Discografias Comentadas: Virgin Steele – Parte II

Discografias Comentadas: Virgin Steele – Parte II
 
Por Leonardo Castro

The Marriage Of Heaven And Hell: Part I [1994]
Um ano após o retorno à ativa com o mal recebido Life Among The Ruins, o Virgin Steele surpreendeu a todos com o lançamento de The Marriage Of Heaven and Hell: Part I. Enquanto o disco anterior apostava em uma sonoridade mais comercial e hard rock, o novo lançamento investia novamente no heavy metal épico de Noble Savage e Age Of Consent, mais ainda mais técnico, rebuscado e pomposo. Em uma época onde este tipo de música estava em baixa, e as principais bandas do estilo estavam paradas, buscando novas sonoridades ou simplesmente em crises criativas, o Virgin Steele lançou um disco ousado, que ao mesmo tempo respeitava sua sonoridade clássica e estabelecia uma identidade única para a banda.
“I Will Come For You”, que abre o disco, e “Life Among The Ruins”, que não tem nenhuma conexão com o disco anterior, seguiam a cartilha clássica da banda, com riffs inspirados e ótimas perfomances de Defeis, e ao mesmo tempo demonstravam o lado mais técnico da banda. A junção de teclados e guitarras voltava a funcionar a perfeição em faixas como “Blood And Gasoline”, outro destaque do disco. A faceta épica aparecia em “Self Crucifixion”, dona de um dos melhores refrões da história do grupo, enquanto “Blood Of The Saints” mostrava que o lado mais direto e agressivo da banda continuava intacto. O disco se encerrava com a instrumental “The Marriage Of Heaven And Hell”, cujo belo tema ainda apareceria em diversas músicas nos dois discos seguintes, The Marriage of Heaven and Hell: Part II e Invictus, todos partes de uma trilogia.
Em resumo, The Marriage Of Heaven And Hell: Part I mostrava em pleno 1994 que o Virgin Steele continuava vivo e bem, com uma sonoridade única, pesada, épica e majestosa.
The Marriage Of Heaven And Hell: Part II
Lançado um ano após a primeira parte da trilogia, The Heaven Of Heaven And Hell: Part II conseguiu o que parecia impossível: superou os resultados da primeira parte e se tornou, junto a Noble Savage e Age Of Consent, o disco favorito de boa parte dos fãs da banda.
Investindo no mesmo metal clássico, técnico e pomposo do disco anterior, a banda conseguiu forjar músicas ainda mais fortes, fazendo da segunda parte desta trilogia uma verdadeira coletânea de clássicos: a rápida “Symphony Of Steel”; a mais cadenciada, mas não menos fenomenal, “Crown Of Thorns”; e a pesada “Victory Is Mine”.
Ainda assim, os dois principais destaques do disco são as suas duas músicas mais épicas e longas: “Prometheus (The Fallen One)” e “Emalaith”. A primeira é mais pesada e progressiva, enquanto a segunda, com seu refrão sensacional e inspiradíssimas passagens instrumentais, é uma das mais belas canções compostas por David Defeis.
Em uma época marcada por diversos lançamentos medíocres dos gigantes do estilo, o Virgin Steele lançava um álbum que seria um marco em sua discografia, investindo em seu próprio estilo ao invés de nas tendências em alta na época.  Mais um disco obrigatório para os fãs de um bom heavy metal.
Invictus [1998]
 
