel Mattos (baixo, sintetizador BY5) e Jonatã Müller (guitarras, violão, flautas, teclados) mostram em um álbum espetacular o por que de o grupo estar se tornando cada vez mais conceituado não só no Rio Grande do Sul como no país.
Gravado entre agosto de 2010 e março de 2011 no estúdio Z em Pelotas, e com as participações especiais de Douglas Osinaga (guitarra) e Eugênio Bassi (voz, violão, bandolim, berimbau, contrabaixo e  percussão), Betelgeuse é apresentado pelo grupo como “um álbum instrumental conceitual baseado em ficção científica e ligeiramente influenciado pelos efeitos toxicológicos do vinho tinto. Qualquer semelhança  com qualquer outra coisa é puramente acidental“, possuindo apenas quatro faixas, e com pelo menos uma delas, a suíte faixa-título, enchendo os olhos e os ouvidos em uma futura maravilha prog. 

Cleber, Jonatã, Gabriel e Marcelo
O CD narra uma história de ficção científica, onde através de intrincadas peças instrumentais, fazemos uma jornada pelo universo a bordo da nave Vãn Züllatt, abrindo com os “Contatos” estabelecidos com a vida inteligente fora da Terra. A canção com o andamento intrincado de bateria, baixo e órgão, acompanha o  tema inicial das guitarras que leva para os solos Osinaga, com muitas notas velozes e setentista ao extremo. A sequência de escalas é fantástica, assim como o emprego do wah-wah, e um pequeno tema leva ao solo do órgão, que irá lembrar-lhe dos grandes momentos de Jon Lord no Deep Purple, voltando para o tema inicial das guitarras, com  Marcelo e Gabriel fazendo a precisa marcação para os viajantes acordes de moog. Keith Emerson está no seu quarto nesse momento. Depois da viajante sessão de teclados, um curto tema da guitarra com wah-wah encerra a canção.

Chegamos no penoso processo de criogenia humana, com barulhos diversos abrindo a pequena suíte “Seis Níveis de Criogenia”. Percussão e berimbau fazem o belo tema introdutório do primeiro nível de criogenia, seguido de um duelo entre berimbau e percussão. Vozes trazem um tema no bandolim (o segundo nível), acompanhado de barulhos percussivos, que passam a fazer a mesma melodia do bandolim, chegando ao surpreendente e belo solo de piano do terceiro nível. As escalas clássicas são encantadoras, e a guitarra chorando ao fundo dá um toque mais dramático ao belo tema dessa sessão.

A flauta surge acompanhando o tema do piano, levando então para o quarto nível de criogenia, que é um belíssimo solo de violão clássico. Vozes aparecem no meio do solo, que transforma-se em uma linda sequência de acordes, com um ritmo que lembra muito as canções do compositor baiano Elomar. Emocionante é o que pode se dizer para os acordes do violão nessa parte da canção, chegando então no quinto nível, onde um violão jazzístico e batidas nos pratos fazem o suave tema de uma ballad-jazz, com solos de violão e flauta. 

Assim, as mesmas vozes anteriores chegam para o sexto nível, voltando para as percussões e o solo de berimbau de Eugênio. O clima é pesado no solo, e as percussões dão ritmo para que o berimbau seja estraçalhado em notas pesadas, com o chocalho sendo o complemento da criogenização de seu cérebro, encerrando com um cântico africano acompanhando o ritmo do berimbau.

Para fazer a jornada pelo universo, o Vãn Züllat recebe uma “Dica”,  uma canção apenas com a participação de Cleber, onde ele retorna ao piano para fazer um solo memorável. Suavemente, somos levados para três minutos e 30 segundos de encantadoras notas, executando um tema digno dos grandes momentos de Chopin (não estou exagerando, o solo é muito belo).

A viajante capa de Betelgeuse

Após a “Dica”, começamos nossa viajem de ida e volta à constelação de Órion através da longa suíte “Betelgeuse”. Dividida em onze partes, ela abre com barulhos viajantes simulando um foguete espacial na introdução da canção, chamada “Desconectando”, saindo da Terra em direção a Órion, com o piano aparecendo em um solo rápido. Baixo e bateria aparecem em “Marte”, para a guitarra fazer um curto tema, que é repetido algumas vezes, trazendo o solo de moog, já em um ritmo cadenciado da guitarra e da cozinha Marcelo/Gabriel. O solo do moog é repetido, e assim, a pesada guitarra faz o tema que o moog havia nos apresentado, para intervenções de guitarra, flauta e moog surgirem durante o andamento, bem como viradas da bateria e vozes.

O moog sola novamente, para a guitarra entrar em “Rumo A Saturno” com um solo leve, acompanhado pelo andamento suingado da bateria, do baixo e do piano elétrico, tendo o moog ao fundo, e variando para as breves intervenções onde temos curtos solos de órgão. Os sintetizadores então transformam a canção em “Os Piratas de Órion”, para uma pesada sessão, onde o riff do sintetizador transforma-se em um pesado riff de guitarra, com direiro a um solo de moog, e com Marcelo soltando o braço na bateria. A canção ganha ritmo, atingindo uma velocidade interessante, alternando entre o andamento marcado e pesado com esse trecho mais rápido.  

O Vãn Züllat vai diminuindo o ritmo, chegando em “Buraco de Minhoca (a Ida)” onde o tema inicial de “Desconectando” é repetido pelo moog, porém com um solo de piano sendo acompanhado pela cadenciada levada de bateria. Os barulhos espaciais surgem, onde a sobreposição de teclados nos dá a impressão de estarmos enlouquecendo, estourando em uma imponente apresentação de sintetizadores e mellotron chamada “Betelgeuse (A Visão)”, onde a guitarra faz um lindo tema com o slide, e o emprego do mellotron é merecedor de aplausos por parte de Mike Pinder (Moody Blues) e Robert Fripp (King Crimson).

Vãn Züllat ao vivo

Lentamente, piano, baixo e bateria passam a acompanhar o solo de moog em “À Deriva”, com a entrada do órgão permitindo que a guitarra sole. Marcelo faz viradas na bateria, em um ritmo floydiano que poderia ter sido mais bem explorado com batidas mais quebradas, na linha de Bill Bruford (Yes, King Crimson, …), mas o andamento encaixa-se para o retorno a Terra em “O Planeta Azul (O Devaneio)”, com um belo tema do moog destacando os teclados wakeanos e as interessantes intervenções do sintetizador, os quais parecem gerar problemas na nave espacial.

Vozes assombrantes nos fazem passar pelo “Buraco de Minhoca (A Volta)”, com  o moog relembrando o tema inicial de “Desconectando”, para vozes diversas aparecerem. Um tema marcado entre guitarra, baixo e sintetizador é executado entre diversas viradas da bateria, durante “No Cinturão de Asteróides”, com um show a parte de Marcelo, levando ao agitado solo da guitarra, acompanhado por piano elétrico, baixo e bateria. Um curto solo de flauta é executado, com intervenções de moog e sintetizadores, para os barulhos iniciais do foguete espacial surgirem novamente em “Atração Gravitacional”, encerrando a viagem retornando com total segurança para a Terra.

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