Tralhas do Porão: Peggy’s Leg

Tralhas do Porão: Peggy’s Leg

Por Ronaldo Rodrigues

O Peggy’s Leg é um grupo bastante desconhecido que tende a agradar quem gosta de um trabalho instrumental caprichado em geral. A banda foi formada em 1972, pelo guitarrista Jimi Slevin, após seu retorno para Dublin vindo dos EUA. Ele juntou-se ao baterista Don Harris, ao guitarrista Jimmy Gibson e ao baixista Vincent Duffy para formar o grupo. Logo no início da trajetória já chamavam a atenção na cena local especialmente pelas adaptações roqueiras para peças clássicas de compositores como Bach, Hendel e Rossini, além de boas versões de músicas do Yes e do Emerson, Lake and Palmer. 

No fim de 1973, entraram em estúdio para registrar Grinilla, álbum que foi capitaneado pelo manager da banda, John Dee, que era membro da banda Mushroom. Em apenas 23 horas de estúdio e com poucos overdubs, este fantástico álbum foi concebido e como era de se esperar, foi muito bem recebido pela crítica e pelo público. Um fato inusitado foi que após as gravações, a guitarra de Jim Slevin foi roubada. Mas a polícia local agiu rápido e conseguiu recuperar o instrumento. A banda então prometeu aos policiais ofertar as primeiras cópias do álbum que estavam gravando como agradecimento pelo feito dos envolvidos.

A banda rodou todo o país deixando plateias embasbacadas com o carisma do grupo e a qualidade do repertório. Em uma dessas excursões na Irlanda do Norte, um acidente aconteceu e a banda perdeu um amigo que viria a ser incorporado na banda, o tecladista Tony Geraghty. Cerca de 6 meses após o lançamento de Grinilla, o baixista Vincent Duffy resolveu pular fora para seguir sua própria carreira. A banda se virou bastante para conseguir outro baixista talentoso, até encontrar o tecladista Martin Biseneiks e depois o baixista John Brady. No fim de 1974, a votação de um zine local elegeu o Peggy’s Leg como melhor banda do ano, além de também ter a menção nos quesitos “melhor guitarrista” e “melhor baterista”.

Grinilla é um trabalho rico e variado. A abertura com “History Tells” já abre-alas para a tônica de todo o trabalho – um estrondo de inventividade e de domínio instrumental. Da sutileza dos licks da música country às tortuosas veredas da música progressiva, há peso e classe equilibradamente distribuídos nos avantajados ritmos e nuances de canções complexas. Há momentos bem melódicos e cancioneiros, com linhas vocais assobiáveis ao estilo Beatles e o lado clássico é bem visível em um saudável virtuosismo dentro da estrutura das suítes, com todo seu recorte de idéias. A finalização do trabalho é uma versão para “Sabre Dance” de Katchaturian (que ficou bem conhecida na versão do Love Sculputure, no fim dos anos 60), fechando de maneira atônita e caótica. A capa do álbum foi desenhada por Tim Booth, que havia se aventurado na música e tinha sido vocalista e guitarrista do grupo folk Dr. Strangely Strange.

Em 1975 foi a vez do próprio Jim Sleevin se mandar, para integrar uma nova formação do lendário Skid Row (que contou em seu início com o jovem prodígio Gary Moore).  A banda foi segurando a barra com Eric Bell (futuro Thin Lizzy) mas durou poucos meses após a saída de Jim. Jim Slevin era grande fã do Skid Row e entrar na banda para ele era como realizar um sonho, ao passo que também era um desafio calçar os sapatos do incrível Gary Moore.

Uma cópia original desse disco é muito cara (valendo algumas centenas de euros), já que sua tiragem na época foi pequena (cerca de 500 itens apenas pelo selo local Bunch). Em CD, o trabalho foi disponibilizado pelo selo Kissing Spell em 2001 numa edição caprichada com as letras e fotos do grupo. O relançamento em CD contém um bônus ao vivo, gravado em Dublin, 1974. Apesar da baixa qualidade de som deste trecho de performance, ali a banda apresenta um lado mais pesado e um devastador solo de bateria de Don Harris. O baterista seguiu carreira em outros grupos e se tornou músico de estúdio no início dos anos 80, tendo trabalhado com David Bowie. Jim Sleevin formou um grupo próprio e gravou vários álbuns ao longo dos anos. O baixista Vincent Duffy se retirou da música e se suicidou em 1983.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.