Discografias Comentadas: In Flames (Parte II)

Discografias Comentadas: In Flames (Parte II)
Jesper Strömblad, Björn Gelotte, Anders Fridén, Peter Iwers e Daniel Svensson. In Flames em 2002

Por Anderson Godinho

Hoje trago a segunda parte da discografia do In Flames, compreendendo os álbuns que trouxeram mais uma mudança no som da banda, e que abrange o período entre 2002 e 2011. Confira e deixe seus comentários!

Em agosto de 2002, pela primeira vez a banda busca novos ares e vai para uma casa alugada na Dinamarca com o novo produtor, e que iria trabalhar com a banda por muito tempo, Daniel Bergstrand.  A veia hardcore da banda ganha força frente ao metal, e assim, surge o novo álbum.


Reroute to Remain [2002]

Lançado em 3 de setembro de 2002, é muito complicado gostar da fase anterior e tentar chamar a banda pelo nome nesse disco. Na primeira metade a sonoridade da banda soa abafada e muito distorcida em todos os instrumentos de corda. A bateria é quadrada na maioria dos sons e o vocal é uma gritaria só, ou uma limpeza de hospital. A banda oscila demais na busca de se reinventar. A nova produção acaba sufocando grande parte das músicas com graves que deixam o disco sujo (pejorativamente) em alguns momentos como em “System”, “Drifter” e na faixa título. Do meio pra frente, algumas apostas antigas resgatam elementos de bateria e as melodias das guitarras como em “Dawn of a New Day”, “Minus” ou em “Dismiss the Cynics”. Nas novidades interessantes a faixa de trabalho “Trigger” soa bem – mas com muita boa vontade – em suas modernidades, a primeira de muitas que viriam. Legal mesmo é o clipe que trouxe a ‘treta’ entre os caras do Soilwork e do In Flames pelas ruas de Gotemburgo e uma casa de shows famosa na cidade. Trata-se da mesma história em ambos os clipes: uma banda zoa a outra enquanto esta está no palco, em determinado momento o pau come pelas ruas e integrantes de ambas aparecem roxos. Vale a pena conferir. Ainda temos “Dark Sighs” e “Free Fall” como músicas que soam mais positivas que negativas. No mais, é um play com 14 músicas, com pelos menos três sonoridades distintas, muita confusão e com um apelo comercial voltado para os EUA, mas que funciona atraindo muitos fãs que colocam Reroute to Remain na 13ª posição da Billboard para álbuns independentes, “Trigger” na trilha sonora do filme Freddy x Jason ao lado de nomes como Sepultura, Type O Negative, Lamb Of God e outros, e, ainda, em uma tour com o Slayer e Soulfly.


Soundtrack To Your Scape [2004]

Em 2004, a banda delimita sua nova cara, e solta em 29 de março o “modernoso” Soundtrack To Your Scape. Muito teclado e “penduricalhos” de sintetizadores promovidos por Örjan Örnkloo aparecem dando uma sonoridade próxima ao Nu Metal para a banda. Como sugeri antes, houve muita crítica negativa na época afirmando que a banda estava moldando seu som para o mercado estadunidense. A banda sempre defendeu, e ainda o faz, suas mudanças de estilo como algo natural e essencial para o In Flames. O álbum que poderia ter sido apenas um EP, começa com “F(r)iend”, que apresenta Fridén muito bem e o retorno do gutural em algumas boas passagens. O peso do heavy metal parece estar de volta e isso fica claro com as distorções utilizadas nas guitarras. Porém isso é um fato isolado no álbum. Então segue “The Quiet Place” que começa, e mantém durante a música, com vários elementos de teclado promovendo uma penca de sons ‘industriais’, entretanto a música possui um ritmo bom e um refrão interessante. Soa inacabada sem solo e repetitiva. E essa é a tônica, muito, mas muito sintetizador e teclado… pouca criatividade… músicas com potencial, mas que parecem prévias de algo a ser finalizado, como a interessante “My Sweet Shadow”, que possui um sintetizador chatíssimo durante e até depois da música, ou, como “In Seach for I”, que começa bem… e só… e ainda protagoniza o solo mais patético da história da banda. Por tais motivos é que esse álbum poderia ter sido um EP, se as ideias tivessem sido melhor trabalhadas e compiladas as 12 músicas poderiam ter virado três ou quatro.

