Discografias Comentadas: Overkill – Parte I

Discografias Comentadas: Overkill – Parte I
Bobby Gustafson, DD Verni, Rat Skates e Bobby “Blitz” Ellsworth
 
Por Leonardo Castro
Surgido das cinzas da banda punk Lubricunts, o Overkill foi formado em Nova York no início da década de 80. Depois de ter sua formação estabilizada com D.D. Verni (baixo), Bobby Gustafson (guitarra), Rat Skates (bateria) e Bobby “Blitz” Ellsworth (vocal), a banda gravou algumas demos, um EP independente e teve a música “Death Rider” incluída no volume V da famosa série de coletâneas Metal Massacre. Com a boa repercussão destes lançamentos, o grupo foi contratado pela gravadora Megaforce, a mesma que havia lançado os discos de estréia do Metallica e do Anthrax, e começou uma longa e sólida carreira, se tornando uma das principais bandas de thrash metal da costa leste americana.
Feel the Fire [1985]
O primeiro disco do Overkill mostra uma banda em sintonia com o thrash metal da época, mas também com muita influência do heavy metal mais tradicional de bandas como o Manowar e Iron Maiden, como a faixa-título do disco comprova. O vocal de Bobby “Blitz” causou estranheza, com seu timbre pessoal e incomum, às vezes esganiçado como Bon Scott, às vezes agudo como Bruce Dickinson. Várias faixas viraram clássicos da banda, como a já citada faixa-título, a pesada “Hammerhead” e a espetacular “Overkill”, mas foi “Rotten To The Core” que se tornou obrigatória em todos os shows da banda. Também é impossível não destacar o trabalho de bateria de Rat Skates, criativo e sempre surpreendente, e o guitarrista Bobby Gustafon, dono de um estilo único, agressivo e caótico, mas ao mesmo tempo melódico e preciso. Há ainda uma homenagem ao passado punk da banda com o cover de “Sonic Reducer”, dos Dead Boys, que também ficou sensacional. Tudo isso faz de Feel The Fire um disco obrigatório para os fãs do estilo.
Taking Over [1987]
Mais pesado que o anterior, Taking Over mostrava o Overkill mergulhando de cabeça no thrash metal. Ainda que faixas como “Fear His Name” e “In Union We Stand” fossem mais tradicionais e épicas, foi a agressividade e potência das pesadas e rápidas “Deny The Cross”, “Wrecking Crew” (que anos depois batizaria o website da banda, www.wreckingcrew.com) e “Electro-violence” que mais se destacaram neste álbum. As performances de Skates e Gustafson continuaram espetaculares, mas foi o baixista D.D. Verni que roubou boa parte da cena no disco, como nas excepcionais “Powersurge” e “Overkill II”, que tem riffs sensacionais e um trabalho esplêndido do baixista. Apontados por muitos como o melhor álbum da banda, Taking Over é outro disco que todo amante do thrash metal deveria ter em sua coleção.
Fuck You [1987]
Apesar de apenas conter uma faixa inédita e cinco músicas ao vivo, este pequeno EP se torna um item obrigatório por dois motivos: primeiro, a presença da faixa-título, cover da banda punk canadense The Subhumans e que se tornaria uma espécie de hino para a banda, passando a fechar todas as suas apresentações desde então. O segundo é que este é o único registro ao vivo da banda com a sua formação original, com Rat Skates e Bobby Gustafon, visto que o primeiro sairia logo após o lançamento do EP e o segundo mais alguns anos à frente.
Em 1996, Fuck You foi relançado tendo como título Fuck You And Then Some, trazendo como bônus o primeiro EP lançado pela banda, de forma indenpendente, e duas faixas gravadas ao vivo em 1989, “Evil Never Dies” e “Hole In The Sky”, cover do Black Sabbath.
Under The Influence [1988]
A entrada do baterista Sid Falck afetou diretamente o som do Overkill. Enquanto Rat Skates sempre encaixava alguma surpresa às músicas, o estilo do novo integrante era mais tradicional, direto e, consequentemente, previsível. Ainda assim, Under The Influence tem diversos bons momentos, apesar de não ser tão bom quanto os dois discos anteriores. A produção, assinada por Alex Perialas, teve um salto qualitativo enorme, deixando o som mais limpo e cristalino. A pesada “Shred”, a tradicional “Hello From The Gutter”, “Drunken Wisdom” e a maravilhosa “End Of The Line” são os principais destaques do disco, que mais uma vez tem performances esplendorosas de D.D Verni e Bobby Gustafson, mas infelizmente tem algumas músicas consideradas filler.
The Years Of Decay [1989]
Se o disco anterior havia sido um tanto decepcionante, The Years Of Decay foi um retorno em grande forma. A produção de Terry Date é espetacular, e o produtor confessou que Diamond Darrel queria um som de guitarra como o de Bobby Gustafson nesse disco quando gravou Cowboys From Hell com o Pantera, alguns anos depois. Todas as músicas são destaques, e o disco expandiu o universo musical do Overkill, tendo uma maior variedade de estilos, mas sem perder um pingo de identidade. “Time To Kill” abre o disco com um riff maravilhoso e uma pegada bem thrash metal, que continua na música que se tornaria a mais conhecida da carreira da banda, “Elimination”. “I Hate” mostra um pouco da influência de punk, e apesar de ser curta e direta, tem um trabalho maravilhoso de guitarra. Em “Skullcrusher”e “Who Tends The Fire”, lentas e soturnas,  a banda presta homenagem a outra de suas principais influências, o Black Sabbath. A faixa-título inicia lenta, e apesar de ficar mais pesada, é o mais próximo que a banda havia chegado de uma balada. O disco termina com “Evil Never Dies”, cujas inicias formam a palavra “end” (fim), que encerrava a saga “Overkill”, presente em todos os discos até então. Após a turnê deste disco, Bobby Gustafson saiu da banda, e o primeiro capítulo da historia do grupo terminaria aqui, deixando a dúvida de como a banda soaria sem a presença de um integrante tão importante.
Horrorscope [1991]
Com a saída de Bobby Gustafson, os fãs ficaram na dúvida sobre quem poderia substituí-lo. Apesar de não ser considerado um guitarrista extremamente virtuoso, Gustafson sempre teve um estilo próprio e muita personalidade, além de participar ativamente do processo de composição da banda. A saída foi recrutar não apenas um guitarrista para o seu lugar, mas dois: Merrit Gant (ex-Faith or Fear) e Rob Cannavino. Com os novos membros, a banda lançou o seu disco mais maduro e variado até então, Horrorscope. Mais uma vez produzido por Terry Date, o disco mostra o som da banda revigorado e mais técnico. “Coma” se tornaria uma das favoritas dos fãs, assim como “Thanx For Nothing”, cujo clip passava com certa freqüência no finado Fúria Metal”. A influência do Black Sabbath mais uma vez aparecia na faixa-título e na balada melancólica “Soulitude”. Outro destaque é “Blood Money”, onde o trabalho de baixo de D.D. Verni chama a atenção. Quando se pergunta qual o melhor disco do Overkill, alguns dizem Taking Over, outros The Years Of Decay, mas muitos também escolhem este Horrorscope como tal.
I Hear Black [1993]
Após lançarem dois discos espetaculares em seqüência, o Overkill decepcionou um pouco seus fãs com o lançamento de I Hear Black. A influência do Black Sabbath, já perceptível nos dois álbuns anteriores, foi levada a um novo patamar pela banda, que investiu em mais músicas lentas e menos no thrash metal neste disco. Enquanto algumas faixas, como “Spiritual Void”, funcionavam muito bem, outras eram longas e cansativas. Ainda assim, a rápida “Weight of the World” e a pesada “Dreaming in Columbian” se destacam, assim como a maravilhosa “World Of Hurt”, que tem um dos melhores riffs da história da banda. Mas, no geral, um disco que não empolga.
W.F.O. [1994]
Se o disco antecessor foi criticado por ser demasiadamente lento, o Overkill voltou à velocidade total em W.F.O., como já fica claro na faixa de abertura, “Where It Hurts”, que remete diretamente ao The Years Of Decay e ao Horrorscope. O restante do disco é igualmente rápido e pesado, e certa influência do Pantera pode ser percebida em faixas como “Under One” e “The Wait – New High In Lows”. Outras faixas que se destacam são a direta “Fast Junkie”, a climática “Gasoline Dream” e “Bastard Nation”, que soa como um retorno ao metal tradicional mais épico presente nos dois primeiros discos da banda. A instrumental acústica “RIP (Undone)” é uma homenagem a Criss Oliva, guitarrista do Savatage morto em um acidente automobilístico em 1993. Após a turnê deste disco, que rendeu o ao vivo Wrecking Your Neck Live, os dois guitarristas, Merrit Gant e Rob Cannavino, deixaram a banda, encerrando mais um ciclo na história da mesma.

