Cinco Discos Para Conhecer: Templos do Rock – L. A. Forum

Cinco Discos Para Conhecer: Templos do Rock – L. A. Forum

Por Marcello Zapelini

Los Angeles é uma das cidades mais identificadas com o rock nos Estados Unidos por várias razões: o fato de milhares de músicos mora (ou moraram) lá; várias gravadoras e empresas que lidam com música tinham suas sedes na cidade dos anjos; e, claro, a California é um estado bem diferente dos demais nos EUA. Por todos esses motivos, Los Angeles possui centenas de teatros, estádios e arenas que hospedam centenas de shows a cada ano. No bairro de Inglewood encontramos o L. A. Forum, que foi selecionado como o templo do rock deste artigo. Aberto em dezembro de 1967, o Forum já mudou algumas vezes de nome e atualmente é patrocinado pela Kia, sendo conhecido como Kia Forum desde 2022.

Como é a casa em que o L. A. Lakers mandava seus jogos (até 1999), o Forum é considerado uma das arenas mais conhecidas dos Estados Unidos, tendo inclusive hospedado as partidas de basquete nas Olimpíadas de Los Angeles em 1984. Já foi, inclusive, o local de eventos religiosos de igrejas americanas. Não encontrei muitas informações a respeito da capacidade ao longo dos anos, mas atualmente comporta cerca de 17.500 pessoas. O primeiro evento musical deu-se já no mês de janeiro de 1968, com uma apresentação da grande Aretha Franklin. Ao longo dos anos, um verdadeiro Who’s Who da música americana e os principais artistas estrangeiros que excursionaram pela costa oeste dos EUA se apresentaram lá, incluindo Led Zeppelin, Kiss, Fleetwood Mac, Genesis, Bon Jovi, Lady Gaga, John Mayer – ou seja, diferentes gerações de cantores e bandas. E dentre os muitos eventos musicais, um dos que mais invejo quem teve a oportunidade de assistir ocorreu em outubro de 1968: em sua turnê de despedida, o Cream fez dois shows – com direito à abertura do Deep Purple em sua formação Mk I, com Rod Evans e Nicky Simper (o show do Cream será resenhado abaixo, ao passo que o do Purple, que é apenas a oficialização de um bootleg, é apenas mencionado aqui; fãs dessa formação precisam conhecer, pois há pouco material ao vivo da época).

O número de álbuns total ou parcialmente gravados no Forum é bastante significativo, inclusive em termos de bootlegs (o Led Zeppelin, por exemplo, tem vários, incluindo um com Keith Moon na bateria em algumas músicas). Recentemente o Micael Machado comentou um álbum ao vivo de Jimi Hendrix que estava na minha pré-seleção para esta seção; para não ficar repetitivo – e até porque a resenha ficou boa demais – decidi retirá-lo da lista final. Para selecionar os álbuns desta seção, incluí alguns favoritos da casa, mas também um que provavelmente surpreenderá alguns. E como é comum, incluí bônus, cujo critério de seleção é diferente dos demais: são shows que só foram lançados em box sets.


