Discos que Parece que Só Eu Gosto: Therion – Les Fleurs Du Mal (2012)

Discos que Parece  que Só Eu Gosto: Therion – Les Fleurs Du Mal (2012)
Por Fernando Bueno

Mudanças de direcionamento musicais são normais e temos diversos exemplos de artistas e bandas que ao longo de sua carreira acabaram fazendo música em estilos bem diferentes daqueles com que iniciaram. Os exemplos também mostram que nem sempre seus fãs de início de carreira aprovam as mudanças, porém, por outro lado, muitas bandas conseguem agregar novos fãs. O contrário dessas situações também ocorre em vários casos.

Um exemplo de tudo isso foi o Therion. O início puramente death metal em seu álbum de estréia, Of Darkness… de 1991, e o acréscimo de teclados e até algo de música persa em Beyond Sanctorum (1992) já mostravam que eles não seriam uma banda normal. Em seu dois álbuns seguintes as experimentações aumentaram, mas foi com Theli (1996) que o Therion moldou o som que faria ao longo de praticamente 15 anos. De 1996 até 2010 foram dez álbuns de estúdios sempre construindo seu som com muita orquestrações, vocais operísticos e melodias baseadas em escalas exóticas, ou seja, com padrões diferentes aos estilos musicais europeu e principalmente do heavy metal.

Aí veio 2012 e o Therion resolveu fazer um disco todo com versões de músicas românticas e populares oriundas da França e no idioma local. As músicas originais são da década de 60 e 70 e algumas delas até bastante conhecidas. O nome do álbum foi retirado do título de um livro que foi proibido no século XIX escrito pelo poeta francês Charles Baudelaire, segundo os censores ele era um “insulto aos bons costumes”. Entretanto as coisas parecem que degringolaram para os fãs. Não que todos os álbuns lançados no período tenha agradado 100% dos fãs. Alguns como Vovin (1998) e Secrets of the Runes (2001), além do já citado Theli, permanecem como os preferidos dos fãs, mas outros álbuns já tinham sido recebidos com mais desconfiança, como são os casos de A’arab Zaraq Lucid Dreaming (1997) e Sitra Ahra (2010).

Confesso que na primeira audição Les Fleus Du Mal também não agradou, mas adquiri o disco diretamente do site da banda quando fui pegar o ótimo Luciferian Light Orchestra, banda que Cristopher criou junto de Mari Paul bem na linha do occult rock que estava em alta lá pelo ano de 2015, o mesmo do lançamento desse disco. Aí em promoção estava Les Fleurs Du Mal e acabei comprando para aproveitar o pacote – ambos os discos vieram autografados para minha surpresa. Ouvi ambos os discos várias vezes e fui me afeiçoando a Les Fleus Du Mal e agradeço até hoje aquela promoção do site deles. Só a cargo de informação: todos os discos comprados pelo site vêm autografados (eu não li essa informação na época) e o disco continua com um preço camarada.

Vou falar várias vezes das versões originais, mas tenham em mente que muitas dessas músicas são de compositores que entregavam suas músicas para diversos intérpretes de festivais ou programas de rádio e televisão. Portanto, dificilmente vai ter uma versão verdadeiramente original. “Poupée De Cire, Poupée de Son” abre o disco com uma já esperada versão muito mais pesada que a música original. A voz operística também traz a assinatura do Therion para a música. A linda melodia de “Une Fleur Dans Le Coeur” é um dos pontos altos do álbum. As faixas que eu reconheci de ter ouvido alguma vez na vida foram as seguintes – colocarei a versão de época que encontrei no Youtube nos link dos nomes da músicas para os que se interessarem: “Mon Amour, Mon Ami” que no álbum é curiosamente a faixa mais longa do disco e muito mais sombria, já que as versões que encontramos é de pouco menos de dois minutos de uma música de amor comum; “Sœur Angelique” no clipe (podemos já chamar de clipe?) da versão de época temos a história de uma moça, Angelique, que decide virar uma freira, uma irmã, ou em francês sœur, que, apesar de não ter essa conotação, de certa forma combina com o ambiente meio blasfemo que o Therion tem e; “Polichinelle” em que Lori Lewis dá show.