Novamente o sucesso em questão de mídia, exposição e vendas. Soundtrack … vai ao top 3 na Suécia, entra em 45º lugar na Billboard top 200 e 7º na Billboard independente, dentre outros números bons para a banda ao redor do mundo, e, leva o In Flames para o badalado Ozzfest.

O grupo durante uma pausa antes do OzzFest, em 2005

Come Clarity [2006]

Após dois álbuns que soam muito experimentais a banda ressurge com uma estrutura musical definida e que seguirá sendo utilizada nos próximos álbuns. O bom Come Clarity revive a banda em termos musicais uma vez que não apresenta extravagâncias desnecessárias e confusas. Alguns elementos dessa nova fase são os vocais mais agudos de Fridén, ainda bem rasgados porém com passagens limpas e melódicas ao extremo dividindo espaço. O gutural é aposentado de vez, tendo participações isoladas em um back vocal ou frases perdidas. Em relação ao instrumental, a bateria volta a ser criativa como passou a ser a partir de Whoracle, mas sua sonoridade também mudou, sendo que a caixa mais seca é a regra. Já nas guitarras a criatividade também se apresenta com o retorno das belas harmonias e duetos que remontam à fase clássica, porém perdem protagonismo com distorções menos agressivas nos trechos pesados e com solos menores ou inexistentes. Alguns dos sons que representam muito bem essa nova cara do In Flames são “Come Clarity” como uma forma de balada que traz um baixo bem marcado, passagens limpas e rasgadas se alternando bem e o resgate das harmonias típicas da banda. Seguindo a mesma linha surgem “Reflect the Storm” e “Dead End”. Pelo lado mais pesado temos “Crowling Through the Knives”, “Take This Life”, “Our Infinite Struggle” e “Vanishing Light”. Por fim, algumas outras sem tanto destaque mas que preenchem muito bem o álbum são “Pacing Death’s Trail”, “Vaccum” e “Versus Terminus”, que apresentam por vezes elementos de thrash nas guitarras e hardcore na bateria. O disco foi aclamado na Suécia ganhando prêmios e o primeiro lugar nas paradas, o que já é quase uma regra. Trata-se de um dos álbuns mais vendidos da banda até os dias atuais.


A Sense of Purpose [2008]

Mantendo a assiduidade de lançar álbuns de dois em dois anos, desde Clayman, a banda promove A Sense of Purpose no primeiro dia de abril de 2008, seguindo a linha do anterior e expondo seu mascote JesterHead na capa após anos. Com a co-produção de Roberto Laghi as principais diferenças são o aprofundamento do ‘sumiço’ das guitarras cada vez menos protagonistas com ausência regular dos solos e daquela bateria seca se reta apresentada em Reroute to Remain e que utiliza com maior frequência os bumbos. Em ambos os casos ainda podemos ouvir momentos criativos. Podemos perceber, também, maior presença dos teclados. Com uma temática bem reflexiva como sugere o título, A Sense of Purpose viria a ser o derradeiro álbum com o último membro fundador remanescente Jesper Strömblad, que oficialmente saiu para tratar do seu vício em bebidas, mas que posteriormente publicou sua insatisfação com os rumos comerciais que a banda tomou. Posteriormente Anders Fridén também explicaria que as ideias já não estavam sintonizadas. Ao contrário do anterior, este é um álbum em que 12 músicas acabam o tornando maçante e com altos e baixos mais evidentes. Destaques positivos ficam para as melodias acústicas ou passagens dedilhadas que aparecem em “Disconnected”, “Sleepless Again” e “Alias”. Já quanto às guitarras apenas alguns poucos momentos lembram, ainda que pontualmente, o que foi o In Flames um dia, sendo eles: “Delight and Angers”, “Sober and Irrelevant” e “Drenched in Fear”. Neste material ainda se encontra “The Chosen Pessimist”, música muito interessante, quiçá hipnótica, que cria uma atmosfera melancólica e que se torna densa com o passar dos seus 8 minutos para terminar de forma abrupta e percebermos o que se passou ali.