1. Three Dog Night – Captured Live at the Forum [1969]

Muita gente despreza a banda, que se especializou em covers para músicas de outros artistas e era capitaneada por três vocalistas (Danny Hutton, Chuck Negron e Cory Wells), com pouquíssimas músicas originais gravadas. Entretanto, desmerecer o Three Dog Night é uma injustiça, pois a banda gravou um número impressionante de discos e por cinco ou seis anos teve mais hits na parada norte-americana que a maioria dos seus contemporâneos. O grupo tinha três bons cantores, cada um com um estilo vocal diferente, acompanhados por excelentes músicos (Michael Allsup, guitarra; Joe Schermie, baixo; Jimmy Greenspoon, teclados; Floyd Sneed, bateria), e sabia muito bem escolher seu repertório. Este disco ao vivo foi o terceiro álbum da banda, e foi gravado porque o Steppenwolf, para quem estavam abrindo, estava gravando shows para seu Live de 1970 (as duas bandas gravavam para o selo Dunhill/ABC e eram produzidas por Richard Podolor) – mas no caso da turma de John Kay não há informações sobre quais músicas foram gravadas no nosso templo. Abrindo com duas músicas do Traffic, “Heaven in Your Mind” e “Feelin’ Alright”, e seguindo com uma quase inteiramente a capella, “It’s for You” (uma composição de Lennon e McCartney que os Beatles não gravaram), o álbum traz nove faixas, algumas já bem conhecidas como “Try a Little Tenderness” (hit de Otis Redding) e “Chest Fever”, do The Band, mas também composições de artistas novos e praticamente desconhecidos à época: “One”, de Harry Nilsson”, e “Eli’s Coming”, de Laura Nyro. Embora os vocais sejam o que mais chama a atenção, os outros músicos têm suas chances de brilhar, como mostra a introdução de Greenspoon para “Chest Fever”, que não perde para a de Garth Hudson. O repertório se divide em material do primeiro LP homônimo (seis músicas) e do segundo, Suitable for Framing (apenas três); embora houvesse dúvidas em relação à adequação de gravar um disco ao vivo depois de apenas dois de estúdio, a aposta deu certo, pois Captured… atingiu a 6ª posição da Billboard. O Three Dog Night teria vários hits após este Captured… e, inclusive, lançaria um duplo ao vivo em 1973 (Around the World with Three Dog Night), encerrando sua carreira em 1976. A banda voltaria nos anos 80, mas nunca mais reencontraria o sucesso do final dos anos 60 e começo da década de 70. E, embora seja mais recomendável conhecer o trabalho do grupo a partir das coletâneas, este álbum é uma boa introdução. Mas o que é uma noite de três cachorros? De acordo com os aborígines australianos, é a noite mais fria, em que você precisa dormir junto de três cachorros para se esquentar.

Cory Wells (vocais), Chuck Negron (vocais). Danny Hutton (vocais), Mike Allsup (guitarras), Joe Schermie (baixo), Floyd Sneed (bateria), Jimmy Greenspoon (teclados)

Heaven
Feeling Alright
It’s For You
Nobody
One
Chest Fever
Eli’s Coming
Easy To Be Hard
Try A Little Tenderness


2. Led Zeppelin – How the West Was Won [1972 – lançado em 2003]

É inegável que, na primeira metade dos anos 70, nenhuma banda chegava aos pés do Led Zeppelin em termos de popularidade, qualidade da produção e domínio do palco. E é inacreditável que a banda seja tão mal servida de discos ao vivo oficiais: The Song Remains the Same, BBC Sessions, Celebration Day, o recente Live EP e este CD triplo compilado a partir de dois shows no L. A. Forum (25/6) e no Long Beach Arena (27/6) da turnê americana de 1972. O álbum não reflete adequadamente nenhum dos dois shows, pois várias músicas foram mixadas por Jimmy Page a partir de duas versões diferentes. Um fã do Led Zeppelin que tivesse acesso às gravações oficiais teria um trabalho bem divertido tentando definir de onde veio cada trecho, mas, de acordo com os especialistas, os dois shows que foram compilados para este lançamento não estavam disponíveis, com boa qualidade sonora, em bootlegs. O álbum começa com tudo, com “Immigrant Song”, “Heartbreaker”, “Black Dog” (com a introdução tirada de “Out on the Tiles”) e “Over the Hills and Faraway”, para dar uma suavizada com a bluesy “Since I’ve Been Loving You” – seguida por “Stairway to Heaven” (aqui Page inseriu o mellotron de uma gravação bem posterior, de 1973), e um set acústico com “Going to California”, “That’s the Way” e “Bron-Yr-Aur Stomp” – esta última uma eterna favorita da casa, da qual conheço poucas versões ao vivo. Essa dinâmica do Led Zeppelin, incluindo músicas acústicas e mais leves no show, é uma de suas marcas registradas. O bicho volta a pegar com uma imensa “Dazed and Confused” (ainda que a banda tenha feito maiores); no meio da música a banda toca o que se tornaria “Walter’s Walk” (que só sairia em Coda) e “The Crunge” (que iria ser lançada no ano seguinte em “Houses of the Holy”). “What is and What Should Never Be” e “Dancing Days” (outra que teria que esperar até o ano seguinte para ser lançada oficialmente) mantêm o astral do show, até que vem “Moby Dick”; confesso que já me impressionei mais com solos de bateria em geral e com John Bonham em particular, mas hoje já não me chama mais tanto a atenção (não me entendam errado: Bonzo é evidentemente um dos maiores bateristas de rock da história, mas hoje em dia não espero mais ansiosamente pelo solo dele nos discos). Após outra versão quilométrica, desta vez para “Whole Lotta Love”, a banda finaliza com “Rock and Roll”, “The Ocean” (mais uma inédita até então) e “Bring it on Home”. Uma boa mostra do poder do Zep no palco, How the West was Won podia ser relançado em box set contendo os shows completos como foram gravados, sem mexidas, mas por enquanto nada. Quando o álbum saiu, pensei que Jimmy lançaria outros shows históricos da banda, mas não há nenhuma movimentação neste sentido. Resta esperar ou então gastar um monte de dinheiro nos bootlegs…

