Vamos Falar de Compactos? (Parte 2)

Vamos Falar de Compactos? (Parte 2)

Por Micael Machado

Conforme anunciado na primeira parte deste texto, hoje trago a vocês cinco artistas nacionais que fizeram uso dos compactos de sete polegadas para divulgarem músicas inéditas, e que acabaram tendo seu lançamento físico exclusivamente neste formato, ainda que, digitalmente, possam ser encontradas em diversas plataformas pela internet. Sem mais delongas, vamos às minhas indicações, novamente, por ordem de lançamento!



O Terno – Tic Tac [2013]

O disco de estreia d’O Terno, 66, lançado em 2012, parecia um registro esquecido da época da Jovem Guarda, com alguns toques psicodélicos que lembravam o ano que batizava o álbum. O lançamento seguinte do trio foi esta bolachinha, que trazia as inéditas “Tic Tac” (que dá nome ao compacto, e parece uma sobra do disco de estreia) no lado A, e a mais trabalhada “Harmonium”, que tem um estilo mais próximo daquele que o grupo adotaria em seu autointitulado segundo registro. A edição digital do compacto ainda traz uma terceira faixa, “Blood Stains”, creditada à banda “The Suit”, uma espécie de “alter ego” do trio, e que soa bem diferente de suas duas companheiras de track list (embora não tão distante de algumas composições do segundo disco, como “Desaparecido” ou “Brazil”). As duas primeiras faixas, ainda hoje, só são encontradas em meio físico neste compacto, que serve perfeitamente como “ponte” entre dois álbuns de estilos tão diferentes quanto o primeiro e o segundo registros de inéditas da banda (sendo que “Blood Stains”, ao que pesquisei, nunca foi lançada em meio físico).



Os Últimos Românticos Da Rua Augusta – Boliviano [2013]

Contando com músicos como Wander Wildner (ex-Replicantes), Sergio Serra (ex-Ultraje A Rigor), Jimi Joe (ex-Atahualpa Y Us Panquis, dentre outros) e Gustavo Kaly (ex-Enzime e Stuart), o coletivo Os Últimos Românticos Da Rua Augusta (também conhecido como URRA) deixou dois compactos registrados em sua curta história, este Boliviano, lançado digitalmente em 2012 (com edição em vinil de 7″ no ano seguinte, em várias cores diferentes, como pode ser visto na imagem), e Amores Perros, de 2014, que, até onde apurei, saiu apenas no formato digital. O lado A de Boliviano traz a faixa título, uma espécie de “folk rock bêbado” que nunca me atraiu muito, mas não chega a ser desprezível. Já a faixa presente no lado B da bolachinha, “O Último Romântico Da Rua Augusta”, é, para o meu gosto, bem mais interessante, com seu ritmo animado e a presença do acordeom do maestro Arthur de Faria, e acabou “incorporada” ao repertório solo de Wander, sendo frequentemente interpretada por ele em seus shows desde então. Serve como uma boa curiosidade, especialmente para os fãs da carreira solo de Wander Wildner.



Humberto Gessinger – Desde Aquela Noite [2017]

Depois de se lançar em carreira solo com o álbum Insular, de 2013, Humberto Gessinger demorou quase seis anos para lançar um segundo registro completo de inéditas, que viria a ser Não Vejo A Hora, de 2019. Nesse meio tempo, Gessinger lançou dois discos ao vivo (Insular Ao Vivo, de 2014, e Ao Vivo Pra Caramba: A Revolta Dos Dândis 30 Anos, de 2018), um EP com regravações das faixas inéditas do disco Filmes De Guerra, Canções De Amor, dos Engenheiros Do Hawaii (Canções De Amor, Filmes De Guerra, lançado em vinil e CD na mesma embalagem, em 2018) e dois compactos, um com regravações de faixas da parte final da carreira dos EngHaw (Louco Pra Ficar Legal, de 2016, com a faixa título no lado A e “Faz Parte” no lado B) e outro com composições suas que já haviam sido lançadas por outros artistas, este Desde Aquela Noite, que traz, no lado A, “Alexandria”, faixa gravada por Tiago Iorc no disco Troco Likes, de 2015, e, no lado B, “O Que Você Faz À Noite”, gravada pelo Barão Vermelho no álbum Carnaval, de 1988, e “Olhos Abertos”, gravada originalmente pelo Capital Inicial no disco Todos Os Lados, de 1989. Comparar as versões do compositor com as gravadas anteriormente pelos intérpretes cabe ao gosto pessoal de cada um, mas posso afirmar que, como não sou fã nem de Iorc nem do Barão (além de não conhecer tão bem assim a discografia do Capital), não conhecia as versões “originais” das três faixas, e gostei bastante daquelas registradas pelo autor neste lançamento. “Alexandria” ganharia uma versão ao vivo no citado disco de 2018, mas as outras duas, até onde apurei, só podem ser encontradas em meio físico neste compacto. Para quem é fã da carreira do 1berto, esta bolachinha é uma grande recomendação!