Apesar de não ter o mesmo título dos dois álbuns anteriores, Invictus é tido pela banda como a terceira parte da trilogia The Marriage Of Heaven And Hell. Entretanto, estilisticamente, este disco mostra claramente uma mudança em relação aos seus antecessores. Enquanto as partes I e II tinham uma sonoridade mais progressiva, Invictus apostava na agressividade, e é certamente o disco mais pesado da discografia da banda.
A sonoridade chega a lembrar os momentos mais agressivos do Manowar, banda a qual o Virgin Steele sempre foi comparada, muitas vezes mais pelo visual e temática do que pelo som. Contudo, em Invictus até os vocais de Defeis lembram os de Eric Adams, e algumas músicas seguem a linha do que o Manowar fez em The Triumph Of Steel, um de seus discos mais pesados e brutais.
Esta dose extra de peso e violência fez bem ao som da banda, e fez de Invictus mais um dos discos favoritos dos fãs, tanto que músicas como a faixa-título, “Defiance”, “Through Blood And Fire” e “Dust From Burning” permancecem nos setlists do grupo até hoje. Mas mesmo em meio a tantos bons momentos, o grande destaque do disco é “Veni, Vidi, Vici”. Com mais de 10 minutos de duração, a faixa é repleta de riffs e passagens memoráveis, além de um refrão maravilhoso. Mais uma obra prima de David Defeis.
The House Of Atreus: Act I [1999]
Com a conclusão da saga The Marriage Of Heaven And Hell, David Defeis anunciou um projeto ainda mais ousado: uma ópera heavy metal baseada em Orestéia, uma trilogia de tragédias gregas escrita por Ésquilo, tratando da maldição sobre a família Atreus após a guerra de Troia. O projeto incluia até planos para apresentar a ópera em teatros. Assim, em 1999, foi lançada a primeira deste projeto, o disco The House Of Atreus: Act I.
A sonoridade do disco misturava a agressividade de Invictus com o lado progressivo das duas partes de The Marriage Of Heaven And Hell, e novos clássicos da banda surgiram através de “Kingdom Of The Fearless”, que tem um riff e um refrão sensacionais; “Through The Ring Of Fire”, mais cadenciada e pesada; e “Great Sword Of Flame”, mais rápida e direta. Outro destaque é a balada épica “Gate Of Kings”, que encerra o disco junto com a instrumental “Via Sacra” de uma maneira sinfônica e melancólica.
Como curiosidade, vale a pena citar que a faixa “The Fire God” é a mesma do disco Stay Ugly, do Piledriver, composta por David Defeis, que decidiu reaproveitá-la com a sua própria banda.
Apesar de ser um belo disco, The House Of Atreus: Act I pode ser um pouco cansativo para quem não está acostumado com a sonoridade da banda, devido a grande quantidade de introduções e interlúdios que antecedem as músicas para dar uma maior conformidade a história. Portanto, pode não ser o melhor disco para conhecer o grupo, mas é sem dúvida um grande trabalho.

The House Of Atreus: Act II [2000]

A segunda parte da ópera metal de David Defeis segue o mesmo estilo da primeira. Lançado em cd duplo, o disco é repleto de canções épicas, pesadas e marcantes, além de belos riffs e solos de Edward Pursino. O vocal de Defeis, entretanto, abandona um pouco a agressividade ouvida em Invictus, e aposta em passagens mais suaves nos refrões, que muitas vezes são mais falados do que cantados.

Ainda assim, o disco apresentou muitos destaques, incluindo “Wings Of Vengeance”, “Wine Of Violence” e “Flames Of Thy Power”. E se no disco anterior Defeis recuperou uma música do Piledriver, neste ele transforma “Call Of The Exorcist’, do Exorcist, projeto dele e de Pursino que lançou o disco Nightmare Theater em 1985, em “The Fires Of Ectasy”, mantendo todo a parte instrumental e alterando a letra para se encaixar na história.

Assim como o primeiro ato, The House Of Atreus: Act II pode ser cansativo para quem não conhece a banda, por ser duplo e por conter diversas introduções. Mesmo assim, é um disco forte, repleto de boas composições, riffs e refrões.

Hymns To Victory [2002]

Para celebrar os 20 anos de carreira, em 2002 o Virgin Steele lançou dois albuns especiais. O primeiro, Hymns To Victory, era uma coletanea com os seus maiores sucessos remasterizados, outras com mixagens alternativas, uma nova versão acústica para “Spirit Of Steele” e 2 músicas inéditas, “Saturday Night” e “Mists Of Avalon”. No geral, um bom apanhado da carreira da banda, e um ótima escolha para aqueles que querem conhecer seu som, ainda que diversas músicas sensacionais tenham ficado de fora.