Robert Plant (vocais, harmônica), Jimmy Page (guitarras, violão), John Paul Jones (baixo, mellotron, mandolin), John Bonham (bateria, percussão)

LA Drone
Immigrant Song
Heartbreaker
Black Dog
Over The Hills And Far Away
Since I’ve Been Loving You
Stairway To Heaven
Going To California
That’s The Way
Bron-Yr-Aur Stomp
Dazed And Confused
What Is And What Should Never Be
Dancing Days
Moby Dick
Whole Lotta Love
Rock And Roll
The Ocean
Bring It On Home


3. The Rolling Stones – From The Vault: L. A. Forum (Live in 1975) [lançado em lançado em 2014]

Em 1975 os Stones estavam novamente na encruzilhada. A banda passou o ano de 1974 sem se apresentar ao vivo, e, no fim do ano, tendo perdido Mick Taylor, os veteranos de Mick e Keith precisavam se re-energizar, e a Tour of Americas foi preparada com esse intuito. A turnê é a primeira com Ronnie Wood na guitarra, e os reforços dessa vez incluem Billy Preston nos vocais e teclados, Ollie Brown, percussionista da banda de Stevie Wonder, Steve Madaio e Trevor Lawrence nos metais, Ian Stewart no piano, e Bobby Keyes no sax (mas apenas em algumas músicas). A turnê foi bem-sucedida, e foi considerada uma das maiores até então, com o elaborado palco em formato de flor de lótus. Contendo dois CDs e um DVD, este álbum dos Stones traz um setlist típico da turnê de 1975, em que a banda se apresentava por mais de duas horas e vinte minutos. Após a abertura com a famosa “Fanfare for the Common Man”, o grupo inicia com “Honky Tonk Women” – uma boa música, claro, mas uma abertura não muito adequada. Daí em diante tem-se um desfile de hits mesclado a músicas menos conhecidas, com apenas um trecho de “Get Off Of My Cloud” (em medley com “If You Can’t Rock Me”) representando os tempos pré-1968 da banda. Os destaques do show incluem duas longas versões para “You Can’t Always Get What You Want” (com Trevor Lawrence fazendo belo solo de sax) e “Midnight Rambler” (Jagger na sua fiel harmônica), a rara “Fingerprint File” (com direito a Bill Wyman no sintetizador e Ronnie Wood assumindo o baixo), uma “Jumpin’ Jack Flash” transbordando de energia, Ronnie, Keith e Bill acompanhando Billy Preston (com Ollie Brown na bateria no lugar de Charlie) em duas músicas de sua carreira-solo, “Ain’t too Proud to Beg”, dos Temptations, que a banda gravara em “It’s Only Rock’n’Roll” e pouco executou ao vivo depois dessa turnê. É claro, nenhum show dos Stones é perfeito; ainda há “Angie” e “Wild Horses”, músicas ótimas nas versões de estúdio que nunca me soaram bem ao vivo, uma versão chocha de “Sympathy for the Devil” (a de Get Yer Ya-Ya’s Out, em comparação, é sensacional) e uma “Gimme Shelter” que evidencia a falta que Mick Taylor fazia à banda, mas no todo é um bom disco que registra um momento complicado na vida dos Stones (que substituíam um integrante e viam Keith Richards se afundando cada vez mais nas drogas) e faz os fãs da felizes em ter acesso a um documento histórico, de 50 anos atrás. É preciso destacar que Keith Richards voltou a fazer solos, prática que quase abandonara nas turnês anteriores, em que Mick Taylor dominava – e seu solo em “Fingerprint File” é excelente. A turnê de 1975 tem alguns momentos históricos, como Elton John tocando “Honky Tonk Women” com a banda, Eric Clapton participando de várias músicas num show em que ele foi apenas para rever Ronnie Wood no backstage e acabou subindo ao palco, mas no momento este é o único registro oficialmente lançado. A turnê seguinte, feita na Europa em 1976, rendeu o mal falado duplo Love You Live (lançado em 1977 e incluindo um lado gravado no El Mocambo do Canadá) e, mais recentemente, um show completo no Earl’s Court de Londres foi incluído na box set de Black and Blue.