Novamente destaque na Suécia, desta vez a banda consegue entrar mais forte no mercado dos EUA e por lá faz mais uma turnê que começa na Gigantour promovida por Dave Mustaine e, posteriormente, roda o mundo, duas vezes, terminando em 2010 apenas. Pela primeira vez os suecos passam pela América do Sul, mas com apenas quatro shows (Buenos Aires, São Paulo, Santiago e Bogotá). Após o turbilhão pela saída do último membro formador, a banda troca o selo Nuclear Blast pelo da Century Media e aparece com seu novo álbum somente em 2011.

Niclas Engelin, Andérs Friden, Björn Gelotte e Joe Rickard. In Flames versão 2010

Sounds of the Playground Fading [2011]

Não deixando a poeira da última tour baixar, para a guitarra, retorna Niclas Engelin que teve breve passagem pela banda em 1997-98. Engelin mostra conhecer bem a banda ao não alterar as harmonias com linhas acústicas que perpassam as músicas, apesar de menos criativas. Ao contrário da tendência do álbum anterior, Sounds of the Playground Fading busca no próprio In flames suas influências e renova as esperanças nos fãs antigos da banda. Para este álbum retornam duetos, solos mais complexos e a presença marcante do baixo em mais músicas, sem falar na afinação mais metal da bateria. Por fim, é interessante e positivo os momentos em que Fridén flerta com o gutural, mesmo que apenas incipientemente em algumas músicas. Destaque ainda para o vocalista que neste álbum apresenta uma tonalidade que faz sua voz soar mais natural. Entretanto ainda que com todas essas características Sounds os the Plaground Fading segue a proposta iniciada em Come Clarity, não chega perto do Gothenburg Sound que a muito tempo fora abandonado. De modo geral, algumas músicas estão no grupo das que apresentam as características mais pesadas da banda, como na faixa título e “Fear is the Weakness” que mostram peso e melodia ou em “Enter Tragedy”, “Darker Times” e “A New Dawn” que são mais diretas. Esta última apresenta ainda um belo dueto entre violino e guitarra, além de aproximar o In Flames antigo ao novo sem excessos. Porém a banda não dispensa os elementos artificiais que introduziu lá em Soundtrack To Your Scape sendo que em algumas músicas são eles quem ditam o ritmo (“The Attic”, “Where the Dead Ships Dwell” ou “Liberation”). Este disco indica algumas situações interessantes. Primeiro é o fato de que os caras tocam muito ainda e que os momentos de pouca criatividade e de instrumental simplista são opções que fizeram ao longo dos álbuns. A segunda situação parte das letras deste álbum que em vários momentos indicam indícios de um novo fim de ciclo. Isso fica escancarado no terceiro ato do álbum, principalmente em “Jester’s Door”: “I have to defend my actions. The foundation crumbles and I have to leave! Thanks for everything, we couldn’t ask for more. I say I love you all. As I vanish through the jester’s door”. Sendo “Jaster’s Door” a antepenúltima música, temos “A New Dawn” e “Liberation” reforçando a ideia. Um terceiro ponto, e que pode estar relacionado com as músicas anteriores, também é a retomada/renovada que a banda teve visando novos horizontes, liberdade, iluminação com a saída de Strömblad. De fato o disco mostra uma banda muito mais concisa.

Mais uma vez dando indícios de uma nova roupagem para seu som os suecos deixam a Century Media e assinam com a Sony para então lançar Siren Charms (2014) que inaugura o estágio atual do In Flames, como veremos em três semanas.

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