No geral as faixas originais possuem vocais femininos predominantes, mas “Initials B.B.” é uma das poucas originalmente com vozes masculinas, porém a letra é praticamente toda narrada por Johanna Naila. A música fala sobre como o autor original, Serge Gainsbourg, se sentia depois de um relacionamento com Brigitte Bardot. Para combinar ainda mais com o clima do Therion há até citações do escritor Edgar Alan Poe no início da letra. A faixa mais metal do disco é mesmo “Je N’Ai Besoin Que De Tendresse” com seus pedais duplo, vocais agudos, guitarras rápidas e estridentes. Destaque para Thomas Vikstrom em “J’ai Le Mal De Toi” com uma interpretação de alto nível.

Ouvi todas as faixas em versões “originais” e digo que o Therion fez de várias delas algo superior. Algumas dessas músicas da época são tão ruins, na minha opinião, que não dá nem vontade de chegar ao fim, como é o caso de “Lilith” que no fim é um dos pontos baixos do disco. Mas é claro que nem esperava gostar dessas músicas, pois são estilos muito longe das coisas que eu ou, talvez, o leitor goste. “La Maritza” na versão do Therion é muito superior com suas mudanças de andamento bem interessantes, enquanto a gravação de Sylvie Vartan parece interminável. O disco acaba com uma extensão da primeira faixa como uma forma de “terminar como começou”. Em algumas versões do álbum têm uma faixa bônus chamada “Les Sucettes”, os pirulitos, em português e a curiosidade é o video que foi feito na época. Certamente se fosse algo atual daria uma confusão e polêmica enorme. Por que? Assista e descubra o motivo.

O Therion, como todos os fãs sabem, nada mais é que a banda de Christofer Johnsson com um sem número de músicos que vêm e vão. Os componentes que mais permaneceram foram, curiosamente,  algum dos músicos que estão na banda até hoje como o baixista Nalle Påhlsson (desde 2008), Thomas Vikström que faz as vozes e instrumentos de sopro desde 2009, Christian Vidal nas guitarras desde 2010 e Lori Lewis nos vocais a partir de 2011 e participou desse que é seu primeiro álbum. Gravou também Les Fleurs du Mal Johan Kullberg na bateria, mas este já foi substituído em 2017 com o retorno de Sami Karppinen, fora da banda desde 2001. Muitas foram as participações no álbum, Snowy Shaw, Johanna Naila e Mari Paul fizeram vozes principais em algumas músicas, além vários outros músicos, inclusive uma orquestra.

Capa alternativa para alguns países

Não posso deixar de citar a capa do disco. A imagem que está no topo desse texto com as três mulheres nuas não foi bem aceita em todos os lugares. Ao longo do encarte várias imagens com o mesmo estilo, uma mistura de erotismos, ocultismo e até sado-masoquismo que, talvez, ofenda algumas pessoas. Aí usaram a capa ao lado, inclusive na França, que mantém os motivos eróticos, porém com uma linha renascentista. Uma capa diferente também foi usada em uma limitadíssima versão em cassete lançada pela própria banda com apenas 50 cópias.

Não acho que o Therion tenha mudado tanto seu som para esse disco ter tido uma recepção tão fria dos fãs. Uma das únicas explicações é a língua francesa, que para mim é um motivo com quase zero problemas. Apenas dificulta um pouco mais quem tiver o interesse de entender o temas das músicas. O que pode ter faltado para alguns são partes mais rápida e mais brutais, algo que ao meu ver talvez não combinasse mesmo com os temas propostos. Também tem o problema da estagnação de muitos fãs que não gostam muito de mudanças, mas em se tratando de Therion isso é até incoerente já que a experimentação está no cerne da banda. Li comentários dizendo até que o disco tem vocais femininos em excesso(?!). Mesmo as gravadoras tem receio de mudanças muito drásticas e quando Christopher apresentou a ideia por trás desse álbum sua gravadora não quis apoiar. Vou continuar dando murro em ponta de faca e mantenho a indicação; para aqueles que já ouviram e não gostam do disco eu sugiro que mais algumas chances sejam dadas e, para quem nunca o ouviu e nunca se interessou, fica aí minha recomendação.

Capa da edição limitada do cassete

Un câlin à tout le monde et à la prochaine fois.

Track List
1. Poupée De Cire, Poupée De Son
2. Une Fleur Dans Le Cœur
3. Initials B.B.
4. Mon Amour, Mon Ami
5. Polichinelle
6.La Maritza
7. Sœur Angélique
8.Dis-Moi Poupée
9. Lilith
10. En Alabama
11. Wahala Manitou
12. Je N’ai Besoin Que De Tendresse
13. La Licorne D’or
14. J’ai Le Mal De Toi

15. Poupée De Cire, Poupée De Son

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