Mick Jagger (vocais), Keith Richards (guitarras), Ron Wood (guitarras), Charlie Watts (bateria), Bill Wymann (baixo)

Com: Ian Stewart (piano)
Bobby Keyes (saxofone)

Honky Tonk Women
All Down The Line
If You Cant Rock Me
Get Off Of My Cloud
Star Star
Gimme Shelter
Ain’t Too Proud To Beg
You Gotta Move
You Can’t Always Get What You Want
Happy
Tumbling Dice
Band Introductions
Its Only Rock N Roll
Heartbreaker
Fingerprint File
Angie
Wild Horses
That’s Life
Outta Space
Brown Sugar
Midnight Rambler
Rip This Joint
Street Fighting Man
Jumping Jack Flash
Sympathy For The Devil


4. Kiss – Alive II [1977]

Outro álbum apenas parcialmente gravado no Forum, Alive II traz também registros no Capitol Theater em Passaic (em New Jersey, em que a banda gravou as faixas inéditas no palco, mas sem audiência) e no Budokan de Tokyo (“Beth” e “I Want Tou”). Mas o grosso do álbum vem de três shows entre 26 e 28 de agosto de 1977 no Forum (incluindo “Tomorrow and Tonight”, gravada durante o soundcheck e mixada com som de plateia). Como o Kiss queria lançar um segundo duplo ao vivo, mas apenas três LPs de estúdio tinham passado desde o primeiro, dois anos antes, e não queria repetir músicas de um Alive para o outro, a solução foi incluir cinco músicas inéditas no lado B do segundo LP. Kiss no auge era garantia de um bom show, e embora Alive II não supere seu “irmão” mais velho, é uma prova disso. A abertura com “Detroit Rock City”, que engata “King of the Night Time World” e “Ladies Room”, mostra que a banda estava com tudo. O público delira com o grupo praticamente do início ao fim, e a banda dá o seu melhor (obviamente tem bastante coisa mexida em estúdio, mas se for condenar o Kiss por isso será preciso abrir espaço na prisão, pois há muitos outros discos ao vivo cheios de overdubs). “Love Gun” perde um pouco ao vivo em relação à versão de estúdio (os vocais não estão tão bem), mas “Christine Sixteen” e “Calling Dr. Love” se encarregam de jogar os níveis de energia lá em cima. Ace Frehley tem seu momento de vocal em “Shock Me”, com direito a uns voos mais elevados no solo final. “Hard Luck Woman” nunca me chamou a atenção em “Rock and Roll Over” e aqui não melhorou muito. “Tomorrow and Tonight” se encarrega de encerrar o primeiro disco com a banda nos eixos novamente. O segundo disco se inicia com “I Stole Your Love” e segue com uma versão de “Beth” pré-gravada com Peter Criss cantando ao vivo; sei que a música é muito querida pelos fãs do Kiss, mas nunca foi exatamente a minha praia e essa versão não muda minha opinião. Gene Simmons até tenta recolocar o disco no caminho certo com “God of Thunder”, mas o solo meia-boca de bateria de Peter Criss atrapalha (fãs do Kiss me perdoem, mas o cidadão era bem fraquinho); pelo menos não é longo como o de Alive!. Mas “I Want You” (com Paul Stanley comandando a plateia) e a festeira “Shout it Out Loud” encerram bem a parte ao vivo do álbum. Vou me abster de comentar as músicas de estúdio, pois mesmo o fanático pelo Kiss que me emprestou o disco nos anos 80 admitia que eram meros tapa-buracos. Alive II é praticamente o canto do cisne do Kiss original, pois em 1978, além dos discos-solo, só se teve a coletânea Double Platinum, e os dois últimos discos oficialmente creditados a essa formação, Dynasty e Unmasked, praticamente não trazem Peter Criss. Claro, a banda se reuniria nos anos 90 com sua clássica formação original, mas já não era a mesma coisa: bastava comparar com Alive II para ter certeza.

