DVD: Pixies – loudQUIETloud [2006]

DVD: Pixies – loudQUIETloud [2006]
 loudQUIETloud-cover
Por Micael Machado
“Os Pixies surgiram em Boston em 1986, e fizeram algum sucesso. Seis anos depois, se separaram em meio a raiva e ressentimentos. Desde então, mesmo com seus integrantes quase não se falando, tornou-se uma das mais influentes bandas de todos os tempos. Em 2004, os Pixies voltaram!”
E é a história deste retorno que você acompanha neste DVD, do qual a citação acima foi retirada (e que tem o subtítulo “a film about the Pixies”). Em mais ou menos 75 minutos, a reunião de Black Francis (Charles para os íntimos, vocais e guitarra), Kim Deal (baixo e backing vocals), Joey Santiago (guitarra solo) e David Lovering (bateria) é mostrada em forma de documentário, desde o primeiro ensaio até o último show da turnê de 2004. O título é uma expressão empregada certa vez para descrever a música do grupo, calma (“quiet”) em suas estrofes, mas alta e feroz (“loud”) nos refrões, em uma estrutura que influenciou fortemente Kurt Cobain, do Nirvana, só para citar um de seus seguidores. O resultado após assistirmos ao filme é, para os fãs da banda, fascinante e revelador!
loudQUIETloud-brinde
O grupo brindando ao retorno, em cena do documentário
Se, após a separação, Kim havia obtido sucesso com o Breeders, e Charles manteve uma bela carreira solo sob a alcunha de Frank Black, David e Joey estavam na pior, o primeiro vivendo de shows de mágica e dos minguados royalties que recebia de seus tempos como um pixie, e o segundo (com uma esposa grávida à época do retorno) trabalhando com trilhas sonoras e shows como músico de apoio, além de ter dirigido um documentário inacabado quando do início das filmagens (e cuja trilha contaria com a contribuição de seus colegas de banda, como vemos no decorrer do filme). Para eles, o retorno veio em boa hora, mas para os dois principais membros do grupo (cujas desavenças levaram à separação em 1992), nem tudo foi assim tão fácil, algo que o filme deixa bastante claro.
Se, fora do palco, os quatro mal se falam (Kim chega a viajar em um ônibus separado do restante da banda, sempre ao lado de sua irmã Kelley Deal, guitarrista dos Breeders, e que acompanhou a turnê inteira a pedido da baixista), quando entram em cena e as músicas começam a ser apresentadas (poucas, é verdade, mas todas com legendas em inglês e muitas em versões completas, como “U-Mass”, “Gouge Away”, “In Heaven”, “Cactus” e “Monkey Gone To Heaven”), é impossível não ser contagiado pelo talento da banda. Ainda que sem tocar juntos há anos, o entrosamento é perfeito, tanto que Charles declara, logo no começo do filme, que “parece que nunca nos separamos” para descrever como estava sendo o retorno.
111
Pixies ao vivo
Mas o foco aqui não é a música, e sim o dia a dia de quatro pessoas que significam muito para tantas pessoas, mas parecem ter enormes dificuldades em carregar este fardo. A tensão da vida na estrada não é fácil para eles, e os diretores Steven Cantor e Mathew Galkin não se furtaram de mostrar este lado dos bastidores. Assim, podemos ver Joey chorando pela saudade dos filhos (o menor nascido em meio à turnê), Kim lutando contra as drogas e o álcool (substâncias com as quais David se envolve de cabeça, além de ter que lidar com a doença e a morte do pai em meio à parte europeia da excursão, com ele sem poder estar próximo de sua família), enquanto Charles tenta manter uma atitude “não estou nem aí para nada”, quando na verdade também tem de lidar com seus próprios demônios, como a busca de uma gravadora para lançar seu disco solo (gravado em meio à excursão, e o qual acredito que viria a ser Honeycomb, de 2005) e a descoberta da gravidez de sua esposa.
Todos os shows da turnê tiveram ingressos esgotados muito rapidamente (a banda chega a ganhar um quadro com os dizeres “o show com os ingressos vendidos mais rápido na história da Brixton Academy” em uma das cenas), e percorreu a Europa e os EUA durante o ano de 2004. O público mostrado é sempre fanático pelos Pixies, e a atenção devotada por eles é retribuída pelo grupo, que aparece várias vezes autografando itens e mais itens e tirando fotos com fãs de todas as idades, todos sempre com uma palavra de incentivo e agradecimento pelo retorno, que, felizmente, não se resumiu a esta turnê. Como o filme explica, apenas seis meses depois do último show na cidade de Nova Iorque, o grupo voltou a se apresentar regularmente, ficando juntos na estrada até 2013, quando Kim deixou a banda mais uma vez, com o trio restante recrutando primeiro Kim Shattuck, ex-The Muffs (que, infelizmente, veio a falecer em 2019), e depois Paz Lenchantin (ex-A Perfect Circle, dentre outros), e já tendo lançado três discos de inéditas desde então. Deste “período de retorno” entre o DVD e a nova separação, foram lançados apenas o single digital “Bam Thwok” e uma versão para “Ain’t That Pretty at All”, que apareceu em um álbum tributo a Warren Zevon.
1111
Joey Santiago, Kim Deal, David Lovering e Black Francis, em sessão de fotos mostrada no filme
Nos extras, quase meia hora de cenas deletadas, que mergulham ainda mais na intimidade dos membros da banda, além da possibilidade de assistir ao documentário com os comentários dos quatro músicos, estes, infelizmente, sem legendas!
Lançado no Brasil pela gravadora Coqueiro VerdeloudQUIETloud é um belo filme para quem gosta do estilo musical do grupo, e uma obra que deve ser obrigatoriamente assistida pelos fãs do Pixies. Se tiver a oportunidade, não desperdice!
“In heaven, everything is fine…”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.