Cock Sparrer – Shock Troops [1982]
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Por Bruno Marise
Ao contrário do pensamento comum, o movimento skinhead não se trata de uma manifestação neonazista. Essa cultura surgiu nos anos 60, entre a classe operária inglesa e era fortemente influenciada pelos Rude Boys da Jamaica, que migraram para a Grã Bretanha na mesma época. A princípio era apenas um movimento musical, mas inevitavelmente os fatores político-sociais influenciaram e fragmentaram-no em várias subculturas. E foi nesse contexto que surgiu o Street Punk, também conhecido como Oi! E dentro dele apareceram várias bandas, como Cockney Rejects, Sham 69, The 4 Skins e o Cock Sparrer. Numa época em que o verdadeiro Punk Rock já estava em decadência, e toda a suavização da New Wave tomava conta, o Street Punk vindo dos subúrbios de Londres, com seus ideais proletários e encharcado de suor e cerveja, buscava resgatar o punk mais primitivo, rasgado, bruto.
O Cock Sparrer, com influências de Glam e Pub Rock, já tinha dez anos de estrada quando lançou sua obra prima, Shock Troops, em 1982. Com uma sonoridade extremamente simples, carregada de melodias grudentas, refrões de fácil memorização e recheado de sing alongs, é um disco tão contagiante que nem se percebe quando chega ao fim. O vocal rouco e o carregado sotaque britânico de Colin McFaull são características bastante marcantes no som do grupo.
O Street Punk Tinha forte vínculo com o futebol, a bebedeira, virilidade e vida trabalhadora e isso transparece em todas as músicas do disco, que abre com “Where Are They Now” e seu riff extremamente “catchy”, contestando a primeira geração do punk, que conquistou milhares de seguidores e sumiu deixando muitos órfãos (“Where are they/six years on and they’ve all gone/Now it’s all turned/ so Where are they now”). A segunda faixa é “Riot Squad”, uma ode à violência que representa todo o repúdio às autoridades. Na sequência vem “Working”, um hino proletário, com destaque para o simples e bonito solo de guitarra.
“Take’em All”, é mais uma canção agressiva, que critica os executivos de gravadoras, supostamente americanos (“Well tough shit boys, it aint our fault/Your record didn’t make it/We made you dance, you had your chance/But you didn’t take it/Well, I gotta go make another deal/Sign another group for the company/I don’t suppose we’ll ever meet again/ You’d better get back to the factory.”). Obrigatória nos shows, e com o coro “Take’em All! Take’em All!” berrado em coro pelos fãs, foi até utilizada como grito de guerra de algumas torcidas de futebol.

Em “We’re Coming Back”, o Sparrer presta uma homenagem ao companheirismo e amizade entre os integrants, com uma melodia extremamente contagiante, e o refrão (“So remember, out there somewhere/You’ve got a friend, and you’ll never walk alone again”). Talvez o hino de amizade mais simples e honesto já escrito.
Depois temos “Watch Your Back”, uma das letras mais polêmicas e interessantes da banda, que prega contra os supostos líderes politicos que se aproveitam da classe trabalhadora para ascender a algum cargo importante e depois “esquecem” de como chegaram lá (“Things get worse with every hour/the future fades into the past/all they want is total power/climbing on the back of the working class).
Em seguida vem “I Got Your Number”, uma crítica generalizada à imprensa, e seus valores e parcialidade (“It can’t be right what I’m reading here/No one believes in all this stuff no more/Our ideas don’t see eye to eye/You get your press with a pocketfull of lies/Telling everybody every word is true/One day soon they’re gonna see through you”). Assim como a maioria das faixas do disco, “I Got Your Number” possui um refrão grudento, e impossível de não ficar cantarolando por um bom tempo depois de ouvi-lo.
Passamos pelas menos notáveis e “Secret Army” e “Droogs Don’t Run”, e Shock Troops encerra com a canção anti-militar “Out On An Island”, em ritmo de marcha, que traduz todo o repúdio da juventude pelo autoritarismo e disciplina das forças armadas, (“Everybody gets the training, in the wind and the rain/Ten miles cross country, driving you insane/Everybody gets to jump the hoop and march in time/You just gotta remember you gotta toe the line/So dont go looking over your shoulder for me”).
O Cock Sparrer teve pouca repercussão, mesmo com vários anos de carreira, e nunca chegou a ser celebrado por crítica ou grande parte do público, apesar de ter um grupo de fãs bastante fiéis e só lançar outros excelentes discos, e Shock Troops trata-se de uma obra simples, mas feita com muita garra e qualidade, essencial para se conhecer um pouco mais sobre a cultura streetpunk e skinhead, e acabar com aquele estereótipo de jovens carecas neo-nazistas e anti-semitas. Tive a felicidade de poder ver o primeiro show dos ingleses no Brasil, em 2012, um dos momentos mais marcantes da minha vida e as canções do álbum em questão estiveram em peso no setlist da noite, com o público entoando todas em uníssono. Trilha sonora perfeita para um dia de futebol em um bar lotado com os amigos, para cantar com o copo de cerveja lá no alto. OI! OI! OI!
Track list (versão original)
- Where Are They Now
- Riot Squad
- Working
- Take ‘em All
- We’re Coming Back
- Watch Your Back
- I Got Your Number
- Secret Army
- Droogs Don’t Run
- Out on an Island


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