Gene Simmons (baixo, vocais), Paul Stanley (guitarra, vocais), Ace Frehley (guitarra, vocais), Peter Criss (bateria, vocais)

Detroit Rock City
King Of The Night Time World
Ladies Room
Makin’ Love
Love Gun
Calling Dr. Love
Christine Sixteen
Shock Me
Hard Luck Woman
Tomorrow And Tonight
I Stole Your Love
Beth
God Of Thunder
I Want You
Shout It Out Loud
All American Man
Rockin’ In The USA
Larger Than Life
Rocket Ride
Any Way You Want It


5. Eagles – Live [1980]

Em 1980, o Eagles estava caindo pelas tabelas, e a solução foi a mais tradicional possível: lançar um duplo ao vivo. E a solução foi buscar nas turnês de 1976 (as gravações feitas no L. A. Forum) e 1980 (registros no Santa Monica Civic Auditorium) o material para garantir mais um lançamento multiplatinado. Como o álbum registra turnês diferentes, feitas para promover Hotel California e The Long Run, a formação varia de ano para ano, com Timothy B. Schmitt aparecendo nos shows de 1980 e Randy Meisner nos do Forum. Considerado por alguns críticos como o disco ao vivo mais mexido em estúdio da história (o que rendeu uma baita confusão, pois Glenn Frey ficou na California e os outros foram para Miami para a produção do álbum), Eagles Live inicia com “Hotel California” em boa versão – mas já de cara fica a impressão de que os vocais foram regravados em estúdio. Na sequência, o grupo revisita praticamente toda a sua discografia (apenas On the Border não é representado na lista de músicas), apresentando inicialmente três canções do álbum que estava promovendo em 1980 (“The Long Run”, “I Can’t Tell You Why” e “Heartache Tonight”). Joe Walsh traz duas músicas de sua carreira-solo (“All Night Long” e “Life’s Been Good”), e a banda interpreta a capella uma versão de “Seven Bridges Road”. A destacar também as músicas de Hotel California: além da faixa-título, tem-se “New Kid in Town”, “Wasted Time” e “Life in the Fast Lane”. Mas, para mim, o melhor do álbum está nas bonitas “Desperado” (com interpretação perfeita de Henley no vocal) e “Take it to the Limit”, com vocal solo de Randy Meisner, que já tinha deixado o grupo – que junto com “Wasted Time” e “Desperado – Reprise II” formam o material do álbum gravado no Forum – com apoio de uma orquestra de cordas não creditada – não sei se foi overdub ou se realmente os músicos estavam no palco, pois nunca encontrei informação fidedigna. Com excelente qualidade sonora, Eagles Live cumpriu o contrato da banda com a gravadora e liberou a moçada para suas carreiras-solo. Henley e Frey, líderes da banda, estavam de saco cheio um do outro, Joe Walsh conseguia se manter em evidência fora do grupo, Timothy B. Schmitt e Don Felder tinham seus próprios trabalhos na mira. Mas para mim o disco deixou de lado muita coisa boa, pois “In the City”, “One of These Nights” e “On the Border”, três das músicas que mais gosto da banda, ficaram de fora. Na época, foi dito que o Eagles se reuniria quando o inferno congelasse; como ele congelou em 1994, a banda voltou com a mesma formação deste Live e permaneceu como basicamente uma unidade ao vivo, inclusive lançando um álbum integralmente gravado no L. A. Forum em 2020 (já sem Glenn, mas com seu filho Deacon Frey no lugar): Live from the Forum MMXVIII. Embora esse seja bom, o álbum de 1980 é preferível, porque mesmo com Glenn Frey e Don Felder ameaçando meter a mão na cara um do outro e Don Henley sem falar com os outros, ele é o único documento oficial disponível de uma das bandas mais bem-sucedidas da história do rock em sua encarnação mais famosa.

