Verdade Oficial – Nos Bastidores do Pantera [2014]

Verdade Oficial – Nos Bastidores do Pantera [2014]

Por Fernando Bueno

Fiquei surpreso que o autor de uma biografia do Pantera tenha sido Rex Brown, já que ele foi um integrante que não aparecia muito e acabou ficando em segundo plano, já que claramente Dimebag Darrel e Phil Anselmo eram os músicos em maior evidência do grupo. O próprio Brown admite isso em várias situações. Porém, como diz Luiz Mazetto no prefácio da edição brasileira, Rex por estar participando de dentro, mas sem protagonismo, o credencia e lhe dá credibilidade para escrever o livro, mesmo que seu título possa parecer pretensioso demais.

Capa da versão americana

Claro que as circunstâncias da morte do genial guitarrista do grupo em Columbus, no estado de Ohio, é tratado no livro, e na minha opinião acertadamente, logo de cara nas primeiras páginas da publicação. Como é um assunto de extremo interesse para os fãs gostei de ser apresentado antes de tudo até pelo fato de isso ter criado um contexto e a história da banda em seus primeiros dias acabou ganhando um efeito de flashback. Mesmo assim, na narrativa quando a história chega a esse ponto ele detalha mais os acontecimentos da época.

Apesar de se tratar de uma biografia do grupo, a infância de Rex é tratada com vários detalhes, como sua iniciação musical quando ainda era bem pequeno com sua entrada em um coral e as viagens para apresentações. O contato e a facilidade de aprendizado que teve com vários instrumentos musicais chamou a atenção de alguns educadores que o colocaram como um prodígio local. Chegou até a tocar tuba! Conta sobre a morte de seu pai, vítima de câncer, e como foi criado por sua mãe e sua irmã mais velha. Sua mãe morreu após um aneurisma decorrente de um já frágil estado de saúde quando tinha 29 anos de idade.

Dimebag Darrel, Vinnie Paul, Terry Glaze e Rex Brown no início da carreira

A narrativa mostra que, pelo menos no início do grupo, Rex Brown era o que tinha um maior conhecimento musical em termos teóricos e até práticos, já que Dimebag Darrel era ainda um iniciante na guitarra. Sobre o guitarrista, ele conta da surpresa que foi para todos quando em um período de férias escolares o pequeno Darrel se trancou em seu quarto, praticou muito e saiu dele já como um monstro tocando todas as notas de Randy Rhoads e Eddie Van Halen.

Pantera já com Phillip Anselmo

A praticamente desconhecida carreira em seus primeiros quatro discos – sendo os três primeiros ainda com Terry Glaze nos vocais – é apresentada como se fosse mesmo um período de preparação. As gravações e ensaios eram feitos no estúdio de propriedade do pai dos irmãos Abbott, Jerry Abbott, inclusive com o próprio atuando como produtor. Porém o chefe da casa Abbot não é lembrado positivamente, principalmente por conta de uma manobra com que ele acabou se tornando uma espécie de sócio da banda, recebendo royalties sobre os direitos dos discos, das músicas e tudo o mais. Coube ao próprio Rex resolver essa situação já que os irmãos não queriam acionar o próprio pai na justiça e Phil vivia em um mundo só dele como se essas questões não o influenciassem.

Rex descreve Phil como um gênio, versátil e brigão, capaz de bater em todos os integrantes de uma banda rival. Também não deixa de falar dos problemas de drogas, principalmente a heroína, que Phil teve e faz um relato de um pós-show em Dallas logo depois da gravação de The Great Southern Trendkill e que todos viram que isso era um problema dos grandes. Porém chama atenção mesmo o modo como ele sempre se refere à Vinnie Paul. Em todas as ocasiões não faltam algumas cutucadas sobre sua personalidade extravagante e, em diversas ocasiões, arrogante. Vinnie gostava tanto de strip clubs que montou um dentro de sua primeira casa em Dallas e o local se tornou um ponto de encontro de diversas bandas quando estas estavam tocando na cidade.

R.I.P.

Obviamente as circunstâncias e o desenrolar de acontecimentos que levaram a banda a se separar são detalhados. Até o atentado de 11 de setembro de 2001 acabou influenciando já que eles estavam em turnê no Reino Unido e não puderam retornar para os Estados Unidos por restrições de vôos para o país nos dias seguintes à tragédia. Esse convívio forçado por alguns dias a mais desgastou ainda mais o ambiente. A banda nunca mais tocou junta depois disso.

Durante o período de 2002 até a trágica noite em que Dime foi assassinado, período em que a banda ficou separada Phil e Rex se ocuparam com o Down enquanto os irmãos Abbott curtiam algumas farras e tentavam falar com Phil. Este ainda montou o Superjoint Ritual e Rex tentava se livrar do alcoolismo. Vinnie e Dime, cansados de esperar, montaram o Damageplan.

Rex Brown

Várias passagens interessantes como a opinião deles do então novo disco do Metallica, o multiplatinado álbum preto, o discurso sem noção de Eddie Van Halen no enterro de Dimebag, a convivência em turnê com Judas Priest na época de Painkiller, com o Slayer e até contando que Dave Mustaine contrabandeava antiséptico bucal para seu quarto de hotel por falta de bebida alcoólica.

A capa inesquecível de Vulgar Display of Power teria uma foto real mais ou menos com a mesma imagem, mas não conseguiram usar por questões técnicas. A solução foi pagar um ator para tirar a foto. Espero que tenha valido a pena financeiramente já que nem sempre esse tipo de imagem consegue ser feita em apenas uma tomada (esse fato não foi comentado). Ou seja, muita história de quem viveu (e vive) bastante tempo na estrada. Rex surpreende e mostra que é sua vez de se tornar protagonista.

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