5 comentários sobre “Discografias Comentadas: Overkill – Parte I

  1. parabéns! ficou ótima essa discografia comentada. Dá pra ter um ótimo panorama dos discos lançados pela banda. Esperando pelo restante.

  2. Não conhecia a banda, mas já baixei o primeiro disco. Gostei do texto, é bem preciso.
    Agora, fiquei com uma pulga atrás da orelha. Não sei se é porque ainda sou novo nesse estilo, mas até algumas faixas mais thrash dessa banda pra mim soaram como metal tradicional.. Tô enganado?

  3. Bom guia, Leonardo. Dá pra ter uma ideia legal das fases distintas do grupo. Acho interessante a menção aos produtores, pois nomes como Alex Perialas e Terry date certamente são nomes marcantes na história do thrash metal e trazem consigo uma personalidade que incorporam aos álbuns que produzem. Da fase abordada nessa primeira parte nunca ouvi um álbum por completo, apenas algumas faixas em isolado, os "hits", hehe. E se a sonoridade de "The Years of Decay" impressionou Dimebag Darrel não foi à toa, pois o que ouvi desse álbum certamente deu uma antecipada na sonoridade que o thrash metal passaria a explorar nos anos 90.

  4. Groucho: Até o Horrorscope, realmente eles tinham uma pegada bem Metal Tradicional mesmo, como as musicas "Feel The Fire", "Fear His Name", "Hello From The Gutter", "Who Tends The Fire" e "Coma", cada uma de um dos 5 primeiros discos, mostram bem. Mas depois, nos discos que serao comentados na segunda parte, eles deram uma modernizada no som e abandonaram um pouco esse lado.

    E Diogo, o som da guitarra do Bobby Gustafson nesse disco é fenomenal, assim como o do Pantera no Cowboys. Mas depois do Dimebag foi deixando a afinacao cada vez mais grave, bem diferente do som do Years ou do Cowboys.

    Domingo que vem tem o resto!

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