Don Henley (bateria, vocais), Glenn Frey (guitarras, teclados, vocais), Randy Meisner (baixo, vocais em “New Kid in Town,” “Wasted Time,” “Take It to the Limit,” “Doolin’-Dalton (Reprise II),” e “Desperado”), Timothy B. Schmit (baixo, vocais em demais canções), Joe Walsh (gutiarras, teclados, slide guitar, vocasis)

Músicos adicionais

Albhy Galuten (sintetizador)
Phil Kenzie (alto saxophone em “The Long Run”)
Jim Ed Norman (piano)
The Monstertones (backing vocals em “All Night Long”)
David Sanborn (alto saxophone)
JD Souther (vocais e violão em “New Kid in Town”)
Jage Jackson (guitarras, percussão)
Vince Meland (piano elétrico em “New Kid in Town”, órgão, bateria, percussão)

Hotel California
Heartache Tonight
I Can’t Tell You Why
The Long Run
New Kid In Town
Life’s Been Good
Seven Bridges Road
Wasted Time
Take It To The Limit
Doolin-Dalton (Reprise II)
Desperado
Saturday Night
All Night Long
Life In The Fast Lane
Take It Easy


Bonus tracks: álbuns ao vivo no Forum disponíveis em box sets

Como bônus, temos algo bem diferente dessa vez, trazendo shows que só foram disponibilizados em box sets. As boxes são uma prática comum entre os grandes músicos de rock, e especialmente no século XXI temos tido uma verdadeira explosão de boxes contendo exclusivamente gravações ao vivo. Até onde pude apurar, nunca saiu nenhuma box gravada exclusivamente no Forum, mas algumas trazem discos registrados lá, e selecionei duas que trazem turnês emblemáticas de uma banda que se despedia (o Cream) e de um cantor/compositor que voltava aos palcos (Bob Dylan). Em ambos os casos, algumas músicas já tinham sido lançadas oficialmente, mas as boxes permitem acesso aos shows completos pela primeira vez.


Cream – The Goodbye Tour [1968 – lançado em 2020]

A box set The Goodbye Tour foi lançada na Alemanha em 2020; até onde pude apurar, não existe nenhuma edição fora da União Europeia, mas ela é considerada parte da discografia oficial do Cream. Com quatro discos gravados nos EUA e Inglaterra, a box apresenta versões mais ou menos completas de algumas das últimas apresentações de Baker, Bruce e Clapton, e o segundo CD registra o show no Forum. Três de suas músicas compuseram a parte ao vivo de Goodbye (“Sitting on Top of the World”, “Politician” e “I’m So Glad”), mas o resto permanecia inédito. E após a apresentação do grande Buddy Miles, o Cream inicia os trabalhos com “White Room” – uma música que eu adoro, mas que nunca me soa legal ao vivo; esta versão infelizmente não é exceção, prejudicada pelo vocal irritante de Jack Bruce no refrão (tem versão melhor por aí…). Sobre as músicas já lançadas em Goodbye, tenho sempre que destacar “I’m So Glad”, que já foi descrita como um “solo a três”, tamanha é a desenvoltura dos três músicos (Bruce especialmente está fantástico – procure no YouTube o baixo isolado dele). “Sitting on Top of the World” sempre soa bem nos shows do Cream e aqui é destaque, da mesma maneira que “Crossroads”, momento vocal de Clapton, que antecede “Sunshine of your Love” em ótima versão, todas músicas com Eric a mil por hora. Naturalmente, o quilométrico solo de Ginger em “Toad” está presente, e as longas improvisações de “Spoonful” não podem faltar – as duas músicas juntas representam quase 40% do tempo total do disco. Fãs do Cream ou, no geral, de quem gosta de longos solos, têm muita coisa para se divertir neste show em particular (e na box como um todo) – e quem nunca gostou da banda vai encontrar um bocado de motivos para continuar criticando. Bruce está impecável no baixo e na harmônica (em “Traintime” e “Spoonful”), mas seus vocais têm qualidade bem variável. Clapton mantém o elevado padrão a que acostumara seus fãs na época, solando como um alucinado, e Ginger ocupa todos os espaços deixados pelos outros dois, com uma condução simplesmente impecável das músicas. O Cream ainda fez alguns shows após este, encerrando sua carreira por absoluta incompatibilidade entre os três músicos. Afora as apresentações no Rock’n’Roll Hall of Fame e no Royal Albert Hall em 1991 e 2005, respectivamente, nunca mais se ouviu nada da banda. Bruce e Baker até trabalharam juntos com Gary Moore no projeto BBM, e vieram a falecer no século XXI, deixando Clapton, aos 80 anos, como o único sobrevivente da Nata.