Book Of Burning [2002]

The Book Of Burning trazia regravações de músicas da fase Jack Starr, uma vez que Virgin Steele, Guardians Of The Flame e Wait For The Night nunca haviam sido relançaos oficialmente em cd. As novas versões eram mais pesadas e melhor produzidas, e se encaixavam perfeitamente à sonoridade atual da banda, principalmente “Don’t Say Goodbye (Tonight)” e “Children Of The Storm”. Havia ainda 4 músicas compostas por David Defeis e Jack Starr em 1997, chamadas na época de Reunion Of Steel – The Sacred Demo, quando Starr tentava formar uma nova banda e teve a ajuda de Defeis nestas composições. Estas músicas (“Hellfire Woman”, “The Chosen Ones”, “Rain Of Fire” e “The Final Days”) lembravam bastante o material de Guardians Of The Flame, mais direto e menos épico que os últimos discos do Virgin Steele. Por fim, havia ainda uma música das sessões de Noble Savage, a festiva “Hot and Wild”, e duas músicas compostas por Defeis para o Original Sin, banda que tinha a sua irmã como vocalista nos anos 80, “Conjuration Of The Watcher” e “The Succubus”, duas das melhores músicas desta compilação.

Visions Of Eden [2006]

Após quatro anos sem lançamentos, o Virgin Steele voltou em 2006 com mais um projeto ousado: Visions Of Eden, inicialmente batizado de The Lilith Project, fora concebido como a trilha sonora para um filme imaginário, baseado na lenda de Lilith, a suposta primeira esposa de Adão, que fora expulsa do paraíso por não ser submissa aos dejesos do marido.

A sonoridade das músicas era um pouco mais sinfônica, com mais ênfase nos teclados e climas do que nas guitarras, e os vocais de Defeis eram mais suaves, com menos partes agressivas e mais falsetes e passagens faladas.

Ainda que um pouco irregular, o disco tem diversos bons momentos, como a ótima faixa de abertura “Immortal I Stand (The Birth Of Adam)”, que tem ótimas passagens de guitarra; as pesadas “Bonedust” e “Childslayer”, que remetem ao material das duas partes de The House Of Atreus; e duas das melhores baladas escritas por Defeis, “Angel Of Death” e “Visions Of Eden”.

No geral, Visions Of Eden não é um disco que se assimila de imediato, como Noble Savage ou Invictus, mas que cresce a cada audição. E ainda que não seja o melhor disco da banda, uma vez assimilado, nos proporciona 80 minutos de excelente música.

The Black Light Bacchanalia [2011]

O mais recente disco do Virgin Steele resgata um pouco da agressividade perdida no último lançamento, mas retendo boa parte do lado sinfônico da banda. A primeira faixa, “By The Hammer Of Zeus (And The Wrecking Ball Of Thor)”, já deixa isto bem claro, com um excelente riff the guitarra e passagens de teclado, e é uma das melhores músicas da banda. “In A Dream Of Fire” é outra faixa onde as guitarras predominam, ainda que o teclado conduza boa parte de sua bela melodia. “To Crown Them With Halos” retoma a tradição da banda de lançar músicas longas e épicas, e ainda que não seja uma nova “Emalaith”, os resultados são muito bons. Entretanto, outras faixas acabam se perdendo por serem longas ou pretensiosas demais, com muitas viagens instrumentais e excessos vocais de David Defeis.

Resumindo, ainda que tenha diversos bons momentos, The Black Light Bacchanalia pode soar cansativo para quem não está acostumado com a sonoridade da banda, e o excesso de pretensão em criar faixas épicas e clássicas é provavelmente seu maior problema.

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