Ratos de Porão – Jesus Nazifascista [2023]

Lançado em edição limitada de 500 cópias pela gravadora espanhola Beat Generation, Jesus Nazifascista traz duas faixas registradas durante as sessões que resultaram no disco Necropolítica, de 2022, a veloz e agressiva “Veneno Cristão” no lado A, e a mais cadenciada e pesada “Poço Da Escuridão” (que descamba para a “porradaria” hardcore mais para o final) no lado B. A temática das duas letras segue a linha adotada no álbum citado, “baixando o cacete” em religiosos, políticos, fascistas e milicianos, e em como estas “categorias” de seres por vezes se misturam em uma mesma “criatura”… Um registro altamente recomendável para os fãs dos RxDxPx, o qual, lamentavelmente, ainda não conta com uma versão nacional.



Nando Reis – Nando Feats. [2025]

Já há algum tempo Nando Reis tem apresentado várias parcerias com outros artistas em sua carreira, sendo em gravações, shows especiais ou mesmo turnês junto a músicos como Anavitória, Pitty, Duda Beat ou ainda ao lado da dupla Gilberto Gil e Gal Costa. Nando Feats. é um box com cinco vinis lançado em 2025 pela união dos selos Relicário, Três Selos e Fábrica Rocinante, onde cada bolachinha traz uma regravação de uma composição de Nando ao lado de um artista diferente (a não ser o cantor Péricles, que participa de duas músicas). As citadas Anavitória e Pitty aparecem no box ao lado de artistas como Melim, Iza, Jão, Samuel Rosa, Colomy, o também citado Péricles e o antigo companheiro de Nando nos Titãs, Arnaldo Antunes. Infelizmente, devido ao alto custo do material, não tive ainda condições financeiras de adquirir uma cópia do box, e, como não sou usuário das plataformas de streaming que existem por aí, ainda não me dediquei a ouvir o conteúdo destas bolachinhas. Curto bastante a carreira solo de Nando Reis, mas, honestamente, acredito que este excesso de “participações especiais” que ele vem “agregando” à sua jornada acaba desviando um pouco o foco da parte “principal” da coisa, que são as suas composições próprias e inéditas. Mesmo assim, tenho certeza que, para quem de despir de preconceitos contra alguns dos artistas escolhidos pelo compositor para regravar suas músicas, pode ser uma audição interessante conferir estas versões “revisitadas”. Só não é (ainda) para o meu interesse (e poder aquisitivo).

Eu poderia ainda citar aqui artistas como Pitty (que tem vários compactos lançados ao longo de sua carreira solo ou ao lado do Agridoce, na maioria das vezes trazendo canções que fazem parte de seus discos oficiais “de carreira”, mas por vezes tendo também algumas faixas inéditas, como o interessante Na Pele, gravado junto à reconhecidíssima Elza Soares, sendo que Pitty ainda tem em sua carreira dois singles lançados apenas em K7, as faixas “Contramão”, de 2018 e “Te Conecta”, de 2019), The Completers (cujo primeiro single e o primeiro EP saíram no formato 7″), Ultramen (que lançou um compacto com “A Rima” e “Na Crista Da Onda” agora em 2025) ou Céu (que lançou Água, Fogo, Terramar em 2017), além de diversos artistas independentes ou ainda em um estágio inicial de carreira por todo o país. Enfim, como acho que estes textos comprovam, as “bolachinhas” de vinil seguem vivas e importantes no contexto mercadológico desta terceira década do século XXI, e, pelo jeito, ainda vão estar por aí durante um bom tempo. Como já cantou o Pearl Jam certa vez, “spin the black circle“, e boas audições!

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