Bob Dylan & The Band – The 1974 Live Recordings [1974 – lançado em 2024 / CDs 24 a 27 gravados no Forum]

O duplo ao vivo de 1974, Before the Flood, mescla gravações de Bob Dylan e The Band feitas no L. A. Forum e no Madison Square Garden de New York, e a massiva (27 CDs!) box set lançada em 2024 que compilou todas as gravações feitas para o álbum traz os três últimos shows registrados no Forum. A box não está completa, pois os sets do The Band (que interpretava 8 ou 9 músicas sem Dylan) não estão presentes; além disso, eles fizeram quarenta shows, e a box traz material de apenas 26. Os demais, ou não foram gravados, ou as gravações foram perdidas ou, ainda, estavam em mau estado e não puderam ser aproveitadas. Concentrando-se nos shows no Forum: o primeiro, de 13 de fevereiro (CD 24), traz um repertório típico da parte final da turnê, e quatro músicas foram lançadas em “Before the Flood”: “Lay Lady Lay”, “Rainy Day Women #12 & 35”, “Like a Rolling Stone” e “Blowin’ in the Wind”. A qualidade de gravação é boa, mas com o mesmo defeito de vários discos da box: pouco se ouve o piano de Richard Manuel. É uma pena que a versão de “Just Like Tom Thumb’s Blues” deste show não saiu no álbum final, pois é uma das melhores dentre as várias disponíveis na box set. E “Forever Young” chega a ser comovente, com Dylan cantando com sentimento e Robbie Robertson fazendo um belo solo. O CD 25 documenta o show da tarde de 14 de fevereiro, e mais uma vez tem-se algumas músicas selecionadas para “Before the Flood”: “Ballad of a Thin Man”, “All Along the Watchtower” e “Blowin’ in the Wind”. Particularmente, acho este show bem mais fraco do que o anterior, sem grandes destaques no repertório, embora efetivamente a versão de “Ballad of a Thin Man” seja sensacional aqui e “Rainy Day Women #12 & 35” esteja no mesmo nível da do dia anterior, escolhida para o disco de 1974. Com 21 músicas e mais de 86 minutos, o último show da turnê (na noite de 14 de fevereiro), traz o setlist mais longo de Bob dentre todos os registrados na box dividido nos CDs 26 e 27. Dylan e The Band engataram a quinta marcha, fazendo desta uma das melhores apresentações da tunê (seis músicas foram escolhidas para Before the Flood). Os destaques são vários, como uma das poucas “Mr. Tambourine Man” apresentadas, uma Highway 61 Revisited endiabrada, a coda de órgão de Garth Hudson para “Maggie’s Farm” que se transforma em introdução para “Blowin’ in the Wind”, e vai por aí afora. Dylan e The Band se apresentariam juntos mais uma vez em 1976 na despedida do grupo, mas de certa forma essa turnê foi o canto do cisne da parceria. E, ainda que as performances não sejam como as de 1966, mr. Zimmermann e A Banda fizeram alguns dos melhores shows de rock do ano de 1974.

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